19 maio 2021

"Amor, Casamento e Outros Desastres" é um bolo de festa recheado de romances e clichês

 Maggie Grace é Jessie, uma organizadora de eventos desastrada que acredita no amor (Fotos: Califórnia Filmes/Divulgação)

Maristela Bretas


O que pode dar errado num casamento dos sonhos quando a organização é entregue a uma paraquedista que acaba de ser dispensada pelo namorado em pleno ar? Tudo. A partir daí, começam as histórias paralelas de "Amor, Casamento e Outros Desastres" ("Love, Weddings & Other Disasters"), comédia romântica que reúne um elenco de renome e outros nem tanto, repetindo uma infinidade de clichês. 

O longa, dirigido por Dennis Dugan (“Gente Grande 2”) estreia nesta quinta-feira (20) nos cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre, Niterói, Ribeirão Preto, Campinas e Barueri. A Califórnia Filmes não informou quando será disponibilizado em plataformas de streaming.


A paraquedista que resolve fazer um salto com o namorado, famoso apresentador de telejornal é Jessie English (Maggie Grace). Além de soltar o paraquedas do agora "ex" durante o salto, ela viraliza nas redes sociais ao aterrissar sobre o altar de uma cerimônia de casamento, estragando a celebração.

Sem sorte no amor, ela vai tentar melhorar sua má fama aceitando organizar o casamento de Liz Rafferty (Caroline Portu) com Robert Barton (Denis Staroselsky) futuro prefeito de Boston. Mas a todo o momento Jessie se envolve em situações desastrosas.


Entre uma trapalhada e outra e os arranjos do casório, ela também consegue conhecer um "carinha legal".  Afinal o filme é sobre romances e amor. Nada melhor que o manjado guitarrista clichê que ganha a vida tocando em clube noturno, bonitinho e cheio de charme. O papel coube ao cantor mexicano Diego Boneta (“O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio” - 2019), que interpreta Mack. Casal simpático, estilo água com açúcar.

Outros romances e situações que tentam, mas não conseguem ser engraçadas vão correndo paralelamente - um show de TV que vai entregar um milhão de dólares a um casal de estranhos que conseguir ficar mais tempo acorrentado. O casal de destaque é o desempregado Jimmy (Andy Goldenberg), irmão do futuro prefeito e a dançarina de boate Svetlana (Melinda Hill). Essa história poderia ser mais bem explorada, mas ficou muito, muito fraca. Nem com ajuda da máfia russa ajudou. Você chega a esquecer da história durante a exibição.


Tem também uma versão americana sem glamour de Cinderela pelas ruas de Boston. Capitão Ritchie (Andrew Bachelor) é um guia que transporta turistas pela cidade em um ônibus anfíbio. Numa de suas viagens ele conhece uma simpática passageira que ele batiza de Cinderela por ter um sapatinho de cristal tatuado no pescoço. Passa então a procurá-la por todos os lugares, despertando a curiosidade até mesmo da imprensa que vai ajudá-lo a encontrar o grande amor.


Para fechar o pacote, temos a bela voz e o charme de Jeremy Irons e a simpatia de Diane Keaton, que dão um suspiro diferente a essa comédia romântica. Ele é Lawrence Phillips, um viúvo sistemático e arrogante organizador de banquetes. Ela vive Sara, uma mulher cega independente e desastrada. Desde o pôster do filme já se sabe que vão ficar juntos. Não é spoiler, é clichê. Os dois premiados atores são os figurões globais colocados no elenco para atrair público.

"Amor, Casamento e Outros Desastres" é um filme sem grandes pretensões, que se propõe a falar de amor, romance e desencontros. Desde os primeiros minutos de exibição já se sabe quem vai ficar com quem. Um longa feito apenas para distrair. Ideal para assistir numa tarde fria, enrolada numa manta e com uma xícara de chá na mão (pode ser chocolate quente também)


Ficha técnica
Direção e roteiro: Dennis Dugan
Exibição: Nos cinemas (exceto BH)
Distribuição: Califórnia Filmes
País: EUA
Duração: 1h36
Gênero: Comédia romântica

13 maio 2021

“Libelu – Abaixo a Ditadura”: quando a juventude quer mudar o mundo

Reunião da Libelu numa das salas da USP, local onde começou o movimento (Foto: Arquivo/ Jornal O Trabalho)

Mirtes Helena Scalioni


O que há em comum entre o comentarista global Demétrio Magnoli, o ilustrador e músico Cadão Volpato, o ex-ministro Antônio Palocci, a roteirista e blogueira Fernanda Pompeu, o economista e escritor Eduardo Giannetti, o jornalista Reinaldo Azevedo, o crítico de gastronomia Josimar Melo e o diretor executivo da CUT, Júlio Turra? Resposta rápida: todos – e mais outros tantos – fizeram parte, na década de 1970, de uma organização chamada Liberdade e Luta, cuja história está muito bem contada no documentário “Libelu – Abaixo a Ditadura”. 

Reinaldo Azevedo (Foto: João Saldanha/Boulevard Filmes)

O documentário será exibido em salas especiais de cinema no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília de hoje até o dia 19 de maio. Nas plataformas de OnDemand do Now, Vivo Play, Oi Play, Google Play, iTunes e Apple TV, "Libelu" estreia dia 27 de maio, para aluguel. A primeira exibição no Canal Brasil está agendada para 20 de julho e, em agosto, será a vez de a Globonews mostrar o documentário.

A direção, correta e sem muita invencionice, é de Diógenes Muniz, que conseguiu ouvir cerca de 20 ex-integrantes da Libelu, grupo que juntou, naqueles anos de chumbo, moças e rapazes trotskistas que acreditavam ser possível mudar o mundo. 

Cadão Volpato (João Saldanha/Boulevard Filmes)

Radicais, quase inconsequentes, os jovens faziam questão de dizer que a Liberdade e Luta, braço – digamos – mais despojado da OSI (Organização Socialista Internacionalista) não era um partido e sim uma tendência. Segundo alguns, o nome, criticado inicialmente pelos concorrentes por ser infantil e meio tatibitate, ganhou força e expressão pela seriedade e disposição da turma. Eram todos altamente politizados.

Encontro do Movimento Estudantil (Foto Arquivo/Jornal O Trabalho)

Criada em 1976 na USP, em plena vigência do AI-5, a Libelu fez história e é muito bom que isso tudo seja contado agora, quando cada um tomou seu rumo e, com distanciamento, consegue analisar – com saudade, desdém, complacência ou orgulho – as aventuras de um grupo que não hesitava em desafiar o todo-poderoso da repressão da época, o deputado e coronel Erasmo Dias. Um caso a parte é o depoimento de Antônio Palocci que, em prisão domiciliar, faz uma breve confissão de erros e arrependimentos.

Antônio Palocci (Foto: João Saldanha/Boulevard Filmes)

Além das entrevistas, o documentário exibe trechos de matérias da época, com direito a manifestações, passeatas, quebra-quebra, violência policial e valentias, além de uma entrevista que, na época, o jornalista Mino Carta fez com alguns representantes do grupo. 

Há casos deliciosos, como por exemplo, a história de um dos gritos de guerra mais usados pela tendência, “abaixo a ditadura”, uma sacada do então estudante Josimar Melo, que hoje optou por falar de algo mais leve: a gastronomia.

Josimar Melo (Foto: João Saldanha/Boulevard Filmes)

Bom também é ver senhores responsáveis e sérios lembrando e concordando que a tendência Libelu, diferentemente de outros agrupamentos de esquerda da época, gostava de rock. Enquanto os demais curtiam MPB e canções de protesto, a turma da Liberdade e Luta se permitia varar a noite em festas regadas a cerveja, Rolling Stones e Santana. 

Se as outras organizações eram caretas, eles eram modernos, sabiam ser alegres, namorar e dançar. Já naquela época, muitos se cumprimentavam com selinhos, independentemente de ser homem ou mulher.

Ricardo Pereira de Melo - making off (Foto: João Saldanha/Boulevard Filmes)

Outra particularidade da Libelu: embora fossem submetidos a uma disciplina mais ou menos rígida, os jovens se permitiam fazer política por meio da arte. Não era raro vê-los fantasiados pelas praças, galerias ou dentro dos ônibus, sempre com mensagens contra o regime militar. Ou então, interrompendo peças de teatro para fazer uma performance e dar seu recado de luta.

Talvez a juventude de hoje não compreenda as armas daquele tempo. Mas é difícil não se emocionar vendo “Libelu – Abaixo a Ditadura”. Quem sabe os jovens até gostem de saber que, em manifestações e assembleias daquele tempo sombrio, aqueles rapazes e moças idealistas usavam um grito de guerra que os enchia de vigor, energia e entusiasmo

Laura Batista - making off (Foto: João Saldanha/Boulevard Filmes)


A ideia veio do filme italiano “O incrível exército de Brancaleone”, de 1966, de Mario Monicelli, que conta as aventuras de um homem que, com coragem e valentia, forma um exército de soldados tão maltrapilhos quanto ele para percorrer a Europa do século XI montado num pangaré lutando pela terra que julgava ter direito. Não deixa de ser uma inspiração.


O documentário tem locação única, no prédio da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP), projetado pelo arquiteto Vilanova Artigas, também perseguido e exilado pelo regime militar (1964-1985).

Para Letícia Friedrich, produtora-executiva do projeto pela Boulevard Filmes, a obra, vencedora na categoria Melhor Documentário Nacional do Festival É Tudo Verdade 2020, dialoga com a atualidade política e cultural do país, apesar de resgatar um evento que se encerrou entre os anos 1970 e 1980. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Diógenes Muniz
Exibição: Dia 27 nas plataformas Now, Vivo Play, Oi Play, Google Play, iTunes e Apple TV (para alugar) // Dia 20/07 - Canal Brasil // Agosto - Globonews 
Produção: Boulevard Filmes / GloboNews / Globo Filmes / Canal Brasil
Distribuição: Boulevard Filmes
Duração: 1h35
Classificação: Livre
País: Brasil
Gênero: Documentário