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09 junho 2018

"O Processo" - O impeachment que a grande mídia não mostrou

O filme, dirigido por Maria Augusta Ramos, não tem a intenção de ser panfletário e não distorce informações (Fotos: Vitrine Filmes/Divulgação)

Carolina Cassese


Com o objetivo de retratar o processo de impeachment de Dilma Rousseff, o filme “O Processo”, dirigido por Maria Augusta Ramos, estreou nos cinemas no último dia 17. O documentário se destaca por não apresentar entrevistas ou intervenções diretas, apenas cenas dos bastidores, e pode ser conferido na sala 3 do Cine Belas Artes, sessão às 16h40.        

Diante do turbulento contexto político do Brasil, não é espantoso que os espectadores do longa sejam reativos às cenas. Especialmente quando figuras como Eduardo Cunha, Aécio Neves e Antonio Anastasia aparecem na tela, o público explicita seu desprezo. O filme não tem a intenção de ser panfletário e não distorce informações (diferentemente do que acontece em “O Mecanismo”), mas dá mais espaço para os petistas, especialmente para Gleisi Hoffmann, Lindbergh Farias e José Eduardo Cardozo. A calma de Hoffmann contrasta com a efusividade de Lindbergh, e Cardozo é o responsável pelos comentários mais ponderados.

Em entrevista à Carta Capital, Maria Augusta Ramos comentou sobre a produção do filme “O Processo”. Sobre a parcialidade do documentário, Ramos pontuou: “Não é que seja a perspectiva da defesa: eu acompanho muito mais os bastidores da defesa porque a defesa me deu esse acesso. Eu tive acesso a reuniões da liderança da esquerda, da minoria que era contra o impeachment. A oposição não me deu esse acesso. Se tivesse dado, eu certamente teria filmado mais. Mas eu acho que era importante, sim, apresentar o argumento da direita, o argumento pró-impeachment. Para expor isso, eu escolhi, por exemplo, o senador Cássio Cunha Lima, que tem uma lógica de argumentação inteligente, ou que, pelo menos, faz sentido”.

Outra figura defensora do impeachment que aparece frequentemente na tela é Janaína Paschoal, jurista brasileira. Ela é responsável pelas cenas mais cômicas do filme - aparece fazendo alongamentos e tomando Toddynho no Senado. A relação de Paschoal com a religião fica explícita, já que na maioria de seus discursos contra Dilma ela evoca a figura de Deus (e da família tradicional brasileira). As expressões faciais dos personagens representados, que Maria Augusto Ramos capta com brilhantismo, dizem mais do que seus discursos.


O longa ganha também por ter um enfoque bem definido. A diretora não tem a intenção de, por exemplo, retratar todas as manifestações a favor e contra Dilma - apenas as que acontecem em Brasília. Figuras emblemáticas no atual contexto político brasileiro, como Lula e Sérgio Moro, praticamente não aparecem no longa (já que a intenção é realmente tratar sobre o processo de impeachment de Dilma).

“O Processo” não é um filme leve de se assistir, mas é fundamental para um maior entendimento da atual conjuntura social e política do Brasil. Escancara justamente o impeachment que a grande mídia evitou mostrar: inconsistente, misógino e revanchista.  “Eu não acredito em neutralidade, acho que um filme é uma visão de mundo. Meu filme é o meu statement, é a interpretação da minha experiência cinematográfica vivendo e filmando tudo o que aconteceu (...). Mas eu também não estou aqui para explicar, especialmente numa situação tão complexa quanto essa. O que eu quero é possibilitar questionamentos”, afirmou Ramos.
Classificação: Livre
Duração: 2h17



Tags: #OProcesso, #impeachment, #DilmaRousseff, #MariaAugustaRamos, #VitrineFilmes, #NofocoFilmes, #cinemanoescurinho

02 junho 2018

"Paraíso Perdido", um filme de cortar os pulsos

A história se passa quase toda numa boate nada convencional, onde uma família nada convencional se apresenta (Fotos: Vitrine Filmes/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Mais do que revolucionário, "Paraíso Perdido" é um filme libertário, atrevido e contemporâneo, verdadeiro discurso contra o preconceito. "Qualquer maneira de amor vale a pena" - é o que inspira o longa. E é esse sentimento que também parece mover os personagens. A história se passa quase toda numa boate nada convencional, onde uma família nada convencional se apresenta em performances que arrebatam e emocionam o pequeno público presente. Tudo é único, peculiar, inesperado.

Pode até ser que a trama criada pela diretora Monique Gardenberg se torne confusa em determinado ponto da história, mas isso não atrapalha nem tira o brilho do filme. Pelo contrário. Certa estranheza e uma pequena dose de esquisitice acabam por conferir charme e poder ao filme. E o elenco parece ter sido escolhido a dedo.

A começar pelo patriarca do núcleo, José, interpretado por um Erasmo Carlos extremamente à vontade, passando pelo novato Jaloo, que faz o travesti Ímã, uma descoberta da diretora. Completam a família Júlio Andrade, encantando como o cantor Ângelo; Hermila Guedes como a ex-presidiária Eva; Júlia Konrad como a grávida Celeste, e Seu Jorge como o filho adotivo Taylor, que sonha ser ator.

Correndo por fora, compartilhando dores e delícias com o grupo, estão Marjorie Estiano como a misteriosa Milene, Humberto Carrão como o sensível e atormentado Pedro; Felipe Abin como Joca, o namorado de Celeste; Malu Galli como a cantora surda Nádia e Lee Taylor, numa atuação comovente como o policial Odair, personagem central da trama. Tudo se encaixa de uma forma tão natural, que a credibilidade e empatia com o espectador são imediatas. Tudo se encaixa.

Um detalhe do longa que merece destaque: a música. "Paraíso Perdido" é todo embalado e costurado por canções populares que algum desavisado pode chamar de bregas. Pode, mas não deve. O diretor musical do filme é Zeca Baleiro e isso faz toda a diferença. Que ninguém espere cantorias manjadas do tipo "Eu não sou cachorro não", "Sandra Rosa Madalena" e "Receba as flores que te dou". Baleiro não se rendeu ao óbvio.

Os cantores e cantoras da boate dilaceram o peito do espectador apresentando pérolas românticas como "Sonhar contigo", de Adilson Ramos ("este é o meu maior desejo/ tomar tuas mãos, calar tua voz num longo beijo"), "Impossível acreditar que perdi você", de Márcio Greick ("não, eu não consigo acreditar no que aconteceu"), "Tortura de amor", de Waldick Soriano ("hoje que a noite está calma/e minh'alma esperava por ti") e "As minhas coisas", de Odair José ("o meu casaco com você se acostumou/ sentiu tanto a sua falta/ que de tristeza desbotou").

Não há sombra de crítica, riso ou deboche. Pelo contrário, há reverência, respeito ao sentimento. O ambiente é simples, a luz é baixa, o drinque barato está à mão e o clima é de pecado. De cortar os pulsos. "Paraíso Perdido" pode e deve ser conferido no Belas Artes 3 (sessões de 14h e 21h) , Cinemark BH Shopping 10 (16h20 e 21h30) e Net Cineart Ponteio 2 (18h40 e 20h50).
Duração: 1h50
Classificação: 14 anos



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