22 janeiro 2019

Disputa de egos e relacionamentos perversos são a essência de "A Favorita

A história é baseada na era da Rainha Anne, governante responsável pela unificação da Escócia e Inglaterra (Fotos: 20th Century Fox/Divulgação)

Carolina Cassese


Apresentando a potência do trio Olivia Colman, Emma Stone e Rachel Weisz, o filme "A Favorita" chega aos cinemas nesta quinta-feira. Junto com "Roma" (Alfonso Cuarón), a produção lidera o número de indicações ao Oscar, com dez nomeações. Dirigido pelo grego Yórgos Lánthimos, conhecido por assinar longas perturbadores como "Dente Canino" (2009) e "O Lagosta" (2015), a trama é centrada na disputa de Lady Sarah Churchill, a Duquesa de Malborough (Weisz) e Abigail (Stone) para o posto de confidente da Rainha da Inglaterra. 

As duas personagens são ambíguas: do começo do filme, Sarah parece ser uma figura detestável, ao passo que Abgail aparenta inocência. A de Stone já foi uma dama da sociedade, mas sua família entra em decadência e ela precisa assumir um cargo de serviçal no castelo para se sustentar. No decorrer do longa, ambas são humanizadas - e mostram uma faceta consideravelmente manipuladora.

Enquanto Anne é incerta em relação às suas decisões como governante, Lady Sarah tem opiniões fortes e está sempre disposta a persuadir a Rainha. Extremista, ela prefere adotar estratégias de combate e constantemente entra em conflito com defensores de ações pacifistas. Abgail entra no jogo de maneira mais sutil e, comendo pelas beiradas, acaba conseguindo espaço no palácio.

A história é baseada na era da Rainha Anne (1702-1714), que assumiu o poder logo depois de sua irmã Mary. A governante foi responsável pela unificação da Escócia e Inglaterra, além de ter desenvolvido o sistema bipartidário, até hoje vigente na Grã-Bretanha. Anne era conhecida ainda por seu temperamento instável. A interpretação de Colman entrega, com maestria, uma rainha densa e complicada. Stone e Weisz também brilham e apresentam uma química incrível em cena.

A direção de Lánthimos não deixa a desejar. São utilizadas câmeras com lentes grandes angulares, que auxiliam na percepção da grandeza de diversos espaços do palácio. Destaque ainda para os exacerbados figurinos, as maquiagens excêntricas e a impecável direção de fotografia. 

Apesar de retratar o século XVIII, o longa apresenta temas atemporais, como relacionamentos abusivos e brigas de egos. As disputas, dentro e fora do castelo, são intermináveis. Também não há espaço para maniqueísmos: o bem o mal se entrelaçam e se confundem o tempo inteiro.

Mesmo não tratando especificamente de questões relativas ao machismo, "A Favorita" é inegavelmente um filme empoderador, já que as mulheres dominam a tela. Com esse trio de peso em cena, a presença de figuras masculinas, francamente, mal faz falta.
Duração: 2 horas
Classificação: 14 anos
Distribuição: Fox Film do Brasil


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21 janeiro 2019

"Vidro" encerra bem a trilogia dos heróis/vilões de M. Night Shyamalan

Os três personagens apresentados em 2000 e 2017 se encontram para a batalha final (Fotos: Jessica Kourkouni/Universal Pictures)

Maristela Bretas


Não foi como eu gostaria, mas "Vidro" ("Glass") encerra da maneira correta e bem conduzida a trilogia dos heróis/vilões iniciada pelo diretor e roteirista M. Night Shyamalan no ano de 2000 com "Corpo Fechado". Dos três filmes, "Fragmentado" (2017) ainda é o melhor, com destaque para a super interpretação de James McAvoy como Kevin Crumb, o homem de 24 personalidades que retorna nesta nova produção. E novamente o ator domina as cenas com suas transformações e diálogos.

Depois dele, o outro destaque é Samuel L. Jackson, como Elijah Price, o Sr. Vidro. Ele conduz toda a trama, fazendo de cada personagem - herói, vilão ou simples mortais, suas marionetes num jogo para tentar provar sua teoria, apresentada no primeiro filme, de que super-heróis existem e estão entre nós.

Bruce Willis também retoma seu papel de David Dunn e apesar de ser o mais fraco dos três, entrega boa interpretação do vigilante que faz justiça com as próprias mãos. Com a função, adotada no primeiro filme, será ele quem vai caçar e por um fim à "Fera", a personalidade mais cruel e animalesca de Kevin Crumb, que conseguiu escapar em "Fragmentado" e continua deixando um rastro de morte desde então.

Outros atores, mais envelhecidos, claro, como Spencer Treat Clark (que faz Joseph, filho de David) e Charlayne Woodard (a mãe de Elijah), ambos de "Corpo Fechado", e Anya Taylor-Joy, a jovem Casey, única sobrevivente da Fera no segundo filme, estão de volta para ajudar a compor e concluir toda a trama.

A novidade desta produção é a entrada de Sarah Paulson, como a médica Ellie Staple, que vai tratar os três personagens internados/presos num hospital psiquiátrico "especial". Usando suas fraquezas, ela quer provar que não existem super-heróis. Novamente o diretor M. Night Shyamalan faz sua participação rápida, num estilo que foi a marca de Stan Lee em seus filmes da Marvel.

Na história, Kevin Crumb passa a ser perseguido por David Dunn, num jogo de gato e rato orquestrado por Elijah Price, que manipula os encontros entre os dois e guarda segredos sobre eles, forçando um grande confronto final para que o mundo todo assista e saiba de suas existências. Joseph, Casey e a mãe do Sr. Vidro precisarão se unir e buscar respostas para tentarem impedir que David, Kevin e Elijah sejam feridos ou continuem matando.

Os efeitos visuais continuam ótimos, especialmente quando a fera assume o corpo de Kevin e sai quebrando tudo e atacando as pessoas ou subindo as paredes. Por falar em quebrar, o que dá mais gastura são as cenas dos ossos de Elijah quebrando por causa da doença dele. Com final surpreendente, que indica mais um começo do que um fim, recomendo assistir a sequência da trilogia na ordem de lançamento para entender melhor a trama e saber como surgiram os personagens. Os três filmes valem a pena.



Ficha técnica:
Direção, roteiro e criador dos personagens: M. Night Shyamalan
Produção: Blumhouse Productions / Blinding Edge Pictures 
Distribuição: Disney / Buena Vista International
Duração: 2h10
Gêneros: Suspense / Fantasia
País: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

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