24 dezembro 2020

"Mulan" entrega uma excelente produção, com destaque para as batalhas, os figurinos e a trilha sonora

 Liu Yifei entrega uma ótima interpretação da guerreira chinesa que precisou se passar por homem para mostrar seu valor (Fotos: Jasin Boland/Disney)


Maristela Bretas


Sem perder a fantasia, o que é esperado de uma produção dos estúdios Disney, o remake de "Mulan" é a produção que mais se aproxima de um filme e menos de um live-action. Claro que a computação gráfica corre solta. E precisava ser assim para uma produção que destaca as lutas marciais e a cultura milenar chinesa, que apesar de rica, possui valores extremamente machistas. 


O live-action expõe esses valores, tanto no casamento arranjado, quanto na vergonha dos pais por não terem filhos, apenas filhas. As mulheres só servem para servir. Esses são os maiores inimigos da guerreira.


No filme, Mulan recebeu o tratamento esperado para uma das mais marcantes mulheres do universo Disney. A personagem é apresentada ainda mais forte que no desenho de 1998 - uma jovem corajosa que prova ser capaz de lutar e defender seus ideais, mas que precisa se passar por um homem para mostrar seu valor. 


Para o papel foi escolhida a atriz chinesa Liu Yifei, que dá conta do recado, interpretando a jovem rebelde, poderosa e destemida, que não se deixa dobrar, mesmo quando é menosprezada por causa de seu sexo. Yifei também consegue passar a fragilidade e a inocência da jovem descobrindo o mundo exterior e o amor.


Como na versão animada, Mulan se disfarça de homem e assume o lugar do pai para se tornar uma guerreira que deseja ajudar o exército do imperador a defender a China contra invasores que contam com a magia da bruxa Xian Lang (papel de Gong Li). Ela adota o nome de Hua Jun e terá de esconder de todos sua verdadeira identidade. Durante sua jornada de treinamento e batalhas, Mulan também irá descobrir os poderes que carrega de seus ancestrais. 


Com um figurino impecável, semelhante também a muitas partes do desenho, "Mulan" explora muito bem as cores, tanto nas roupas usadas por mulheres, guerreiros e imperador quanto nas plumas da fênix e na decoração do castelo imperial. A fotografia é outro ponto forte, chega a ser uma obra de arte em alguns momentos, como a imagem de Mulan sozinha no deserto. 


Outro destaque do filme é a trilha sonora, composta por Harry Gregson-Williams. Christina Aguilera arrasa na interpretação da clássica "Reflection", do desenho original, e da canção-tema "
Loyal Brave True". Também ficou ótima a versão dublada em português da canção "Lealdade Coragem Verdade" interpretada por Sandy, que solta a voz numa bela performance. Clique nos links para conferir.


O elenco do filme ainda é formado por Jet Li ("Mercenários 3"- 2014), no papel do Imperador chinês; Donnie Yen ("Rogue One" - 2016), como o comandante Tung; Jason Scott Lee ("O Sétimo Filho" - 2015), como Bori Khan, além de vários outros atores chineses.


Quem assistiu o desenho vai sentir falta de dois importantes personagens na vida de Mulan: Mushu, que dá lugar a uma fênix colorida que representa os ancestrais da jovem e que vai protegê-la em sua jornada. E Grilo, substituído por soldados do batalhão da guerreira que serão seus grandes aliados.


Uma pena que, por causa da pandemia de covid-19 e das medidas de isolamento social "Mulan" precisou ter sido lançado. É um filme que merecia ser exibido nas telas de cinema por sua grandiosidade nas imagens e figurinos. Ele pode ser conferido na plataforma Disney+, apenas para assinantes.



Ficha técnica:
Direção:
Niki Caro
Exibição: Disney+
Duração: 1h55
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: Aventura / Ação / Fantasia
Nota: 4 (de 0 a 5)

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19 dezembro 2020

“8 em Istambul” interliga diversidade de personagens, formando um mosaico psicológico e cultural

 Série turca dirigida por Berkun Oya é um primor de criatividade e um prato cheio para psicanalistas (Fotos: Netflix)

Mirtes Helena Scalioni


É tão envolvente, inteligente e instigante a série “8 em Istambul” (“Bir Baskadir”, nome original), em cartaz no Netflix, que se torna impossível desistir dela, por mais que, no “inicinho”, a história possa parecer lenta demais ou estranha demais. A começar pelos créditos da apresentação, repleto de nomes que parecem bizarros, com cedilha no “S”, trema no “O” ou til no “G”, característicos do idioma turco. Puro engano. 

Com roteiro criativo e edição bem amarrada, a trama que acaba ligando – ou seria interligando? – a vida de personagens diferentes, quase opostos, surpreende e fisga o espectador. O primeiro personagem apresentado é Meryem (Öykü Karayel), uma simplória e humilde faxineira. Ela trabalha na casa de Sinan (Alican Yücesoy), homem moderno, solteiro e, aparentemente mulherengo, que costuma receber mulheres em casa.



Para tentar se curar dos constantes desmaios que vem sofrendo, a jovem procura um hospital e é levada a uma psiquiatra, Peri (Defne Kayalar), que por sua vez, faz supervisão de casos com outra profissional da psicanálise, Gülbin (Tulin Özen).
 
O primeiro choque talvez seja cultural, embora dentro de uma mesma cidade. Enquanto a paciente é uma mulher muçulmana pobre e tradicional, com a cabeça sempre coberta, roupas típicas e fé inabalável em Alá, a médica é moderna, usa roupas ocidentais, faz ginástica e yoga numa academia, é fria e faz questão de manter uma distância profissional da sua cliente. 
 

A partir dessa relação, vão sendo puxadas outras tramas, que falam de preconceitos, violência, fé, submissão, traições, traumas, hipocrisia, segredos, família, costumes. É como se Istambul tivesse não dois – Ásia e Europa, como se vê nos catálogos turísticos - mas muitos lados. E cada um com suas idiossincrasias e justificativas.  Um verdadeiro quebra-cabeça, magistralmente dirigido por Berkun Oya. Um prato cheio para os psicanalistas.
 


Na medida em que os personagens vão entrando na história, mais encantado o espectador fica com a inteligente Meryem, que funciona como elo entre os demais. Além da psicanalista, ela contracena com o irmão irascível Yasin (Fatih Artman), com a cunhada deprimida Ruhlve (Funda Eryigit), com o rodja - líder espiritual da comunidade – Settar (Ali Sadi Hoca). Este, embora tradicionalíssimo, tem uma filha de hábitos modernos. 
 
E mais: quando chega em casa do trabalho, a diarista acompanha, pela televisão, com muito interesse, uma série de muito sucesso da qual faz parte a atriz Melisa (Nesrin Cavadzade) que, em algum momento, também passa a fazer parte da história. 
 


É como se Meryem puxasse o fio de um emaranhado novelo de linhas com cores, utilidades e texturas diferentes. E assim, de palavra em palavra, entre um chá e outro, os personagens e suas tramas são revelados. Quando se dá conta, o espectador nem se lembra mais da estranheza dos nomes, interessado em descobrir se o assistente do rodja, que se exibe falando de filosofia e de Jung, está mesmo interessado na moça.

Ao longo da série, também vão virando meros detalhes até a beleza das atrizes com seus olhos profundos e misteriosos, que tanta atenção chama no início, ou o som estranho das canções que, vez por outra, finalizam os episódios. O que fica, no final, é a constatação de que somos todos irremediavelmente humanos e incompletos.


 

 
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Berkun Oya
Exibição: Netflix
Duração: 50 minutos em média (1ª temporada - 8 episódios)
Classificação: 16 anos
País: Turquia
Gêneros: Drama psicológico / série
 
 
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