24 maio 2021

"Fuja" é um suspense tenso, com bom elenco e um final que surpreende

Produção conta com as ótimas interpretações de Sarah Paulson e Kiera Allen como protagonistas (Fotos: Netflix)


Maristela Bretas


O tema da mãe que mantém o controle de um filho por meio da doença já foi explorado outras vezes no cinema e em séries de TV. Mas o diretor e roteirista Aneesh Chaganty soube fazer em "Fuja" ("Run") uma abordagem bem interessante, tensa e direta, que prende o espectador do início ao fim. E que fim! Em exibição na Netflix, o longa foca a história nas atrizes Sarah Paulson ("Vidro" - 2019 e "Oito Mulheres e Um Segredo" - 2018) e na ótima estreante Kiera Allen.


Paulson é Diane Sherman, uma mulher gentil com todos e um "modelo de mãe dedicada". Allen é a filha Chloe Sherman, paraplégica, que consegue levar uma vida quase normal com a ajuda de Diane, da cadeira de rodas e dos remédios que toma para os inúmeros problemas de saúde que tem - arritmia, diabetes, asma. As duas moram num local isolado, distante da cidade, ensino caseiro, sem telefone, celular e com uso de internet controlado.

Mas a adolescência chega e Chloe quer fazer amigos e conviver com pessoas de sua idade e frequentar uma faculdade. A mãe não gosta da ideia e faz o possível para continuar mantendo a filha sob seu domínio. A jovem começa a desconfiar do comportamento estranho dela quando descobre que um remédio receitado para a mãe está sendo dado a ela. A partir daí, as coisas começam a ficar tensas na casa e na relação das duas.


"Fuja" trabalha com essa relação de duas pessoas vivendo 24 horas juntas, evitando o máximo de contato com o restante do mundo, o que não é nada comum nem saudável. O longa deixa claro desde o início que há algo suspeito nesse "amor integral e absoluto" de Diane pela filha. A tensão vai crescendo a cada cena. Afinal, quem é a paranoica da história - mãe ou filha?

Kiera Allen entrega uma ótima atuação, passando para o público a angústia e o desespero nos confrontos com a mãe e na busca por liberdade. Seu maior desejo é deixar de estudar em casa e ser aceita em uma faculdade. A aflição dela em algumas situações, como a da bombinha de asma (quem é asmático conhece o sofrimento!) é angustiante. Um detalhe: A atriz é cadeirante na vida real, o que deu ainda mais veracidade ao personagem.


Como era de se esperar, também a interpretação de Sarah Paulson como a mãe é ótima. Uma mulher de olhar doce, mas assustador ao mesmo tempo. Em pequenos detalhes é possível perceber que ela esconde algo do passado e apresenta uma loucura prestes a explodir se contrariada. 

"Fuja" tenta explicar, sem amenizar, a Síndrome de Münchhausen, um transtorno mental que faz o paciente provocar doenças propositalmente em crianças para mantê-las sob o seu domínio. Apesar de algumas cenas serem previsíveis, como no caso da van e da farmácia, a história não perde o ritmo. O final surpreende e agrada, como deve ser um bom suspense, bem direto. Vale conferir.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Aneesh Chaganty
Exibição: Netflix
Duração: 1h29
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gênero: Suspense
Nota: 4 (de 0 a 5)

23 maio 2021

"Godzilla vs. Kong" - Batalha de titãs com ótimos efeitos especiais, mas roteiro fraco

Longa dirigido por Adam Wingard oferece grandes batalhas, no mar e em terra (Fotos: Warner Bros. Pictures/Divulgação)


Maristela Bretas


Um dos blockbusters mais esperados do ano, "Godzilla vs. Kong" entrega ótimas batalhas entre os dois gigantescos monstros, esbanjando em efeitos gráficos, nas cores e na destruição de cidades, como já era esperado. Mas deixou a desejar em roteiro e atuações, ao contrário dos outros três filmes de cada titã que anunciam para este encontro - "Kong - A Ilha da Caveira" (2017) e "Godzilla II: Rei dos Monstros" (2109), que repete parte do elenco nesta versão. E, claro, "Godzilla" (2014), que reforça os dramas pessoais e deixa a grande estrela como coadjuvante.

Este é o quarto filme do Monstroverso da Legendary Entertainment, o 36º filme da franquia Godzilla e o 12º filme da franquia King Kong. Se não fossem os três gigantes (sim são três, mas só assistindo o longa para entender), "Godzilla vs. Kong" não passaria de um filme de monstros gigantes no estilo japonês dos anos de 1970. Como seriados de TV antigos - "Ultraman" e "Ultraseven"-, por exemplo. 


A produção sobrevive graças aos milhões gastos com esses efeitos nos momentos de lutas e ataques grandiosos que acontecem desde o início do filme. São eles que não deixam a história ficar sonolenta. O elenco não tão caro, mas formado por nomes famosos - Millie Bobby Brown, Alexander Skarsgärd, Rebecca Hill e Kyle Chandler - flutua no cenário, como simples coadjuvantes, deixando bem claro quem são as verdadeiras estrelas. 


Brian Tyree Henry faz um papel chato, que chega a ser bobo em algumas cenas. Ele é um técnico em engenharia que vive tentando provar que seu patrão está envolvido em um grande complô mundial. A simpatia do filme fica para Kaylee Hottle, interpretando Jia, a menina que se tornou amiga de Kong e se comunica com ele por sinais. A escolha de uma chinesa foi mais um dos acertos dos produtores, de olho na bilheteira do maior mercado deste gênero.


"Godzilla vs. Kong" divide opiniões e torcidas desde que foi lançado no início de maio. Confesso que sempre simpatizei mais com o gorilão e acho "King Kong: A Ilha da Caveira" melhor que esta nova versão, que mostra o personagem mais triste, desejando voltar para seu lar original. 

Retirado do local onde reinava, ele agora vive dentro de uma área cercada, é estudado por cientistas e convive com humanos, tendo a pequena Jia como sua amiga. Até que Godzilla retorna à superfície e passa a atacar pessoas e cidades, sem motivos aparentes. Kong é usado por seus "protetores" para enfrentar o inimigo poderoso. Por trás dos panos, um empresário da tecnologia tenta encontrar a origem da força do raio de Godzilla.


Nesta versão, Kong apanha muito, mostra suas fraquezas e tem de usar sua força descomunal e o raciocínio para vencer o famoso lagarto gigante, e ainda enfrentar um terceiro inimigo mais forte que ele e Godzilla juntos.

Se o espectador não assistiu aos filmes anteriores terá dificuldade em entender como os titãs surgiram. O longa começa sem explicar nada da origem dos monstros e termina deixando novas interrogações - como começou a rivalidade entre eles se ambos vieram do mesmo lugar? Quem construiu o reino da Terra Oca? Outros monstros podem atacar a superfície?


Ou seja, caso haja um novo crossover do Monstroverso, o roteiro precisa ser mais bem trabalhado, explicar estas dúvidas para se justificar e conectar com as produções anteriores. E apostar forte tanto nos personagens gigantescos quanto no elenco. Inclusive no vilão, que nessa versão é muito fraco e dá a impressão de que só estava lá porque não havia outro para ficar no lugar. 

O elenco em segundo plano dá lugar às locações em paisagens paradisíacas de tirar o fôlego, em sua maioria, no Havaí. Foram usadas as florestas das selvas da ilha de Oahu para criar a reserva ecológica protegida da Ilha da Caveira, onde Kong e Jia residem com pesquisadores da Monarch. 

Praia de Honopu, em Oahu, uma das locações no Havaí (Divulgação)

O Centro de Convenções do Havaí ofereceu alternativas para criar uma ampla variedade de sets tanto para a Monarch quanto para a Apex, empresa do vilão Walter Simmons (papel de Demian Bichir). Houve ainda filmagens em locações como Lanai Lookout, os Palcos Kapolei, o Parque Estadual Sand Island, além de vários endereços na capital de Honolulu e em toda a ilha, além de gravações em Queensland, na Austrália.


Além dos efeitos gráficos e de luz e da fotografia, outro ponto positivo é a trilha sonora, com a música de abertura de Tom Holkenborg causando o impacto no público que o filme precisava e merecia. Cada monstro recebeu uma trilha própria, todas ótimas, mesmo com acordes bem parecidos. 

Achei, no entanto, que ficou deslocada a música de encerramento, que tenta mudar tudo o que foi mostrado nos 110 minutos anteriores. Ela tenta remeter a uma proposta de amizade e preservação ambiental, que só é apresentada nos minutos finais.

Como entretenimento, "Godzilla vs. Kong" vale a pena pelos excelentes efeitos e cumpre sua proposta, fazendo jus à famosa frase do cinema "Luz, câmera, ação". Pena ter deixado o roteiro em segundo plano.


Ficha técnica:
Direção: Adam Wingard
Exibição: Nos cinemas e em junho no HBO Max Brasil para assinantes
Produção: Legendary Pictures / Warner Bros
Distribuição: Warner Bros. Pictures.
Duração: 1h54
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: Ação / Aventura / Ficção
Nota: 3,5 (de 0 a 5)