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01 abril 2024

"Sem Memória Não Há Futuro" - Embaúba Play seleciona filmes sobre a Ditadura Militar e seus desdobramentos

Projeto inclui produções que estão disponíveis gratuitamente ou podem ser alugados no site da produtora (Fotos: Embaúba Play)


Da Redação
Com texto de Carla Maia - curadora da Embaúba Play


Há 60 anos, militares tomaram o poder com um golpe apoiado por boa parte da classe média e da elite econômica brasileira. Para mostrar um pouco da Ditadura Militar e seus desdobramentos, a Embaúba Play preparou uma seleção de filmes que tratam, cada um a seu modo, deste que foi o mais cruel e vergonhoso período da história brasileira.

Entre 1964 e 1985, milhares de cidadãos contrários ao regime totalitário foram censurados, perseguidos, torturados e exterminados. É um equívoco considerar que essa história pertence ao passado – o militarismo brasileiro segue forte, atuante e impune. 

A instituição da violência e a certeza da impunidade são legados ditatoriais que ainda hoje deixam vítimas e ameaçam nossa frágil democracia.

“Retratos de identificação”, de Anita Leandro

Algumas obras testemunham o passado, inscrevem nomes de vítimas e algozes na memória coletiva, expõem os efeitos nefastos da imposição da força bruta. 

Outras examinam o presente, reconhecendo nele as fagulhas da tragédia e as centelhas da esperança, para que seja possível, enfim, seguir em frente, entre a constatação do perigo e a necessidade da luta.

Lista de filmes que estão disponíveis gratuitamente ou podem ser alugados na Embaúba Play pelo site https://embaubaplay.com/

- “Retratos de identificação”, de Anita Leandro
- “Os dias com ele”, de Maria Clara Escobar
- “Procura-se Irenice”, de Marco Escrivão e Thiago B. Mendonça
- “Pastor Cláudio”, de Beth Formaggini
- “Estranho animal”, de Arthur B. Senra
- “A guerra dos gibis”, Thiago B. Mendonça e Rafael Terpins

“Tatuagem”, de Hilton Lacerda

- “Tatuagem”, de Hilton Lacerda
- "Num país estrangeiro”, Karen Akerman e Miguel Seabra Lopes
- “O golpe em 50 cortes ou a corte em 50 golpes”, de Lucas Campolina
- “Vento frio”, de Taciano Valério
- “Bloqueio”, de Victória Álvares e Quentin Delaroche
- “Quem tem medo?”, de Dellani Lima, Henrique Zanoni e Ricardo Alves Jr.
- "Vigília", de Rafael Urban
- “Entre nós talvez estejam multidões”, de Aiano Bemfica e Pedro Maia de Brito
- “Sementes: mulheres pretas no poder”, de Éthel Oliveira e Júlia Mariano


31 outubro 2021

História, ação e ideologia fazem de “Marighella” um filme imprescindível

Filme dirigido por Wagner Moura traz o cantor e ator Seu Jorge interpretando um dos maiores inimigos da ditadura militar brasileira (Fotos: Factoria Comunicação/Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Pode ser que uns e outros não gostem. Mas fica claro, desde o início, que no filme “Marighella", direção de Wagner Moura, o personagem é apresentado e conduzido como o grande inimigo da ditadura militar, valente defensor da democracia e da liberdade. A posição política do diretor é explícita e talvez venha daí a honestidade do longa que, em 2h35 minutos, narra os últimos cinco anos do líder da ALN – Ação Libertadora Nacional. 


A produção, filmada na Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, estreia nos cinemas no próximo dia 4 de novembro, há exatos 52 anos do assassinato de Marighella. Passou por importantes festivais pelo mundo - Berlim, Seattle, Hong Kong, Sydney, Santiago, Havana, Istambul, Atenas, Estocolmo, Cairo -, além de cerca de 30 exibições em países dos cinco continentes, e terá pré-estreias a partir do dia 1º de novembro em todo Brasil.


O recorte da biografia do político, escritor e guerrilheiro baiano no filme vai do golpe militar de 1964 até 1969, quando ele foi assassinado numa emboscada nas ruas de São Paulo. Mostrado como aglutinador, inteligente, criativo e corajoso, Carlos Marighella é interpretado na medida por Seu Jorge, que tem se revelado, além de cantor, um ator de talento, sempre expressivo quando seu rosto é explorado em closes.

Carlos Marighella (esquerda) é interpretado por Seu Jorge (direita)

É impossível sair ileso do filme, que entra em cartaz nos cinemas do Brasil com dois anos de atraso, segundo consta, por problemas provocados pela Ancine – Agência Nacional do Cinema – que fez de tudo para barrar a exibição do primeiro trabalho do ator Wagner Moura na direção, mesmo depois dele ter sido aplaudido de pé no Festival de Berlim, em 2019. 


“Marighella” é essencialmente didático e nitidamente popular, capaz de prender e emocionar pessoas das mais diferentes idades e - quem sabe - ideologias. E pode até agradar os que apreciam filmes de ação e tiroteios. Veja o vídeo especial sobre quem foi Marighella clicando aqui.


Baseado na biografia escrita por Mário Magalhães em 2012, o roteiro do longa - de Felipe Braga e Wagner Moura - é enriquecido com uma sacada inteligente: como eram muitos os guerrilheiros liderados por Marighella, os atores que os interpretam no filme aparecem com seus próprios nomes, como se representassem todos eles. 

Assim, Humberto Carrão, por exemplo, é o jovem guerrilheiro Humberto; Bella Carneiro simboliza a presença feminina como Bella, Henrique Vieira marca a atuação da igreja no movimento como frei Henrique e assim por diante.


Estão também no elenco artistas experientes e brilhantes como Bruno Gagliasso, convencendo satisfatoriamente como o desprezível Lúcio, delegado e torturador; Herson Capri como o empresário de imprensa Jorge Salles, Luiz Carlos Vasconcelos como o militante maduro Branco, e Adriana Esteves (em papel pequeno, mas marcante) como Clara, a mulher de Marighella.


É preciso destacar ainda a perfeita reconstituição de época do filme. Impossível não perceber que todos se locomovem de Fusca ou de Rural Willys, por mais perigosa que seja a ação. Outro destaque é a trilha sonora que, desde o início, mostra a que veio com hip hops de letras engajadas.


Mesmo que pareça parcial, mesmo que seja uma homenagem a um homem que nem todos admiram e aplaudem, “Marighella” é um filme imprescindível por colocar nas conversas o nome de alguém que não entrou nos livros de História do Brasil, apesar de ter lutado e morrido pelo que acreditava. Não dá para desprezar a trajetória de alguém que vivia repetindo: “Não tenho tempo para ter medo”.


Ficha técnica:
Direção: Wagner Moura
Exibição: nos cinemas
Produção: O2 Filmes / Globo Filmes / Maria da Fé
Distribuição: Paris Filmes / Downtown Filmes
Duração: 2h35
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gêneros: Drama / Biografia

13 maio 2021

“Libelu – Abaixo a Ditadura”: quando a juventude quer mudar o mundo

Reunião da Libelu numa das salas da USP, local onde começou o movimento (Foto: Arquivo/ Jornal O Trabalho)

Mirtes Helena Scalioni


O que há em comum entre o comentarista global Demétrio Magnoli, o ilustrador e músico Cadão Volpato, o ex-ministro Antônio Palocci, a roteirista e blogueira Fernanda Pompeu, o economista e escritor Eduardo Giannetti, o jornalista Reinaldo Azevedo, o crítico de gastronomia Josimar Melo e o diretor executivo da CUT, Júlio Turra? Resposta rápida: todos – e mais outros tantos – fizeram parte, na década de 1970, de uma organização chamada Liberdade e Luta, cuja história está muito bem contada no documentário “Libelu – Abaixo a Ditadura”. 

Reinaldo Azevedo (Foto: João Saldanha/Boulevard Filmes)

O documentário será exibido em salas especiais de cinema no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília de hoje até o dia 19 de maio. Nas plataformas de OnDemand do Now, Vivo Play, Oi Play, Google Play, iTunes e Apple TV, "Libelu" estreia dia 27 de maio, para aluguel. A primeira exibição no Canal Brasil está agendada para 20 de julho e, em agosto, será a vez de a Globonews mostrar o documentário.

A direção, correta e sem muita invencionice, é de Diógenes Muniz, que conseguiu ouvir cerca de 20 ex-integrantes da Libelu, grupo que juntou, naqueles anos de chumbo, moças e rapazes trotskistas que acreditavam ser possível mudar o mundo. 

Cadão Volpato (João Saldanha/Boulevard Filmes)

Radicais, quase inconsequentes, os jovens faziam questão de dizer que a Liberdade e Luta, braço – digamos – mais despojado da OSI (Organização Socialista Internacionalista) não era um partido e sim uma tendência. Segundo alguns, o nome, criticado inicialmente pelos concorrentes por ser infantil e meio tatibitate, ganhou força e expressão pela seriedade e disposição da turma. Eram todos altamente politizados.

Encontro do Movimento Estudantil (Foto Arquivo/Jornal O Trabalho)

Criada em 1976 na USP, em plena vigência do AI-5, a Libelu fez história e é muito bom que isso tudo seja contado agora, quando cada um tomou seu rumo e, com distanciamento, consegue analisar – com saudade, desdém, complacência ou orgulho – as aventuras de um grupo que não hesitava em desafiar o todo-poderoso da repressão da época, o deputado e coronel Erasmo Dias. Um caso a parte é o depoimento de Antônio Palocci que, em prisão domiciliar, faz uma breve confissão de erros e arrependimentos.

Antônio Palocci (Foto: João Saldanha/Boulevard Filmes)

Além das entrevistas, o documentário exibe trechos de matérias da época, com direito a manifestações, passeatas, quebra-quebra, violência policial e valentias, além de uma entrevista que, na época, o jornalista Mino Carta fez com alguns representantes do grupo. 

Há casos deliciosos, como por exemplo, a história de um dos gritos de guerra mais usados pela tendência, “abaixo a ditadura”, uma sacada do então estudante Josimar Melo, que hoje optou por falar de algo mais leve: a gastronomia.

Josimar Melo (Foto: João Saldanha/Boulevard Filmes)

Bom também é ver senhores responsáveis e sérios lembrando e concordando que a tendência Libelu, diferentemente de outros agrupamentos de esquerda da época, gostava de rock. Enquanto os demais curtiam MPB e canções de protesto, a turma da Liberdade e Luta se permitia varar a noite em festas regadas a cerveja, Rolling Stones e Santana. 

Se as outras organizações eram caretas, eles eram modernos, sabiam ser alegres, namorar e dançar. Já naquela época, muitos se cumprimentavam com selinhos, independentemente de ser homem ou mulher.

Ricardo Pereira de Melo - making off (Foto: João Saldanha/Boulevard Filmes)

Outra particularidade da Libelu: embora fossem submetidos a uma disciplina mais ou menos rígida, os jovens se permitiam fazer política por meio da arte. Não era raro vê-los fantasiados pelas praças, galerias ou dentro dos ônibus, sempre com mensagens contra o regime militar. Ou então, interrompendo peças de teatro para fazer uma performance e dar seu recado de luta.

Talvez a juventude de hoje não compreenda as armas daquele tempo. Mas é difícil não se emocionar vendo “Libelu – Abaixo a Ditadura”. Quem sabe os jovens até gostem de saber que, em manifestações e assembleias daquele tempo sombrio, aqueles rapazes e moças idealistas usavam um grito de guerra que os enchia de vigor, energia e entusiasmo

Laura Batista - making off (Foto: João Saldanha/Boulevard Filmes)


A ideia veio do filme italiano “O incrível exército de Brancaleone”, de 1966, de Mario Monicelli, que conta as aventuras de um homem que, com coragem e valentia, forma um exército de soldados tão maltrapilhos quanto ele para percorrer a Europa do século XI montado num pangaré lutando pela terra que julgava ter direito. Não deixa de ser uma inspiração.


O documentário tem locação única, no prédio da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP), projetado pelo arquiteto Vilanova Artigas, também perseguido e exilado pelo regime militar (1964-1985).

Para Letícia Friedrich, produtora-executiva do projeto pela Boulevard Filmes, a obra, vencedora na categoria Melhor Documentário Nacional do Festival É Tudo Verdade 2020, dialoga com a atualidade política e cultural do país, apesar de resgatar um evento que se encerrou entre os anos 1970 e 1980. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Diógenes Muniz
Exibição: Dia 27 nas plataformas Now, Vivo Play, Oi Play, Google Play, iTunes e Apple TV (para alugar) // Dia 20/07 - Canal Brasil // Agosto - Globonews 
Produção: Boulevard Filmes / GloboNews / Globo Filmes / Canal Brasil
Distribuição: Boulevard Filmes
Duração: 1h35
Classificação: Livre
País: Brasil
Gênero: Documentário