28 junho 2018

"Sicário - Dia do Soldado" tem boas atuações mas se perde em roteiro confuso e emotivo

Benício Del Toro e Josh Brolin retornam a seus personagens nesta continuação do sucesso de 2015(Fotos: Richard Foreman Jr./ Studiocanal)

Maristela Bretas


Se em "Sicário - Terra de Ninguém" (2015), o diretor Denis Villeneuve entregou um excelente filme, com roteiro na medida de Taylor Sheridan, expondo a violência e a crueldade do tráfico de drogas, além das ótimas interpretações de Josh Brolin, Benicio Del Toro e Emily Blunt, o mesmo não acontece com "Sicário - Dia do Soldado". Exceto pela ausência da atriz, nem mesmo Brolin e Del Toro conseguem salvar o roteiro confuso desta continuação, que deixa uma série de dúvidas.

O roteirista é o mesmo, mas o diretor Stefano Sollima preferiu fazer uma colcha de retalhos de assuntos, misturando narcotráfico com tráfico de pessoas, terrorismo islâmico passando pela fronteira do México com a ajuda dos cartéis. Depois desfaz tudo, esquece o início e parte para o problema da imigração ilegal e do negócio lucrativo que esta modalidade de crime representa. Mas sem aprofundar no assunto. E para quem não assistiu o primeiro, Sicário, no México, significa assassino de aluguel. Mas só lá no finalzinho o termo vai ter algum sentido no filme.

"Sicário - Dia do Soldado" é um filme de ação, que conta com as ótimas atuações de Benício Del Toro como o misterioso "colaborador" da CIA, Alejandro Gillick, e Josh Brolin, interpretando o agente da CIA, Matt Graver, ambos mais maduros em seus papéis. Mas o roteiro fica "muuuuuuuuito" aquém do primeiro, uma produção tensa, com suspense que prende na cadeira e personagens cruéis na guerra entre os cartéis mexicanos e os EUA.

Este segundo longa tenta mostrar que as decisões políticas é que vão definir os rumos da história, mas o diretor fica batendo cabeça, sem saber como explicar toda a ação. Acaba por usar o sequestro da adolescente Isabel Reyes (papel de Isabela Moner, de "Transformers: O Último Cavaleiro" - 2017), filha de um chefão do narcotráfico, como pano de fundo para justificar a abordagem. Chega num ponto que você fica sem saber qual é o foco do filme - o combate ao narcotráfico, uma apologia à política armamentista norte-americana ou somente um sequestro que toma um rumo não esperado.

Saem as pilhas de corpos espalhados por Juarez, na fronteira do México com os EUA, mas continuam as operações secretas - "agora sem regras", como diz o título, como se isso não tivesse acontecido no primeiro. Mas o que mais pesou (não por culpa dos dois personagens principais que são ótimos) foi o fato do filme ter perdido sua principal característica - a frieza de Graves e Alejandro. Eles se tornam mais humanos e sentimentais, e ganham até um "tiquinho" de escrúpulos com os inimigos.

O pior fica por conta de Alejandro que, de advogado do cartel de Medelin (Colômbia) do primeiro filme, acaba criando uma relação quase de pai e filha com a jovem sequestrada. Graves, mesmo com liberdade para agir como quiser (o que não é verdade), também passa a não aceitar cometer determinados por ordem dos chefões de gabinetes - o secretário de Justiça, James Riley (papel de Matthew Modine) e a chefe da CIA, Cynthia Foards (vivida por Catherine Keener, um desperdício de talento).

Colocados todos estes pontos, mesmo assim recomendo assistir "Sicário - Dia do Soldado" para quem gosta de muito tiroteio,  ação, boas perseguições e emboscadas e da dupla principal. A trilha sonora é boa, mas não tão impactante.  Aconselho ver o antecessor primeiro para entender melhor os personagens e alguns pontos que ficaram no ar no segundo.



Ficha técnica:
Direção: Stefano Sollima
Produção: Lionsgate
Distribuição: Sony Pictures
Duração: 2h02
Gêneros: Suspense / Ação
País: EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 3 (0 a 5)

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26 junho 2018

"50 são os novos 30" - Delícia de comédia com a cara de filme francês

Marie-Francine e Miguel dividem os mesmo problemas de separação com filhos e sem uma casa própria para viverem (Fotos: Jean Marie Leroy/Gaumont Productions)

Mirtes Helena Scalioni


Não dá muito pra entender por que traduziram o título "Marie-Francine" para "50 são os novos 30", filme em cartaz pelo Festival Varilux de Cinema Francês 2018, com distribuição no Brasil pela Cineart Filmes. Dá até pra imaginar que os tradutores quiseram reforçar uma nova verdadezinha que, às vezes, rola nas redes sociais, segundo a qual, é cada vez maior o número de descasados maduros que, devido à crise financeira, são levados a voltar para a casa dos pais. Não dá pra saber se a máxima é baseada em alguma estatística confiável, mas é possível assegurar que, como versão para o nome do longa em questão, foi uma forçada de barra.

É certo que o filme fala exatamente disso, das contingências que levam uma mulher de 50 anos, Marie-Francine a retornar à casa dos pais após perder um emprego de mais de 10 anos e de levar um fora do marido que, claro, a trocou por uma mulher mais nova. Sem dinheiro e sem muito diálogo com as filhas adolescentes, só resta a Marie-Francine apelar para o aconchego do seu antigo lar. 


Ao montar uma lojinha de cigarros eletrônicos para ajudar nas despesas, ela conhece Miguel (Patrick Timisit) que, descobre-se, está na mesma situação que ela. Talvez isso tenha encorajado os tradutores a apelar para "50 são os novos 30", numa alusão a uma geração de 30 anos que, hoje, se acomoda na segurança da casa de papai e mamãe. 

A atriz principal, que faz o papel título e a irmã gêmea dela (Marie-Noëlle), é a excelente Valérie Lemercier, que por sinal é também a diretora do filme e uma das roteiristas. Isso já seria um ótimo motivo para respeitar o título original. "50 são os novos 30" é uma comédia, na verdade, uma boa comédia romântica, o que, em teoria, abre janelas para certa licença poética. O grande diferencial do longa é sua nacionalidade. Impressionante como os filmes franceses, não apenas os desse gênero, são absurdamente mais coloquiais do que os seus semelhantes americanos. 

Nada de mulheres lindíssimas e gostosas, nada de homens malhados, nada de caras, bocas e poses. O charme das obras francesas, não só desse gênero, é a naturalidade das interpretações. A mulher está sempre descabelada, o homem é careca, as roupas são comuns. Estão ótimos também Hélène Vincent e Philipe Laudenbacsh como os pais de Marie-Francine.


Um detalhe: ao falar de espaço e privacidade, "50 são os novos 30" fala também de uma Paris de apartamentos minúsculos e apertados, de escadas compridas e elevadores mínimos. E, embora, a certa altura, o enredo parta para uma espécie de acomodação para um final esperado, não se pode negar que há sim um jeito de "filme francês" que é irresistível. Além do idioma, lógico. 

Outro detalhe típico que encanta são as comidas. Como o personagem Miguel trabalha em um pequeno restaurante, há muitas delícias harmoniosamente arranjadas em pratos ou tigelinhas. Tudo muito simples, mas com um toque de requinte como convém ao modo francês de ser. E como de costume, um toque musical brasileiro estilizado - romance ao som da versão francesa de "Balancê, balancê", sucesso de carnaval de Gal Costa de 1979.
Duração: 1h35
Classificação: 12 anos
Distribuição: Cineart Filmes


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