28 fevereiro 2021

O ótimo “Doutor Castor” revela que também o Brasil tem uma máfia pra chamar de sua

Documentário em quatro episódios conta a vida de um dos maiores contraventores do país (Fotos: Globoplay/Reprodução)

 

Mirtes Helena Scalioni


Personagens absurdos, incoerentes e paradoxais costumam encantar leitores e espectadores da ficção. E quando essas figuras saltam dos livros e das telas para o mundo real, aí sim é que fascinam e instigam. É o caso do bicheiro Castor de Andrade, cujas vida e obra são contadas com maestria no documentário “Doutor Castor”, em cartaz no Globoplay. Em quatro episódios bem amarrados, imagens inéditas e uma variedade grande de depoimentos, a minissérie prende e fisga o público.



Nascido em 1926, o carioca Castor Gonçalves de Andrade e Silva se estabeleceu e fez sua vida, digamos, profissional, em Bangu, subúrbio do Rio de Janeiro. Simpático, carismático e sedutor, era capaz de gestos extremos de generosidade e crueldade num mesmo dia sem perder o sorriso. Afinal, tinha nas mãos o poder de comando das duas maiores paixões do Brasil: o futebol e o Carnaval.


Bicheiro assumido, Castor presidiu praticamente a vida toda o Bangu Atlético Clube, que viveu sua fase áurea nas décadas de 1960 a 1985, ano que conquistou o vice-campeonato brasileiro, além de comandar a Mocidade Independente de Padre Miguel, escola que foi cinco vezes campeã do Carnaval. 

Tendo essas duas funções como vitrine, ele circulou pelo high society carioca, frequentou a mesa de políticos influentes e fez muitos amigos na imprensa, na polícia e na Justiça. Ou seja: sua vida está intimamente ligada à história do Rio de Janeiro, com suas estranhas relações de poder que ligam a bandidagem à oficialidade.


O que mais confere autenticidade ao documentário dirigido por Marco Antônio Araújo e Rodrigo Araújo são os depoimentos, variados e editados de forma inteligente e equilibrada. Historiadores, pesquisadores, ex-jogadores, amigos e jornalistas contam histórias curiosas, edificantes, inacreditáveis e escabrosas do bicheiro.


Chamam atenção as falas de um ex-juiz de futebol, que confessa ter recebido propina para beneficiar o time do Bangu; de Boni, ex-todo poderoso da Globo, que despista como pode sua relação de amizade com Castor; e de Michel Assef, ex-advogado do contraventor, que tenta justificar seus crimes. Sem falar na entrevista que ele, como um pop star, concedeu a um então poderoso Jô Soares.


Capítulo à parte entre os depoimentos são as declarações mais do que contundentes da juíza Denise Frossard, responsável por um dos processos e uma das prisões de Castor de Andrade, marcando, talvez, o início da derrocada do império do maior bicheiro do Brasil. 

Ao desnudar as relações da contravenção com o poder, revelando o talento e senso de oportunidade do nosso “capo di tutti i capi”, “Doutor Castor” coloca o Brasil no rol dos países que, além de tratar bem, compactuam e acobertam seus mafiosos, com sua violência, bizarrices e malas sempre repletas de dinheiro.


Ficha técnica:
Direção: Marco Antônio Araújo
Exibição: Globoplay
Duração: Série de 4 episódios (média de 60 minutos)
País: Brasil
Gêneros: Documentário / Série

26 fevereiro 2021

Terror russo "A Viúva das Sombras" não merece nem a pipoca

Produção passa a maior parte do tempo numa floresta escura, habitada por uma entidade maligna (Fotos: Divulgação)

Maristela Bretas


Muito escuro. A ponto de deixar o público incomodado, pois tira o impacto das cenas de terror a que se propõe, mas deixa muito a desejar. Este é "A Viúva das Sombras" ("Vdova"), produção russa que estreou nessa quinta-feira (25) nos cinemas Cinemark BH Shopping, Cinépolis Estação BH e Grupo Cine/Sete Lagoas, em versões dublada e legendada. Para ajudar a espantar o público do cinema, o roteiro é ruim, os atores e os diálogos são fracos e sem impacto algum, principalmente pelo gênero escolhido.
 

O filme é inspirado em eventos reais, com a narrativa começando com depoimentos de moradores de um vilarejo perto de São Petesburgo, onde crimes sem solução ocorrem há 30 anos. A partir daí, passa para uma equipe de voluntários que trabalha nas florestas próximas a procura de pessoas perdidas. Desta vez, o grupo está acompanhado de uma cinegrafista que está registrando os trabalhos de resgate.

Os cinco integrantes são convocados para ajudarem nas buscas a um garoto na floresta, em meio a pântanos profundos, estradas ruins e com deslizamentos de terra exigindo desvios. No passado, várias pessoas foram encontradas mortas e nuas nesta mesma floresta. Mas o grupo acaba descobrindo mais do que esperava e enfrentando uma entidade maligna que seria a responsável pelas mortes.
 

 
A sequência de cenas entre a entrada na mata e o final é uma lição de como fazer um roteiro fraco e totalmente previsível. Daqueles que dá vontade de sair da sala de cinema ou desligar a TV já nos primeiros 15 minutos. Para agravar a situação, são muitas imagens com pouquíssima luz, o que impede de acompanhar o desfecho de algumas cenas, principalmente as que a tal viúva que habita no pântano ataca as vítimas. 
 

Não é um filme para ser assistido em tela de smartphone, notebook ou televisão (fica o alerta para quando for para o streaming). As cenas escuras na floresta à noite são quebradas são quebradas apenas quando alguém liga uma lanterna ou acende a fogueira.

Para completar, as atuações deixam a desejar, com nomes desconhecidos de pessoas que não têm qualquer conexão. Como se colocassem vários atores num set, cada um com seu texto para decorar e fazendo filmes independentes, sem ligação um com o outro. Difícil encontrar um ponto que ajude a salvar "A Viúva das Sombras" de ser, até o momento, o pior lançamento de terror deste ano. No mesmo nível de qualidade de "A Noiva" (2017), outra produção russa ruim demais.
 
  
Ficha técnica:
Direção: Ivan Minin
Distribuição: Paris Filmes
Duração: 1h54
Pais: Rússia
Gênero: Terror
Classificação: 16 anos
Nota 1,5 (0 a 5)