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11 outubro 2023

“Meu Nome é Gal” é a própria exaltação ao poder transformador da música, com suas dores e delícias

Sophie Charlotte tem atuação magistral da cantora em suas muitas fases e nuances (Fotos: Stella Carvalho/Dramática Filmes)


Mirtes Helena Scalioni


Filmes – e livros – que optam por fazer um recorte na vida de uma figura pública importante correm o risco de deixar alguma frustração em fãs ou admiradores mais exigentes do biografado. Sempre fica uma lacuna, sempre falta. 

Esse não parece ser, no entanto, o caso da cinebiografia “Meu Nome é Gal”, cuja direção, inteligentemente, escolheu o período de 1966 a 1971, que conta, exatamente, do nascimento artístico da cantora até seu estouro com o show “Fa-tal, Gal a Todo Vapor” (1971), como símbolo da contracultura e da resistência à ditadura militar da época. O longa entra em cartaz nesta quinta-feira (12) nos cinemas.


Outro acerto do filme, que foi dirigido com visível sensibilidade por Dandara Ferreira e Lô Politi: o longa resiste à tentação de detalhar a vida pessoal da artista. As roteiristas Maira Bühler e Mirna Nogueira se concentraram quase que exclusivamente na metamorfose – nem sempre fácil - da baianinha tímida em um vulcão tropicalista. 

Fica claro, desde o início, que a grande protagonista da história é a força transformadora da música. Pode-se dizer que “Meu Nome é Gal” é um filme feminino, não apenas pelo número de mulheres na ficha da produção. E não é sobre Maria da Graça Costa Penna Burgos. É sobre Gal Costa, cuja mãe, Mariah (Chica Carelli) aparece rápida e pontualmente.


Quando chegou ao Solar da Fossa, uma pensão no Botafogo, no Rio de Janeiro, onde já se hospedavam Gil, Caetano, Betânia e Dedé, a baiana Gracinha encontrou amigos e ambiente propício para exercer sua arte. Não foi fácil vencer barreiras, e isso fica claro no filme, também pelas interpretações dos atores e atrizes envolvidos no clã. 

Merecem destaque Camila Márdila como Dedé Gadelha, Rodrigo Lelis como Caetano Veloso, Dan Ferreira como Gilberto Gil, George Sauma como Waly Salomão, a própria diretora Dandara Ferreira como Betânia, e Luis Lobianco como o divertido Guilherme Araújo, o primeiro empresário dos baianos. 


Os figurinos de Gabriella Marra e a reconstituição perfeita de cenários e paisagens da época são impecáveis. A cena da turma toda na praia do Arpoador, no Rio, no espaço que ficou conhecido como “dunas da Gal”, é deliciosamente irresistível. 

A bela trilha ficou a cargo de Otavio de Moraes, também responsável pelo longa "Ângela", dirigido por Hugo Prata, que pode ser conferido no Prime Video. Ganham destaque no filme as canções “Meu Nome é Gal”, composta por Erasmo e Roberto Carlos em 1969, “Baby”, “Divino Maravilhoso”, “Eu Vim da Bahia”, “Alegria, Alegria”, “Coração Vagabundo”, “Mamãe, Coragem”, “Vaca Profana”, “Festa do Interior”, entre outras.


Talvez o único senão de “Meu Nome é Gal” esteja mais para o final do filme, quando o longa praticamente deixa de ser uma cinebiografia para lembrar a cantora com imagens de arquivo. 

Sem nenhuma novidade, já que, com a morte recente da baiana (novembro de 2022), fotos, shows e entrevistas disponíveis foram exaustivamente exibidas – o que, de certa forma, reduz o impacto que o roteiro vinha causando. Um quase anticlímax.


Muito se tem falado também da interpretação irrepreensível de Sophie Charlotte como Gal. Com razão. A atriz tem atuação magistral da cantora em suas muitas fases e nuances e ajuda muito o espectador a compreender sua transformação artística em todas as suas dores e delícias. 

O filme é, antes de tudo, uma homenagem à Gal Costa, artista de voz privilegiada e inconfundível. O público da nova geração tem uma ótima oportunidade de conhecer a importância da artista para o Brasil. E os que acompanharam sua carreira vão, certamente, se emocionar ao recordar tempos difíceis e ao mesmo tempo profícuos da arte brasileira. Impossível não chorar.


Ficha técnica:
Direção: Dandara Ferreira e Lô Politi
Roteiro: Lô Politi, Maíra Bühler e Mirna Nogueira
Produção: Paris Entretenimento e Dramática Filmes, em coprodução com Globo Filmes, Telecine e California Filmes
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2 horas
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gênero: biografia

26 maio 2021

Melancólico e intimista, “Alvorada” mostra os últimos dias de Dilma na presidência

Documentário estreia simultaneamente nos cinemas e nas plataformas de streaming dia 27 de maio (Fotos: Vitrine Filmes/Divulgação)

Jean Piter Miranda


Como foram os dias que antecederam a votação do “impeachment” no Congresso Nacional? Mais especificamente, como foram os últimos dias da presidenta Dilma Rousseff no Palácio da Alvorada? Isso é o que podemos ver em “Alvorada”, documentário dirigido por Anna Muylaert, de “Que Horas Ela Volta”(2015), e Lô Politi. A produção estreia nesta quinta-feira (27), nos cinemas e nas plataformas de streaming Now, Oi e Vivo Play. 

Que foi um golpe todo mundo sabe. O ex-presidente Michel Temer confessou. A autora do pedido de “impeachment”, Janaína Paschoal, também admitiu. Tem o áudio da conversa entre o ex-senador Romero Jucá (MDB) e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, admitindo que havia um “grande acordo nacional, com o Supremo, com tudo”. Vários outros deputados, dirigentes partidários, juristas e cientistas políticos disseram o mesmo. 


A então presidenta Dilma Rousseff não caiu por problemas de contabilidade (pedaladas fiscais), nem por ter cometido algum crime. Foi tudo uma farsa, um teatro para fingir que tudo estava sendo feito dentro da lei. 

Diferente de outros documentários em que há um narrador, em "Alvorada", as imagens vão sendo conduzidas por si só. A sensação é de que são os olhos de alguém dentro do Palácio da Alvorada, a residência oficial do presidente ou presidenta da República. O filme acompanha o dia a dia no Alvorada, com Dilma, seus assessores, ministros e apoiadores. Tudo é passado de um ponto de vista de dentro do Palácio. 

Ao longo do filme são apresentados trechos de diálogos entre ministros, assessores e a presidenta. Mas não há nenhuma conversa do tipo secreta que mostre estratégias de defesa ou articulações políticas para evitar o golpe. A grande novidade é o ambiente, o clima dos últimos dias de Dilma no governo. Algo que não foi exibido em outros documentários e reportagens especiais sobre o tema. 


“Alvorada” mostra os cozinheiros e faxineiros em suas rotinas. O povo da manutenção, os guardas e as secretárias. Os rostos anônimos de pessoas comuns sem os quais o Palácio não funciona. E só assim é que o expectador realmente se dá conta de que se trata literalmente de um Palácio, em proporções e dimensão. São centenas de pessoas trabalhando todos os dias no local. 

Outro ponto alto de “Alvorada” são as visitas que Dilma recebe, em atos de solidariedade. São muitos e muitos amigos, artistas, deputados, senadores, dirigente partidários, lideranças de movimentos sociais e sindicalistas se encontrando com a presidenta. O que mostra que embora ela tenha sido julgada individualmente, em momento algum ela esteve sozinha.

Muitos rostos conhecidos passam pelo Alvorada. Lula, Boulos, Chico Buarque e vários outros. A pessoa que acompanha a política mais de perto vai reconhecer as deputadas Maria do Rosário e Jandira Feghali, a senadora Kátia Abreu, os então ministros José Eduardo Cardozo e Aloizio Mercadante, e até mesmo os líderes sindicais e de movimentos sociais. 


Por vezes, Dilma conversa com a câmera. Fala de tudo um pouco. Inclusive sobre a sensação de estar sendo filmada o tempo todo. Conta histórias. Sorri. É uma produção, de certa forma, bem intimista. É muito sobre a presidenta e mais ainda sobre o Palácio. Até os acontecimentos externos são mostrados a partir de algum ponto do Alvorada, visto por TVs. 

O documentário não procura explicar como o golpe aconteceu, nem como a defesa de Dilma foi construída. Não fala sobre articulações políticas, negociações ou alianças. Mostra um misto de tensão e melancolia. Sensações que não passam, uma vez que todo mundo sabe o desfecho dessa história. E é por isso que ele é bom. Por mostrar os fatos sob um outro ângulo que as pessoas ainda não tinham visto.


Ficha técnica:
Direção: Anna Muylaert e Lô Politi
Exibição: cinemas e plataformas Now, Oi e Vivo Play
Produção: África Filmes / Dramática Filmes / Cup Filmes
Distribuição: Vitrine Filmes
Duração: 1h20
Classificação: 10 anos
País: Brasil
Gênero: Documentário