22 março 2018

"Círculo de Fogo - A Revolta" é a sequência que saiu pior que a encomenda

John Boyega e Scott Eastwood são os pilotos dos Jaegers, os gigantescos robôs de combate (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Gostaria de poder elogiar "Círculo de Fogo - A Revolta" ("Pacific Rim Uprinsing"), segundo filme após cinco anos da estreia do ótimo "Círculo de Fogo" (2013), dirigido pelo premiado Guillermo del Toro ("A Forma da Água"). Mas a nova produção apresenta falhas que somente quem está muito disposto a ver um filme que mais parece uma cópia piorada de "Transformers" vai se sentir a vontade no cinema. Uma pena, poderia ser uma sequência mais bem aproveitada. O diretor Steven S. DeKnight até tentou isso ao mostrar as cidades depois da batalha com os alienígenas, mas deixou que a história se perdesse por falta de criatividade.


O filme não é de todo ruim. Tem pancadaria entre velhos e novos robôs com tamanhos e armamentos variados, monstros gigantes (alguns do primeiro filme), vilões e diálogos clichês e ótimos efeitos de computação gráfica que sustentam toda a ação. Mas também mostra cenas de lutas que ficam confusas, provocando tontura por serem muito rápidas. E as atuações são medianas, mesmo de atores conhecidos como o protagonista John Boyega ("Star Wars - O Despertar da Força" - 2015 e "Star Wars - Os Últimos Jedi"- 2017), que faz o papel de Jake Pentecost, e Scott Eastwood ("Velozes e Furiosos 8" - 2017), como Nate Lambert.



Uma novidade no elenco que se destaca é Cailee Spaeny, que interpreta Amara, a jovem nerd fodona do pedaço que luta muito, constrói robôs e ainda acha um tempo para salvar o mundo dos temíveis kaiju. Os atores Rinko Kikuchi (Mako), Burn Gorman e Charlie Day (os cientistas Hermann Gottlieb e Newton Geiszler) que participaram do primeiro filme também estão de volta. Já o novo grupo de pilotos  Jaeger só está lá para fazer quórum e levantar a bola para Caille aparecer.



A história avança no tempo - dez anos depois do ataque alienígena - mas regride em enredo. Ele é fraco, cheio de furos e mensagens patrióticas e ainda tenta copiar, para pior, o estilo Michael Bay de fazer cinema que, apesar de não agradar a muitos, atingiu sucesso de bilheteria com a franquia "Transformers" de 2007 a 2017. Criatividade não foi o forte do diretor Steven S. DeKnight (responsável por boas produções para a TV, como "O Demolidor"), mas errou a mão em "Círculo de Fogo - A Revolta", ficando muito aquém de seu antecessor. Acho que faltou uma orientação maior de Guillermo del Toro.

Tudo começa com Jake (John Boyega), filho de Stacker Pentecost (Idris Elba), responsável pelo comando do programa Jaeger (supermáquina gigantes pilotadas por humanos) e herói morto na batalha. Promissor talento do programa de defesa, Jake abandonou o treinamento e entrou no mundo do crime, vasculhando ferros-velhos em busca de peças de robôs abandonados.


Perseguido após não encontrar uma peça valiosa, ele encontra o esconderijo de Amara (Cailee Spaeny), que clandestinamente está construindo um Jaeger de porte pequeno. Ambos tentam fugir usando o robô, mas acabam sendo capturados. Para escapar da prisão, eles são enviados ao treinamento de pilotos Jaeger, onde Jake reencontra sua irmã de criação Mako (Rinko Kikuchi). Apesar da tranquilidade aparente, o governo e a empresa responsável pelos Jaeger continuam construindo Jaegers mais poderosos ma expectativa de um possível novo ataque. O que eles não imaginam é que o perigo pode estar dentro do próprio grupo.


Precisa assistir o primeiro para entender o segundo filme? Seria bom, até porque ele é bem melhor. E quer queira ou não, "Círculo de Fogo - A Revolta" deixa a sensação de ser uma mistura de "Transformers - O Último Cavaleiro"  (2017) com "Power Rangers". E quem perde no final, sem dó nem piedade, é novamente a cidade de Tóquio, que vê seus prédios caírem como dominós durante a batalha entre Jaegers e os aliens, chamados agora de Precursores. E se após ler sobre todos estes pontos ainda estiver a fim de ver este filme, não tenha mais dúvidas: vá ao cinema e aproveite mais este blockbuster.



Ficha técnica:
Direção: Steven S. DeKnight
Produção: Universal Pictures / Legendary
Distribuição: Universal Pictures
Duração: 1h51
Gêneros: Ação / Ficção científica / Aventura
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 2,5 (0 a 5)

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21 março 2018

"A Livraria" - Para ser visto atento às metáforas

Drama é vencedor de três prêmios Goya 2018 - Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro Adaptado (Fotos: A Contracorriente Films/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Houve quem encontrasse alguma semelhança entre "Chocolate" e "A Livraria". No primeiro, uma mãe solteira interpretada por Juliette Binoche enfrenta preconceitos e tenta conquistar uma pequena cidade da França com sua loja de chocolates. No segundo, uma jovem viúva, Florence Green, vivida por Emily Mortimer, luta contra uma espécie de elite econômica de Hardborough, no litoral da Inglaterra. Seu único pecado: abrir uma livraria na pacata vila onde todos sabem da vida de todos.

Dirigido e roteirizado por Isabel Coixet e vencedor de pelo menos três Prêmios Goya 2018 - Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro Adaptado - "A Livraria" tem como base o livro homônimo de Penelope Fitzgerald. E, como se parece com uma fábula, pode ser que, na literatura, a história se saia melhor do que no cinema.

O drama é lento, quase singelo, deixa algumas lacunas sem uma explicação plausível, mas tem lá seus encantos. Um deles é a atuação de Emily Mortimer, que imprime uma impressionante transparência às suas feições. A dúvida, a indignação, a ternura, a coragem, a raiva estão frequentemente claros no rosto da atriz por meio apenas de olhares e expressões.

É bom frisar também que "A Livraria" é um filme de muitos silêncios. Talvez resida aí o motivo de uma certa incompletude do longa, que deixa uma sensação de que faltou algo. Na pacata cidade litorânea de 1959, por algum motivo, a poderosa Violet Gamart (Patricia Clarkson), o advogado Mr. Thomton (Jorge Suquet) e outros figurões simplesmente não aceitam a abertura de um estabelecimento que comercializa livros e fazem tudo para impedir. Medo do conhecimento? Receio de perder o controle?

Mas, como tudo tem dois lados, o apoio à Florence vem de um misterioso Mr. Brundish, velho recluso e leitor contumaz - numa interpretação superelegante de Bill Nighy. Papel importante também é o de Honor Kneafsey, a menina Christine, ajudante da livraria, que se revela figura importante no decorrer da trama.

Os mais atentos vão poder encontrar símbolos e metáforas no filme, tanto em citações de autores e poetas quanto na simples e rápida exposição das capas de alguns livros famosos e icônicos como "Fahrenheit 451", de Ray Bradbury - que também virou filme - e "Lolita", de Vladimir Nabokov. Vale a pena ficar atento. Classificação: 10 anos // Duração: 1h48



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