08 junho 2022

"Amado", inspirado na história real de um policial que combateu o crime e às milícias

Sérgio Menezes representando muito bem o papel do protagonista (Fotos: Divulgação)


Marcos Tadeu

Saindo do eixo Rio-São Paulo quando o assunto é o poder paralelo das milícias e o tráfico de drogas, "Amado" chega aos cinemas nesta quinta-feira (9) inspirado na história verdadeira do policial militar que dá nome ao filme e combatia esses crimes em Ceilândia, no Distrito Federal. Lutando contra tudo e contra todos, Amado começou uma cruzada contra criminosos - marginais e policiais corruptos -, sem se importar com cor, raça, credo ou sexo.

De policial honesto e incorruptível, para combater fogo contra fogo, o cabo Amado tornou-se também juiz e executor das sentenças daqueles que prendia, agindo acima da lei burocrática e falida que ele não acreditava mais. Para alguns, ele não passava de um policial truculento e fora da lei, enquanto para outros, um herói justiceiro solitário, numa localidade onde o crime e a corrupção imperavam.


Os inimigos o consideravam "um cara de corpo fechado". Por mais que tentassem matá-lo, ele sempre escapava. A oração de São Jorge era o guia da vida de Amado e ele a recitava como um escudo protetor contra o mal: "Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos tendo pés, não me alcancem; tendo mãos, não me peguem; tendo olhos não me vejam e nem em pensamentos eles possam me fazer mal. Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar". 


Dirigido por Edu Felistoque e  Erik de Castro, com o roteiro de Erik de Castro, o longa combina ação e drama, tendo o ator Sérgio Menezes representando muito bem o papel do protagonista, numa atuação segura que deu a credibilidade que o personagem exigia. 

Apesar de um roteiro bem realista, fica difícil não comparar Amado com o capitão Nascimento, de "Tropa de Elite" (2007), apesar deste último ser muito mais violento. "Amado" tem momentos bem pontuais de violência, mas seu personagem também questiona a polícia, apesar de ser integrante dela. 


Ao contrário do capitão Nascimento, que é um cara mais ignorante e truculento, o cabo Amado é mais doce com as pessoas que ele gosta. Ele também tem um amigo de longas datas, que fica dividido entre se corromper ou não, apesar de estar tão perto dela. Outro diferencial é o par romântico do militar - uma prostituta com quem quer se casar e tirá-la daquela vida, um ponto muito a favor do roteiro. 


Mas faltou explorar mais estes personagens da vida do cabo Amado, ao contrário do que ocorreu com a polícia que foi muito bem contextualizada. No elenco estão também Adriana Lessa, Alexandre Barillari, Igor Cotrim, Brenda Ligia, Neco Vila Lobos , Sérgio Cavalcanti e Gabriela Correa.

Filmado durante a pandemia de Covid-19, "Amado" enfrentou interrupções ao longo de seu processo de produção, que foram vencidas pelo empenho e persistência e o empenho dos diretores, da equipe e do elenco que permitiram que o filme fosse concluído com um saldo positivo.


Ficha técnica:
Direção: Edu Felistoque e Erik de Castro
Produção: BSB Cinema Produções / Felistoque Filmes / Assum Filmes
Distribuição: Downtown Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h30
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gêneros: drama / ação

03 junho 2022

“Lei da Selva – A História do Jogo do Bicho” é um quebra-cabeças do crime organizado onde tudo se encaixa

Documentário de Pedro Asbeg em quatro episódios  tem excelente narração do ator Marcelo Adnet (Fotos: Canal Brasil)


Mirtes Helena Scalioni


Não seria exagero se o documentário “Lei da Selva – A História do Jogo do Bicho”, de Pedro Asbeg (“Democracia em Preto e Branco” – 2014, “Geraldinos” – 2016, “América Armada” – 2018) se chamasse simplesmente “De Vila Isabel a Brasília”. De forma didática e cirúrgica, a série mostra, em quatro episódios, como foram construídas e celebradas as relações entre um inocente sorteio com nomes de animais e o crime organizado, com direito à participação da máfia italiana e dos poderes constituídos. Tudo a céu aberto, a olhos vistos, com o consentimento e a conivência de policiais, juízes, políticos, governos e imprensa.


Quando o Barão de Drummond criou o jogo do bicho em 1892, com a prosaica intenção de ajudar na manutenção de um jardim zoológico no bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, não imaginava que sua criação chegasse tão longe e tivesse tanto poder 130 anos depois. É justamente esse passo a passo que a série mostra. E faz isso de um jeito tão envolvente que prende o espectador do começo ao fim, como se fosse uma obra de ficção.


Só que “Lei da Selva...” não é ficção. Os caminhos escolhidos pelo crime organizado – que muitos preferem chamar de contravenção para amenizar – passam por uma disputa sangrenta de espaço, muita violência, sangue e mortes, tudo acontecendo enquanto os donos da banca dançam, sambam e são chamados de “patronos”. 

Escolas de samba e times de futebol foram, no início, os truques que ajudaram a lavar o nome e o dinheiro dos chefões, que se tornaram celebridades ao ponto de posarem ao lado de poderosos diretores de TV e de gente graúda da imprensa e da política.

Marcelo Adnet (Divulgação)

Foi dessa forma que o Brasil conheceu e aprendeu a aplaudir nomes como Castor de Andrade, Miro, Luizinho Drummond, Capitão Guimarães, Anísio Abrahão David e outros. Foi assim também que o país tomou conhecimento de uma juíza chamada Denise Frossard que, a certa altura, quis acabar com aquela farra. Com narração acertada do humorista Marcelo Adnet, uma das grandes riquezas da série, além do roteiro bem amarrado, está na lista de entrevistados. 

Castor de Andrade (Divulgação)

Estão lá, para falar das sutilezas que foram transformando um simples jogo numa máfia, acadêmicos do porte de Marco Antônio Simas e Michel Misse, entre outros, passando pela urbanista e vereadora carioca Tainá de Paula, além de Marcelo Freixo e muitos jornalistas que viveram as transformações. Devagar, o movimento ia sendo aceito pelo Rio de Janeiro e, de certa forma, pelo Brasil. Como se tudo fosse legal.

Numa espécie de evolução natural, com o jogo do bicho vieram o samba, o futebol, o tráfico de drogas, as milícias, a política, o escritório do crime e o surgimento de nomes como Ronnie Lessa, Anderson Nóbrega, Álvaro Lins, Fabrício Queiroz e outros muito conhecidos das páginas dos jornais brasileiros.

Carnavalesco Milton Cunha (Divulgação)

E a série não poupa ninguém. Estão lá registradas a conivência de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro e outros quando da construção do sambódromo e a oficialidade que se deu à criminalidade com a criação da Liesa – Liga das Escolas de Samba. 

Sem falar na expansão dos territórios dos bicheiros até o domínio de uma região do Rio de Janeiro chamada Rio das Pedras, que se formou a partir do crescimento da Barra da Tijuca. Foi lá que viveu e militou a vereadora carioca Marielle Franco, assassinada em março de 2018. 


Um verdadeiro quebra-cabeças onde as peças se encaixam com justeza e perfeição. Imperdível para quem quer conhecer um pouco mais da História do Brasil que não é contada em livros oficiais, “Lei da Selva – A História do Jogo do Bicho” é uma coprodução da Kromaki e Canal Brasil e está em cartaz nas plataformas Globoplay +, Now e no próprio Canal Brasil.


Ficha técnica:
Direção: Pedro Asbeg
Locução: Marcelo Adnet
Produção: Kromaki e Canal Brasil
Exibição: Globoplay + / Now / Canal Brasil
Duração: quatro episódios, com duração de 43 e 60 minutos cada
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gêneros: Documentário / Crime