04 outubro 2016

Argentino "No Fim do Túnel" é nitroglicerina pura

Joaquín é um cadeirante recluso que descobre o plano de um assalto ao banco ao lado de sua casa (Fotos: Alejandra Saurit/Divulgação)

Patrícia Cassese


É possível que, horas depois de sair do cinema, o espectador ainda se flagre tendo a sensação de estar vendo sangue respingado por toda parte. Foi dado o aviso, pois: os mais sensíveis a carnificina estão devidamente desaconselhados a assistir a "No Fim do Túnel" ("Al Final del Tunel"), produção argentina dirigida por Rodrigo Grande que entra em cartaz na cidade.

Antes de falar sobre o filme em si, vale um adendo sobre o protagonista, Leonardo Sbaraglia, ator que vem angariando familiaridade com o público brasileiro. Para quem ainda não ligou o nome às (belas) feições, trata-se do ator que interpretou o motorista endinheirado e "cool" em um dos episódios de "Relatos Selvagens", bem como o parceiro de Carolina Dieckmann na coprodução Brasil/Argentina "O Silêncio do Céu", em cartaz nos cinemas (também na capital mineira). Também deu o ar da graça em "Plata Quemada" e em "O Que os Homens Falam", para citar outros exemplos.

Aqui, Sbaraglia dá vida a Joaquín, um homem solitário (na verdade, divide o lar com um cão idoso) e cadeirante (embora tenha preservados os movimentos corporais da cintura para cima) - as explicações para essas duas características serão dadas ao espectador mais adiante, sem pormenorizações. 

Da mesma forma, o público descobre, depois, que o personagem encontra-se em dificuldades financeiras. Não bastasse, sua casa não vê sinais de arrumação há anos, e seus dias gris são preenchidos na lida com uma parafernália eletrônica, sobre a qual ele se debruça no sombrio porão - para se locomover, há um elevador.

Um dia, Joaquín é surpreendido com a chegada, de supetão, de Berta (Clara Lago, impressionantemente parecida com a cantora mineira Verônica Mendes e também com Céu) e sua filha, Betty (a menina Uma Salduende, uma graça). Ela - uma dançarina de strip-tease - foi atraída por um anúncio que oferecia uma sublocação, mas já adentra decidida a ficar, incondicionalmente, apesar do esboço de resistência de Joaquín, que estranha ver sua intimidade invadida assim, tão abruptamente.

O que acontece na sequência está na sinopse e, portanto, não seria dar spoiler falar que certo dia, em sua habitual peregrinação pelo porão, ele ausculta um movimento no entorno com a ajuda de um estetoscópio. Instigado, resolve ir além e cava um orifício, no qual introduz uma câmara que esclarece o que de fato se passa: um grupo prepara um ousado assalto ao banco que se situa próximo às duas construções até então focadas. Para tanto, constrói um túnel: o título do filme, portanto, não é só metafórico.

O ensaio de compartilhar prontamente a descoberta com sua nova inquilina é abortado no momento em que Joaquín descobre que ela não só é cúmplice , como mantém um romance com um dos líderes da operação escusa, Galereto (Pablo Echarri). Não bastasse, sublocou o quarto para dar calço à operação, que ainda conta com o apoio de um alto figurão. O assalto está devidamente cronometrado para que a explosão que vai permitir o acesso aos cofres seja efetuada junto à queima de fogos e o período festivo que pauta o fim de ano.

A reação mais esperada seria, claro, Joaquín acionar a polícia. Mas há outros tópicos em questão - inclusive, o mistério em torno de Betty, que há dois anos resolveu cerrar a boca, ao menos no que tange a seu contato com humanos, e o motivo será uma das chaves para a mudança de comportamento de um dos personagens.

No geral, trata-se de um filme perpassado todo o tempo por um alinhavo tensional que mantém o espectador em alerta, hirto na poltrona, a 220 volts. Somado ao carisma de Sbaraglia, poderíamos dizer que, dentro dessa chave, o filme funciona a contento, e valida a experiência de ir ao cinema para além do público afeito à produção argentina tradicionalmente mais relacionada a filmes com lastro histórico ou atrelados a questões mais subjetivas, comportamentais.

Há apenas dois "detalhes" que incomodam. Um deles está ligado ao excesso de violência citado no início. Ok, talvez seja um preciosismo, visto o derramamento de sangue visto atualmente em várias séries ("Narcos", "Game of Thrones" ou mesmo "Breaking Bad"), mas há uma cena particularmente arrepiante, tal qual a do extintor de incêndio em "irreversível".

O outro fica por conta do excesso de soluções pouco críveis que emergem no roteiro para dar um alinhamento lógico ao concatenamento de ideias visado, bem como para desaguar no fecho. Pelo lado do entretenimento entrelaçado ao ensejo da tensão em modo contínuo, funciona. E muito a contento. Classificação 16 anos



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