18 fevereiro 2018

"A Forma da Água" - uma fábula de fantasia para um duro contexto de realidade

Sally Hawkins entrega um excelente trabalho como a funcionária muda que se apaixona pelo ser aquático preso no laboratório (Fotos: 20th Century Fox/Divulgação)

Wallace Graciano


O cinema sempre teve como grande atributo apontar ao público o “elefante branco na sala”. Pelo fantástico, há uma transgressão às regras preestabelecidas e se aponta determinadas feridas em camadas que aos poucos são reveladas. O diretor Guillermo Del Toro é um dos que melhor sabem conduzir esse tipo de narrativa, como mostrou em “Labirinto do Fauno”, em 2006, ao subverter o gênero da fantasia para explorar determinados meandros, levemente inseridos na película. 



Uma década depois, com “A Forma da Água” ("The Shape of Water"), ele volta a apresentar uma fábula que expõe contextos políticos e sociais ao ridículo, com toques de fantasia que captam qualquer expectador. Não à toa, recebeu 13 indicações ao Oscar e talvez tenha chegado àquela que pode ser sua obra-prima.


Assim como outrora, ele leva a fantasia para escapar do duro contexto da realidade. Desta vez, a ambientação se passa em um laboratório secreto norte-americano, em meados da década de 1960, no ápice da corrida espacial e da Guerra Fria. O ambiente rígido e paranoico começa a ganhar cor através de Eliza (Sally Hawkins), uma zeladora muda que trabalha no local. Certo dia, ela chega ao centro e se depara com um humanoide anfíbio. A partir desse momento, embriagada pelo sentimento em comum de solidão e de ser párea da sociedade, ela constrói uma relação intrínseca com aquele “monstro”.


Nesse momento, entra um parêntese ao belíssimo trabalho de condução de Del Toro, que conseguiu fazer uma conexão incomum entre realidade e fantasia, criando uma sinergia que dialoga em meio à atmosfera militar da película, de tons escuros com cores quentes escolhidos pela fotografia. A isso, soma-se o trabalho de maquiagem, que, como ele, já se caracterizou em suas últimas obras.

Em suma, “A Forma da Água” é uma belíssima fábula moderna, que conta com leveza um romance muito além do imaginário em um ambiente paranoico. Uma obra que justifica o Leão de Ouro do Festival de Cinema de Veneza como Melhor Filme.



Ficha técnica:
Direção: Guillermo Del Toro
Produção: 20th Century Fox / Fox Searchlight Pictures
Distribuição: Fox Film do Brasil
Duração: 2h03
Gêneros: Fantasia / Drama / Romance
País: EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 5 (0 a 5)

Tags: #AFormadaAgua, #GuillermoDelToro, #SallyHawkins, #OctaviaSpencer, #RichardJenkins, #MichaelStuhlbarg, #GuerraFria, #cinemas.cineart, #FoxFilmdoBrasil, #FoxSearchlightPictures, #cinemanoescurinho

16 fevereiro 2018

Em "Cinquenta Tons de Liberdade" até Cinderela ficaria com vergonha da história

O casal Anastasia Steele e Christian Grey completa a trilogia escrita por E.L. James (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


E a famosa trilogia chega ao fim. "Cinquenta Tons de Liberdade" ("Fitty Shades Freed") conseguiu ser pior que os dois filmes anteriores, com uma história boba que até Cinderela teria vergonha de interpretar. Se o casal Anastasia Steele (Dakota Johnson) e Christian Grey (Jamie Dornan) já não convencia no primeiro filme, a situação só ficou pior neste com o casamento esperado pelas fãs que acompanharam ansiosas o fim do conto de fadas moderno. E terminou deixando muito expectador que não leu os livros sem saber se a proposta dos filmes era ser pornô chique, sadomasoquismo ou só uma história boba com final previsível para atrair uma legião de mulheres ao cinema.

E foi isso que aconteceu, incluindo neste terceiro nas salas onde está sendo exibido: um grande público feminino e pequena presença masculina, acompanhando a esposa ou a namorada. Na sessão em que estava um senhor acompanhado da esposa chegou a roncar durante o filme. A história era tão "interessante" que duas jovens sentadas na fileira atrás da minha não paravam de tagarelar e a expectadora na fileira da frente passou boa parte enviando whatsapp para uma conhecida.


"Cinquenta Tons de Liberdade" é clichê do início ao fim, com direito a casamento, véu, grinalda e vestido branco, mansões, jatos, viagens pelo mundo, seguranças particulares, governantas e um vilão, Jack Hyde (Eric Johnson) que poderia ter salvado tudo, mas era tão ruim quanto os protagonistas. Dakota dá a impressão de que não via a hora de a trilogia acabar. 

Dornan está ainda mais sem sal. Ele inclusive deu algumas declarações sobre as filmagens que geraram mais interesse do que sua atuação. Como a de que usou enchimento para dar volume às "partes íntimas". Sinal de que o ator precisa de propaganda enganosa para valorizar seu personagem, que sempre foi o lado fraco do pseudo-romance porno-chique.

Anastasia continua tirando a roupa facilmente (acho que se esqueceram de avisar ao roteirista que o público masculino é reduzido), enquanto Christian fica só fazendo gênero, usando calça jeans e sem camisa com barriga tanquinho e bunda exposta à meia luz. E só. "Cinquenta Tons de Liberdade" continua machista e idiota, expondo apenas o corpo da mulher e preservando o do homem, como em seus antecessores, agora fazendo a linha família.

"Cinquenta Tons de Liberdade" agrada quem sonha com um marido rico, poderoso e apaixonado, uma vida de glamour com tudo o que o dinheiro pode proporcionar, especialmente um casamento de princesa. O último filme da trilogia tem tudo isso, além de tentativa de assassinato e sequestro e final feliz bem família quem nem em sessão da tarde se vê mais. As poucas cenas mais apimentadas ficam apenas "nos entretanto". Os "finalmente" ficam por conta da imaginação do público.


A produção não faz nem um meio de campo, já começa no casamento de Anastasia e Christian, lua de mel fantástica, passeio de jatinho, iate e jet ski, marido ciumento e uma mulher que não aceita mais ser subjugada. O agora casal Grey terá de aprender a viver junto, continuar mantendo acesa a chama do desejo, se proteger de antigos inimigos (nem isso mudou) e ser "feliz para sempre".

Não espere muito de "Cinquenta Tons de Liberdade", que deixa a sensação de que foi feito só para encerrar a trilogia. Faltaram desejo, calor, criatividade e, acima de tudo, interpretação. Mas deverá ser outro sucesso de bilheteria, como aconteceu com "Cinquenta Tons de Cinza" (2015) e "Cinquenta Tons Mais Escuros" (2017), que renderam quase U$ 950 milhões pelo mundo.



Ficha técnica:
Direção: James Foley
Produção: Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures do Brasil
Duração: 1h46
Gêneros: Drama / Romance / Erótico
País: EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 2 (0 a 5)

Tags: #CinquentaTonsdeLiberdade, #JamesFoley, #DakotaJohnson, #JamieDornan, #EricJohnson, #ELJames #drama, #erotico, #romance, #UniversalPictures, #cinemas.cineart, #espacoz, #cinemanoescurinho