11 julho 2020

Impossível não se comover com “Adú”, o menino refugiado que busca um lugar no mundo

O fio condutor é o drama dos refugiados, que fogem dos seus próprios países (Fotos: Manolo Pavón e Netflix)


Mirtes Helena Scalioni


História 1: dois irmãos, Adú e Alika, – ele com sete, ela com nove anos – vivem numa aldeia em Moçambique e um dia, voltando da escola de bicicleta, testemunham o assassinato de um elefante numa reserva ambiental. O objetivo dos caçadores é extrair o marfim.

História 2: Gonzalo, um próspero empresário espanhol, é um ativista ambiental e coordena uma ONG de preservação dos elefantes. Desiludido e em conflito com os aldeões, decide trazer para a África sua filha drogada Sandra, numa tentativa de recuperar a relação entre os dois.




História 3: um grupo de africanos tenta ultrapassar a fronteira entre Marrocos e Espanha na cidade de Melilla. Um conflito com os soldados acaba na morte de um refugiado, mudando a vida de um dos guardas, Mateo.

História 4: aos 15 anos, cansado de ser abusado em algum lugar da Somália onde vivia, o adolescente Massar, de 15 anos, foge de casa a pé. Atravessa o deserto do Saara, passa pela Líbia e chega ao Marrocos, onde tenta viver de pequenos furtos.


Foi apostando no entrelaçamento dessas histórias carregadas de dramas que o diretor espanhol Salvador Calvo criou “Adú”, o mais novo sucesso retumbante do Netflix, depois do comovente “O Milagre da Cela 7”. Em ambos, há uma criança como protagonista, o que já garante boa dosagem de emoção. Impossível não se comover.

O fio condutor de “Adú” é o drama dos refugiados, tão em voga no mundo atual. A saga e o sofrimento dessas pessoas que fogem dos seus próprios países em busca de uma vida digna foram a inspiração do diretor, ele próprio um ex-voluntário de um serviço de ajuda e acolhimento na Espanha. Segundo conta, são terríveis os relatos de adultos e crianças nessa trajetória de buscar asilo.



Não dá pra negar que o grande trunfo do longa é o estreante Moustapha Oumarou, o pequeno que faz Adú. De Benin, ele parece ter nascido para atuar. Seus olhos grandes e expressivos falam direto ao coração do espectador. Sem dúvida, um achado. Difícil não se enternecer com a saga do menino e sua irmã Alika (Zayiddiy Dissou) que, escapando da violência e da miséria da palafita onde moram, saem sozinhos mundo afora em busca de um lugar seguro para viver.



Na verdade, todo o elenco está irrepreensível. De Adam Nourou como o atormentado e generoso adolescente Massar, a Álvaro Cervantes como o soldado Mateo, passando por Anna Castillo como a drogada Sandra, ou Luis Tosar como o empresário benfeitor Gonzalo, assim como o restante do elenco, todos dão seu recado com maestria.



Pelo andamento do filme, enquanto as histórias ameaçam se tocar, espectadores mais experientes acabam por esperar um entrelaçamento óbvio, para o qual parece caminhar a trama. Surpreendentemente, o esperado não acontece. Mais um ponto a favor do diretor de “Adú”, que não se rendeu às obviedades.




Ficha técnica:
Direção:
Salvador Calvo
Exibição: Netflix
Duração: 1h59
Classificação: 12 anos
Nacionalidade: Espanha
Gênero: Drama


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