31 maio 2021

"Army of the Dead" tenta inovar em filme de zumbis e falha monstruosamente

Mercenários precisam roubar um cassino e fugir dos milhares de mortos-vivos que invadiram Las Vegas (Fotos: Netflix/Divulgação)


Jean Piter Miranda


Dave Bautista deixa de ser um guardião da galáxia para se tornar o mercenário Scott Ward  em "Army of the Dead: Invasão em Las Vegas", novo filme do diretor Zack Snider, que está entre os dez mais assistidos na Netflix. Ele terá de arrombar o cofre subterrâneo de um cassino de Las Vegas e pegar uma fortuna de 200 milhões de dólares. 

Se isso não é difícil o suficiente, imagine em uma cidade tomada por zumbis e super zumbis inteligentes, rápidos e fortes. Para piorar, ele e seus amigos deverão entrar e sair com vida e com a grana, correndo contra o tempo, já que a o local vai ser bombardeado por armas nucleares para tentar exterminar os mortos vivos. 
 

Tudo começa quando Las Vegas é tomada por zumbis. Mas não são do tipo comum que se vê em outras produções. Esses são tão velozes e fortes quanto um super-herói, além de muito inteligentes. O governo faz um muro em volta da cidade e deixa os seres, de certa forma, presos. E assim, a terra dos cassinos se torna o reino dos super zumbis. 

Do lado de fora, Ward, um herói de guerra, vive da venda de hambúrgueres. Ele é procurado por Bly Tanaka (Hiroyuki Sanada), um empresário de cassinos que faz a seguinte proposta: formar uma equipe, entrar em Vegas, arrombar um cofre, pegar o dinheiro e sair sem ser pego pelos zumbis. Missão arriscadíssima, mas que ele topa. Aí começa a ação. 


Você vê o trailer e pensa que o filme vai ser muito bom. Mas, aos poucos, os problemas vão aparecendo. É tudo muito corrido para mostrar como a cidade foi tomada. Ward é sobrevivente e herói da grande batalha contra os zumbis. Um ex-combatente sem grana, que leva uma vida simples e cheia de dificuldades. Um clichê já visto em muitos filmes. Um cara durão que vai ser procurado para uma missão que só ele é capaz de realizar. Um homem que tem traumas de guerra. Que recusa, mas depois acha um motivo pra aceitar.

Ward vai formar a equipe. Claro que seus antigos parceiros mercenários aceitam participar da ação. E também vão achar gente nova. Cada um com suas características, um time bem diversificado. Ele tem que procurar uma pessoa específica pra ajudar a penetrar na cidade e que já tenha conseguido entrar e sair de lá. No grupo há conflito familiar e desconfiança entre os membros. Como era de se esperar, tem ainda aquela fórmula incorreta de roteiro: o “vilão” é sempre asiático, árabe, russo, latino ou alemão. É um pacotão de clichês. 


Zack Snyder que já mandou muito bem em “300” (2006), “Watchmen” (2009) e recentemente em “Liga da Justiça – Snyder Cut (2021) agora derrapa. Ao tentar fazer um filme de ação que não fosse raso, ele erra pelo excesso. Roubar o cofre, sair com vida e ter uma vida melhor. 

Exterminar os super zumbis que ameaçam a humanidade. Resgatar gente em uma cidade tomada por monstros. Salvar o mundo e reconciliar com alguém que se ama. São pontos que, normalmente, sozinhos, funcionam. Mas tudo junto é complicado. 


É inegável que as cenas de ação, maquiagem e efeitos visuais são muito bons. Quem viu Bautista na época de WWE, no pró-wrestling, vai pegar algumas referências nas cenas de luta. É um presente para os fãs, bem entregue. Tem muito tiro, explosões e mortes, se é que pode chamar de morte matar um morto-vivo. 

Dá para divertir. Mas não se deve esperar muito. Não há nada de novo no filme. Tudo começa e termina sem muita surpresa. A história fica aberta. Se tiver boa aceitação, pode haver, em breve, uma continuação. 


Ficha técnica:
Direção: Zack Snyder
Exibição: Netflix
Duração: 2h28
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: Ação / Aventura / Terror
Nota: 3 (de 0 a 5)

26 maio 2021

Melancólico e intimista, “Alvorada” mostra os últimos dias de Dilma na presidência

Documentário estreia simultaneamente nos cinemas e nas plataformas de streaming dia 27 de maio (Fotos: Vitrine Filmes/Divulgação)

Jean Piter Miranda


Como foram os dias que antecederam a votação do “impeachment” no Congresso Nacional? Mais especificamente, como foram os últimos dias da presidenta Dilma Rousseff no Palácio da Alvorada? Isso é o que podemos ver em “Alvorada”, documentário dirigido por Anna Muylaert, de “Que Horas Ela Volta”(2015), e Lô Politi. A produção estreia nesta quinta-feira (27), nos cinemas e nas plataformas de streaming Now, Oi e Vivo Play. 

Que foi um golpe todo mundo sabe. O ex-presidente Michel Temer confessou. A autora do pedido de “impeachment”, Janaína Paschoal, também admitiu. Tem o áudio da conversa entre o ex-senador Romero Jucá (MDB) e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, admitindo que havia um “grande acordo nacional, com o Supremo, com tudo”. Vários outros deputados, dirigentes partidários, juristas e cientistas políticos disseram o mesmo. 


A então presidenta Dilma Rousseff não caiu por problemas de contabilidade (pedaladas fiscais), nem por ter cometido algum crime. Foi tudo uma farsa, um teatro para fingir que tudo estava sendo feito dentro da lei. 

Diferente de outros documentários em que há um narrador, em "Alvorada", as imagens vão sendo conduzidas por si só. A sensação é de que são os olhos de alguém dentro do Palácio da Alvorada, a residência oficial do presidente ou presidenta da República. O filme acompanha o dia a dia no Alvorada, com Dilma, seus assessores, ministros e apoiadores. Tudo é passado de um ponto de vista de dentro do Palácio. 

Ao longo do filme são apresentados trechos de diálogos entre ministros, assessores e a presidenta. Mas não há nenhuma conversa do tipo secreta que mostre estratégias de defesa ou articulações políticas para evitar o golpe. A grande novidade é o ambiente, o clima dos últimos dias de Dilma no governo. Algo que não foi exibido em outros documentários e reportagens especiais sobre o tema. 


“Alvorada” mostra os cozinheiros e faxineiros em suas rotinas. O povo da manutenção, os guardas e as secretárias. Os rostos anônimos de pessoas comuns sem os quais o Palácio não funciona. E só assim é que o expectador realmente se dá conta de que se trata literalmente de um Palácio, em proporções e dimensão. São centenas de pessoas trabalhando todos os dias no local. 

Outro ponto alto de “Alvorada” são as visitas que Dilma recebe, em atos de solidariedade. São muitos e muitos amigos, artistas, deputados, senadores, dirigente partidários, lideranças de movimentos sociais e sindicalistas se encontrando com a presidenta. O que mostra que embora ela tenha sido julgada individualmente, em momento algum ela esteve sozinha.

Muitos rostos conhecidos passam pelo Alvorada. Lula, Boulos, Chico Buarque e vários outros. A pessoa que acompanha a política mais de perto vai reconhecer as deputadas Maria do Rosário e Jandira Feghali, a senadora Kátia Abreu, os então ministros José Eduardo Cardozo e Aloizio Mercadante, e até mesmo os líderes sindicais e de movimentos sociais. 


Por vezes, Dilma conversa com a câmera. Fala de tudo um pouco. Inclusive sobre a sensação de estar sendo filmada o tempo todo. Conta histórias. Sorri. É uma produção, de certa forma, bem intimista. É muito sobre a presidenta e mais ainda sobre o Palácio. Até os acontecimentos externos são mostrados a partir de algum ponto do Alvorada, visto por TVs. 

O documentário não procura explicar como o golpe aconteceu, nem como a defesa de Dilma foi construída. Não fala sobre articulações políticas, negociações ou alianças. Mostra um misto de tensão e melancolia. Sensações que não passam, uma vez que todo mundo sabe o desfecho dessa história. E é por isso que ele é bom. Por mostrar os fatos sob um outro ângulo que as pessoas ainda não tinham visto.


Ficha técnica:
Direção: Anna Muylaert e Lô Politi
Exibição: cinemas e plataformas Now, Oi e Vivo Play
Produção: África Filmes / Dramática Filmes / Cup Filmes
Distribuição: Vitrine Filmes
Duração: 1h20
Classificação: 10 anos
País: Brasil
Gênero: Documentário