24 outubro 2020

"A Verdadeira História de Ned Kelly": uma narração instigante combinada com boas interpretações

George MacKay entrega uma boa interpretação do fora da lei mais famoso da Austrália no século XIX (Fotos: A2 Filmes/Divulgação0

Maristela Bretas

 

Tenso, instigante e com locações que completam todo o clima que o enredo de "A Verdadeira História de Ned Kelly" ("True History Of Kelly Gang") exigia. Inspirado no romance best-seller de Peter Carey, “A História do Bando de Kelly”, o filme é narrado pelo próprio Ned Kelly (muito bem interpretado por George MacKay, de "1917") que, por meio de cartas endereçadas ao filho, resolve contar a sua versão do mito criado em torno de seu nome que o colocou como o mais famoso fora da lei ("bushranger") da história da Austrália. 
 

 

Descendente de irlandeses, filho de um pai expulso do país e levado pelos ingleses para a colônia britânica de Victoria, o jovem Ned, de 12 anos (papel de Orlando Schwerdt), viveu a infância e adolescência tendo que assumir o lugar de "homem da casa" após o pai ser preso. Dominado pela mãe Ellie Kelly (Essie Davis), numa relação que beira o incesto, ele é obrigado a conviver com a constante troca de parceiros dela por dinheiro.


 
Do sargento O'Neill (Charlie Hunnam) ao ladrão de cavalos e procurado pela polícia Harry Power (Russell Crowe), para quem ele é vendido pela mãe para que amadureça como homem, Ned vai passando da infância para a adolescência vivendo uma realidade distorcida e cada vez mais violenta. Poucas coisas fizeram com que ele se sentisse humano. Uma delas é o filho recém-nascido, para quem ele escreve cartas, contando como foi sua trajetória, nem sempre violenta e de crimes, de forma que ele saiba quem foi realmente. 

 
Diferente dos demais bandidos da década de 1870 (quando se passa a história), o bando de rebeldes recrutados por Ned Kelly ficou conhecido por usar vestidos em seus crimes. Mas o chefe do grupo foi além e criou uma armadura de ferro para o peito e a cabeça com apenas espaço para os olhos, capaz de defendê-los das balas da polícia. E foi assim que escreveu sua história, como lhe ensinou Harry Power: "Sempre se certifique de que você é o autor de sua própria história, porque os ingleses sempre pegam e estragam tudo".
 

 
Com narração mais lenta em várias partes, o diretor Justin Kurzel apresenta um Ned Kelly que gera dúvida no público - afinal ele foi um cruel fora da lei ou uma vítima do preconceito contra os irlandeses levados para a Austrália que acabou se tornando o bandido da lenda? Difícil dizer quem é do bem e quem é do mal. Polícia e bandidos se comportavam de maneira semelhante. Uma cena que choca é a do policial Fitzpatrick (papel de Nicholas Hoult) ameaçando um bebê com um revólver.
 

 

Além do elenco que entrega boas interpretações, "A Verdadeira História de Ned Kelly" ainda conta com ótimas locações que ajudam a criar um clima sombrio, especialmente na floresta de Meulborne Gaol e a neve do inverno australiano em Marysville, além da State Library, Wangarratta, Dandengong Ranges, Glenrowan e uma bela e antiga fazenda chamada Mintaro. Também a trilha sonora cumpre seu papel e ajuda a compor essa nova versão da história de Ned Kelly.

 

A volta dos cinemas

 

Em cartaz de algumas cidades brasileiras que retomaram suas exibições, "A Verdadeira História de Ned Kelly" poderá ser conferido a partir do dia 31 de outubro em Belo Horizonte, quando as salas de cinema serão reabertas. Segundo o Sindicato das Empresas Exibidoras de Minas Gerais (Seecine-MG), todas as medidas de segurança sanitária serão tomadas e o funcionamento será de 50% da capacidade.

 


Ficha técnica
Direção:
Justin Kurzel
Roteiro: Shaun Grant
Distribuição: A2 Filmes
Duração: 2h05
Países: Austrália / França / Reino Unido
Gêneros: Drama / Ação
Classificação: 16 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

 

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18 outubro 2020

"Teste de Paternidade" - ninguém deve abandonar seus sonhos

 

Alex e Ceci precisam decidir se querem o crescimento profissional ou mais um membro na família (Fotos: Netflix)


Maristela Bretas



Maternidade ou sucesso profissional? Escolha difícil na maioria das vezes que é abordada com simpatia na produção mexicana "Teste de Paternidade" ("Ahí Te Encargo"). Maurício Ochman, interpretando Alex, e Esmeralda Pimentel, como Ceci, têm uma boa química e entregam uma comédia agradável e atual, em exibição na Netflix, que trata de um dilema enfrentado por muitas mulheres pelo mundo.

Conquistando cada vez mais seus espaços no mercado de trabalho, muitas têm adiado a maternidade ou até mesmo excluído esta opção de suas vidas em troca de crescimento profissional. E mesmo com tantas executivas ocupando cargos no alto escalão de grandes empresas, o mercado ainda tem uma postura machista. 

Não são poucos os casos em que uma profissional mais capacitada deixa de ser selecionada para dar lugar a um homem sob a alegação de que "um dia aquela candidata vai querer ser mãe e no primeiro sinal ela vai trocar a empresa pela família". Ou pior - "a mulher nasceu para ser mãe, não para administrar uma empresa". 



O diretor Salvador Espinosa explora bem isso nos diálogos desde o início do filme, Da boca de Alex, um publicitário que tenta ser um cara de cabeça aberta e apoia Ceci em quase tudo, saem "pérolas" como "por que casamos se não era para ter um filho?". 

Na empresa, Ceci é a mais indicada para um cargo elevado, mas um concorrente tenta eliminá-la da disputa com o chefão usando alegações como "Acha que ela consegue, o marido vai deixar? Porque qualquer dia desses, ela aparece com uma barriga grande e vai faltar ao trabalho. Não deixaria tudo nas mãos de uma mulher, elas são emotivas".


E é o crescimento profissional que leva Ceci a adiar por prazo indeterminado a maternidade. Um filho está totalmente fora de seus planos. Ao contrário de Alex, que quer ser pai e passa a exigir da esposa uma gravidez "prá ontem". O casal, que até então tinha um relacionamento quase perfeito, começa a enfrentar problemas de entendimento entre o que cada um considera ser a sua realização de um sonho. As cobranças aumentam e o afastamento entre eles também.


Até que o pequeno Alan entra na vida do casal. Melhor dizendo, na vida de Alex, que tenta impor de todas as formas o garoto como a solução para todos os problemas e a formação da família ideal nos moldes que ele deseja. Ele é deixado em suas mãos pela mãe, uma jovem que precisa ficar fora por três dias. E agora, como contar para Ceci e fazê-la aceitar a criança? As peripécias para esconder Alan da esposa e no trabalho são as mais divertidas.


"Teste de Paternidade", mesmo sendo um filme com cara de sessão da tarde, sem grandes pretensões, aborda também gravidez precoce, o relacionamento de casais com filhos que gostariam de ter uma pausa para se curtirem, solteiras que optaram por não casar e pessoas cujo destino não permitiu terem herdeiros. 

O filme exige poucas locações, o elenco é pequeno, mas bem entrosado que entrega divertidos diálogos, especialmente a dupla principal e Rafa, amigo de Alex, um solteirão que só quer saber de encontros por aplicativo. Vale como distração.


Ficha técnica:
Direção: Salvador Espinosa
Exibição: Netflix
Duração: 1h51
Classificação: 12 anos
País: México
Gêneros: Comédia / Romance
Nota: 3 (0 a 5)

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