17 janeiro 2020

"Adoráveis Mulheres" - um clássico revisitado

Elenco é formado por talentos da nova geração de Hollywood como Eliza Scanlen, Saiorse Ronan, Emma Watson e Florence Pugh (Fotos: Sony Pictures/Divulgação)

Carol Cassese


O público é predominantemente feminino, mas as idades são variadas. Há tanto os grupos de senhoras da terceira idade quanto jovens, interessadas tanto numa história de viés feminino quanto na nova empreitada da atriz e diretora norte-americana Greta Gerwig, 36, já há muito alçada ao posto de cult - como esquecer a cena de "Frances Ha" (2012) na qual ela corre pelas ruas de Nova York ao som de "Modern Love", de David Bowie, em imagens em P&B? 
 
Mas, bem, aqui estamos falando de "Adoráveis Mulheres" ("Little Women"), único filme com direção feminina que fez bonito nas indicações do Oscar - concorre, por exemplo, a Roteiro Adaptado e a Melhor Filme.  Em cartaz na cidade, trata-se de mais uma adaptação para o cinema do célebre romance de 1868 de Louisa May Alcott, também conhecido como "As Filhas do Dr. March" ou "Mulherzinhas".  


Na adaptação anterior, a de 1994, dirigida por Gillian Armstrong, Winona Ryder capitaneava o elenco, interpretando Josephine, ou simplesmente Jo, uma garota adiante de seu tempo. O cast ainda trazia Claire Danes e Kirsten Dunst.  Agora, o papel de Jo é delegado a Saiorse Ronan, que já havia trabalhado com Greta em "Ladybird - A Hora de Voar" (2017). 
 
Conhecida também por filmes como "Um Olhar do Paraíso", "Brooklyn" e "Duas Rainhas", Saiorse, 25, é uma atriz que cresceu diante do público (começou a atuar ainda criança, em filmes como "Desejo e Reparação") e, aqui, dá um banho de interpretação, o que explica o fato de estar sendo indicada a Melhor Atriz nos principais prêmios da temporada, como o Globo de Ouro e, claro, o Oscar.

Mas o elenco como um todo é estelar. A começar de Laura Dern, perfeita como a Sra. March, a matriarca da família, que cuida da criação das quatro filhas enquanto o marido está servindo o país, na Guerra Civil Americana. Além de Jo, a prole é composta por Beth (Eliza Scanlen, da série da HBO "Sharp Objects"), Meg (a britânica Emma Watson, da saga "Harry Potter") e Amy (Florence Pugh, outra britânica). Florence, aliás, está indicada a Atriz Coadjuvante no Oscar. 


As quatro meninas têm personalidades distintas, que por vezes se chocam, mas o amor que une a família sempre fala mais alto. De saúde mais frágil, a caçula é o xodó de todas. Jo, como já pontuado, é uma mulher avant la lettre, e, longe de sonhar com um casamento, como seria esperado por uma garota de sua idade naquela época, prefere se debruçar sobre a escrita e vender seus textos para, com o dinheiro obtido, ajudar a família. 
 
Ficou faltando Meryl Streep? Sim... Ela é a rabugenta e (por que não?) divertida Tia March. Mas, bem, falar do talento de Meryl é gastar linhas em vão. Afinal, taí uma atriz cujas performances dispensam comentários. E por último, mas não menos importante, já que optamos por ratificar o poderio do elenco feminino, tem Hannah, a "maid" da família, vivida por Jayne Houdyshell. 

Nesta nova versão, a história é narrada em dois tempos. Greta, talvez frustrando os que esperavam dela mais arrojo, opta por uma narrativa basicamente tradicional, com direito a cenas que algumas vezes até soam edulcoradas demais (como as da praia, com crianças soltando pipas e correndo, às gargalhadas). Das poucas inovações a que se permite está a narração do conteúdo das cartas, lidas, na tela, pelos próprios autores, em um enquadramento no qual eles olham para o público.


Quanto a falar da história, é um pouco chover no molhado, posto que estamos nos referindo a um clássico. Aliás, um parêntese: o livro é um dos norteadores das personagens da saga "A Amiga Genial", de Elena Ferrante. Sim, teremos lágrimas na plateia. Mas também risos suaves e muito enternecimento. 
 
Aqui, a felicidade se sobrepuja a uma realidade difícil, no qual a falta do dinheiro muitas vezes bate à porta para desfazer sonhos e planos. No entanto, a história aponta como a união e solidariedade acabam sendo o caminho para uma sobrevivência que, não raro, até surpreende, por ser menos árdua do que o previsto em frente a tanta adversidade.  

Assim, mesmo com pouco, a Sra. March não deixa a família pobre que mora nas cercanias enfrentar o inverno rigoroso com a barriga vazia. E ao ver o belo gesto das mulheres, o vizinho Mr. Laurence (Chris Cooper) também entra em cena, repondo a mesa, abrindo sua biblioteca para saciar a fome de saber de Jo e disponibilizando seu piano (que o remete à ausência da filha) para que Beth exercite seu dom. O velho "gentileza gera gentileza". E move o mundo para lugares melhores.



E, sim, se falamos do elenco feminino, vale também situar o masculino para além do já citado Cooper. Destaque para Timothée Chalamet (Laurie, postulante ao amor de Jo) e para o francês Louis Garrel, como o professor Friedrich Bhaer, e James Norton como John Brooke, que arrebanha o coração de Meg. Chalamet firma-se como um talento da nova geração, enquanto Garrel confirma também seu carisma e presença cênica. 
 
Ah, sim... E há um prêmio Pulitzer no elenco. O dramaturgo Tracy Letts faz o Sr. Dashwood, que julga (e compra) os textos de Jo. Já o Sr. March cabe a Bob Odenkirk. Com tantas credenciais e falas que merecem ser sublinhadas e guardadas na memória, "Adoráveis Mulheres" é outro ponto positivo na carreira dessa encantadora garota de Sacramento, de nome Greta Celeste Gerwig.



Ficha técnica:
Direção: Greta Gerwig
Produção: Sony Pictures
Distribuição: Sony Pictures
Duração: 2h15
Gêneros: Drama / Romance
País: EUA
Classificação: 10 anos
Nota: 4 (0 a 5)

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16 janeiro 2020

"O Escândalo": os bastidores da TV que o público não vê

Charlize Theron, Nicole Kidman, Margot Robbie formam o trio principal desta produção basada em fatos reais (Fotos: Hilary Bronwyn Gayle/Divulgação)

Maristela Bretas


O que chama mais atenção em "o Escândalo" ("Bombshell"): a história de assédio sexual numa das maiores redes de TV dos EUA ou a mudança radical no rosto de uma das mais belas atrizes de Hollywood da atualidade - Charlize Theron? Difícil saber. A transformação no rosto (graças à maquiagem e intervenções) a deixou quase idêntica à personagem que ela interpreta, Megyn Kelly, âncora e comentarista política do telejornal. E garantiu a indicação como Melhor Atriz no Oscar 2020. A ponto de o filho da verdadeira Megyn Kelly confundir a foto de Charlize no pôster na entrada do cinema com a mãe, no dia em que a família foi assistir a pré-estreia do filme nos EUA.

À esquerda: Gretchen Carlson e Nicole Kidman;à direita,
Megyn Kelly e Charlize Thenor (Fotomontagem)
E foi também este quesito que levou o filme a conquistar o Critics´Choise Awards 2020 como Melhor Maquiagem e Cabelo e ser um dos indicados ao Oscar deste ano nesta categoria. Além de Charlize, o trabalho também foi muito bem feito em Nicole Kidman, no papel de outra âncora famosa da Fox News. Gretchen Carlson. Foi ela quem deu início às denúncias de assédio sexual dentro da emissora e perdeu o emprego por isso.

Além das duas tarimbadas atrizes, destaque também para Margot Robbie, cuja atuação como Kayla Pospisil (personagem fictício que representa todas as mulheres assediadas no trabalho) foi suficiente para sua indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. 


Para quebrar um pouco a hegemonia feminina, que vai prevalecer e dar o tom da história temos a excelente atuação de John Lithgow, no papel de Roger Ailes. Ele é o todo poderoso presidente e executivo-chefe do grupo televisivo Fox, acusado por Gretchen Carlson e Megyn Kelly de assediá-las sexualmente e várias outras mulheres que entraram na empresa e tinham que passar pelo "teste da lealdade" para serem aceitas.


Chega a ser podre a forma sórdida com que Ailes ameaça e se dirige a suas funcionárias, exigindo pernas de fora, decotes ousados e saias curtas (nunca podiam usar calças). Ou seja, exposição máxima para seu prazer e audiência. Segundo o filme, Gretchen teria iniciado as denúncias após anos de "avanços" do executivo que ela não aceitou e foi demitida por isso. Começa a luta para provar todas as acusações, especialmente porque quem havia sofrido o assédio se recusava a contar sua história.

Foi preciso a confirmação das acusações por parte de outra estrela da emissora, Megyn Kelly, para que o caso se tornasse o maior escândalo dos bastidores da mídia norte-americana daquela época. E mostrasse ao público o que se passava por trás das câmeras e que nem tudo é tão glamoroso nas TVs como aparece na tela.


Além da ótima atuação do trio feminino principal, o elenco contou ainda com outros nomes famosos que cumpriram satisfatoriamente seus papéis: Allison Janney, Kate McKinnon, Connie Britton e Malcom McDowell. A história fluiu fácil, num tempo justo, sem esticar muito para não ficar chata e sem grandes surpresas até mesmo na revelação dos assédios. Não fosse o elenco, a trama não passaria hoje de um episódio comum sobre fatos que marcaram os bastidores da TV. 

O diretor Jay Roach soube aproveitar muito bem o talento de Charlize Theron, Nicole Kidman, Margot Robbie e John Lithgow. Só a participação deles já vale o filme, que estreia nesta quinta-feira nos cinemas.


Ficha técnica:
Direção: Jay Roach
Produção: Denver and Delilah Productions // Bron Studios 
Distribuição: Paris Filmes
Duração: 1h49
Gêneros: Biografia / Drama
País: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 3 (0 a 5)

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