06 janeiro 2020

Globo de Ouro 2020 surpreendeu por algumas escolhas, um apresentador ofensivo e cerimônia corrida

"Era Uma Vez em... Hollywood", "Coringa" e "Parasita" confirmaram algumas de suas indicações (Fotos Divulgação)

Maristela Bretas


Com uma cerimônia mais corrida que o convencional, o 77º Globo de Ouro contou pela quinta vez com a apresentação do comediante Ricky Gervais. Fazendo piadas grotescas e comentários ofensivos aos convidados presentes, suas atuações e filmes ou séries, ele foi o ponto muito ruim da noite de premiações. Ele literalmente ligou o "foda-se" e metralhou geral, sem papas na língua e, em alguns casos, sem respeito. Totalmente dispensável e nem deveria ter participado desta edição, como havia prometido na edição passada.

Realizado em Los Angeles, o Globo de Ouro, promovido pela Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood (HFPA, na sigla original), premiou 25 categorias, 14 delas de cinema e 11 de TV e abriu a temporada de premiações deste ano. O grande vencedor da noite foi Quentin Tarantino, com "Era Uma Vez em... Hollywood", seu nono filme, que conquistou as estatuetas de Melhor Filme Cômico ou Musical, Melhor Roteiro e Melhor ator Coadjuvante (Brad Pitt).


A surpresa ficou para "1917", dirigido por Sam Mendes, ambientado na Primeira Guerra Mundial. Além do prêmio de Melhor Filme Dramático, levou também o de Melhor Diretor, entregue pelos atores Helen Mirren e Antonio Banderas. Sam Mendes agradeceu primeiramente a Martin Scorsese e dedicou o prêmio ao avô, que lutou na Primeira Guerra Mundial.

Com o mesmo número de estatuetas, "Coringa" confirmou duas de suas indicações; Melhor Ator - Drama, para Joaquin Phoenix, o que era mais que esperado por sua brilhante atuação, e Melhor Trilha Sonora Original para Hildur Guðnadóttir. Esta foi a sexta indicação do ator ao prêmio. Em seu discurso, ele agradeceu a todos que o aguentaram durante as filmagens.


Reese Witherspoon e Jennifer Aniston entregaram a primeira estatueta da noite para Melhor Ator em Série de TV - Musical ou Comédia, recebido por Ramy Youssef (“Ramy”). Elas continuaram no palco e anunciaram Russell Crowe (“The Loudest Voice”) como Melhor Ator em Série Limitada ou Filme para TV.

O prêmio de Melhor Ator Coadjuvante em Série, Série Limitada ou Filme para TV saiu para o ator sueco Stellan Skarsgård, de “Chernobyl”, da HBO, escolhida também como a Melhor Série Drama ou Filme para TV. Ted Danson e Kerry Washington anunciaram a vencedora do prêmio de Melhor Atriz em Série de TV - Musical ou Comédia - Phoebe Waller-Bridge (“Fleabag”). A atriz britânica subiu duas vezes ao palco para receber também o troféu de Melhor Série - Musical ou Comédia para “Fleabag”, criada, escrita e estrelada por ela.

Elton John, ao subir ao palco para anunciar "Rocketman" na disputa de Melhor Filme foi aplaudido de pé pela plateia. E teve a alegria dobrada ao confirmar a vitória em duas categorias do filme que conta parte de sua vida: Melhor Ator - Musical ou Comédia, para Taron Egerton, e Melhor Canção Original - “(I’m Gonna) Love Me Again”, composta por ele. O cantor comemorou muito a vitória e recebeu agradecimento de Tharon pelas músicas que compõe.


Kate McKinnon anunciou o prêmio Carol Burnett para Ellen DeGeneres, após fazer um breve resumo da carreira da atriz e apresentadora. Ela recebeu o prêmio de Excelência na Televisão por seu trabalho em defesa dos homossexuais e da Fundação que ela criou de proteção animal. Ellen elogiou Carol Burnett em seu discurso e falou que a atriz, presente à premiação, esteve presente em toda a sua vida. Disse que a TV inspirou tudo o que ela é hoje e que só quer fazer em seu programa com que as pessoas se sintam bem, sorriam e se inspirem para fazer o mesmo para outras pessoas.

"Parasita" confirmou seu favoritismo e vence como Melhor Filme em Língua Estrangeira. E o diretor Bong Joon-ho, acompanhado de uma tradutora, agradeceu em coreano a premiação e a oportunidade de estar junto a outros grandes diretores. E encerrou afirmando que "todos ali falam uma só língua, a do cinema".


“Succession” conquistou  o troféu de Melhor Série Dramática e garantiu também a Brian Cox o prêmio de Melhor Ator em Série de TV – Drama. Ele agradeceu aos participantes da disputa e à esposa.

Patricia Arquette nova prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante em Série, Série Limitada ou Filme para TV por “The Act”. Ela fez duras críticas ao presidente Trump e seus tweets sobre os ataques ao Irã, e lembrou o drama dos incêndios que estão devastando florestas na Austrália. Olivia Colman conquistou a estatueta de Melhor Atriz em Série de TV – Drama por “The Crown”.

“Link Perdido” desbancou grandes e caras produções como "Frozen 2", "Toy Story 4" e "Rei Leão" e conquistou a estatueta de Melhor Animação. Gwyneth Paltrow anunciou Laura Dern como Melhor Atriz Coadjuvante em Filmes por “História de um Casamento”.


Charlize Theron foi a escolhida para entregar o prêmio Cecil B de Mille a Tom Hanks por sua importância no cinema. A atriz fez grandes elogios à pessoa e ao colega de trabalho, seu primeiro incentivador na carreira. Em seguida houve a exibição de um clipe com os sucessos do ator em todos os anos de cinema. Ele foi aplaudido de pé pelo público, e agradeceu a todos os presentes e, principalmente ao amor e paciência de sua família.

Com mais de 40 premiações em sua carreira, Michelle Williams foi a escolhida para receber a estatueta de Melhor Atriz em Série Limitada ou Filme para TV por “Fosse/Verdon”. Ela fez um discurso feminista e pediu maior consciência e engajamento das mulheres na hora de eleger seus representantes.

“Chernobyl” foi reconhecida com o prêmio de Melhor Série Limitada ou Filme para TV e Melhor Ator Coadjuvante em série, minissérie ou filme para TV - Stellan Skarsgård. Chris Evans e Scarlett Johansson entregaram a premiação de Melhor Atriz em Filme - Musical ou Comédia a Awkwafina, por "A Despedida", primeira indicação que a atriz recebe no Globo de Ouro.

Ramy Malek anunciou Renée Zellweger como Melhor Atriz de Filme - Drama por sua interpretação de Judy Garland no filme "Judy: Muito Além do Arco-Íris", que conta um período conturbado da vida da estrela dos grandes musicais de Hollywood. A última premiação da noite, de Melhor Filme - Drama - foi entregue por Sandra Bullock a "1917" a Sam Mendes. A produção estreia dia 23 de janeiro nos cinemas brasileiros.



LISTA DOS VENCEDORES

CINEMA

Melhor Filme - Drama: 1917

Melhor Atriz - Drama: Renée Zellweger ("Judy: Muito Além do Arco-Íris")
Melhor Ator de Filme – Drama: Joaquin Phoenix (“Coringa”) - https://bit.ly/2s1y1Io
Melhor Filme - Musical ou Comédia: Era Uma vez em... Hollywood
Melhor Diretor : Sam Mendes (“1917”)
Melhor Roteiro: Quentin Tarantino (“Era uma Vez em... Hollywood”)
Melhor Atriz  - Musical ou Comédia: Awkwafina (“A Despedida”)
Melhor Ator - Musical ou Comédia: Taron Egerton ("Rocketman")
Melhor Ator Coadjuvante: Brad Pitt ("Era uma Vez em... Hollywood")
Melhor Atriz Coadjuvante: Laura Dern (“História de um Casamento”)
Melhor Filme em Língua Estrangeira: Parasita” (Coreia do Sul) - dirigido por Bong Joon-ho
Melhor Animação:“Link Perdido”
Melhor Canção Original: “(I’m Gonna) Love Me Again” (“Rocketman”)
Melhor Trilha Sonora Original: Hildur Guðnadóttir (“Coringa”)

TV

Melhor Série – Drama; “Succession”
Melhor Atriz em Série de TV – Drama: Olivia Colman (“The Crown”)
Melhor Ator em Série de TV – Drama: Brian Cox (“Succession”)
Melhor Série - Musical ou Comédia:“Fleabag”, criada, escrita e estrelada por Phoebe Waller-Bridge
Melhor Atriz em Série de TV - Musical ou Comédia: Phoebe Waller-Bridge (“Fleabag”)
Melhor Ator em Série de TV - Musical ou Comédia: Ramy Youssef (“Ramy”)
Melhor Série Limitada ou Filme para TV: “Chernobyl”
Melhor Atriz em Srie Limitada ou Filme para TV: Michelle Williams (“Fosse/Verdon”)
Melhor Ator em Série Limitada ou Filme para TV: Russell Crowe (“The Loudest Voice”)
Melhor Atriz Coadjuvante em Série, Série Limitada ou Filme para TV: Patricia Arquette (“The Act”)
Melhor Ator Coadjuvante em Série, Série Limitada ou Filme para TV: Stellan Skarsgård (“Chernobyl”)

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04 janeiro 2020

Perturbador e impactante, "Parasita" é a perfeita tradução de uma obra de arte

Uma família miserável de Seul que não gosta de trabalhar e vive de explorar da boa fé de outras pessoas (Fotos: The Jokers / Les Bookmakers)

Mirtes Helena Scalioni


Entre os filmes de 2019 que tratam da desigualdade social - "Coringa" e "Bacurau" são alguns exemplos - o sul-coreano "Parasita" ("Gisaengchung") talvez seja o mais bem cotado e comentado por público e crítica. Mistura de comédia, drama, suspense e tragédia, a história de uma família miserável que se infiltra na casa de um milionário em Seul tem fascinado plateias no mundo todo. O mérito, claro, é do diretor Bong Joon-ho, que, com maestria, transformou o roteiro em uma farsa perturbadora e impactante. É impossível sair incólume do longa, repleto de imprevistos e viradas.


A família Kim - pai, mãe, um rapaz e uma moça - vive no submundo da capital da Coreia do Sul como se fossem ratos ou baratas. O apartamento é abaixo do térreo e lembra esgoto. Mas os moradores não parecem preocupados com a pobreza e não se vê nenhum sinal de que alguém ali pretende trabalhar para mudar de vida. Até que o jovem chega em casa com uma ideia: falsificar documentos para ocupar o lugar de um amigo universitário e se candidatar ao emprego de tutor de uma menina rica. 


Aos poucos, Ki-Woo (é esse o nome do filho vivido pelo ator Choi Woo-sik) vai ganhando a confiança dos moradores da mansão e, devagar, sempre na base de golpes e falcatruas, coloca sua mãe, seu pai e sua irmã como empregados da casa. Por mais estranhos que possam parecer ao ocidente, convém registrar que estão ainda no elenco, cada um com seu brilho: Song Kang-ho, Cho Yeo-jeong, Park So-dam, Lee Sun-kyun, Lee Jung-eun, Chang Hyae Jin, Jeong Hyun-joon e Park Myeong-hoon. Talvez seja o momento de ir se acostumando com esses nomes.


Do outro lado está a família Park, riquíssima, com a mesma formação dos Kim - pai, mãe, uma menina e um menino - talvez ingênuos demais para perceber as intenções dos golpistas que vão ganhando a confiança de todos como verdadeiros parasitas. Há momentos, no desenrolar da trama, que os acontecimentos e encaixes são tão impossíveis que pode até comprometer a verossimilhança do enredo. Só que o que vem a seguir sempre surpreende e assusta, como a revelação de que pode sim existir alguém que habita num submundo ainda mais baixo do que os Kim.


Não é por acaso que "Parasita" tem sido premiado por onde passa: levou a Palma de Ouro em Cannes em 2019, recebeu três indicações ao Globo de Ouro 2020 - Direção, Roteiro e Filme Estrangeiro - e outras quatro indicações à Academia Australiana de Cinema, Televisão e Arte (AACTA) para Melhor Filme, Diretor, Roteiro e Ator Coadjuvante. O que começa como comédia num porão de Seul e termina em violência e tragédia se revela ao espectador como uma obra de arte na sua mais perfeita tradução.


Ficha técnica:
Direção: Bong Joon-ho 
Produção: Barunson / CJ Entertainment
Distribuição: Pandora Filmes
Duração: 2h12
Gênero: drama
País: Coreia do Sul
Classificação: 16 anos

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