03 outubro 2021

"A Menina que Matou os Pais" e "O Menino que Matou Meus Pais" - o caso Suzane von Richthofen

Amazon Prime Vídeo apresenta as duas versões do bárbaro crime que chocou o pais em 2002 (Fotos: Divulgação)


Jean Piter Miranda 


Em 2002, Daniel Cravinhos (Leonardo Bittencourt) e seu irmão Cristian (Allan Souza Lima), assassinaram o casal Manfred von Richthofen (Leonardo Medeiros) e Marísia (Vera Zimmerman), pais de Suzane von Richthofen (Carla Diaz). O crime foi planejado por Suzane e Daniel, que eram namorados. Essa é uma história que chocou o país e que agora é contada em dois filmes que estão disponíveis na Amazon Prime: "A Menina que Matou os Pais" e "O Menino que Matou Meus Pais".  

A primeira pergunta que todo mundo vai fazer é: Qual a diferença entre os dois filmes? É simples. Um mostra a história contada pelo ponto de vista de Suzane, com base no depoimento dela. O outro é contado por Daniel, sob a ótica dele, feito a partir do que ele relatou à Justiça. Daniel joga a culpa em Suzane e ela joga a culpa nele.  


Em "A Menina que Matou os Pais", Daniel conta que era apaixonado por Suzane. Eles se amavam e queriam ficar juntos. Só que os pais dela não aceitavam o namoro por ele ser de família humilde. Na versão que ele conta, os pais de Suzane faziam de tudo para separá-los. Suzane se sentia triste e sufocada em uma família que era cheia de problemas. 

Suzane não era tão boazinha quanto ele pensava, era fria e calculista. E logo ele se viu preso em um relacionamento abusivo. Suzane estava disposta a tudo pra ficar livre e assim ela planejou a morte dos pais e, segundo depoimento de Daniel, o induziu a cometer o crime.  


No outro filme, "O Menino que Matou Meus Pais", a história é contada por Suzane. Ela conta que era apaixonada por Daniel e que queria ficar com ele. Relata que tinha uma ótima relação com os pais, mesmo eles sendo contra o namoro dela com o rapaz. Nessa versão, Daniel é abusivo e ela está presa no relacionamento. E no fim, para poderem ficar juntos, Daniel planeja matar os pais dela e a teria induzido a participar do crime.  


O fim da história é o mesmo nos dois filmes. E não há spoiler nisso. Os pais de Suzane são assassinados por Daniel e seu irmão. Ela é cúmplice. O crime foi premeditado e os três são presos. Tudo isso já foi mostrado dezenas de vezes em várias reportagens. 

A novidade apresentada nos filmes é justamente esses dois pontos de vista sobre quem cometeu o crime. Não apenas o relato do dia do duplo homicídio e as motivações, mas como toda essa história começou. Desde o dia em que Suzane e Daniel se conheceram até o dia em que foram condenados pela Justiça. 


As produções não tentam humanizar Daniel e Suzane, nem mesmo justificar o que eles fizeram. É quase uma reconstituição baseada nos depoimentos de ambos, destacando as contradições de suas versões. Os filmes são bem produzidos, usam cenas comuns e conseguem reproduzir bem a ambientação dos anos 2000 nas roupas, músicas e cenários. 


Carla Diaz é sim o destaque. Ela faz uma ótima interpretação. Leonardo Bittencourt não vai mal, mas também não convence. Ele soa mecânico em diversos diálogos. Os demais personagens são bem discretos. Não há uma ordem de qual filme deve ser assistido primeiro. Isso tanto faz. Ao mesmo tempo em que são independentes, os dois longas se completam. São bons e merecem ser vistos. 


Ficha técnica (válida para os dois filmes)
Direção: Maurício Eça
Roteiro: Ilana Casoy e Raphael Montes
Exibição: Amazon Prime Video
Produção: Santa Rita Filmes / Galeria Distribuidora
Duração: 1h25
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gêneros: drama / suspense

01 outubro 2021

Beleza, cores, intimidade e leveza fazem de “O Jardim Secreto de Mariana” um filme poético e reflexivo

Andreia Horta e Gustavo Vaz são os protagonistas do longa-metragem filmado em Brumadinho e no Museu de Inhotim (Fotos: Mariana Vianna/Palavra Assessoria)


Mirtes Helena Scalioni


Depois de “O Homem da Capa Preta” (1986), “Guerra de Canudos” (1997), "Zuzu Angel" (2006), "Em Nome da Lei" (2015) e “O Paciente O Caso Tancredo Neves” (2017) - só para citar alguns sucessos -, fica difícil reconhecer Sergio Rezende como diretor de “O Jardim Secreto de Mariana”, um filme sutil, intimista e – por que não? – romântico. 


As idas e vindas de um casal em busca de reconciliação, acerto de contas e consolidação de um amor que teima em não acabar, fazem da produção um momento de leveza e reflexão, embora haja, desde o início, uma violência suspensa no ar.

A partir do momento em que João (Gustavo Vaz) pega sua bicicleta e decide pedalar uma longa distância para procurar Mariana (Andréia Horta) com o objetivo de reconquistá-la, o espectador começa a entender, aos poucos, que eles formavam um casal perfeito até cinco anos antes, quando romperam abruptamente após ressentimentos e a impossibilidade de terem um filho.


Antes da separação, viviam numa espécie de paraíso próximo a Brumadinho, em Minas, entre verduras orgânicas e flores que eles próprios cultivavam quando não estavam se amando por todos os recantos da casa, perdidamente apaixonados.

A história de amor entre a botânica Mariana e o economista João vai sendo lentamente revelada ao público em flashbacks, como convém aos filmes modernos. Por algum mérito da equipe, as idas e vindas na trama não são tão vertiginosas como às vezes acontece, dando algum fôlego para que o espectador curta – de certa forma – as lindas cenas de flores coloridas, os trechos de aulas sobre a sexualidade e reprodução das plantas e as muitas DRs do casal. 


Alguns mistérios só são desvendados quase no final do filme. Embora possa ser considerado um romance, “O Jardim Secreto de Mariana” não tem nada de água com açúcar. As atuações corretas e precisas de Andréia Horta e Gustavo Vaz dão o tom do naturalismo que permeia todo o filme.

Participações luxuosas dos experientes Denise Wenberg como Linda, mãe da protagonista, e de Paulo Gorgulho como Zé Cristiano, pai de João, colaboram para que a dramaticidade seja mantida em alto nível. Merecem destaque o papel e a interpretação de Gorgulho, veterano ator que valoriza, na trama, a mineiridade dos lugares onde tudo acontece.


Como não poderia deixar de ser em se tratando de botânica e flores, a fotografia é quase um personagem do filme. As cenas filmadas no Museu de Inhotim, em Brumadinho (MG) e em Nova Friburgo (RJ) chamam atenção pela profusão de cores e o requinte dos detalhes.

Diferentemente das plantas, os humanos continuam se perguntando por que os relacionamentos acabam, quem é o culpado pelo fim, se feridas podem ser cicatrizadas e se o perdão é possível para a reconstrução de um amor. As questões, claro, permanecem abertas, já que, segundo insinua o diretor, todos temos, dentro de nós, um certo jardim - secreto e imprevisível – sobre o qual não temos qualquer comando.


Ficha técnica:
Direção: Sérgio Rezende
Produção: Morena Filmes / Arpoador Audiovisual / Globo Filmes
Distribuição: H20 Films
Exibição: Una Cine Belas Artes - Sala 2 - sessão 18h30
Duração: 1h25
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gêneros: Drama / Romance