13 março 2025

"O Melhor Amigo" promete um amor quente na praia, mas entrega um solzinho morno

Comédia romântica dirigida por Allan Deberton se baseia no curta de mesmo nome que o diretor fez em 2013
(Fotos: Vitrine Filmes)


Eduardo Jr.


Chega aos cinemas nesta quinta-feira (13) o lançamento da Sessão Vitrine Petrobrás, "O Melhor Amigo". Com distribuição da Vitrine Filmes, o filme dirigido por Allan Deberton se baseia no curta de mesmo nome que o diretor fez em 2013. 

A novidade está no fato de que o curta, que poderia ser enquadrado como drama, pelo sentimento não declarado entre os personagens, se transformou um uma comédia romântica nesta versão de pouco mais de 90 minutos. 


De início, a música já sinaliza para o espectador o tom descontraído do filme. Vinícius Teixeira dá vida ao protagonista Lucas (no curta de 2013 o papel foi de Jesuíta Barbosa). Diante da incerteza sobre o relacionamento com Martim (Léo Bahia), Lucas viaja sozinho para Canoa Quebrada, no Ceará. 

De cara, esbarra em Estrela D'Alva (Cláudia Ohana), uma espécie de cigana que rapidamente identifica que o jovem tem questões sentimentais a resolver. A esotérica acerta, pois Lucas reencontra Felipe (vivido por Gabriel Fuentes), um velho amigo - e fica claro que a presença dele remexe sentimentos antigos. O tímido Lucas parece querer uma paixão intensa, se entregar ao amor, enquanto Felipe está em outra sintonia. 


A proposta de normalizar as relações LGBTQIAPN+ e criar um musical gay pode ser vista como positiva. Mas a execução também está fora de sintonia. As danças mais flertam com o trash do que com a Broadway, apesar da boa ideia de ressignificar canções dos anos 1980 e 1990, como "Mais Uma de Amor (geme geme)", da Blitz e "Escrito nas Estrelas", de Tetê Espíndola. 

A intenção parece ser a de criar um clima de desventuras afetivas para, no final, o amor vencer. Mas essa proposta de jornada para o protagonista parece ser amassada pela representação da disponibilidade do sexo fácil no universo LGBTQIAPN+. Lucas parece apaixonado por Felipe, que tem diversos empregos para sobreviver - de guia turístico a garoto de programa. 


Sem saber se será correspondido, parece querer punir o amado, se enfiando no quarto de outros hóspedes (Mateus Carrieri e Diego Montez) para uma noite de sexo a três. 

Fica o protagonista sem um arco que o sustente, e a imagem do mundo gay mais uma vez atrelada a corpos sarados e personagens afeminados que só servem para tirar risos do público. 

A tela acaba sendo preenchida com apresentações de drags, que estão naturalmente se exibindo num palco, e não para uma câmera. Aliás, parece faltar criatividade ao posicionamento dela, que fica estática em frente à cena a ser retratada, e só. 


Nem a presença de Gretchen no longa abre espaço para planos mais elaborados. A frustração marca presença também no momento em que o insistente namorado Martim aparece naquele paraíso litorâneo atrás de Lucas. Mas o indício de que a trama vai se movimentar se perde facilmente. 

E ali, em uma praia bonita com fotografia pouco explorada, se passa uma história que parecia ser a busca por uma paixão, mas termina num possível encontro consigo mesmo. Os motivos para a união dos protagonistas se esfarelar também ficam nebulosos, pois as personagens não são abordadas de maneira mais profunda. 


O mérito talvez esteja na coerência da direção: se no curta de 2013 não se sabe se o protagonista se declarou ao amado ou se algo mais aconteceu, aqui também não parece existir o interesse em buscar respostas para a origem ou fim de um sentimento ou de uma relação. 

Uma obra com as cores do Brasil, com um humor que reconhecemos, mas que, provavelmente, o público poderá taxar como mediana. 


Ficha Técnica
Direção: Allan Deberton
Roteiro: Allan Deberton, Raul Damasceno, Otavio Chamorro e Pedro Karam
Produção: Deberton Filmes, coprodução Telecine e Mistika
Distribuição: Vitrine Filmes
Duração: 1h34
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gênero: Comédia romântica

12 março 2025

"Pequenas Coisas Como Estas" não aprofunda na história das cruéis Lavanderias de Madalena

Cillian Murphy entrega uma ótima interpretação, mas roteiro superficial desperdiça talento
(Fotos: O2 Play Filmes)


Maristela Bretas


"Pequenas Coisas Como Estas" ("Small Things Like These") tinha tudo para ser um filme sobre os horrores que ocorriam nas lavanderias de Madalena, asilos irlandeses que puniam as mulheres consideradas “fora do padrão”. Mas o roteiro fraco de Enda Walsh deixou o filme superficial e praticamente não explica direito o que era o local. 

Um desperdício do talento de Cillian Murphy, que mesmo ótimo no papel, não segura a produção. O filme estreia nesta quinta-feira (13) no Cineart Ponteio, Cinemark Pátio Savassi e Una Cine Belas Artes. 

Mesmo ele sendo um dos produtores, junto com Matt Damon e Ben Affleck, o filme foca praticamente o tempo todo no dilema do personagem de Murphy, quando deveria explorar os horrores destes asilos irlandeses. 


Ambientado na Irlanda, em 1985, a história gira em torno de Bill Furlong (Cillian Murphy), um respeitável comerciante de carvão e madeira, filho de uma mãe solteira, que leva uma vida simples com a família. Ele vive com a família na pequena comunidade irlandesa de New Ross, controlada pela Igreja Católica Romana e seus silêncios. 

Durante o período de Natal, Bill faz uma descoberta perturbadora sobre as Lavanderias de Madalena, local comandado pela Irmã Mary (Emily Watson). Ele encontra a jovem Sarah (Zara Devlin) aprisionada em um galpão de carvão, vítima de punições impostas às mulheres pela Igreja por serem consideradas "fora do padrão". 

Este encontro provoca um conflito interno no comerciante, que confronta suas próprias memórias de infância, repletas de pobreza e sonhos não realizados. 


Prisões religiosas

Após uma pesquisa básica na internet foi possível saber mais sobre o tema do que o apresentado no roteiro do filme. Nestes locais, iniciados em 1756 e que persistiram até 1996, mulheres eram obrigadas a trabalhar intensamente, incluindo longos períodos de oração e silêncio forçado. 

As casas eram locais de punição e funcionavam como prisões para jovens rebeldes (as chamadas "mulheres perdidas"), com deficiência física e mental, mães solteiras e suas filhas, vítimas de estupro e aquelas que se acreditava possuir caráter duvidoso como as prostitutas. Os filhos das grávidas eram tomados e colocados para adoção.


Adaptado da obra literária de Claire Keegan e que venceu o Prêmio Orwell, um dos mais importantes da Inglaterra na escrita política, "Pequenas Coisas Como Estas" tinha um tema muito forte que poderia ter sido melhor explorado. 

São os belos e profundos olhos azuis de Cillian Murphy que contam as histórias e a rotina do lugarejo, além de cenas das locações. Mas não foram suficientes e o filme se torna arrastado, apesar dos 90 minutos de duração, e até mesmo o final, previsível desde o início, ficou a dever.


Ficha técnica:
Direção: Tim Mielants
Produção: Big Things Films, Wilder Content, FilmNation Entertainment
Distribuição: O2 Play Filmes
Exibição: Cineart Ponteio, Una Cine Belas Artes e Cinemark Pátio Savassi
Duração: 1h38
Classificação: 12 anos
País: Irlanda
Gênero: drama