12 março 2025

"Pequenas Coisas Como Estas" não aprofunda na história das cruéis Lavanderias de Madalena

Cillian Murphy entrega uma ótima interpretação, mas roteiro superficial desperdiça talento
(Fotos: O2 Play Filmes)


Maristela Bretas


"Pequenas Coisas Como Estas" ("Small Things Like These") tinha tudo para ser um filme sobre os horrores que ocorriam nas lavanderias de Madalena, asilos irlandeses que puniam as mulheres consideradas “fora do padrão”. Mas o roteiro fraco de Enda Walsh deixou o filme superficial e praticamente não explica direito o que era o local. 

Um desperdício do talento de Cillian Murphy, que mesmo ótimo no papel, não segura a produção. O filme estreia nesta quinta-feira (13) no Cineart Ponteio, Cinemark Pátio Savassi e Una Cine Belas Artes. 

Mesmo ele sendo um dos produtores, junto com Matt Damon e Ben Affleck, o filme foca praticamente o tempo todo no dilema do personagem de Murphy, quando deveria explorar os horrores destes asilos irlandeses. 


Ambientado na Irlanda, em 1985, a história gira em torno de Bill Furlong (Cillian Murphy), um respeitável comerciante de carvão e madeira, filho de uma mãe solteira, que leva uma vida simples com a família. Ele vive com a família na pequena comunidade irlandesa de New Ross, controlada pela Igreja Católica Romana e seus silêncios. 

Durante o período de Natal, Bill faz uma descoberta perturbadora sobre as Lavanderias de Madalena, local comandado pela Irmã Mary (Emily Watson). Ele encontra a jovem Sarah (Zara Devlin) aprisionada em um galpão de carvão, vítima de punições impostas às mulheres pela Igreja por serem consideradas "fora do padrão". 

Este encontro provoca um conflito interno no comerciante, que confronta suas próprias memórias de infância, repletas de pobreza e sonhos não realizados. 


Prisões religiosas

Após uma pesquisa básica na internet foi possível saber mais sobre o tema do que o apresentado no roteiro do filme. Nestes locais, iniciados em 1756 e que persistiram até 1996, mulheres eram obrigadas a trabalhar intensamente, incluindo longos períodos de oração e silêncio forçado. 

As casas eram locais de punição e funcionavam como prisões para jovens rebeldes (as chamadas "mulheres perdidas"), com deficiência física e mental, mães solteiras e suas filhas, vítimas de estupro e aquelas que se acreditava possuir caráter duvidoso como as prostitutas. Os filhos das grávidas eram tomados e colocados para adoção.


Adaptado da obra literária de Claire Keegan e que venceu o Prêmio Orwell, um dos mais importantes da Inglaterra na escrita política, "Pequenas Coisas Como Estas" tinha um tema muito forte que poderia ter sido melhor explorado. 

São os belos e profundos olhos azuis de Cillian Murphy que contam as histórias e a rotina do lugarejo, além de cenas das locações. Mas não foram suficientes e o filme se torna arrastado, apesar dos 90 minutos de duração, e até mesmo o final, previsível desde o início, ficou a dever.


Ficha técnica:
Direção: Tim Mielants
Produção: Big Things Films, Wilder Content, FilmNation Entertainment
Distribuição: O2 Play Filmes
Exibição: Cineart Ponteio, Una Cine Belas Artes e Cinemark Pátio Savassi
Duração: 1h38
Classificação: 12 anos
País: Irlanda
Gênero: drama

11 março 2025

“Máquina do Tempo” promete prender o público com viagens temporais e Segunda Guerra Mundial

Com imagens em preto e branco, longa aborda a criação, por duas irmãs, de um dispositivo que permite obter informações do futuro (Fotos: Pandora Filmes)



Eduardo Jr.


Estreia no dia 13 de março o longa “Máquina do Tempo” ("Lola", 2022), dirigido por Andrew Legge e distribuído pela Pandora Filmes. A obra aborda a criação de uma máquina que permite obter informações do futuro e, com isso, é utilizada por suas descobridoras para interferir na Segunda Guerra Mundial. 

A estética pode ser lida como ponto positivo ou negativo da obra. A filmagem no estilo “found footage” (ou “filmagem encontrada”, traduzindo do inglês) está presente em cenas que simulam gravações feitas pelas protagonistas, as irmãs Thomasina (Emma Appleton) e Martha (Stefanie Martini). 


O longa foi realizado com câmeras e lentes autênticas da década de 1930 e processado em um tanque de revelação de 16mm da era soviética. Por isso as imagens em preto e branco, granuladas – e, por vezes, escuras demais, impactando a leitura das cenas pelo espectador. 

Na trama, as duas irmãs constroem uma máquina que intercepta transmissões de rádio e TV do futuro. Após o fascínio com a produção cultural que ainda surgiria (entre as descobertas estão The Kinks e David Bowie), vem a ideia de utilizar a tecnologia como elemento transformador do cenário provocado pela Segunda Guerra, ocorrida entre 1939 e 1945. 


O espectador pode se lembrar de alguns títulos do passado diante da proposta de “Máquina do Tempo”: conhecer canções que não existem naquele mundo pode remeter a “Yesterday” (2019), filme em que o protagonista se torna ‘autor’ de clássicos dos Beatles, já que ninguém conhecia os quatro rapazes de Liverpool. 

Ver o futuro e intervir no que está para acontecer pode lembrar “Minority Report” (2002). Já a temática de alterar a realidade sem pensar nas consequências disso no futuro pode trazer à tona memórias de “Efeito Borboleta” (2004). 


É interessante ver na tela duas mulheres se colocando como donas do jogo, acompanhar o romance que se põe no fundo, e mais ainda, ser apresentado a cenários hipotéticos acerca do conflito entre a Alemanha de Hitler e o restante da Europa. Mas para além do resultado da guerra, todo mundo sai perdendo - afinal, o que seria de um mundo em que não há um David Bowie? 

Esta ficção científica é uma provocativa produção irlandês-britânica, que vem chamando a atenção. O filme, que é a estreia de Andrew Legge na direção de longas, foi indicado ao prêmio Swatch de Melhor Primeiro Filme no Festival de Locarno em 2022. 

Se podemos dar alguma dica sobre este filme, lá vai: não perca, pois não dá pra voltar no tempo e rever essa obra tão interessante. 


Ficha técnica:
Direção: Andrew Legge
Roteiro: Andrew Legge e Angeli Macfarlane
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h19
Classificação: 14 anos
Países: Irlanda, Reino Unido
Gêneros: Ficção científica, guerra, drama