11 março 2025

“Máquina do Tempo” promete prender o público com viagens temporais e Segunda Guerra Mundial

Com imagens em preto e branco, longa aborda a criação, por duas irmãs, de um dispositivo que permite obter informações do futuro (Fotos: Pandora Filmes)



Eduardo Jr.


Estreia no dia 13 de março o longa “Máquina do Tempo” ("Lola", 2022), dirigido por Andrew Legge e distribuído pela Pandora Filmes. A obra aborda a criação de uma máquina que permite obter informações do futuro e, com isso, é utilizada por suas descobridoras para interferir na Segunda Guerra Mundial. 

A estética pode ser lida como ponto positivo ou negativo da obra. A filmagem no estilo “found footage” (ou “filmagem encontrada”, traduzindo do inglês) está presente em cenas que simulam gravações feitas pelas protagonistas, as irmãs Thomasina (Emma Appleton) e Martha (Stefanie Martini). 


O longa foi realizado com câmeras e lentes autênticas da década de 1930 e processado em um tanque de revelação de 16mm da era soviética. Por isso as imagens em preto e branco, granuladas – e, por vezes, escuras demais, impactando a leitura das cenas pelo espectador. 

Na trama, as duas irmãs constroem uma máquina que intercepta transmissões de rádio e TV do futuro. Após o fascínio com a produção cultural que ainda surgiria (entre as descobertas estão The Kinks e David Bowie), vem a ideia de utilizar a tecnologia como elemento transformador do cenário provocado pela Segunda Guerra, ocorrida entre 1939 e 1945. 


O espectador pode se lembrar de alguns títulos do passado diante da proposta de “Máquina do Tempo”: conhecer canções que não existem naquele mundo pode remeter a “Yesterday” (2019), filme em que o protagonista se torna ‘autor’ de clássicos dos Beatles, já que ninguém conhecia os quatro rapazes de Liverpool. 

Ver o futuro e intervir no que está para acontecer pode lembrar “Minority Report” (2002). Já a temática de alterar a realidade sem pensar nas consequências disso no futuro pode trazer à tona memórias de “Efeito Borboleta” (2004). 


É interessante ver na tela duas mulheres se colocando como donas do jogo, acompanhar o romance que se põe no fundo, e mais ainda, ser apresentado a cenários hipotéticos acerca do conflito entre a Alemanha de Hitler e o restante da Europa. Mas para além do resultado da guerra, todo mundo sai perdendo - afinal, o que seria de um mundo em que não há um David Bowie? 

Esta ficção científica é uma provocativa produção irlandês-britânica, que vem chamando a atenção. O filme, que é a estreia de Andrew Legge na direção de longas, foi indicado ao prêmio Swatch de Melhor Primeiro Filme no Festival de Locarno em 2022. 

Se podemos dar alguma dica sobre este filme, lá vai: não perca, pois não dá pra voltar no tempo e rever essa obra tão interessante. 


Ficha técnica:
Direção: Andrew Legge
Roteiro: Andrew Legge e Angeli Macfarlane
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h19
Classificação: 14 anos
Países: Irlanda, Reino Unido
Gêneros: Ficção científica, guerra, drama

08 março 2025

"Carcaça": suspense frágil e superficial

Paulo Miklos e Carol Bresolin formam o casal que vive uma relação abusiva durante a pandemia
(Fotos: California Filmes)


Silvana Monteiro


"Carcaça" se apresenta como um suspense psicológico ambientado em um cenário pandêmico, mas rapidamente se transforma em um labirinto de pesadelos e decisões questionáveis. Dirigido por André Borelli, o filme aposta em uma atmosfera claustrofóbica e na tensão entre um casal isolado, formado por Paulo Miklos e Carol Bresolin.

Infelizmente, a produção tropeça no que poderia ser seu maior trunfo: a descoberta e a libertação. O longa-metragem já está disponível nas plataformas de aluguel Vivo Play, Prime Vídeo, Claro Vídeo, Google Play, Apple, Net Now, Youtube e Total Play.


A trama, repleta de armadilhas narrativas, não serve para aprofundar a história ou conectar os pontos de maneira eficaz. Em vez disso, cria expectativas que se frustram repetidamente. A sinopse — “Durante uma pandemia, uma jovem descobre o segredo sombrio de seu parceiro possessivo, desencadeando uma luta desesperada por liberdade” — promete um mergulho nos segredos obscuros de um relacionamento abusivo em meio ao isolamento, mas não cumpre esse promissor objetivo. 

O que se vê na tela é uma sucessão de cenas oníricas que diluem a tensão, desviando-se do que se espera de um suspense consistente. A repetição exaustiva de sequências de pesadelo, onde a protagonista acorda abruptamente, mina a imersão e torna a narrativa previsível.


Para os aficionados por fotografia, assistir ao filme no mudo pode ser uma experiência satisfatória. O preto e branco bem trabalhado serve como pano de fundo para a falta de contexto narrativo. 

Embora a escolha da monocromia seja acertada, sua conexão com a história é frágil, marcada por lapsos e vácuos narrativos. As cenas em planos detalhe, plongée e contra-plongée que exploram as sensações dos protagonistas oferecem momentos visualmente interessantes, mas não o suficiente para sustentar a narrativa. 


A ausência de um contexto pandêmico claro — seja Covid-19 ou outra doença — desperdiça a oportunidade de explorar as angústias e paranoias específicas de uma determinada crise sanitária.

O segredo do personagem masculino carece de profundidade, não justificando o suspense pretendido. A hesitação do roteiro em explicitar esse segredo cria um vazio que dificulta a conexão do espectador com a angústia da protagonista. O resultado é uma sucessão de cenas que repetem os mesmos artifícios na tentativa de hipnotizar e intrigar, mas sem sucesso.


A câmera, sob um olhar masculino, fetichiza a protagonista, Carol Bresolin, por meio de closes e ângulos que sugerem uma tentativa de aprofundar questões sociais relacionadas aos relacionamentos abusivos. Contudo, essa abordagem se desdobra como um mosaico desencaixado, sem uma história sólida para sustentá-la e sem transmitir uma mensagem social coerente.

"Carcaça" se perde em suas próprias ambições, resultando em um suspense inconsistente e superficial. A falta de coesão entre as escolhas narrativas e visuais, a repetição exaustiva de pesadelos e a objetificação da protagonista tornam a experiência frustrante. 

Em termos técnicos, o formato teatral, juntamente com as fisionomias cênicas e microexpressões de Miklos e Bresolin, ainda conseguem capturar a atenção.

E sim, mulheres, corram de segredos sombrios em parceiros abusivos.


Ficha técnica:
Direção: André Borelli
Distribuição: Califórnia Filmes
Exibição: nas plataformas de aluguel Total Play, Apple TV, Youtube, Vivo Play, Prime Video, Claro-Vídeo, Claro-TV, Google Play
Duração: 1h10
Classificação: 18 anos
País: Brasil
Gênero: suspense psicológico