23 agosto 2019

Impossível sair impune de "Entre Tempos", filme que trata de amor, diferenças e lembranças

Luca Marinelli e Linda Caridi formam o belo casal Lui e Lei que, desde o início, exala uma química quase perfeita (Fotos: Sara Petraglia/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


"Lui e Lei são duas pessoas completamente diferentes entre si, mas que formam um casal intenso e apaixonado. Juntos durante anos, seus sentimentos estão em conflito constante, mostrando uma montanha-russa emocional entre eles: enquanto Lei acredita em um futuro brilhante, Lui não consegue deixar de viver no passado. Ao longo dos anos, o par coleciona frustrações, alegrias, tristezas e angústias". 

Que ninguém se iluda que está diante de mais uma história de amor ao ler essa sinopse oficial e simplesinha de "Entre Tempos". Trata-se, sem dúvida, de um filme sobre o romance de um casal, mas o jeito que o diretor italiano Valerio Miele imprimiu à sua narrativa é praticamente um personagem à parte. Mais do que uma ferramenta, o ritmo do longa torna-o único.



É tão louca e tão sui generis a forma como o filme é contado, com flashbacks e lampejos rápidos confundindo passado e presente, infância e vida adulta, que o espectador pode ter uma inusitada curiosidade de saber quem é o responsável pela montagem. Pois o autor da façanha é uma autora, Desideria Rayner, cujo trabalho e perfil podem ser facilmente encontrados na internet. Uma craque, sem dúvida. Não fosse ela, talvez o roteiro, que é do próprio diretor, não se transformasse no filme diferente que virou. Para início de conversa, Lui e Lei não são nomes próprios dos personagens principais, interpretados na medida por Luca Marinelli e Linda Caridi. Lui e Lei são, simplesmente, Ele e Ela traduzidos do italiano.



Se alguém quiser traduzir em uma linguagem mais óbvia a sinopse de "Entre Tempos", talvez pudesse dizer que se trata de um filme sobre a complexidade das relações de amor, sobre a ideia de que os opostos sempre se atraem ou sobre a fascinação quase doentia que o diferente exerce sobre o outro. O filme é tudo isso, mas seria raso demais resumir só nisso um longa que, originalmente, chama-se "Ricordi?". Assim mesmo, com interrogação. Vale salientar que Lui é pessimista e amargo e Lei é encantadoramente alegre e idealista.


Para completar essa atmosfera de idas e voltas vertiginosas, cores, paisagens e lugares tão diferentes como uma praia, um salão de baile, uma loja de perfumes, um lago, uma sala, um prédio, uma fazenda, uma árvore frondosa, é preciso dizer que os personagens principais são belos e que, desde o início, exalam uma química que parece perfeita. Há outras figuras na história, claro, mas a importância delas na trama - se é que existe alguma trama - é muito discreta.


Todas as relações a dois acabam, invariavelmente, em monotonia? A infância tem influência na forma como o adulto vive uma relação? Podem as lembranças marcar indelevelmente a mente e o coração de alguém a ponto de dificultar ou facilitar seu relacionamento de amor? Para que serve, afinal, a memória? É possível confiar nas lembranças? Ou, como fala um personagem no longa, a memória não é real. De algum modo, ela doura a pílula, subverte e verdade, ameniza o real para que a gente não sofra tanto diante dela. Que ninguém duvide: "Entre Tempos" é o tipo do filme que deixa o espectador cheio de perguntas. 
Classificação: 14 anos
Duração: 1h46
Distribuição: Cineart Filmes
Sessões: Belas 1 - 16h30 e 21h30 , Net Cineart Ponteio 2 - 21h15 , Net Cineart Ponteio 4 - 13h40 e 18h50 


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22 agosto 2019

"Socorro, Virei Uma Garota" alerta: cuidado com o que desejar

Thati Lopes é a jovem que um dia foi rapaz e agora precisa aprender a conviver com o novo corpo e todas s mudanças (Fotos: Divulgação)

Maristela Bretas


Divertido, recheado de gírias e palavrões, a comédia para adolescentes "Socorro, Virei Uma Garota" agradou o público presente na pré-estreia em BH. Apesar de a história focar na personagem Julia, interpretada pela comediante Thati Lopes, é o amigo inseparável dela, Cabeça, (papel de Leo Bahia), quem também se destaca. O personagem expõe de forma clara e engraçada o drama de todo "gordinho nerd". Ele transita bem entre a amizade com Julio (Victor Lamoglia) e Julia.


Thati entrega uma boa adolescente, espalhafatosa, carente, dramática, com direito a cólica e amor platônico, ao mesmo tempo em que vai descobrindo seu corpo de mulher. Ela é realmente o centro do filme, mas que sem Bahia não teria tanta graça. A dupla oferece ao público os momentos mais engraçados, com muitas caras e bocas. Victor Lamoglia, o lado masculino de Julia, é mais fraquinho, com participação relativamente pequena, mais para explicar a troca de sexo de Julio e levantar a bola para Thati. Outro que não muda o estilo é Kayky Brito, não acrescenta muito à história.


Na história, Júlio é um garoto tímido e invisível aos olhos de sua turma. Sempre zombado pelos colegas e desprezado pela gata da escola, Melina, por quem é apaixonado, Júlio conta apenas com o apoio do fiel escudeiro e melhor amigo Cabeça, o gordinho mais nerd e sarcástico da sala. Em uma excursão dos alunos para a praia, Júlio vê no céu uma estrela cadente e faz um pedido para que dali em diante ele se transforme na pessoa mais popular da escola.

Mas algo dá errado e ele acorda como a garota mais popular da escola: a periguete Júlia. Sem saber como desfazer a transformação, ele sofre no corpo de Júlia as agruras da adaptação de como ser uma garota, mas também usufrui da proximidade de Melina, agora sua “melhor amiga”. No elenco estão ainda Manu Gavassi (Melina), Vanessa Gerbelli e Nelson Freitas (pais de Júlio/Júlia), Lippy Adler (Douglas) e Kayky Brito (Deco, irmão de Júlio/Júlia).


Com história comum, sem grandes novidades, além de situações e frases clichês, "Socorro, Virei Uma Garota" é uma opção de sessão da tarde, que pode agradar adolescentes de 12 a 15 anos. Sem apresentar nada de novo e não aprofundar em assuntos polêmicos, como homossexualidade, bullying e machismo, o longa tenta repetir o tema que já foi tratado em filmes como "De Repente 30" (2004), com Jennifer Garner e Mark Ruffalo; "Eu Queria ter a Sua Vida" (2011) ou "17 Outra Vez" (2009). Se a proposta é rir, esta comédia atende com boas piadas e uma dupla principal bem entrosada.


Ficha técnica:
Direção: Leandro Neri
Produção: Camisa Listrada / Panorama Filmes / Paramount Pictures
Distribuição: Downtown Filmes / Paris Filmes
Duração: 1h50
Gênero: Comédia
País: Brasil
Classificação: 12 anos
Nota: 2,5 (0 a 5)

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