04 março 2015

"Ida", discreto e sombrio,como convém a um filme polonês




Mirtes Helena Scalioni


Anna, uma noviça às vésperas de prestar seus votos, é orientada pela madre superiora a visitar uma tia, sua única parente viva. E é exatamente na relação da quase freirinha virtuosa com sua tia pecadora Wanda que reside o encanto de "Ida", ganhador do Oscar 2015 de Melhor Filme Estrangeiro. Ida é o nome real de Anna, que descobre ser, na verdade, judia. Assim que se encontram, as duas saem em busca da verdade que está no passado.

Agata Trzebuchowska, que vive a noviça, é estreante - na verdade, um achado meio por acaso do diretor Pawel Pawlikowski, que estava em busca de um rosto diferente para seu filme em preto e branco, cheio de nuances cinzas e muito sombrio. Pois o diretor encontrou. 


A protagonista de sobrenome impronunciável dá conta do recado como uma veterana, em interpretação intimista e contida, sem deixar nada a desejar, mesmo se comparada à sua xará Agata, de sobrenome Kulesza, que faz a Tia Wanda. Filmes sobre os horrores ou as consequências da guerra são sempre comoventes. Embora possa ser encaixado nessa, digamos, categoria, "Ida" tem lá suas diferenças. 

Enquadramentos que oprimem e uma trilha sonora quase inexistente levam o espectador a descobrir, em meio a muitos silêncios, o que ocorreu com a família judia de Ida e Wanda durante a guerra.

Enquanto tem reveladas suas raízes e convive com a tia, Ida descobre também um outro lado da vida. Há quem enxergue no filme uma convocação à reflexão sobre a castidade e outros sacrifícios da vida religiosa. Tudo discretamente, sem gritos ou histerias. Afinal, trata-se de um filme polonês. A produção está em cartaz em sessão única, às 14 horas, na sala 1 do Belas Artes Cinema. Classificação: 14 anos




Tags: Ida; polonês; Melhor Filme Estrangeiro; Agata Trzebuchowska; Agata Kulesza; Pavel Pawlikowski; drama; Cinema no Escurinho

01 março 2015

Como no roteiro original, comédia "Superpai" esbanja palavrões e humor apelativo


Maristela Bretas



Não há muito o quê dizer sobre a comédia "Superpai", em cartaz nos cinemas. Com Danton Mello dividindo o grupo principal com Dani Calabresa, Antônio Tabet (este do "Porta dos Fundos") e Thogun Teixeira, o quarteto tem até um bom entrosamento e consegue levar bem o enredo. Mas o gênero "vou aprontar todas", cheio de palavrões e piadas pesadas e preconceituosas pode agradar mesmo quem está querendo ver um filme de humor apelativo. Ou seja, principalmente adolescentes.

Prova disso são outros dois nomes do elenco: Rafinha Bastos (que também trabalhou no roteiro) e Danilo Gentili. Mas o filme passar, se a expectativa não for grande. O roteiro foi adaptado de uma produção norte-americana ("Deadbeat Dad") que não chegou a acontecer e teria Jack Black no papel do pai. 

Acabou caindo em terras brasileiras e ganhou uma versão com menos roupa, muita bunda de fora, conversas cheias de sacanagem (nesta parte, semelhante ao texto original) e até Nicole Bahls fingindo que é atriz, com muitas caras e bocas e pouca cobertura e o mínimo de falas (ainda bem) . Vai ter muito marmanjo assistindo só para ver a representante do "Pânico".


O filme conta a história de Diogo (Danton Mello), casado e pai de um garoto de 8 anos. Irresponsável, ele ainda se comporta como se tivesse 18 anos e pudesse aprontar todas. Na noite da festa dos 20 anos de formatura, ele é obrigado a tomar conta do filho porque a mulher Mariana (Monica Iozzi) precisa ficar com a mãe no hospital. Daniel resolve deixar o menino numa creche noturna e se encontra com os amigos na festa.

Na hora de buscar o menino de volta, acaba levando uma criança coreana por engano. Diogo, Júlia (Calabresa), César (Tabet) e Nando (Thogun) saem pela cidade para tentar destrocar o filho e acabam se envolvendo em situações engraçadas, ao som de "Inútil", da banda "Ultraje a Rigor".

Dani e Tabet garantem bons (e escrachados) diálogos, e Danton segura bem o papel de pai irresponsável que não amadureceu. Eu só não sei o porquê dos roteiristas brasileiros fazerem histórias como essa, esculhambando com tudo e com todos e no final, acabarem com lições de moral e bons costumes - o mesmo aconteceu com "O Candidato Honesto". Nada a ver. O filme está em cartaz em salas de 15 cinemas de BH, Contagem e Betim.



Ficha técnica:
Direção: Pedro Amorim
Produção: Querosene Filmes
Distribuição: Universal Pictures
Duração: 2h03
País: Brasil
Gênero: Comédia
Classificação: 14 anos
Nota: 2,5 (0 a 5)

Tags: Superpai; Danton Mello; Dani Calabresa; Antonio Tabet; Thogun Teixeira; Danilo Gentili; Rafinha Bastos; Universal Pictures; Querosene Filmes; comédia; Cinema no Escurinho