29 maio 2018

"Antes que eu me esqueça" - É preciso falar de demência senil

José de Abreu e Danton Mello são pai e filho que tentam se acertar nesta comédia dramática (Fotos: Imagem Filmes/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Filmes sobre velhos estão em alta. Depois da contundência de "Ella e John" e do romantismo de "Acertando o Passo" - só para ficar nos mais recentes - está em cartaz o brasileiro "Antes que eu me esqueça", primeira longa de ficção de Tiago Arakilian, que há mais de 30 anos trabalha com produção de cinema. Desta vez, a história utiliza - e até privilegia - o humor para falar de relações familiares, desencontros e, principalmente, de solidão.

O grande trunfo do filme, o que fisga o espectador do início ao fim, é a atuação brilhante de José de Abreu interpretando um irascível e arrogante juiz aposentado de 80 anos às voltas com os primeiros sintomas de uma demência senil. A expressão corporal e facial do ator impressiona, emociona e surpreende, principalmente quando seu personagem, Polidoro, decide, àquela altura da vida, se tornar sócio de uma boate de strip-tease de Copacabana. Os demais personagens e intérpretes giram em torno dele.

É quando uma das filhas de Polidoro, Bia (Letícia Isnard) tenta interditar o pai na Justiça que o filme parece discutir e abordar o outro tema da história: a relação pai e filho. Como Paulo (Danton Mello) o outro filho do velho, anda afastado, o juiz determina que os dois refaçam os laços antes de conceder a interdição. Pianista frustrado, pessimista e derrotado, o jovem se vê obrigado a encontros periódicos com o pai, sempre sob a supervisão da rígida promotora Maria Pio (Mariana Lima).


Estão ainda no elenco Guta Stresser, exagerando no estereótipo como a garçonete bailarina da boate; Augusto Madeira como o amigo pianista de Paulo; Eucir de Souza como o enfadado genro Alceu, e até um inesperado Dedé Santana, vivendo um dos amigos do juiz.

Como quase toda comédia dramática, "Antes que eu me esqueça" exagera um pouco nos clichês e obviedades. Há também situações que parecem carregar propositalmente no humor, talvez por se tratar da terceira idade e de demência senil - o que se revela um equívoco. Velhos, boate, strip-tease, bailarinas - tudo parece uma associação feita para o riso.


Mas o que fica, ao final, é a sensação de que é preciso sim falar da velhice e de todos os desconfortos, esquisitices e problemas que ela traz, não apenas aos velhos, mas principalmente às suas famílias. Num dos momentos mais desconcertantes do filme, Polidoro decreta: "O pior da velhice é a gente lembrar que está esquecendo". Felizmente, a delicadeza e a emoção vencem. 
Duração: 1h40
Classificação: 14 anos



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26 maio 2018

"Deadpool 2" é escracho total, censura zero e trilha sonora 10

Ryan Reynolds reúne um grupo de "heróis" nada a ver e resolve ser o mocinho do seu jeito (Fotos: 20th Century Fox/Divulgação)

Maristela Bretas


Ele se superou, tira sarro até mesmo da produção, alegando ser "um filme de família" . No Brasil, a classificação etária baixou de 18 para 16 anos para atrair um público mais jovem. Mais crítico que nunca - de tudo e de todos -, abusando nos efeitos gráficos e na violência, Ryan Reynolds está de volta (como ator, produtor e ainda ajudou a escrever o roteiro) em "Deadpool 2".

As piadas estão mais escrachadas, mas o anti-herói também adota uma posição (no estilo dele) de defender as mulheres, o público LGBT, deficientes e vítimas de bullying. Para quem temia que a compra da Fox pela Disney pudesse afetar o estilo do polêmico personagem Marvel, isso não aconteceu neste filme. Ninguém escapa da irreverência de Deadpool, que está tão bom e em alguns itens até melhor que o primeiro.

A excelente trilha sonora é um dos pontos fortes, com gêneros musicais que agradam a todos os gostos, muitas vezes "orquestrados" por Deadpool. Tem Dolly Parton ("9 To 5"), Barbra Streisand ("Papa Can You Hear Me"), AC/DC ("Thunderstruck") , A-ha ("Take On Me"), Peter Gabriel ( "In Your Eyes"), Air Supply ("All Out of Love"), Cher ("If I Could Turn Back Time") e, principalmente, Celine Dion, que canta "Ashes", tema maravilhoso de abertura, que parece a de um filme de 007. Clique aqui para conferir.

Para tornar o pacote completo, muitos tiros, explosões, violência que chega a assustar, efeitos visuais e até cenas românticas de Deadpool/Wade Wilson com a companheira Vanessa, interpretada novamente pela bela brasileira Morena Baccarin. Para ficar ainda melhor, o elenco ganha o reforço de Josh Brolin como Cable, um soldado do futuro que vem ao presente para assassinar o jovem mutante Russell. Este é o segundo papel do ator pela Marvel neste ano - o primeiro foi o excelente vilão Thanos, de "Vingadores - Guerra Infinita".

Alguns personagens de "Deadpool" (2016) retornam nesta continuação, como o Colossus (Andre Tricoteux/ Stefan Kapicic), Megasonic (Brianna Hildebrand), Blind All (Leslie Uggams), a cega dona da casa onde vivia Wade, o taxista Dopinder (Karan Soni) e Weasel (T.J. Miller). E surgem novos, além de Cable, como Dominó/Neena (Zazie Beetz), a garota que tem a sorte como superpoder, Yokio (Shioli Kutsuna), a nerd que fala pouco mas é muito simpática, e Firefist/Russell (Julian Dennison), o adolescente mutante incendiário.

"Deadpool 2" consegue trazer para o universo Marvel discussões de temas atuais e polêmicos que produções com outros heróis do estúdio deixam passar em branco (exceto "Pantera Negra"). Mas sem usar um discurso careta, cheio de frases feitas. Pelo contrário, ele rasga o verbo, esculacha com sua imagem, com a dos outros, com a censura reduzida, com a cegueira da amiga.

Não escapam das piadas de Deadpool nem alguns personagens da Marvel, como Wolverine (seu ídolo), o Professor Xavier, Hulk, Capitão América e até os da DC, como Batman. O mercenário do collant vermelho e preto usa frases famosas de alguns deles, mas também tem seus momentos de "mocinho" e encara uma briga feia para tentar salvar pessoas que ele mal conhece. E para isso vai reunir um grupo totalmente nada a ver, que inclui Terry Crews (Bedlam), Bill Skarsgärd (Zeitgeist) e Brad Pitt (Vanisher) para formar a X-Force, uma turma de X-Men sem regras, que cruza os braços igualzinho o Pantera Negra - "Wakanda Foverer". Hilário.

O filme já começa com muita ação e explosão, numa situação que vai ser explicada voltando no tempo. Tem morte de heróis, prisão de mutantes, mais explosões, tiros a dar com pau e a entrada em cena do super soldado Cable, que está caçando o jovem mutante Russell. O incendiário pode ser a salvação de Deadpool, que vai precisar aprender o que é ser herói de verdade para salvar o adolescente. Para isso, vai precisar da ajuda de Colossus e dos X-Men (o time barato da Marvel, como zoa Deadpool), além dos fiéis amigos Dopinder e Weasel e de um grupo de novos mutantes para formar a X-Force.


Irreverente, cômico, violento, dramático em alguma situações,"Deadpool 2" mantém o humor negro e estilo besteirol do primeiro, mais violento e menos erótico. Vale a pena conferir o novo ótimo trabalho de Ryan Reynolds que está mais a vontade na pele do irônico super-herói. Pecou um pouco no roteiro de qualidade mediana (até o personagem critica), apresentando apenas os novos mutantes como novidades. Vale ficar atento às cenas pré e pós-créditos, que mudam o final do filme.



Ficha técnica:
Direção: David Leitch
Produção: Marvel Entertainment / 20th Century Fox
Distribuição: Fox Films do Brasil
Duração: 2h01
Gêneros: Comédia/ Ação / Aventura
País: EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 4,5 (0 a 5)

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