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20 julho 2023

"Barbie" é uma hilária e inteligente utopia feminista

Margot Robbie encarna com perfeição a Barbie em sua vida cor-de-rosa que precisa conhecer o mundo real(Fotos: Warner Bros.)


Larissa Figueiredo

Sob as bênçãos do slogan “você pode ser o que quiser”, as Barbies vivem na Barbielândia, sem qualquer contato com o mundo real, acreditando na resolução de todos os problemas de gênero e certas de que mudaram a vida de todas as mulheres para sempre. Essa é a temática de "Barbie", filme dirigido por Greta Gerwig que estreou nesta quinta-feira (20) nos cinemas.

Se antes as bonecas em formato de bebês permitiam que o mais longe que a imaginação das meninas fosse a maternidade, após os anos 1950, Ruth Handler criou uma boneca adulta, com “1001” profissões, que elevou o imaginário infantil e que agora ganhou as telonas.


O roteiro de "Barbie" é inteligente, sutil e profundo. Gerwig escancara, com bom humor, as deficiências de um movimento feminista raso e sem consciência. Todas as mulheres da Barbielândia são bem sucedidas em suas carreiras, independentes, se amam e se apoiam. 

Não há competição entre elas nem sentimentos de insegurança. Tanta sororidade é restrita apenas à Barbie Estranha (Kate McKinnon), que é chamada de estranha pelas costas, à Barbie grávida, e claro,às Barbies que saíram de linha e vivem isoladas.


A Barbie Estereotipada (Margot Robbie) acredita que não existem mais problemas de desigualdade de gênero e que tudo foi resolvido com equidade de oportunidades e salários. Barbie, obviamente, nunca conheceu as sequelas do patriarcado e do capitalismo, e é aí que está a grande intencionalidade da diretora.

Se por um lado as Barbies não competem entre si, os Kens vivem em busca da validação de suas companheiras e brigam, mas sem agressividade (pelo menos no início do filme), pela atenção delas. Na realidade, o estímulo à competição e a necessidade por validação masculina são comumente atribuídas às mulheres.


Por falar em Ken, o ator Ryan Gosling foi primoroso no papel. Apesar das críticas que recebeu nas redes sociais por sua idade e aparência, Gosling deu um show na atuação, na dança e na voz. O ator é um pacote completo de carisma e talento que incorporou o boneco namorado de Barbie, uma das grandes surpresas do longa. 

Greta Gerwig utiliza Ken para falar sobre a fragilidade da masculinidade tóxica e seus riscos, oferecendo um personagem complexo com início, meio e fim. Ele definitivamente não é o vilão.


A Barbie de Margot Robbie entra em uma crise existencial e precisa ir ao mundo real resolver as catastróficas (mas nem tanto) consequências disso. Lá, ela encontra Glória (América Ferrera), uma mãe de família que passa por problemas emocionais, e sua filha Sasha (Ariana Greenblatt), uma garota que não brinca mais com Barbies. 

A ligação entre as três não é óbvia e surpreende o expectador. Apesar disso, a personagem de America Ferrera funciona muito mais como uma representação de todos os dilemas das mulheres comuns do que como uma personagem com emoções próprias que fogem ao imaginário coletivo.


A trilha sonora é um dos pontos mais fortes do filme. As músicas e performances à la Gene Kelly funcionam bem e  ajudam a contar a narrativa de forma simbólica e divertida. “What Was I Made For”, música de Billie Eilish feita para o longa, é emocionante e se encaixa como uma luva na cena em  que é apresentada, uma das melhores do filme. Dua Lipa, que faz a Barbie Sereia, também colaborou com a música “Dance The Night”.

O cenário de "Barbie" é extremamente fiel às casas de brinquedo da boneca vendidas pela fabricante Mattel. Ele foi adaptado ao roteiro como uma grande brincadeira. Não sai água do chuveiro, não tem escadas porque a Barbie flutua, entre outros detalhes intencionais e indispensáveis.


A Barbielândia é coerente e de encher os olhos, o que contribui para uma fotografia digna do Oscar, repleta de planos inteiros que são uma verdadeira experiência cinematográfica. Para os fãs brasileiros, a boa notícia é que a Warner Bros. contratou Flávia Saddy, dubladora da "Barbie" nos desenhos, para dublar Margot Robbie neste live-action da boneca.

Por fim, é impossível não dizer que "Barbie" é um respiro a uma geração de mulheres que sofrem as feridas secretas da capitalização do movimento feminista e da masculinidade tóxica. Como no filme, falar abertamente sobre o tema é um antídoto.


Ficha técnica
Direção: Greta Gerwig
Roteiro: Greta Gerwig e Noah Baumbach
Produção: Warner Bros., Heyday Films,
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h55
Classificação: 12 anos
Gêneros: comédia, aventura, família

17 janeiro 2020

"Adoráveis Mulheres" - um clássico revisitado

Elenco é formado por talentos da nova geração de Hollywood como Eliza Scanlen, Saiorse Ronan, Emma Watson e Florence Pugh (Fotos: Sony Pictures/Divulgação)

Carol Cassese


O público é predominantemente feminino, mas as idades são variadas. Há tanto os grupos de senhoras da terceira idade quanto jovens, interessadas tanto numa história de viés feminino quanto na nova empreitada da atriz e diretora norte-americana Greta Gerwig, 36, já há muito alçada ao posto de cult - como esquecer a cena de "Frances Ha" (2012) na qual ela corre pelas ruas de Nova York ao som de "Modern Love", de David Bowie, em imagens em P&B? 
 
Mas, bem, aqui estamos falando de "Adoráveis Mulheres" ("Little Women"), único filme com direção feminina que fez bonito nas indicações do Oscar - concorre, por exemplo, a Roteiro Adaptado e a Melhor Filme.  Em cartaz na cidade, trata-se de mais uma adaptação para o cinema do célebre romance de 1868 de Louisa May Alcott, também conhecido como "As Filhas do Dr. March" ou "Mulherzinhas".  


Na adaptação anterior, a de 1994, dirigida por Gillian Armstrong, Winona Ryder capitaneava o elenco, interpretando Josephine, ou simplesmente Jo, uma garota adiante de seu tempo. O cast ainda trazia Claire Danes e Kirsten Dunst.  Agora, o papel de Jo é delegado a Saiorse Ronan, que já havia trabalhado com Greta em "Ladybird - A Hora de Voar" (2017). 
 
Conhecida também por filmes como "Um Olhar do Paraíso", "Brooklyn" e "Duas Rainhas", Saiorse, 25, é uma atriz que cresceu diante do público (começou a atuar ainda criança, em filmes como "Desejo e Reparação") e, aqui, dá um banho de interpretação, o que explica o fato de estar sendo indicada a Melhor Atriz nos principais prêmios da temporada, como o Globo de Ouro e, claro, o Oscar.

Mas o elenco como um todo é estelar. A começar de Laura Dern, perfeita como a Sra. March, a matriarca da família, que cuida da criação das quatro filhas enquanto o marido está servindo o país, na Guerra Civil Americana. Além de Jo, a prole é composta por Beth (Eliza Scanlen, da série da HBO "Sharp Objects"), Meg (a britânica Emma Watson, da saga "Harry Potter") e Amy (Florence Pugh, outra britânica). Florence, aliás, está indicada a Atriz Coadjuvante no Oscar. 


As quatro meninas têm personalidades distintas, que por vezes se chocam, mas o amor que une a família sempre fala mais alto. De saúde mais frágil, a caçula é o xodó de todas. Jo, como já pontuado, é uma mulher avant la lettre, e, longe de sonhar com um casamento, como seria esperado por uma garota de sua idade naquela época, prefere se debruçar sobre a escrita e vender seus textos para, com o dinheiro obtido, ajudar a família. 
 
Ficou faltando Meryl Streep? Sim... Ela é a rabugenta e (por que não?) divertida Tia March. Mas, bem, falar do talento de Meryl é gastar linhas em vão. Afinal, taí uma atriz cujas performances dispensam comentários. E por último, mas não menos importante, já que optamos por ratificar o poderio do elenco feminino, tem Hannah, a "maid" da família, vivida por Jayne Houdyshell. 

Nesta nova versão, a história é narrada em dois tempos. Greta, talvez frustrando os que esperavam dela mais arrojo, opta por uma narrativa basicamente tradicional, com direito a cenas que algumas vezes até soam edulcoradas demais (como as da praia, com crianças soltando pipas e correndo, às gargalhadas). Das poucas inovações a que se permite está a narração do conteúdo das cartas, lidas, na tela, pelos próprios autores, em um enquadramento no qual eles olham para o público.


Quanto a falar da história, é um pouco chover no molhado, posto que estamos nos referindo a um clássico. Aliás, um parêntese: o livro é um dos norteadores das personagens da saga "A Amiga Genial", de Elena Ferrante. Sim, teremos lágrimas na plateia. Mas também risos suaves e muito enternecimento. 
 
Aqui, a felicidade se sobrepuja a uma realidade difícil, no qual a falta do dinheiro muitas vezes bate à porta para desfazer sonhos e planos. No entanto, a história aponta como a união e solidariedade acabam sendo o caminho para uma sobrevivência que, não raro, até surpreende, por ser menos árdua do que o previsto em frente a tanta adversidade.  

Assim, mesmo com pouco, a Sra. March não deixa a família pobre que mora nas cercanias enfrentar o inverno rigoroso com a barriga vazia. E ao ver o belo gesto das mulheres, o vizinho Mr. Laurence (Chris Cooper) também entra em cena, repondo a mesa, abrindo sua biblioteca para saciar a fome de saber de Jo e disponibilizando seu piano (que o remete à ausência da filha) para que Beth exercite seu dom. O velho "gentileza gera gentileza". E move o mundo para lugares melhores.



E, sim, se falamos do elenco feminino, vale também situar o masculino para além do já citado Cooper. Destaque para Timothée Chalamet (Laurie, postulante ao amor de Jo) e para o francês Louis Garrel, como o professor Friedrich Bhaer, e James Norton como John Brooke, que arrebanha o coração de Meg. Chalamet firma-se como um talento da nova geração, enquanto Garrel confirma também seu carisma e presença cênica. 
 
Ah, sim... E há um prêmio Pulitzer no elenco. O dramaturgo Tracy Letts faz o Sr. Dashwood, que julga (e compra) os textos de Jo. Já o Sr. March cabe a Bob Odenkirk. Com tantas credenciais e falas que merecem ser sublinhadas e guardadas na memória, "Adoráveis Mulheres" é outro ponto positivo na carreira dessa encantadora garota de Sacramento, de nome Greta Celeste Gerwig.



Ficha técnica:
Direção: Greta Gerwig
Produção: Sony Pictures
Distribuição: Sony Pictures
Duração: 2h15
Gêneros: Drama / Romance
País: EUA
Classificação: 10 anos
Nota: 4 (0 a 5)

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