20 abril 2019

Comovente, "O Tradutor" revela o poder transformador da compaixão

Rodrigo Santoro interpreta Malin, um professor universitário cubano que vai trabalhar em um hospital para crianças vindas de Chernobyl (Fotos: Gabriel G. Bianchini)

Mirtes Helena Scalioni


Tudo pode mudar a qualquer momento. A rotina, a vida, as certezas, tudo pode se transformar de uma hora para a outra quando alguém se envolve em um acontecimento marcante e é tocado de alguma forma por ele. Essa parece ser a verdade escancarada no filme "O Tradutor", que conta a história de Malin, um sisudo professor universitário cubano de Literatura Russa que vê sua vida tranquila e equilibrada virar de cabeça para baixo quando é convocado pelo governo a trabalhar na ala infantil de um hospital em Havana. Lá, estão em tratamento dezenas de crianças vítimas do desastre nuclear de Chernobyl, algumas com leucemia. 


Antes, é preciso salientar que o filme é dirigido pelos irmãos Rodrigo e Sebastián Barriuso, filhos do professor Malin original, o verdadeiro tradutor. Eles são, portanto, praticamente testemunhas do fato, se não presenciais, no mínimo como portadores das histórias que cresceram escutando, ou mesmo como vítimas da transformação do próprio pai. Isso confere legitimidade a "O Tradutor", que emociona sem pieguices e exageros. O excelente desempenho de Rodrigo Santoro no papel principal também ajuda. Falando russo e espanhol com certa fluidez e naturalidade, exibindo uma expressão corporal primeiro altiva, depois deprimida, decadente, o ator brasileiro convence e merece aplausos. 


Além de Santoro, cuja transformação o público acompanha a olhos vistos, fazem parte do elenco Yoandra Suárez como Isona, a mulher do professor; Estelinda Nuñes como a Dra. Rivas; Genadijs Dolganous como Vladimir, o pai de uma das crianças; e, destacando-se, Maricel Álvarez como a enfermeira Gladys, que faz um jogo bonito de se ver com o brasileiro. As cenas em que os dois atuam, num bate-bola convincente entre dois atores experientes, são eficientes, além de comover. Merecem atenção também as atuações das crianças, verdadeiras e envolventes.


Detalhe que chama atenção no longa: como é passado em 1989, Havana é apresentada ao público em dois períodos diferentes. Antes da queda do muro de Berlim, é notório o progresso e a fartura de Cuba. Supermercados sortidos e casas confortáveis se chocam, após a queda, com a escassez de combustíveis, as dificuldades, a falta de tudo. O mesmo acontece com o professor Malin, que primeiro detesta a missão que lhe é imposta, mas vai aos poucos sendo tomado pela empatia ao presenciar o sofrimento das crianças e suas famílias. Enfim, "O Tradutor" é um filme melancólico, pois fala de transformação pela dor. Mas mesmo assim - talvez por isso - imperdível.  Sessões no Belas 1, às 14h e 18h40.
Duração: 1h47
Classificação: 12 anos
Distribuição: Galeria Distribuidora


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18 abril 2019

"A Maldição da Chorona" ousa fugir do comum e fascina ao explorar o sensorial

Trabalhando luz e som, o diretor Michael Chaves aumenta o impacto das aparições da Chorona (Fotos: Scott Patrick Green/Warner Bros. Pictures)

Wallace Graciano


Poucos gêneros são tão previsíveis como o terror. A capacidade de explorar o psicológico dos espectadores parece ter uma limitação cada vez mais evidente, o que impede os amantes do estilo de acompanharem com afinco as novidades. Nos últimos anos, porém, há uma tentativa de romper com o comum e algumas surpresas, como “Annabelle 2”, trouxeram um alento aos cinéfilos. E uma das que pode seguir esse rumo é a “Maldição da Chorona” ("The Curse of La Llorona"), que estreia nesta quinta-feira (18) nos cinemas de todo país.


O filme é ambientado em Los Angeles, nos Estados Unidos, no início da década de 1970. Nele, Anna (Linda Cardellini), uma assistente social nada idealizada, cria seus filhos após a morte de seu marido. Porém, ao trabalhar em um caso de uma mãe que tentava esconder seus filhos, começa a ser atormentada por uma entidade sobrenatural: “La Llorona" (a Chorona).


Segundo o folclore popular mexicano, a Chorona, em vida, afogou seus filhos após ser traída pelo marido. Após perceber seu erro, jogou-se em um rio, se debulhando em lágrimas. Porém, sua alma ficou presa ao plano terreno e ela busca outras crianças para reparar seu mal. É aí que você deve estar pensando: “Poxa, mais um clichê que explora o vínculo intrínseco do espiritual com o carnal. Que falta de originalidade”. Sim, esse é um pecado da película. Talvez um dos poucos. Se por um lado não houve a busca por um personagem com um arquétipo menos estereotipado, por outro, a trama se desenrola sem prender-se aos recursos tradicionais do gênero.


Um exemplo é o corte das cenas. Michael Chaves, o diretor, não abusa de planos em que a antagonista esteja evidenciada para levar temor ao espectador. O sensorial é bem trabalhado durante a trama, sendo que o pânico não surge apenas do visual. A edição de som, por exemplo, conseguiu fazer com que o barulho de uma fechadura em determinada cena seja impactante e relevante à película.

Para além, há a exploração de variações de sons e imagens dentro de um mesmo plano-sequência, o que impede o expectador se preparar para o susto. Em um deles, por exemplo, crianças correm por um corredor esverdeado, com ruídos clamando pelo pior. Quando ele vem, a tensão ganha cores com a falta de som e luz.


O subjetivo da Chorona é outro ponto alto. Sua figura malévola ganha cor em diversos cenários, causando temor também pelas aparições metafísicas. O roteiro também foi bem desenrolado, com apresentação e desenvolvimento rápido e bem construído dos personagens. Até mesmo o Padre Perez dá seu "pitaco" no longa, nos convidando para "Annabelle 3", que deve estrear em julho. Ou seja, “A Maldição da Chorona” é muito além do comum que o gênero foi tomado, trazendo respiração presa e tensão aos amantes do terror.


Ficha técnica:
Direção: Michael Chaves
Produção: New Line Cinema
Distribuição: Warner Bros Pictures
Duração: 1h34
Gênero: Terror
Países: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 4 (0 a 5)

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