16 fevereiro 2018

Em "Cinquenta Tons de Liberdade" até Cinderela ficaria com vergonha da história

O casal Anastasia Steele e Christian Grey completa a trilogia escrita por E.L. James (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


E a famosa trilogia chega ao fim. "Cinquenta Tons de Liberdade" ("Fitty Shades Freed") conseguiu ser pior que os dois filmes anteriores, com uma história boba que até Cinderela teria vergonha de interpretar. Se o casal Anastasia Steele (Dakota Johnson) e Christian Grey (Jamie Dornan) já não convencia no primeiro filme, a situação só ficou pior neste com o casamento esperado pelas fãs que acompanharam ansiosas o fim do conto de fadas moderno. E terminou deixando muito expectador que não leu os livros sem saber se a proposta dos filmes era ser pornô chique, sadomasoquismo ou só uma história boba com final previsível para atrair uma legião de mulheres ao cinema.

E foi isso que aconteceu, incluindo neste terceiro nas salas onde está sendo exibido: um grande público feminino e pequena presença masculina, acompanhando a esposa ou a namorada. Na sessão em que estava um senhor acompanhado da esposa chegou a roncar durante o filme. A história era tão "interessante" que duas jovens sentadas na fileira atrás da minha não paravam de tagarelar e a expectadora na fileira da frente passou boa parte enviando whatsapp para uma conhecida.


"Cinquenta Tons de Liberdade" é clichê do início ao fim, com direito a casamento, véu, grinalda e vestido branco, mansões, jatos, viagens pelo mundo, seguranças particulares, governantas e um vilão, Jack Hyde (Eric Johnson) que poderia ter salvado tudo, mas era tão ruim quanto os protagonistas. Dakota dá a impressão de que não via a hora de a trilogia acabar. 

Dornan está ainda mais sem sal. Ele inclusive deu algumas declarações sobre as filmagens que geraram mais interesse do que sua atuação. Como a de que usou enchimento para dar volume às "partes íntimas". Sinal de que o ator precisa de propaganda enganosa para valorizar seu personagem, que sempre foi o lado fraco do pseudo-romance porno-chique.

Anastasia continua tirando a roupa facilmente (acho que se esqueceram de avisar ao roteirista que o público masculino é reduzido), enquanto Christian fica só fazendo gênero, usando calça jeans e sem camisa com barriga tanquinho e bunda exposta à meia luz. E só. "Cinquenta Tons de Liberdade" continua machista e idiota, expondo apenas o corpo da mulher e preservando o do homem, como em seus antecessores, agora fazendo a linha família.

"Cinquenta Tons de Liberdade" agrada quem sonha com um marido rico, poderoso e apaixonado, uma vida de glamour com tudo o que o dinheiro pode proporcionar, especialmente um casamento de princesa. O último filme da trilogia tem tudo isso, além de tentativa de assassinato e sequestro e final feliz bem família quem nem em sessão da tarde se vê mais. As poucas cenas mais apimentadas ficam apenas "nos entretanto". Os "finalmente" ficam por conta da imaginação do público.


A produção não faz nem um meio de campo, já começa no casamento de Anastasia e Christian, lua de mel fantástica, passeio de jatinho, iate e jet ski, marido ciumento e uma mulher que não aceita mais ser subjugada. O agora casal Grey terá de aprender a viver junto, continuar mantendo acesa a chama do desejo, se proteger de antigos inimigos (nem isso mudou) e ser "feliz para sempre".

Não espere muito de "Cinquenta Tons de Liberdade", que deixa a sensação de que foi feito só para encerrar a trilogia. Faltaram desejo, calor, criatividade e, acima de tudo, interpretação. Mas deverá ser outro sucesso de bilheteria, como aconteceu com "Cinquenta Tons de Cinza" (2015) e "Cinquenta Tons Mais Escuros" (2017), que renderam quase U$ 950 milhões pelo mundo.



Ficha técnica:
Direção: James Foley
Produção: Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures do Brasil
Duração: 1h46
Gêneros: Drama / Romance / Erótico
País: EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 2 (0 a 5)

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14 fevereiro 2018

"Três Anúncios Para um Crime", um trabalho inesquecível de Frances McDormand

Filme conta a história da luta de uma mãe para encontrar os assassinos de sua filha (Fotos: 20th Century Fox/Divulgação)

Maristela Bretas


Impecável, tenso, brutal em alguns momentos. Tudo isso é encontrado no excelente "Três Anúncios Para um Crime" ("Three Billboards Outside Ebbing, Missouri"), mais um dos fortes candidatos ao Oscar 2018 como Melhor Filme. Ele disputa com "Lady Bird - A Hora de Voar", "Me Chame Pelo Seu Nome", "O Destino de Uma Nação", "Corra!", "A Forma da Água", "Dunkirk", "The Post - A Guerra Secreta" e "Trama Fantasma" - Confira as críticas de todos estes filmes no Cinema no Escurinho. Se já não bastasse a indicação ao maior dos prêmios, Frances McDormand, interpretando Mildred Hayes, a mãe que quer justiça pela morte da filha, vai merecidamente para a disputa da estatueta de Melhor Atriz. Está excelente no papel, é a grande estrela da produção.

O diretor, roteirista e produtor Martin McDonagh encontrou a forma e o elenco certos para contar uma história que poderia ser apenas mais uma sobre assassinato e vingança. "Três Anúncios Para um Crime" vai além, explora cada personagem e suas fraquezas e desatinos. A começar por Mildred Hayes (McDormand), uma mulher forte, determinada, divorciada do marido que a trocou por uma jovem de 19 anos, mãe de um rapaz que não compreende sua obsessão por justiça e que vive o drama do assassinato da filha adolescente que foi estuprada enquanto era morta. Sete meses se passaram e nenhuma notícia dos responsáveis.

Cansada da inércia da polícia local, Mildred decide instalar três outdoors na estrada onde aconteceu o crime e quase não é usada pela população da pequena Ebbing, no Missouri. Os anúncios cobram uma solução das autoridades, principalmente do xerife Bill Willoughby. Mildred é aquela pessoa que as pessoas respeitam mas não gostam de seu jeito direto e claro de resolver as coisas, principalmente quando o assunto é a morte da filha, que todos evitam falar. E sua atitude de colocar os anúncios denunciando o crime sem solução vai provocar a ira de vários moradores.

Já o xerife Bill Willoughby, papel muito bem interpretado por Woody Harrelson, é aquele querido por todos na cidade, bom marido e pai, mas que também vive seu drama pessoal e não sabe como resolver o caso da morte de Ângela, filha de Mildred. E ainda precisa controlar uma delegacia formada por integrantes destemperados que acobertam as falhas uns dos outros.

Entre eles está Jason Dixon, papel de Sam Rockwell, irrepreensível como o policial psicopata dominado pela mãe, homofóbico e que gosta de bater em negros. Totalmente sem controle, ele vê Mildred como uma inimiga que merece ser exterminada por pressionar o xerife, a quem idolatra. Sam Rockwell vai para a disputa do Oscar 2018 junto com Woody Harrelson na categoria de Melhor Ator Coadjuvante. E ambos fizeram jus às indicações por suas excelentes atuações na produção.

O elenco conta ainda com as ótimas participações de Peter Dinklage (o anão apaixonado por Mildred), Lucas Hedges (como Robbie Hayes), Caleb Landry Jones (o corretor de imóveis Red Welby) e John Hawkes (Charlie Hayes, o ex-marido). "Três Anúncios Para um Crime" oferece também bela fotografia, locações bem selecionadas e um roteiro envolvente que provoca sensações variadas no público com relação aos personagens - ódio, compaixão, vingança, desejo de justiça. Até chegar a um final surpreendente.

Um filme que merece ser visto nos cinemas a partir desta quinta-feira como uma das melhores estreias da semana para quem busca um drama de qualidade, bem dirigido e com ótimas interpretações. Além de ser o vencedor dos festivais de cinema de Toronto, Veneza, San Sebastian, San Diego e BFI London em 2017, "Três Anúncios Para um Crime" concorre ainda aos prêmios de Melhor Roteiro Original, Melhor Montagem e Melhor Trilha Sonora Original no Oscar 2018.



Ficha técnica:
Direção, roteiro e produção: Martin McDonagh
Produção: Film4 / Fox Searchlight Pictures
Distribuição: Fox Film do Brasil
Duração: 1h56
Gênero: Drama
Países: EUA / Reino Unido
Classificação: 16 anos
Nota: 5 (0 a 5)

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