David Corenswet entrega uma boa atuação do herói da capa vermelha nesta nova versão (Fotos: Warner Bros.)
Maristela Bretas
Um super-herói que se distancia das versões anteriores mostradas no cinema e se revela mais humano. Este é o novo "Superman" que estreia nos cinemas oferecendo uma visão diferenciada do diretor e roteirista James Gunn (da aclamada franquia "Guardiões da Galáxia" - 2014, 2017 e 2023). A trama é repleta de muita ação, questionamentos políticos e sociais e grandes efeitos visuais, expostos de maneira audaciosa e eficaz.
Gunn escolhe não revisitar a história original e já conhecida do alienígena Kal-El: sua chegada à Terra, o despertar dos poderes, a entrada no Planeta Diário como Clark Kent, o encontro com Lois Lane e o surgimento de Lex Luthor em sua vida.
Esqueça tudo isso. Quem já viu qualquer filme do Superman já sabe estes pontos, e Gunn não quis ser repetitivo. Optou por abrir com um breve histórico em texto e entrar diretamente no presente, com o herói em meio a confrontos e apanhando muito.
Uma vulnerabilidade que o torna mais humano, confirmando a icônica frase de Batman em "A Origem da Justiça" (2016) - "o Superman sangra".
Além de sangrar, o Homem de Aço, interpretado por David Corenswet, mostra-se mais emotivo, romântico, sofre com as críticas que recebe pela forma de agir em favor da salvação do planeta Terra e de seus habitantes. Admito que fui com poucas expectativas para este filme e me surpreendi com a boa interpretação do personagem feita por Corenswet.
Apesar de ser muito parecido fisicamente com Henry Cavill, seu antecessor (que é ainda mais bonito), ele tem um olhar mais doce. Ele passa mais credibilidade ao demonstrar o amor por Lois Lane (Rachel Brosnahan) e a importância da família em sua formação.
Sem esquecer a preocupação com a humanidade e os animais, do esquilo ao cachorro, estando sempre pronto para tentar salvar todos que puder. Nesta nova versão, Clark Kent aparece pouco, deixando o protagonismo para o Superman.
Destaque absoluto para a atuação de Nicholas Hoult como Lex Luthor. O ator vem realizando ótimos trabalhos e está excelente no papel do gênio bilionário, arrogante, machista e invejoso, cuja obsessão é destruir o Superman - o alienígena que conquistou a humanidade e é responsável por sempre frustrar seus planos.
Hoult entrega um vilão à altura do personagem, que vai de explosões de fúria a momentos de choro quanto seus planos falham. O ator talvez seja um dos melhores ou o melhor Lex Luthor já apresentado pelo cinema.
Outro ponto alto é o fofo e alucinado Krypto, o cão que Superman está cuidando temporariamente para sua prima Supergirl. As cenas em que ele aparece, criadas em CGI, são as mais divertidas e, em algumas situações, decisivas, especialmente pela forma descontrolada como ele se comporta. Nem o Homem de Aço dá conta de tanta adrenalina canina. Apaixonei pela versão macho do meu cachorro.
A Lois Lane de Rachel Brosnahan também ganha mais tempo de tela e também é essencial em diversas cenas. Com habilidade, o diretor aproveita para relembrar a franquia "Guardiões da Galáxia" ao colocar a jornalista pilotando uma espaçonave no estilo de Peter Quill/Star Lord.
"Superman" também entrega efeitos visuais incríveis, dignos de um grande super-herói dos quadrinhos e da telona. Embora algumas informações tecnológicas complexas possam deixar o público em geral confuso (os fãs "nerds" vão entender), isso nada impede a compreensão do enredo.
A trama é recheada de monstros gigantescos, Inteligência Artificial avançada e portais tridimensionais. Além disso, dá uma "cutucada" nada sutil em conflitos mundiais e nos replicadores de fake news que trabalham incessantemente para destruir a imagem do super-herói.
Outros super-heróis atuam também na defesa de Metrópolis e do mundo: Lanterna Verde (Nathan Fillion, num papel que deixa o personagem abobalhado), Isabela Merced (Mulher Gavião) e Edi Gathegi (Senhor Incrível).
O elenco conta ainda com nomes conhecidos em papéis menores como Bradley Cooper, Frank Grillo, Maria Gabriela de Faria, Skyler Gisondo, Milly Alcock, entre outros.
Até William Reeve, filho caçula de Christopher Reeve, o primeiro e um dos mais queridos Superman do cinema, teve uma breve aparição no longa como o âncora de um noticiário.
A música-tema original, composta por John Williams, ganhou novas versões e continua marcante nos principais momentos do super-herói. Associada a ela, a trilha sonora sob a batuta de John Murphy reunindo outros sucessos, está disponível no Spotify.
James Gunn acertou na escolha do elenco, na qualidade dos efeitos visuais e na abordagem da narrativa para contar a história de um dos mais emblemáticos super-heróis da DC, sem cair na mesmice.
Mas será o sucesso nas bilheterias de "Superman", adaptado dos quadrinhos de Jerry Siegel e Joe Shuster, que irá ditar a fórmula a ser aplicada nas próximas produções do estúdio.
Esta ficou ótima e merece ser assistida em IMAX ou 3D para uma experiência mais completa. Uma dica: não saia correndo da sala de cinema, o filme tem duas cenas pós-credito.
Ficha técnica:
Direção e roteiro: James Gunn Produção: DC Studios, Warner Bros. Distribuição: Warner Bros Pictures Exibição: nos cinemas Duração: 2h09 Classificação: 14 anos País: EUA Gêneros: ação, ficção, aventura
Longa é uma nova adaptação do clássico do terror de mesmo nome, de 1922 (Fotos: Universal Pictures)
Jean Piter Miranda
Nos anos 1800, na Alemanha, a jovem e bela Ellen (Lily-Rose Depp) é perturbada por pesadelos recorrentes com uma figura assustadora. Ela é casada com vendedor de imóveis Thomas Hutter (Nicholas Hoult).
E esse recebe a missão de ir até a distante Transilvânia para concluir a venda de um castelo. O comprador do tal imóvel é o misterioso e rico Conde Orlok (Bill Skarsgård), que quer, na verdade, encontrar Ellen e possuí-la.
Essa é história de “Nosferatu”, novo filme do diretor e roteirista Robert Eggers, em cartaz nos cinemas do Brasil. A obra é a mais recente adaptação do clássico do terror de mesmo nome, de 1922, escrita pelo irlandês Bram Stoker, autor do romance "Drácula".
O filme gira em torno da obsessão do vampiro Orlok por Ellen. Ele tem um desejo carnal, sexual pela jovem. E diferente de muitos vampiros vistos na ficção, retratados como homens bonitos, charmosos e elegantes, o conde dessa vez é uma figura monstruosa e muito repugnante.
Hutter vai à Transilvânia encontrar o Conde, em uma viagem a cavalo, que levará meses. Ellen tem pressentimentos ruins e pede para que o marido não vá.
Mas ele precisa do emprego e por isso pega estrada. O que ele não imagina é que o encontro com o vampiro vai desencadear um mal maior para todos.
Enquanto Hutter está em viagem, os pesadelos de Ellen evoluem para crises convulsivas. Na ausência do marido, ela recebe cuidados do casal de amigos Anna e Friderich (Emma Corrin e Aaron Taylor-Johnson). É aí que entra em cena o professor Albin Von Fraz (Williem Dafoe), acionado por ser um especialista em casos paranormais.
Lily-Rose Depp e Bill Skarsgård são os protagonistas. Ela está ótima! Em contraponto, é difícil avaliar a atuação de Bill. Ele está irreconhecível e pouco aparece de forma nítida. Sua presença é sempre coberta por sombras, em ângulos que não permitem uma visualização clara. E quase sempre está parado.
Roubar a cena é um tanto clichê, mas não há outra forma de descrever as atuações dos ótimos Williem Dafoe e Nicholas Hoult. Os dois têm bastante tempo de tela, seus personagens são mais interessantes e suas participações cruciais para a história.
Destaque ainda para a ambientação. Os cenários quase realistas retratam bem os anos 1800. Móveis, carroças, roupas, vocabulário... Tudo é muito acertado.
A fotografia também está impecável. Imagens em preto e branco ou em cores, sempre utilizando bem o jogo de sombra e luz, ora para dar um ar sombrio, ora para dar ênfase às atuações.
São cerca de duas horas e dez minutos de filme. O que dá a impressão de uma história arrastada e lenta e que várias partes poderiam ser cortadas sem prejudicar a obra. Para quem ama cinema e gosta do gênero terror, há muito que aproveitar. É um longa a ser contemplado em todos os seus detalhes.
Mais do que contar uma história, o diretor Robert Eggers dá uma aula de como fazer cinema. Pode não agradar a todos. Certamente não vai. Mas é inegável que, tecnicamente, o filme está acima do ótimo.
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Robert Eggers Produção: Universal Films, Focus Features Distribuição: Universal Pictures Exibição: nos cinemas Duração: 2h12 Classificação: 16 anos País: EUA Gênero: terror
Nicolas Cage e Nicholas Hoult dividem as atenções como o conde Drácula e seu assistente comedor de insetos (Fotos: Universal Studios)
Maristela Bretas
Um banho de sangue e violência do início ao fim. E apesar de ser um filme de terror que cumpre o que propõe, "Renfield - Dando Sangue Pelo Chefe" é também uma boa comédia com muita ação que estreia nesta quinta-feira nos cinemas.
O diretor Chris McKay ("Lego Batman: O Filme" - 2017) entrega uma boa produção para os apreciadores do gênero e a carnificina é tanta que vai faltar tinta vermelha para os próximos filmes do gênero.
Membros decepados, cabeças cortadas, paredes tingidas com os corpos das vítimas do vilão. Ninguém menos que o famoso Conde Drácula (interpretado pelo vencedor do Oscar, Nicolas Cage) que conta com a ajuda de seu assistente Renfield (Nicholas Hoult, de "X-Men: Apocalipse" - 2016).
Cage arrasa no papel e conta com um trabalho de maquiagem perfeito, acompanhando a transformação do famoso vampiro, de um quase cidadão de roupas e comportamento estranhos para o monstro assassino.
Hoult também tem seus momentos de mudança, do jovem com aparência "quase inocente" para o serviçal sanguinário que escolhe as vítimas a serem servidas como um banquete para seu chefe.
A história é contada a partir dessa relação de dependência tóxica e poder. Renfield é o narrador e desabafa sobre seus problemas durante uma sessão coletiva com pessoas que querem deixar seus parceiros ou chefes abusivos.
O longa mostra como Renfield se torna um assistente e, ao mesmo tempo, dependente de Drácula. Como um viciado, ele precisa se alimentar de insetos para adquirir poderes especiais e força descomunal. Mas a vida de assassino e delivery de corpos começa a desagradar o jovem.
Durante uma de suas caçadas noturnas pelo banquete humano, Renfield conhece a incorruptível policial Rebecca Quincy (interpretada por Awkwafina, de "Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis" - 2021).
Ele a ajuda a combater uma família de traficantes chefiada por Teddy Lobo (Ben Schwartz) e a mãe dele, Eita (Shohreh Aghdashloo) que matou o pai de Rebecca e domina a cidade e a polícia.
O jovem passa a questionar os desejos e a insanidade daquele que chama de mestre e descobre que existe uma vida "normal" entre os humanos.
Renfield decide deixar de ser um vilão e Drácula não fica nada satisfeito. Para puni-lo, vai deixando um rastro de mortes de pessoas ligadas a seu agora ex-ajudante.
O diretor Chris McKay soube usar bem o sarcasmo e a comicidade para mostrar o que seria um relacionamento abusivo entre um chefe e seu subordinado (quem nunca passou por isso?).
Toda essa matança conta com efeitos visuais excelentes, um ponto forte do filme, além das ótimas interpretações de Cage, Hoult e Awkwafina. O ritmo ágil do filme não deixa o expectador se sentir confortável por muito tempo na cadeira do cinema.
"Renfield - Dando Sangue Pelo Chefe" é um filme para pessoas de estômago forte, mesmo tendo um lado cômico. Mas vale a pena conferir, especialmente por Nicolas Cage, que durante entrevista classificou o enredo como algo “corajoso, original e peculiar”.
Ficha técnica:
Direção: Chris McKay Produção: Skybound Entertainment e Universal Pictures Distribuição: Universal Pictures Exibição: nos cinemas Duração: 1h32 Classificação: 18 anos País: EUA Gêneros: terror, ação e comédia
George MacKay entrega uma boa interpretação do fora da lei
mais famoso da Austrália no século XIX (Fotos: A2 Filmes/Divulgação0
Maristela Bretas
Tenso, instigante e com locações que completam todo o clima
que o enredo de "A Verdadeira História de Ned Kelly" ("True
History Of Kelly Gang") exigia. Inspirado no romance best-seller de Peter
Carey, “A História do Bando de Kelly”, o filme é narrado pelo próprio Ned Kelly
(muito bem interpretado por George MacKay, de "1917") que, por meio de cartas endereçadas
ao filho, resolve contar a sua versão do mito criado em torno de seu nome que o
colocou como o mais famoso fora da lei ("bushranger") da história da
Austrália.
Descendente de irlandeses, filho de um pai expulso do país e
levado pelos ingleses para a colônia britânica de Victoria, o jovem Ned, de 12
anos (papel de Orlando Schwerdt), viveu a infância e adolescência tendo que
assumir o lugar de "homem da casa" após o pai ser preso. Dominado
pela mãe Ellie Kelly (Essie Davis), numa relação que beira o incesto, ele é
obrigado a conviver com a constante troca de parceiros dela por dinheiro.
Do sargento O'Neill (Charlie Hunnam) ao ladrão de cavalos e
procurado pela polícia Harry Power (Russell Crowe), para quem ele é vendido
pela mãe para que amadureça como homem, Ned vai passando da infância para a
adolescência vivendo uma realidade distorcida e cada vez mais violenta. Poucas
coisas fizeram com que ele se sentisse humano. Uma delas é o filho
recém-nascido, para quem ele escreve cartas, contando como foi sua trajetória,
nem sempre violenta e de crimes, de forma que ele saiba quem foi
realmente.
Diferente dos demais bandidos da década de 1870 (quando se
passa a história), o bando de rebeldes recrutados por Ned Kelly ficou conhecido
por usar vestidos em seus crimes. Mas o chefe do grupo foi além e criou uma
armadura de ferro para o peito e a cabeça com apenas espaço para os olhos,
capaz de defendê-los das balas da polícia. E foi assim que escreveu sua
história, como lhe ensinou Harry Power: "Sempre se certifique de que você
é o autor de sua própria história, porque os ingleses sempre pegam e estragam
tudo".
Com narração mais lenta em várias partes, o diretor Justin
Kurzel apresenta um Ned Kelly que gera dúvida no público - afinal ele foi um
cruel fora da lei ou uma vítima do preconceito contra os irlandeses levados
para a Austrália que acabou se tornando o bandido da lenda? Difícil dizer quem
é do bem e quem é do mal. Polícia e bandidos se comportavam de maneira
semelhante. Uma cena que choca é a do policial Fitzpatrick (papel de Nicholas
Hoult) ameaçando um bebê com um revólver.
Além do elenco que entrega boas interpretações, "A
Verdadeira História de Ned Kelly" ainda conta com ótimas locações que
ajudam a criar um clima sombrio, especialmente na floresta de Meulborne Gaol e
a neve do inverno australiano em Marysville, além da State Library,
Wangarratta, Dandengong Ranges, Glenrowan e uma bela e antiga fazenda chamada Mintaro.
Também a trilha sonora cumpre seu papel e ajuda a compor essa nova versão da
história de Ned Kelly.
A volta dos cinemas
Em cartaz de algumas cidades brasileiras que retomaram suas
exibições, "A Verdadeira História de Ned Kelly" poderá ser conferido
a partir do dia 31 de outubro em Belo Horizonte, quando as salas de cinema
serão reabertas. Segundo o Sindicato das Empresas Exibidoras de Minas Gerais
(Seecine-MG), todas as medidas de segurança sanitária serão tomadas e o
funcionamento será de 50% da capacidade.
Ficha técnica Direção: Justin Kurzel Roteiro: Shaun Grant Distribuição: A2 Filmes Duração: 2h05 Países: Austrália / França / Reino Unido Gêneros: Drama / Ação Classificação: 16 anos Nota: 3,5 (0 a 5)