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12 maio 2023

“As Órfãs da Rainha” une ficção e história do Brasil colonial para falar de temas atuais e urgentes

Três jovens são enviadas de Portugal pela Rainha para formar as primeiras famílias no Brasil colonizado (Fotos: Persona Filmes/Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


A pergunta inevitável ao final da sessão é: de onde a diretora tirou esse roteiro, que toca em temas tão intrigantes, comoventes e atuais como intolerância religiosa, opressão das mulheres e preconceito, mesmo sendo uma história passada no século XVI, em pleno Brasil Colônia? 

Em mais de 300 livros lidos e outras centenas de documentos pesquisados, é o que tem explicado a mineira Elza Cataldo em suas entrevistas ao longo do lançamento de “As Órfãs da Rainha”, em cartaz nos cinemas da rede Cineart e UNA Cine Belas Artes.


Foi por volta de 1590, em algum lugar do recôncavo baiano, que a diretora Elza Cataldo, junto com os roteiristas Pilar Fazito e Newton Cannito, localizaram a fictícia Vila Morena, onde se passa a trama. 

Em algum momento, aportam naquele ambiente inóspito e hostil, em plena selva, três jovens que teriam sido enviadas de Portugal pela Rainha, com o objetivo, entre outros, de formar aqui as primeiras famílias. E é ali, entre indígenas, escravos negros e imigrantes brancos que as mocinhas tentam sobreviver e escrever suas próprias histórias.


Como convém a filmes bem construídos, “As Órfãs da Rainha” vai entregando, aos poucos, o que levou a tal Rainha de Portugal a enviar aquelas jovens mulheres ao Brasil. A chegada de um grupo religioso com seus conceitos, leis e castigos, em confronto com costumes e cerimônias de imigrantes judeus e indígenas nativos, é, talvez, o ápice do filme, surpreendendo espectadores até então indecisos sobre os rumos daquela estranha história.


Filmado numa fazenda em Tocantins de Minas, na Zona da Mata, o longa ganha contornos de realidade, muito em função de uma nítida pesquisa histórica. Além, claro, da direção de arte de Moacyr Gramacho, a fotografia de Fernando Tamaka e os figurinos impecáveis de Sayonara Lopes e Rosângela Nascimento. No filme fala-se, além de Português, também os idiomas judaico e indígena.


Os atores do filme de Elza Cataldo – a maioria de Minas – são um capítulo à parte. A começar pelas três órfãs, feitas com maestria por Letícia Persiles (Leonor), Rita Batata (Brites) e Camila Botelho (Mécia), o elenco é todo um raro acerto. Destaques para a atuação de César Ferrario como Escobar, o imigrante judeu dono de engenho; Alexandre Cioletti como Thales, o marido violento de Brites; e Juliana Carneiro da Cunha, no magistral papel de Dona Tareja, a cega guardiã das tradições judaicas.

Também merecem destaque Celso Frateschi como o inquisidor, as impecáveis Inês Peixoto (Isabel) e Teuda Bara (Donana) como as feiticeiras curandeiras, e Jai Batista numa interpretação emocionante e convincente de Marta, escrava alforriada que se vê entre a delação e a condenação. 


Há ainda Eduardo Moreira (Padre Jorge), Adana Omágua Kambeba (Apolônia), Mauri Borari (Zomé), Luiz Gomide (Padre Joaquim), Beto Milani (Diogo), Kika Bruno (Paula), Camilo Lélis (Damião), Odilon Esteves (notário). E mais Anderson Kwarai Venite, Israel da Costa Silva, Hugo Tupã Pires de Lima, Kuaray Jekupe Andrey da Silva de Oliveira, Vera’i Cristiano da Silva Oliveira e outros. 


Como se vê, há atores indígenas no filme, alguns falando idiomas originários, o que fortalece a autenticidade do longa.

Enfim, “As Órfãs da Rainha” é muito mais do que um drama histórico. É também um discurso forte sobre a causa das mulheres, tradicionalmente oprimidas e violentadas, e, acima de tudo, um alerta mais do que oportuno sobre os danos do radicalismo religioso. Impossível não aplaudir no final.


Ficha técnica:
Direção e produção: 
Elza Cataldo
Roteiro: Elza Cataldo, Pilar Fazito e Newton Cannito
Realização: Persona Filmes
Distribuição: Cineart Filmes
Exibição: rede Cineart e Una Cine Belas Artes
Duração: 2 horas
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gêneros: história, drama

14 janeiro 2023

Estreia de "Chef Jack - O Cozinheiro Aventureiro" é o tempero mineiro na animação

Desenho com dublagem de Danton Mello se destaca pela qualidade e o formato 2D (Fotos: Immagini Animation Studios)


Eduardo Jr.


O diretor mineiro Guilherme Fiúza Zenha estreia nesta quinta-feira (19) "Chef Jack - O Cozinheiro Aventureiro", o primeiro longa de animação 100% feito em Minas. A produção se destaca não só por isso, mas também pela qualidade e por ser feito em 2D. Uma ousadia em um momento em que muitas produções apelam - até quando desnecessário - para o formato 3D. 


Na história, Jack é um cozinheiro que se mete em diversas aventuras para conseguir os ingredientes mais raros do mundo e completar suas receitas únicas. 

Dono de um ego bem grande, vê sua reputação ser abalada. E encontra a possibilidade de resgatar o prestígio participando da maior competição de gastronomia do mundo: a Convergência de Sabores. 

Embora domine a culinária, a disputa vai exigir de Jack habilidades de relacionamento - e aí as coisas se complicam. Ele terá que aprender a trabalhar em equipe com o novato pouco confiante, o sonhador Leonard.


O filme é uma produção da mineira Immagini Animation Studios Brasil e Cineart Filmes. A codistribuição fica a cargo da Sony Pictures e da Cineart. A dublagem do protagonista ficou a cargo do experiente Danton Mello (nascido em Passos, interior de Minas). 

O ator já emprestou sua voz a Leonardo DiCaprio em filmes como “Titanic” (1997) e produções como “Os Goonies” (1985) e a franquia “Indiana Jones” (1981 a 2008). Além das animações "Pets - A Vida Secreta dos Bichos" (2016) e "Pets 2" (2019). 


O diretor Guilherme Fiúza (conhecido por trabalhos como “O Menino no Espelho”, baseado na obra do escritor Fernando Sabino) faz sua estreia na animação. E empresta de Sabino um elemento importante para essa história: a amizade. 

Em conversa com a equipe do Cinema no Escurinho, o diretor disse que um traço forte dos mineiros é valorizar as relações com os amigos: “a gente cultua muito a amizade, que está no Clube da Esquina, está na obra de Fernando Sabino, e tem também a cozinha, que é onde a gente se reúne, se sente melhor, é acolhido”. 


Já Danton revelou detalhes técnicos da produção, ao dizer que este trabalho foi diferente de outros realizados. “Às vezes o filme já vem pronto, e aqui não. Eu pude entrar no estúdio e criar, porque não tava colorido, não tinha som… e aí desenharam a boca do Jack em cima da minha voz”, conta. Confira a entrevista abaixo, feita na pré-estreia em BH.


O desenho também se diferencia pela grande quantidade de personagens femininas e de pele parda ou preta. Entre os poucos de pele branca estão a apresentadora do reality de culinária e o vilão, que tenta unir a vitória no jogo a uma vingança particular. 

Além de parecer antenado à crescente abordagem da pauta racial, o filme parece surfar também a onda de programas de gastronomia das TV’s a cabo e aberta. 


"Chef Jack” consegue dialogar com o público jovem por meio de referências a memes e à construção de um gestual que reforça o que a dublagem diz. Nas palavras do diretor, “não é um filme pra você trazer seu filho pra assistir, é pra você vir assistir junto com seu filho, com a família toda”. 

De fato, a obra cumpre esse papel. Mas vale a pena deixar o alerta para os adultos, que podem estranhar cenas mais longas e cenários com desenhos de baixa complexidade. 


No geral, vale destacar o bom trabalho realizado pela equipe enxuta. Nos créditos é fácil ver que o espírito de colaboração (ou o orçamento) fez com que alguns integrantes tivessem até três funções na produção. 

Destaque para o roteiro, criado pelo Arthur Costa, com pós-roteiro e pós-produção de Carlos Daniel Costa, ambos da UFMG, onde nasceu o projeto, desenvolvido ao longo de três anos.

Como o cenário do audiovisual mineiro está distante do que é feito em Hollywood, fica ainda mais evidente o quanto estamos evoluindo e o bom resultado de “Chef Jack”, que diverte, emociona e faz crianças vibrarem.  


Ficha técnica:
Direção: Guilherme Fiúza Zenha
Produção: Immagini Animation Studios e coprodução Pixel Produções e Ciclus Produções
Distribuição: Sony Pictures e Cineart Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h20
Classificação: Livre
País: Brasil
Gêneros: animação, aventura, culinária

09 dezembro 2021

“Esquadrão na Moral – Uma Aventura em Natal”, um filme para inspirar empatia em crianças e adolescentes

Produção independente infantojuvenil foi gravada em Jundiaí (SP) em 2020 para ser uma série, que acabou virando um longa-metragem (Fotos: Tiago Braga/Divulgação)

 

 Maristela Bretas 

Inspiração, solidariedade, empatia e superação. Estes são os valores que o longa infantojuvenil “Esquadrão na Moral – Uma Aventura em Natal” mostra a partir desta quinta-feira, nos cinemas. Voltado para a família, o filme conta a história de quatro crianças espertas e aventureiras – Enzo (Felipe Costa, dos musicais “Billy Elliot” e “A Fantástica Fábrica de Chocolate”), Caleb (Agyel Augusto), Ana Victoria (Bebel Aguiar) e Ravena (Lara Vazz) - que recebem uma tarefa diferente da professora Lis (Maressa Manfre) no Natal: fazer o bem e ajudar alguém. Nesse caminho, eles encontram Alice, mais conhecida como “Bolacha” (Yasmin Vertente), uma menina muito alegre e divertida. Um encontro que vai mudar a vida de todos eles.
Com roteiro e direção de Henrique Sattin, produzido pela Belluna Filmes e distribuído pela Cineart Filmes, o longa-metragem conta ainda em seu elenco com vários artistas conhecidos da dramaturgia e cinematografia brasileira: Glauce Graieb (participou de novelas como “Paraíso Tropical“) é a Vó Donis; Paola Rodriguez (Regina); Ernando Thiago (Rômulo); Carlos de Nigro (Sérgio); Ossamá Sato (Iuki); Pedro Pauley (Antônio); Carol Nourane (Martha); Anna Fontanela (Ayla); Victor Sattin (Kauã); Rogério Barbosa (diretor Afonso) e JPeron (o homem misterioso). 
 
 
Gravado no final do ano passado em Jundiaí, interior de São Paulo, o filme utilizou diversos moradores como figurantes, além da Escola La Fontaine, o Boulevard Beco Fino, a Vinícola Saccomani e vários pontos da cidade como cenário. Segundo Henrique Sattin, a ideia desta produção independente e colaborativa surgiu em julho de 2020, em parceria com Isiel Miranda e Maressa Manfre. Seria uma série, para ser exibida no Natal ou no máximo nas férias escolares de janeiro deste ano, em TV, streaming ou no cinema. Mas o roteiro acabou sendo transformado em um longa-metragem.
 
 
“Esquadrão na Moral – Uma Aventura em Natal” é uma estória de aventuras e desafios, com muita superação, coragem, aprendizado, diversão, reflexão e empatia. São valores que as crianças e adolescentes precisam aprender a lidar no seu dia a dia e que vão ajudá-los a enxergar o mundo de uma forma mais humana e social. E na pré-estreia especial para convidados com crianças, em BH, “Esquadrão na Moral” já mostrou que vai agradar bem ao público infantojuvenil. 

A linda Alice Maia, de seis anos, convidada do @cinemanoescurinho, assistiu ao filme junto com os pais Joubert Maia e Nathalia Martins e ainda fez foto com uma das atrizes. Ela deixou um recadinho para a turma. “Adorei o filme, ele me ensinou o que é empatia, que é se colocar no lugar dos outros. No filme, o Esquadrão na Moral pratica empatia ajudando uma menininha, a Bolacha. Eu recomendo o filme pras crianças e pros adultos também”.


E esta proposta foi aprovada pela mamãe da Alice, Nathalia Martins. “Adorei o filme. Eu e Joubert sempre procuramos inserir Alice no mundo cultural e buscamos referências positivas em toda forma de arte. E nesse quesito, “Esquadrão na Moral” me surpreendeu. É um filme leve, divertido e pra toda família. Nos leva a refletir sobre nosso real papel na sociedade e é isso que queremos passar pros nossos filhos. Todo mundo deve assistir! 
 
 
Ficha técnica
Direção e roteiro:
Henrique Sattin
Produção: Belluna Filmes
Distribuição: Cineart Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h10
Classificação: Livre
Gêneros: infantojuvenil / família / aventura

24 abril 2019

"O Último Lance" é um belo filme sobre relacionamentos, família e obsessão pela arte

Heikki Nousiainen interpreta um velho marchand finlandês que tenta dar sua última cartada para salvar sua galeria de arte (Fotos: Divulgação)

Maristela Bretas


Em tempos de "Vingadores - Ultimato" e "Shazam!", "O Último Lance" ("Tuntematon Mestari"), que aborda arte e relações humanas ligadas pela obsessão de um velho homem, foge completamente do circuito blockbuster e entrega a seu público um ótimo drama. A produção finlandesa é tocante, emociona e aborda velhice, sonhos perdidos, orgulho afastando pessoas e o amor pela arte como única razão de viver.


"O Último Lance" tem uma bela fotografia, é bem conduzido, o roteiro um pouco óbvio, mas sem atrapalhar o drama e uma excelente atuação do ator finlandês Heikki Nousiainen como Olavi. Ele é um negociante de arte de 72 anos, viúvo, que não aceita a aposentadoria se aproximando e com ela fim de toda uma vida voltada para a aquisição e venda de obras de arte. Sua galeria não é mais procurada pelos grandes compradores e quando surgem novos clientes, ele vê suas paixões virarem peças de barganha, como uma fruta na feira.


Quase sem amigos, Olavi não se relaciona com a filha e o neto Otto (Amos Brotherus) e é pressionado a se desfazer de seu espaço por causa das dívidas que acumula. Pressionado pela filha (Pirjo Lonka), acaba contratando o neto como estagiário. Um garoto rebelde que não aceita ordens ou orientações de ninguém.


No entanto, o interesse por obras de arte do avô e a facilidade de negociação de Otto vai unir estes dois desconhecidos, especialmente após uma misteriosa obra que vai a leilão despertar a obsessão de Olavi. O marchand vê na pintura a oportunidade de um último grande negócio para ajudá-lo a saldar as dívidas, se reaproximar da família e consertar os erros do passado.


O relacionamento de amor, mágoa, respeito (e também de falta dele) entre Olavi e Otto é o ponto principal de "O Último Lance". A mãe faz a ponte, mas são os dois atores, desconhecidos do circuito comercial, que entregam um filme belo e sensível, que vale a pena ser conferido a partir desta quinta-feira (25) nas salas Cineart.



Ficha técnica:
Direção:  Klaus Härö
Produção: Making Movie
Distribuição: Cineart Filmes
Duração: 1h35
Gênero: Drama
País: Finlândia
Classificação: Livre
Nota: 4 (0 a 5)

Tags: #OUltimoLance, #Finlândia, #drama, #CineartFilmes, @cineart_cinemas, @cinemanoescurinho

21 novembro 2018

"PO" - uma abordagem sensível e emocionante do autismo que toca o coração

A relação entre um pai e seu filho autista, que sofrem com a perda da mãe e precisam reconstruir a família (Fotos: Cineart Filmes/Divulgação)

Maristela Bretas


Para muitos pode parecer mais um filme piegas, que faz chorar, sobre um assunto diversas vezes abordado pelo cinema - o autismo. Mas "PO" ("A Boy Called Po"), que estreia nesta quinta-feira (22) nos cinemas, com distribuição da @CineartFilmes, é uma produção sensível, emocionante desde o início, com uma trilha sonora irrepreensível composta e interpretada por Burt Bacharach, que tem como música-tema a maravilhosa "Close To You".


"PO" apresenta uma nova abordagem sobre o autismo e é um filme para ser visto por pessoas com sensibilidade para entender e acompanhar o drama de um pai viúvo que terá de criar sozinho o filho autista e ainda conciliar seu trabalho e as despesas com a casa e a criança. Christopher Gorham (da série de TV "Covert Affairs"), no papel do pai David Wilson, e o estreante Julian Fader, que surpreende como PO, o filho autista, estão muito bem ao mostrarem uma relação que tinha uma mãe que os unia e agora precisará ser refeita para que os dois possam continuar como uma família.


Após a morte da esposa, vítima de câncer, David Wilson fica com a responsabilidade de cuidar sozinho do filho Patrick, que gosta de ser chamado de PO, um garoto autista extremamente inteligente, mas que enfrenta o preconceito e o bullying na escola e das pessoas à sua volta. Para fugir do mundo real, cria seu próprio universo, onde ele é perfeito e convive apenas com pessoas e personagens que o deixam mais confortável. 


Enquanto isso, a relação com o pai, que faz de tudo para compreendê-lo, ao mesmo tempo em que precisa equilibrar o sofrimento com a perda da esposa, o trabalho e as despesas, vai se tornando cada vez mais distante. Os dois terão de aprender a dividir seus sentimentos para superar o trauma e evitar que o autismo tome conta totalmente da mente de PO e o leve para sempre para o seu mundo imaginário.


A abordagem do longa “PO” já foi usada em outra produções, mas o diretor John Asher soube aproveitar bem o tema ao inserir a letra de "Close To You", composta por Burt Bacharach e lançada em maio de 1970 pela dupla The Carpenters (foi um de seus maiores sucessos) para ilustrar o drama de pai e filho. E fazer chorar, com certeza. Confira aqui.


Além dela, compõe a trilha sonora a bela "Dancing With Your Shadow", interpretada por Sheryl Crow, também composta por Bacharach em homenagem a sua única filha, Nikki, que se suicidou em 2007 aos 40 anos, e era portadora da Síndrome de Asperger, um tipo de autismo. Clique aqui para curtir.


O longa ainda conta com belas locações, especialmente as imagens do universo imaginário de PO. Produzido em 2017, mas só agora estreando nos cinemas, "PO" já circulou por festivais mundo afora e ganhou prêmios de Melhor Filme no Albuquerque Film & Music Experience, Palm Beach International Film Festival, San Diego International Film Festival e WorldFest Houston. O ator-mirim Julian Feder também foi destaque nas premiações, levando troféus de Melhor Ator em Young Artist Awards, WorldFest Houston e Albuquerque Film & Music Experience. Um filme lindo, que merece ser conferido.


Ficha técnica:
Direção: John Asher
Distribuição: Cineart Filmes
Duração: 1h35
Gênero: Drama 
País: EUA
Classificação: 10 anos
Nota: 4 (0 a 5)

Tags: #PO, #ABoyCalledPo, #JulianFeder, #JohnAsher, #ChristopherGorham, #drama, #autismo, #CineartFilmes, #cinemas.cineart, #CinemaNoEscurinho

23 julho 2018

Em “Morte e Donzela”, Egon Schiele vira um personagem quase do tamanho de sua obra

Filme aborda a vida de um dos nomes mais importantes do movimento expressionista (Fotos: Alamode Film/Divulgação)

Wallace Graciano


Início do Século XX e a Áustria era tida como o berço artístico do mundo. O pensamento elevado e a criatividade pairavam no ar de Viena, exalando conhecimento e criatividade. Não à toa, essa aura trouxe mentes brilhantes e controversas, como Egon Schiele, um dos mais exuberantes pintores de que se tem notícia, e que tem sua vida retratada em “Egon Schiele – Morte e Donzela”. O filme está em exibição no Net Cineart Ponteio Premier, em sessões às 16h30 e 21h10.

Ao contrário de “Egon Schiele – Excesso e Punição”, a primeira cinebiografia do autor, que foi lançada no Brasil em 1981, “Morte e Donzela” tem como tônica o impacto de sua controversa vida boêmia em suas obras. A película dirigida pelo austríaco Dieter Berner coloca o protagonista em uma corda bamba entre seus instintos e um período conservador, ditado pelo preconceito.


Na trama, Egon Schiele (Noah Saavedra) caminha sobre a linha tênue de ter relações pessoais intensas em meio ao seu potencial artístico, escancarando ao mundo sua visão de tudo que lhe estava envolto, sem o mínimo filtro que o período pedia. Parte disso deve-se à paixão doentia por Wally (Valerie Pachner) - que foi imortalizada em sua obra - e seus relacionamentos viscerais, inclusive o fraterno com a irmã, Gerti (Maresi Riegner).

Ao longo da película fica claro que sua personalidade foi a maior chaga, mas também o imortalizou. Esse, talvez, seja o maior pecado da trama, que não consegue dar o teor dramático que circunda Schiele, muito por Saavedra, que não consegue transmitir o lado sedutor do personagem.

Em “Morte e Donzela”, Dieter Berner conseguiu ambientar o roteiro (dividido com a escritora Hilde Berger, autora do livro homônimo) dentro do contexto histórico e explorando as nuances da época com vastos recursos visuais. Faltou, apenas, expor ao público toda a carga emocional que o personagem exige. Um artista que usava os desenhos como forma de fugir da realidade e, de alguma forma, lidar com ele.



Ficha técnica:
Direção e roteiro: Dieter Berner
Produção: Amour Fou Luxembourg
Distribuição: Cineart Filmes
Duração: 1h50
Gêneros: Drama / Biografia / Histórico
Países: Áustria / Luxemburgo
Classificação: 14 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

Tags: #EgonSchieleMorteeDonzela, #EgonSchiele, #NoahSaavedra, #DieterBerner, #drama, #CineartFilmes, #cinemas.cineart, #CinemanoEscurinho

26 junho 2018

"50 são os novos 30" - Delícia de comédia com a cara de filme francês

Marie-Francine e Miguel dividem os mesmo problemas de separação com filhos e sem uma casa própria para viverem (Fotos: Jean Marie Leroy/Gaumont Productions)

Mirtes Helena Scalioni


Não dá muito pra entender por que traduziram o título "Marie-Francine" para "50 são os novos 30", filme em cartaz pelo Festival Varilux de Cinema Francês 2018, com distribuição no Brasil pela Cineart Filmes. Dá até pra imaginar que os tradutores quiseram reforçar uma nova verdadezinha que, às vezes, rola nas redes sociais, segundo a qual, é cada vez maior o número de descasados maduros que, devido à crise financeira, são levados a voltar para a casa dos pais. Não dá pra saber se a máxima é baseada em alguma estatística confiável, mas é possível assegurar que, como versão para o nome do longa em questão, foi uma forçada de barra.

É certo que o filme fala exatamente disso, das contingências que levam uma mulher de 50 anos, Marie-Francine a retornar à casa dos pais após perder um emprego de mais de 10 anos e de levar um fora do marido que, claro, a trocou por uma mulher mais nova. Sem dinheiro e sem muito diálogo com as filhas adolescentes, só resta a Marie-Francine apelar para o aconchego do seu antigo lar. 


Ao montar uma lojinha de cigarros eletrônicos para ajudar nas despesas, ela conhece Miguel (Patrick Timisit) que, descobre-se, está na mesma situação que ela. Talvez isso tenha encorajado os tradutores a apelar para "50 são os novos 30", numa alusão a uma geração de 30 anos que, hoje, se acomoda na segurança da casa de papai e mamãe. 

A atriz principal, que faz o papel título e a irmã gêmea dela (Marie-Noëlle), é a excelente Valérie Lemercier, que por sinal é também a diretora do filme e uma das roteiristas. Isso já seria um ótimo motivo para respeitar o título original. "50 são os novos 30" é uma comédia, na verdade, uma boa comédia romântica, o que, em teoria, abre janelas para certa licença poética. O grande diferencial do longa é sua nacionalidade. Impressionante como os filmes franceses, não apenas os desse gênero, são absurdamente mais coloquiais do que os seus semelhantes americanos. 

Nada de mulheres lindíssimas e gostosas, nada de homens malhados, nada de caras, bocas e poses. O charme das obras francesas, não só desse gênero, é a naturalidade das interpretações. A mulher está sempre descabelada, o homem é careca, as roupas são comuns. Estão ótimos também Hélène Vincent e Philipe Laudenbacsh como os pais de Marie-Francine.


Um detalhe: ao falar de espaço e privacidade, "50 são os novos 30" fala também de uma Paris de apartamentos minúsculos e apertados, de escadas compridas e elevadores mínimos. E, embora, a certa altura, o enredo parta para uma espécie de acomodação para um final esperado, não se pode negar que há sim um jeito de "filme francês" que é irresistível. Além do idioma, lógico. 

Outro detalhe típico que encanta são as comidas. Como o personagem Miguel trabalha em um pequeno restaurante, há muitas delícias harmoniosamente arranjadas em pratos ou tigelinhas. Tudo muito simples, mas com um toque de requinte como convém ao modo francês de ser. E como de costume, um toque musical brasileiro estilizado - romance ao som da versão francesa de "Balancê, balancê", sucesso de carnaval de Gal Costa de 1979.
Duração: 1h35
Classificação: 12 anos
Distribuição: Cineart Filmes


Tags: #50saoosnovos30, #Marie-Francine, #ValerieLemercier, #PatrickTimisit, #FestivalVariluxDeCinemaFrances2018,  #CineartFilmes, #CinemaNoEscurinho

14 maio 2018

"Paris 8" - Um filme sobre a cinefilia

O diretor Civeyrac conta a história de um grupo de amigos que frequentam a Universidade francesa "Paris 8" (Fotos: Photorammes Provinciale/ Divulgação)

Matheus Ciolete


O décimo segundo filme do diretor francês Jean-Paul Civeyrac volta o olhar a um grupo particularmente conhecido pelo cineasta: os estudantes de cinema. Civeyrac é um professor de cinema na universidade francesa “La Fémis” e nesse filme conta a história de um grupo de amigos que frequentam Paris 8, universidade fundada em 1969, com ligações à onda de protestos que ocorreram no país em maio de 1968 e que intitula o longa. É nesse cenário, um ambiente estudantil, que a estória da graduação de Etienne (Andranic Manet) se desenrola. Vindo de Lyon, o personagem principal enfrenta uma série de aventuras, principalmente amorosas, quando começa a viver em Paris. Lá divide o apartamento com Valentina e por intermédio dela faz seus primeiros amigos relacionados ao cinema. É quando Etienne conhece Jean-Noël (Gonzague Van Bervesselès) que o apresenta à Mathias Valence (Corentin Fila), o estereótipo do aluno problema talentoso.


A amizade entre Etienne e Mathias estabelece-se, em primeira instância, em função da antipatia a William (colega de classe com um cinema de tendências comerciais), e perdura com tal intensidade, ao menos por parte de Etienne, que não é exagerado cogitar a possibilidade de um romance, que acaba não acontecendo, entre os dois. Etienne rompe com Lucie, a namorada que deixa no interior, não sem antes traí-la, e Valentina é sucedida por Annabelle enquanto colega de apartamento. Etienne consegue um emprego, onde conhece Barbara e ganha a simpatia de um professor que o auxilia ao longo de sua jornada em busca do diploma. A partir daí o núcleo dos personagens principais está estabelecido e desenrola-se uma verdadeira quadrilha de Drummond: Lucie amava Etienne, que amava Annabelle, que amava Mathias, que não amava ninguém. Jean-Noel amava Etienne, que não amava Valentina. Jean-Noel alia-se a William, que não amava Mathias. Mathias suicidou-se, Lucie ficou para titia e Etienne termina com Bárbara que não havia entrado na história.


Embora os minirromances sejam o que preenche o filme e o fio condutor a graduação de Etienne e seus desafios, são as questões discutidas pelas personagens acerca do próprio cinema que conferem certo charme à produção. Nesse ponto, "Paris 8" ("Mes Provinciales") é metalinguagem, é um filme discutindo sobre filmes. Um diretor que dedicou toda a vida a estudar filmes, filmando a juventude estudando filmes. Justamente por se tratar de um filme feito por um professor de cinema sobre alunos de cinema, muitas das questões giram em torno de temas caros aos cinéfilos e à cinefilia. “Eu gosto de cinema, não de imagens” diz Etienne, pautando a questão: O que é um filme? Ou quando Annabelle pergunta à Mathias Valence: “Você acredita que os filmes podem salvar o mundo?” tensionando o papel da arte enquanto transformadora da realidade.


É claro que um filme não deixa de ser uma sucessão de imagens, dispostas de certa maneira dentro de uma linguagem relativamente pré-estabelecida, fixadas em película ou em arquivo digital. No entanto, nem o mais literal dos humanos se satisfaria com essa resposta. Por um motivo simples: o que descrevemos foi apenas o aparato técnico necessário para que se faça um filme. O que nos leva a assisti-lo definitivamente não é a sua forma material, mas justamente o que emana dela. Um filme, ou pelo menos um bom filme, são as experiências subjetivas do autor dispostas em uma história contada em linguagem cinematográfica. A vida não é preto no branco e por isso o valor da arte está na capacidade de trazer à tona o espectro cinza que existe entre o certo e o errado, o bom e o mau, o bonito e o feio. De nada vale a sucessão de planos e enquadramentos se não estiverem se desdobrando nestas áreas cinza, próprias à condição humana, não será nada além de imagens se sucedendo da forma mais artificial e tediosa possível.


O Cinema só vale a pena quando é uma arte dos “entres”. Talvez fosse essa a grande tensão entre as personagens Mathias Valence e William. Embora este último conseguisse realizar filmes tecnicamente bons, filmes que “parecem filmes de verdade” - segundo um colega de sala - não fossem filmes que conseguissem dialogar com aquilo que é tanto sua matéria prima quanto seu consumidor final: o ser humano. Fora isso, "Paris 8" tem uma trama simples, com a narrativa linear desenrolando-se em quatro capítulos e é filmado em preto e branco, tem longa duração (137 minutos), o que somado à preferência do autor pelas cenas com o enquadramento fechado, marca registrada de Civeyrac - a julgar por outro filme dele que assisti - "À Travers La Forêt" (2005), disponível com legendas em inglês no Youtube - pode incomodar gerando certa claustrofobia visual.

"Paris 8" é um filme que pode interessar a um público de cinéfilos, em parte pelo conteúdo e referências que faz, como a professora da universidade citando Fellini, Antonioni, Dario Argento, Mario Brava como exemplos de excelência do cinema italiano, e em parte pela relação autor filme extrínseca à obra. Mas que possivelmente encontraria uma resistência do grande público principalmente pela sua longa duração e seu registro em preto e branco. Feitas as devidas ressalvas, é um filme que eu recomendaria para quem estiver disposto a experimentar algo fora do circuito mainstream do cinema mundial.



Ficha técnica:
Direção e roteiro: Jean Paul Cuveryac
Produção: A Real Passion
Distribuição: Cineart Filmes
Duração: 2h17
Gênero: Drama
País: França

Tags: #Paris8, #JeanPaulCuveryac, #cinefilia, #CineartFilmes, #cinemas.cineart, #CinemanoEscurinho

21 março 2018

"A Livraria" - Para ser visto atento às metáforas

Drama é vencedor de três prêmios Goya 2018 - Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro Adaptado (Fotos: A Contracorriente Films/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Houve quem encontrasse alguma semelhança entre "Chocolate" e "A Livraria". No primeiro, uma mãe solteira interpretada por Juliette Binoche enfrenta preconceitos e tenta conquistar uma pequena cidade da França com sua loja de chocolates. No segundo, uma jovem viúva, Florence Green, vivida por Emily Mortimer, luta contra uma espécie de elite econômica de Hardborough, no litoral da Inglaterra. Seu único pecado: abrir uma livraria na pacata vila onde todos sabem da vida de todos.

Dirigido e roteirizado por Isabel Coixet e vencedor de pelo menos três Prêmios Goya 2018 - Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro Adaptado - "A Livraria" tem como base o livro homônimo de Penelope Fitzgerald. E, como se parece com uma fábula, pode ser que, na literatura, a história se saia melhor do que no cinema.

O drama é lento, quase singelo, deixa algumas lacunas sem uma explicação plausível, mas tem lá seus encantos. Um deles é a atuação de Emily Mortimer, que imprime uma impressionante transparência às suas feições. A dúvida, a indignação, a ternura, a coragem, a raiva estão frequentemente claros no rosto da atriz por meio apenas de olhares e expressões.

É bom frisar também que "A Livraria" é um filme de muitos silêncios. Talvez resida aí o motivo de uma certa incompletude do longa, que deixa uma sensação de que faltou algo. Na pacata cidade litorânea de 1959, por algum motivo, a poderosa Violet Gamart (Patricia Clarkson), o advogado Mr. Thomton (Jorge Suquet) e outros figurões simplesmente não aceitam a abertura de um estabelecimento que comercializa livros e fazem tudo para impedir. Medo do conhecimento? Receio de perder o controle?

Mas, como tudo tem dois lados, o apoio à Florence vem de um misterioso Mr. Brundish, velho recluso e leitor contumaz - numa interpretação superelegante de Bill Nighy. Papel importante também é o de Honor Kneafsey, a menina Christine, ajudante da livraria, que se revela figura importante no decorrer da trama.

Os mais atentos vão poder encontrar símbolos e metáforas no filme, tanto em citações de autores e poetas quanto na simples e rápida exposição das capas de alguns livros famosos e icônicos como "Fahrenheit 451", de Ray Bradbury - que também virou filme - e "Lolita", de Vladimir Nabokov. Vale a pena ficar atento. Classificação: 10 anos // Duração: 1h48



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