09 junho 2016

Um outro lado do paraíso que encanta, comove e enche de esperança

Filme nacional destaca as atuações de Eduardo Moscovis e do garoto Davi Galdeano (Fotos: Europa Filmes/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Se for verdade que um bom filme nada mais é do que uma história bem contada em imagens, movimentos e emoções, pode-se dizer que "O Outro Lado do Paraíso" é um ótimo longa. A saga de uma família que sai de Minas em busca de uma vida melhor em uma Brasília ainda em construção em 1963 é contada pelo ponto de vista de um dos seus membros, Nando, menino de 12 ou 13 anos. Isso confere à narrativa um toque ainda mais simples e direto, quase inocente, mas rico em credibilidade. E reside aí o grande trunfo do trabalho dirigido por André Ristum.

Trajetórias de homens sonhadores sempre emocionam. E Antônio, vivido por Eduardo Moscovis, é o típico sonhador místico, que acredita um dia atingir o "Evilath", o éden que vê na Bíblia. Ele vende a casa na zona rural, compra uma caminhonete e se muda com mulher e três filhos para Brasília, atraído pelo discurso e pelas promessas do presidente João Goulart, que jura fazer do Brasil um país justo e melhor. Baseado no livro autobiográfico do escritor mineiro Luiz Fernando Emediato, "O Outro Lado do Paraíso" encanta e comove também porque, no fundo, é uma história de esperança.

Outro destaque do longa de Ristum é, sem dúvida, a atuação de Davi Galdeano, que interpreta Nando. O pequeno ator é um achado. E surpreende como o pré-adolescente que idolatra o pai aventureiro e, ao chegar a Brasília, se decepciona com uma Taguatinga pobre e feia que não se parece em nada com a capital que esperava.

É por meio dos olhares, gestos - e narrativa - do menino que o espectador, aos poucos, vai descobrindo que aquela cidade não é exatamente o paraíso, principalmente quando o golpe militar de 1964 é deflagrado, acabando de vez com as esperanças de Antônio. Há outros encantos em "O Outro Lado do Paraíso". Um deles é a descoberta de Nando, ao mesmo tempo, de dois amores: uma colega de escola e os livros. As atuações discretas e corretas dos demais membros da família também merecem destaque: a mãe Nancy (Simone Iliescu), a irmã mais velha (Camila Márdila - aquela de "Que Horas Ela Volta?"), Jonas Bloch como o avô materno e outros, cada um dando sua contribuição na medida, sem exageros.




Deliciosas imagens antigas de documentários também enriquecem e dão um toque especial ao filme. É preciso citar ainda a trilha sonora de Patrick de Jonah e as incursões vocais mineiríssimas do magistral Milton Nascimento. Em tempos de Brasil polarizado, história e músicas podem levar, providencialmente, a um silêncio necessário no final.

Com 1h55 de duração, o drama "O Outro Lado do Paraíso" pode ser conferido nas salas 2 do Belas Artes (sessão de 21h40), 7 do Cineart Contagem (16h15) e 5 do Cineart Paragem (15h10). Classificação: 10 anos

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