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22 dezembro 2022

"Smiley", uma comédia romântica que está dando o que falar

Carlos Cuevas e Miki Esparbé são os protagonistas desta divertida série espanhola (Fotos: Netflix)


Eduardo Jr.


O mês de dezembro é marcado não só pelas festas, mas também pela temporada de filmes de Natal. Entre novidades e títulos já conhecidos, uma série ambientada na Espanha, perto do Réveillon, chega para trazer refresco a essa lista de produções de fim de ano. 

Com o aval de ter chegado rapidamente ao top 10 da Netflix, “Smiley” promete figurar entre as mais divertidas da plataforma. 


Nesta comédia romântica LGBTQIA+, vários casais lidam com os prazeres e dificuldades de um relacionamento. Ceia de Natal, amigo oculto da empresa, a vontade de começar o ano com um novo amor, tudo se torna ingrediente para balançar ou acertar a vida amorosa das personagens. 

No centro da trama estão dois homens, Álex (Carlos Cuevas, já conhecido pela série Merlí) e Bruno (Miki Esparbé, que atuou em ‘O Inocente’). Ambos querem encontrar alguém especial, mas como sabemos, histórias de amor não são fáceis. 


Depois de mais um namoro fracassado, Álex resolve telefonar e dizer poucas e boas para o ex. Mas o recado cai na secretária eletrônica de Bruno. Ao se conhecerem pessoalmente, apesar das muitas diferenças entre eles, uma conexão acontece. 

Mas em uma troca de mensagens, um emoji de um sorriso (smiley), que poderia fazer a relação decolar, é interpretado de forma inesperada. Aí o romance não só estaciona, como parece dar marcha à ré.  


A falta de comunicação entre os casais dá a tônica da série, seja realçando dramas, ou divertindo o espectador. A rotina que afasta marido e mulher um do outro - e também de atividades que gostam - ampliando o abismo da falta de diálogo, encontra remédio na conversa. 

Os textos de apresentação nos sites de relacionamento, incapazes de explicar a complexidade humana, mostram com humor que precisamos nos expressar melhor e também dar essa chance aos outros. Comunicação clara (e não só por emojis). 


A apresentação de relacionamentos LGBTQIA+ não deixa de lado a militância. Com sutileza e talento, pautas como a interiorização da liberação feminina por mulheres lésbicas, os medos da população gay e os preconceitos dentro da própria comunidade estão lá. E promovem a reflexão para que não se tornem muros, e sim pontes que nos aproximem. 

O receio de assumir quem se é de verdade, de revelar sentimentos, e dar como certa a ideia de que envelhecer impede a construção de novos laços, nos tornando feios e incapazes de despertar desejo são questionados e respondidos com firmeza e também doçura. 


Um leve suspense também marca presença. A mãe do protagonista recebe a visita de um velho conhecido. As conversas pouco reveladoras entre eles vão criando um clima que não permite saber o que aconteceu anos atrás e muito menos qual será o desfecho dessa história. Mas a resposta vem. 

A série é eficiente também em mostrar que não é preciso dizer muito pra dar o recado. Os oito episódios são curtos e têm, em média, 35 minutos de duração. São cativantes e entretêm - principalmente por apresentarem telas divididas entre as personagens, mensagens de celulares ampliadas na cena e outros recursos que fazem o público se identificar, deixando o conteúdo ágil e convidativo. 


Talvez o único contra esteja no idioma, já que os capítulos trazem, por muitas vezes, diálogos acelerados (a maioria das cenas foi gravada em catalão). 

A série é uma aposta da Netflix que já começa a dar resultados mais vistosos do que “Uncoupled”, outra trama cômica sobre desventuras amorosas do mundo gay. “Smiley” atingiu a lista de melhores programas da plataforma com agilidade. Talvez por ter credenciais de respeito. 

Baseada em uma peça de teatro, todos os episódios foram roteirizados pelo autor do texto, Guillem Clua. O jovem dramaturgo também roteirizou a série “O Inocente”, baseada no livro de Harlan Coben, autor que vem se firmando como um dos queridinhos da literatura de suspense e da Netflix. 


Embora a série não fique devendo um final ao público, a expectativa é de que “Smiley” ganhe uma nova temporada. Em entrevistas, o diretor e roteirista já andou dizendo que existe uma segunda peça escrita, dando sequência à história dos personagens centrais. 

Portanto, caso seja batido o martelo sobre uma continuação, ela se basearia neste material. Para quem encerrou o ano assistindo “Smiley”, certamente deu vontade de pedir ao Papai Noel “ano novo, temporada nova”. 


Ficha técnica:
Direção: Guillem Clua
Produção: Minoria Absoluta
Exibição: Netflix
Duração: 1ª Temporada = 8 episódios/média de 35 minutos cada
Classificação: 16 anos
País: Espanha
Gêneros: comédia / romance / série

18 dezembro 2022

"Pinóquio", de Guillermo del Toro, é uma verdadeira obra de arte

Nova versão da história do boneco feito de maneira de pino se aproxima assim da obra original de Carlos Collodi (Fotos: Netflix)


Marcos Tadeu
Blog Narrativa Cinematográfica


A animação mais aguardada do gênio Guillermo del Toro, "Pinóquio" é um dos sucessos em cartaz na Netflix. O novo longa, diferente da versão live-action do estúdio Disney, reconstrói, de forma sensível e tocante, a história do boneco feito de maneira de pino, se aproximando assim da obra original de Carlos Collodi.

Aqui conhecemos Gepeto (voz de David Bradley), um entalhador que perdeu seu filho Carlo na guerra, em uma Itália fascista nos anos 50. O personagem se vê na solidão e começa a criar um boneco de madeira. 

O que ele não imaginava é que este ganharia vida, iniciando assim sua jornada de aceitação do boneco como filho e de busca da ressignificação do luto.


Gepeto tem uma participação incrível em toda a trama. Num primeiro momento, ele rejeita Pinóquio (voz de Gregory Mann) e quer fazer dele uma cópia fiel de seu filho. 

Passada essa fase, ele aprende a lutar e a amar Pinóquio e toda essa jornada ao longo da obra cresce aos olhos do telespectador.

No lugar da Fada Azul temos duas figuras: a Guardiã, cuja missão é cuidar das coisas perdidas ou abandonadas. É ela que concede o dom da vida a Pinóquio para poder alegrar o pai. 

Nas primeiras cenas em que o boneco fala, isso causa espanto em Gepeto, e em sua inocência, por não conhecer nada da vida, acaba destruindo vários objetos da casa. 


Na cena da igreja, por exemplo, quando Pinóquio vai atrás de seu pai, os fiéis começam a ofendê-lo, chamando-o de "demônio" e "bruxaria". A consequência disso, o governo fascista determina que Pinóquio vá para a escola e não cause problemas. 

Outra figura importante é a Morte, que faz com que Pinóquio se descubra imortal e ensina o valor das relações com as pessoas a sua volta.

O famoso Grilo Falante (voz original de Ewan McGregor,de "Doutor Sono" - 2019) agora tem nome e sobrenome, Sebastian J. Cricket. A todo o momento reafirmando que é um romancista, coube a ele narrar a história e de fato isso acontece, quando Gepeto constrói Pinóquio, ele escolhe a árvore em que Sebastian vai morar. 


Nesse longa, sim, Sebastian é uma verdadeira consciência, mesmo que muitas vezes Pinóquio aja com inocência, ele sempre dá um jeito de aparecer. Podemos acrescentar que nesta obra, Cricket interage até com Gepeto no desenvolvimento da obra.

Se no desenho clássico temos Strombolli, aqui o vilão é o Conde Volpe (voz de Christoph Waltz, de "Alita - Anjo de Combate" - 2019) , com praticamente a mesma função. Vale destacar a forma como ele consegue manipular e mostrar sua autoridade para que Pinóquio seja apenas um boneco que dá lucro para seu teatro. Volpe é extremamente ambicioso e coloca o dinheiro acima de qualquer relação.


O pano de fundo político é mostrado todo o tempo, com uma Itália sombria, governada pelo ditador Benito Mussolini. Inclusive a ordem é obedecer cegamente e o slogan que vem junto a isso é “Crer, obedecer e combater”. 

Podesta (Ron Perlman, de "O Beco do Pesadelo" - 2021), um fascista local, enxerga em Pinóquio o potencial para ser usado como soldado, justamente por ele não morrer. 


Já Candlewick, filho de Podesta, (dublado por Finn Wofhard, de "Stranger Things") é um personagem muito profundo e tem tempo suficiente para desenvolver sua honra ao pai. Assim como Pinóquio quer ser o orgulho de Gepeto, Candlewick quer o mesmo com o seu pai fascista. Mas muitas vezes terá de quebrar regras e desobedecê-lo por não concordar com a forma como o pai extermina pessoas.


Os números musicais aqui são todos muito bem coreografados e cantados. Del Toro coloca canções pontuais que, de fato, expressam o que sentem seus personagens, com destaque para Pinóquio, Gepeto e Conde Volpe, que dominam a maioria das performances.

A técnica de stop-motion prova que Del Toro está em cada quadro mostrado ao público. É um desenho tão potente em sua mensagem quanto na forma como foi feito, provando, cada vez mais, que o diretor domina qualquer gênero, inclusive animação.


Talvez um único ponto negativo seja a falta de mais camadas para a Guardiã e a Morte. Uma abordagem mais profunda da origem dessas personagens acrescentaria um algo mais à história. Mas isso não atrapalha a ótima experiência proporcionada pela produção.

"Pinóquio", por Guillermo del Toro, é um filme que fala sobre aceitar quem somos sem que tenhamos de fazer mudanças para agradar outras pessoas. É sobre entender o peso da verdade e suas consequências. Sem dúvida, uma animação que vale a pena ver e rever, para sempre descobrir novas lições.


Ficha técnica:
Direção:
Guillermo del Toro e Mark Gustafson
Produção: Pathé, Jim Henson Productions, Inferno Entertainment
Exibição: Netflix
Duração: 1h57
Classificação: 10 anos
País: EUA
Gêneros: Animação / Fantasia

20 novembro 2022

O "dream man" Jason Momoa leva órfã para uma aventura na "Terra dos Sonhos"

Um ótimo filme de aventura e fantasia para ser assistido em família (Fotos: Netflix)


Silvana Monteiro


Para crianças de 8 a 80 anos, "Terra dos Sonhos" ("Slumberland") é um ótimo filme de aventura e fantasia e uma boa pedida para assistir em família. Produzido e exibido pela Netflix, o longa é dirigido por Francis Lawrence e escrito por David Guion e Michael Handelman, baseado na história em quadrinhos "Little Nemo in Slumberland", de Winsor McCay. 


Além de contar com um ator que chama a atenção e já conhecido do público por sua beleza e simpatia - Jason Momoa, o "Aquaman" (2018), do Universo DC. O filme entrega um roteiro intenso e animador ao tratar de realidade, sonhos, pesadelos, luto e depressão, mas de uma forma encantadora.


A história é centrada na menina Nemo - leia se "Nimo" (Marlow Barkley) - que mora em um farol com seu pai, Peter (Kyle Chandler). Educada em casa, ela vive num mundo afetuoso e seguro em sua humilde casa. Mas a morte do pai, além de trazer a orfandade para a criança, vai provocar uma mudança radical em seu modo de viver. 


Ela será levada para a casa do tio Phillip (Chris O'Dowd), um vendedor de maçanetas (uma referência a um desdobramento importante da história). A menina passa a frequentar a escola, mas sente-se segura apenas em seu quarto, de preferência, dormindo.


É na "Terra dos Sonhos" que ela vai viver suas maiores aventuras ao lado de seu bichinho de pelúcia, o porco. Sonhando, Nemo conhece Flip (Jason Momoa), uma figura mitológica que vai levá-la a realizar seu maior desejo.

Entre pérolas marinhas, aves gigantescas, navios, aviões, e muitas portas (numa referência às descobertas e experiências), os dois vão viver aventuras incríveis que prenderão o telespectador. 


Os destaques do filme são os figurinos, a estética dos cenários numa fotografia arrojada e a brilhante ideia de jogar, no meio da história, personagens passageiros, que ficam por poucos minutos, exatamente como acontece quando sonhamos e acordamos. 

Além de Momoa, a Agente Verde (Weruche Opia), que vive perseguindo Flip e Nemo, se destaca pela essência perfeita do Black Power. Seus looks ao estilo dos anos 70 são incríveis. 


A personagem funciona como uma justificativa ao alter ego fora da lei de Flip, como se seu comportamento policialesco, agindo como uma "atrapalhadora" de sonhos, justificasse o arquétipo criminoso do protagonista.

O filme é uma imersão no universo psicanalítico, tem profundas referências à semiótica e a psiquiatria, temas envoltos numa narrativa interessantíssima do mundo onírico. Tudo tratado com bom humor e sensibilidade do início ao fim.


Ficha técnica:
Direção: Francis Lawrence
Produção, distribuição e exibição: Netflix
Duração: 1h57
Classificação: 10 anos
País: EUA
Gêneros: aventura, fantasia, família

03 novembro 2022

"Recomeço", uma minissérie de amor emocionante e arrebatadora da Netflix

História é uma adaptação da biografia da atriz Tembi Locke (Fotos: Netflix)


Silvana Monteiro


Com um roteiro recheado de surpresas arrebatadoras, a nova minissérie da Netflix, "Recomeço" ("From Scratch") trata de temas sociais importantes, envoltos por um amor construído na intensidade dos sonhos e na adversidade. Uma história contada com um elenco de peso.


Amy Wheeler (Zoe Saldaña, de “Guardiões da Galáxia" - 2014 e "Guardiões da Galáxia Vol.2" – 2017) é uma estudante afroamericana. Embora esteja na carreira do direito, por influência do pai, é apaixonada por arte. Ela vai em busca de seu sonho e decide fazer um curso de extensão de arte em Florença, na Itália. 

Lá, além de ter que decidir sobre sua futura profissão, Amy vai encontrar Lino Ortolano (Eugênio Mastrandrea), um chef siciliano que provocará uma reviravolta em sua vida de tirar o fôlego.


Com locações impressionantes e uma fotografia requintada e aconchegante, "Recomeço" te fará conhecer duas famílias com problemas reais. Você vai passear pelas belas Florença e Cefalù com imersão na gastronomia siciliana e nas diferenças culturais dos protagonistas. Ambos deixarão a Itália e vão viver intensamente seus sonhos e pesadelos em Los Angeles.


Adaptado do livro de memórias homônimo escrito pela atriz Tembi Locke e dirigido por Nzingha Stewart ("Little Fires Everywhere" e "Maid"), "Recomeço" tem conflitos e soluções bem definidos, o que dá ao telespectador a sensação de estar lendo um diário.


Separe os lenços. Você está diante de um enredo arrebatador, com uma belíssima trilha sonora, feito para refletir sobre realização de sonhos, laços familiares multirraciais, paternidade afetiva, resiliência, amizade e amor verdadeiro, na saúde, na doença e no findar da vida. Respire fundo antes de começar.


Ficha técnica:
Direção: Nzingha Stewart
Produção e distribuição: Netflix
Duração: 8 episódios
Gênero: drama
Países: EUA e Itália
Classificação: 16 anos

07 julho 2022

Vingança, inveja e poder são os combustíveis da série "Asas da Ambição"

Asli é uma garota simples que está estudando jornalismo e sempre admirou a âncora de TV, Lale Kiran (Fotos: Netflix)


Marcos Tadeu
Narrativa Cinematográfica


Entre uma coisa mais ou menos e um conteúdo bom, "Asas da Ambição", nova série turca exibida pela Netflix, está dando o que falar. O drama aborda os bastidores de uma âncora de TV e a vida de uma fã que se torna obsessiva em se tornar igual a ela. Dirigido por Deniz Yorulmazer e roteirizado por Meriç Acemi, a história foge um pouco de estilo de produção norte-americana e explora o conflito entre as gerações X e Y e a adaptação ao mercado de notícias.


Asli (Miray Daner) é uma garota simples que está estudando jornalismo e sempre admirou Lale Kiran (Birce Akalay), uma importante âncora do jornal. Após Lale palestrar na faculdade de Asli, ela tenta se aproximar de sua grande ídola, mas a estrela despreza a garota, causando nela um ódio mortal. 

O curioso aqui é que conhecemos o lado da protagonista que acaba se tornando uma vilã e a antagonista Lale Kiran vira a mocinha da história. O roteiro é tão ágil que nos faz apegar pelas duas personagens. Ao mesmo tempo em que queremos a queda de Kiran, há o desejo de ver Asli conquistar e fazer tudo o que deseja.


Temos a presença de um narrador onisciente que entra de maneira pontual. Mas da forma como conta a história deixa claro que é uma narrativa sobre caçador e sua presa. Ele faz alusão às aves de rapina, com Asli observando tudo de cima e planejando formas de fazer o ataque e prejudicar sua rival. 

Essa briga de gato e rato por parte da jovem deixa a trama mais agitada. Chego até a arriscar comparando Asli com a vilã Laura, da novela "Celebridade" (2003-2004), com todas as suas armações e planos. Tudo é feito para minar a vida de Lale, não só na esfera pessoal, como na profissional. Só que, ao invés de mostrar os bastidores de grandes estrelas, a série foca no mundo dos jornalistas da TV.


Já o lado de Lale Kiran é bem desenvolvido, mostra mais sua vida familiar com Selim (Burak Yamantürk) e suas filhas e também com Kenan (Ibrahim Çelikkol), uma relação do passado que ainda faz parte de seu trabalho. 

Existe uma preocupação em mostrar o porquê de Lale Kiran ser uma referência na TV, seus conflitos pessoais e como conseguiu tudo com trabalho e experiência. Diferente da vilã que só quer subir por subir, sem esforço e conhecimento e sem entender o que é de fato o trabalho jornalístico.


Outro ponto legal da série é mostrar os bastidores de uma redação de TV. Existe aquela pressa de conseguir um furo, de entrevistar alguém curioso e polêmico e até as situações de alta tensão. Como a de um cara armado entrar no estúdio e fazer o maior barraco em busca de justiça. Há uma preocupação da série em entrar nesse mundo com muita maturidade.

É interessante ver um enredo que mostra o ponto de vista dos estagiários e não dos grandes jornalistas. Não é a toa que compramos as motivações de Asli, por mais que não estejam bem definidas.


Um contraponto é o conflito de gerações: enquanto Lale Kiran vem de uma geração mais analógica, Asli é da era digital, da internet, dos perfis falsos e fake news. E isso é usado como combustível que coloca os personagens numa rede de mentiras. 

A nossa malvada favorita é tão ruim que planeja e tira tudo e todos do caminho para ficar perto de sua ídola. Existe também outro ponto: o que é ser fã? Até que ponto o fã não é obsessivo? Essas questões permeiam a série, que consegue discutir com muita precisão o tema, por mais que pareça, em muitas vezes, estar dando voltas.


Há também alguns pontos que deixam a desejar na série: pouco conhecemos da história de Asli, existe ali um momento com sua mãe, mas é tão artificial e tão raso que não dá para entender o motivo de tanto ódio pela jornalista. Não fica muito claro e pode deixar o telespectador confuso ao comprar essa briga entre mocinha e vilã.

"Asas da Ambição" encerra de maneira satisfatória, mas ainda é cedo para dizer se a série terá uma segunda temporada. Deixa indícios que sim, uma vez que consegue encerrar ciclos e começar novos em seu fim de uma forma que agrada ao público. 


Ficha técnica:
Direção: Deniz Yorulmazer
Exibição: Netflix
Duração: 1ª temporada - oito episódios
Classificação: 12 anos
País: Turquia
Gênero: drama

25 fevereiro 2022

Desconstruindo Almodóvar

O cineasta e Penélope Cruz, uma de suas atrizes preferidas (Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Não se pode negar: a recente chegada de cerca de dez obras de Almodóvar na Netflix é uma excelente oportunidade de maratonar e conhecer grande parte do trabalho do festejado cineasta. Mas é também a chance de, conhecendo mais, comparar, analisar e, quem sabe, criticar um ou outro filme do autor de "Ata-me", "Carne Trêmula", "Volver", “A Pele Que Habito”, pequenas e inquestionáveis obras-primas.

O mesmo não se pode dizer do recente "Mães Paralelas" ("Madres Paralelas"), que ficou aquém da expectativa apesar das belíssimas atuações da sempre linda Penélope Cruz e da estreante Milena Smit no papel das mães que têm seus “destinos entrelaçados” como se costuma dizer nas novelas. Faltou liga entre a história das mulheres e a outra trama do filme: a busca das ossadas de pessoas mortas pela ditadura de Franco durante a guerra civil espanhola.

Mães Paralelas (Divulgação)

Se tem todos os ingredientes de sempre – cores, alcova, desgraças, desencontros - por que “Mães Paralelas” não é tão brilhante? Exatamente porque as duas histórias, a das mães que acabam de parir seus filhos num mesmo hospital, e a da família que quer desenterrar para enterrar seus mortos, correm paralelamente no exato sentido do termo: nunca se encontram. É como se não houvesse ligação nenhuma entre elas, como se fossem dois filmes. Ficou manco.

Kika (Divulgação)

Já quem aproveitou essa onda da Netflix para assistir ao longa "Kika", de 1993, um dos menos famosos, pode ter se decepcionado. Como sempre, comédia e drama se misturam a diálogos e situações que, mais do que inusitadas, são inverossímeis. Traições, incesto, estupro, suicídios, crimes e toda sorte de esquisitices são retratadas de um jeito tão bizarro que até os mais ferrenhos fãs do cineasta podem estranhar. 

Não se trata apenas de extravagâncias e exageros - estamos todos acostumados a essas cenas e argumentos atípicos do diretor. Mas são tantas as tramas, tantos os personagens que, a certa hora, o espectador se perde, quase desanima.

Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (Divulgação)

Como sempre, assim como em “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos”, a mulherada de “Kika” é retratada como um bando de loucas, taradas, histéricas, sempre aos gritos, quebrando tudo que encontram pela frente e prontas a cortar os pulsos ou pular da janela quando são rejeitadas ou traídas. Pelos homens, claro. 

E esse é um perfil que, convenhamos, não ajuda em nada a luta feminina por espaço, reconhecimento e igualdade – mesmo admitindo que a função maior do cinema não é panfletar. Mas o discurso talvez seja anacrônico, ainda que exageradamente performático.

Outra coisa: aqui por esses lados, ninguém mais fica chocado com ações desse naipe. Crimes, traições, incestos, paixões proibidas e bizarrices são temas frequentes também na nossa literatura e cinematografia. Quem tem Nelson Rodrigues não se escandaliza com Almodóvar. E o autor brasileiro, convenhamos, dá um banho no espanhol na arte de contar histórias.



02 fevereiro 2022

“A Mais Pura Verdade”: ótima minissérie com drama e suspense de perder o sono

Kevin Hart e Wesley Snipes interpretam os dois irmãos em conflito nessa produção de sete episódios sobre dinheiro e traição (Fotos: Adam Rose/Netflix)


Mirtes Helena Scalioni


Por mais que uma ou outra sequência possa parecer improvável, não se pode negar que “A Mais Pura Verdade” ("True Story") é uma série surpreendente que prende o espectador do começo ao fim, com viradas de tirar o sono. 

Com sete episódios e em cartaz no Netflix, a história gira em torno de questões tão antigas quanto importantes: que preço alguém pode pagar para se manter no topo do sucesso? Ou: o que pode despertar a extrema violência de um homem sabidamente pacífico e honesto?


Criada por Eric Newman (que produziu "Power" - 2020 e “Narcos” - 2017 e 2018) e dirigida por Stephen Williams e Hanelle M. Culpepper, a minissérie apresenta um recorte na vida de Kid, comediante de muito sucesso, daqueles que fazem stand-ups e filmes que agradam toda a família, de crianças a adolescentes e adultos. 

Negro, ele valoriza cada conquista e deixa claro, sempre que pode, que trabalhou muito para chegar aonde chegou. Interpretado por Kevin Hart (“Jumanji - Próxima Fase” - 2019) em uma de suas primeiras incursões pelo drama, o ator convence na pele do bom moço que, se preciso for, perde a humanidade e a ética.


Tudo caminhava muito bem na turnê de muito sucesso que Kid fazia pelo país, com shows, eventos filantrópicos e entrevistas até que a trupe chega à Filadélfia, exatamente a terra do comediante. 

E é lá, no luxuoso hotel Four Seasons, que ele tem um conturbado reencontro com seu irmão Carlton, que lhe apresenta Daphne (Ash Santos). A primeira surpresa a bagunçar a cabeça do espectador acontece logo no primeiro episódio, um pouquinho maior do que os outros seis.


Mas “A Mais Pura Verdade” não seria tão recomendável se não fosse a participação de Wesley Snipes (“Mercenários 3” - 2014), que interpreta Carlton, o irmão enrolado e meio bandido de Kid, capaz de tudo para tirar algum dinheiro do mano bem-sucedido. Em atuação perfeita, ele imprime um cinismo tal em seu personagem que chega a despertar a raiva do espectador na medida em que suas tramoias vão sendo expostas.


Merecem atenção também as atuações de todo o staff do artista que, claro, é assessorado por uma equipe de primeira. Estão lá a autora de textos e piadas, Billie (Tawny Newsome), o segurança fiel Herschel (William Catlett) e o administrador de tudo, Todd (Paul Adelstein). Não falta nem mesmo o superfã Gene (Theo Rosssi), jovem ingênuo e meio infantil que faz de tudo para se aproximar do ídolo e tem grande importância na trama.


Do lado bandido, destaque para os perversos irmãos gregos Ari (Billy Zane), Savvas (Chris Diamontopoulos) e Nikos (John Ales). “A Mais Pura Verdade” é tão surpreendente e criativa que pode ser uma temeridade partir para uma segunda temporada, totalmente desnecessária. 

O velho drama dos dois irmãos completamente diferentes um do outro e a ideia de que uma simples escolha pode transformar – e transtornar – a vida de uma pessoa estão muito bem amarrados e fechados nesses sete episódios. Se tentar melhorar, pode atrapalhar.


Ficha técnica:
Criação: Eric Newman
Direção: Stephen Williams e Hanelle M. Culpepper
Produção: Netflix / Harbeat Productions
Exibição: Netflix
Duração: 1ª Temporada - 7 episódios (média de 30 minutos cada)
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: Drama / Policial / Minissérie / Suspense

31 janeiro 2022

"Tratamento de Realeza" - romance trivial com elenco miscigenado

Mena Massoud e Laura Marano formam o casal que vai viver uma história no estilo Cinderela (Fotos: Kirsty Griffin/Netflix)


Silvana Monteiro


Elenco distinto, humor, uma pitada de musical e romance é o que promete o mais novo título da Netflix - "Tratamento de Realeza" (”The Royal Treatment”) - que está na lista dos top 10. Estrelado por Mena Massoud o ator canadense de origem egípcia que fez sucesso como "Aladdin" (2019), e Laura Marano, de "Lady Bird: a Hora de Voar” (2018), o filme é mais um daqueles clichês que retrata o envolvimento de um nobre e uma plebeia.



Izzy (Marano, que também é uma das produtoras do filme) é uma cabeleireira nova-iorquina de origem italiana, que vive na ralação e no vermelho, enquanto que Thomas (Massoud) é o príncipe sério e dedicado, de uma pequenina nação europeia.


A jovem é confundida com outra profissional e acaba indo prestar serviço para o príncipe, exatamente em um dos momentos mais importantes da vida dele. O contato entre cabeleireira e príncipe é muito amistoso e joga luz sobre a situação vivida por ele em relação ao casamento arranjado a que ele deve se submeter para salvar o reino.


Embora centrado no chavão romance entre uma pessoa comum e um integrante da realeza às vésperas de um casamento arranjado, o filme sai na frente ao apresentar um elenco negro na monarquia, incomum em filmes dessa temática. As cenas externas ao castelo, quando os protagonistas visitam a província de Lavania, são incríveis e burlescas.


Chama a atenção o fato de os súditos representarem uma linda mistura étnica. A fotografia e a trilha sonora são lindas. É um filme leve e divertido. Destaque para a construção do enredo, com um toque de musical. Os protagonistas funcionam maravilhosamente bem, com intensidade e sintonia. E aí, vai torcer por esse casal?


Ficha técnica
Direção: Rick Jacobson
Produção: Netflix / Focus Features International
Exibição: Netflix
Duração: 1h37
Classificação: Livre
Gêneros: Romance / Musical / Comédia