31 janeiro 2022

"Tratamento de Realeza" - romance trivial com elenco miscigenado

Mena Massoud e Laura Marano formam o casal que vai viver uma história no estilo Cinderela (Fotos: Kirsty Griffin/Netflix)


Silvana Monteiro


Elenco distinto, humor, uma pitada de musical e romance é o que promete o mais novo título da Netflix - "Tratamento de Realeza" (”The Royal Treatment”) - que está na lista dos top 10. Estrelado por Mena Massoud o ator canadense de origem egípcia que fez sucesso como "Aladdin" (2019), e Laura Marano, de "Lady Bird: a Hora de Voar” (2018), o filme é mais um daqueles clichês que retrata o envolvimento de um nobre e uma plebeia.



Izzy (Marano, que também é uma das produtoras do filme) é uma cabeleireira nova-iorquina de origem italiana, que vive na ralação e no vermelho, enquanto que Thomas (Massoud) é o príncipe sério e dedicado, de uma pequenina nação europeia.


A jovem é confundida com outra profissional e acaba indo prestar serviço para o príncipe, exatamente em um dos momentos mais importantes da vida dele. O contato entre cabeleireira e príncipe é muito amistoso e joga luz sobre a situação vivida por ele em relação ao casamento arranjado a que ele deve se submeter para salvar o reino.


Embora centrado no chavão romance entre uma pessoa comum e um integrante da realeza às vésperas de um casamento arranjado, o filme sai na frente ao apresentar um elenco negro na monarquia, incomum em filmes dessa temática. As cenas externas ao castelo, quando os protagonistas visitam a província de Lavania, são incríveis e burlescas.


Chama a atenção o fato de os súditos representarem uma linda mistura étnica. A fotografia e a trilha sonora são lindas. É um filme leve e divertido. Destaque para a construção do enredo, com um toque de musical. Os protagonistas funcionam maravilhosamente bem, com intensidade e sintonia. E aí, vai torcer por esse casal?


Ficha técnica
Direção: Rick Jacobson
Produção: Netflix / Focus Features International
Exibição: Netflix
Duração: 1h37
Classificação: Livre
Gêneros: Romance / Musical / Comédia

29 janeiro 2022

Lento e sem ação, “Ataque dos Cães” é um inesperado e brilhante faroeste dramático

Todo o elenco brilha, com destaque para Benedict Cumberbatch em uma de suas melhores interpretações (Fotos: Kirsty Griffin/Netflix)


Mirtes Helena Scalioni

Pode não ser verdade, mas já tem gente dizendo que o filme foi construído com a intenção de ser, no mínimo, um concorrente a Melhor Filme no Oscar 2021. Sombrio, dramático, enigmático e cheio de silêncios, “Ataque dos Cães”, em exibição na Netflix, foge dos clichês e consegue ser, ao mesmo tempo, faroeste e lento, além de ser um western que fala de homossexualidade. Mais paradoxal impossível. 

Experiente e respeitada, a diretora Jane Campion baseou sua obra num livro de 1967 chamado “The Power of the Dog” (“O Poder do Cão”, em tradução literal). O escritor, Thomas Savage, era autor de histórias de faroeste e sempre procurou esconder sua homossexualidade. Quem já assistiu ao filme sabe que isso faz todo o sentido.


Os irmãos Burbank – Phill e George – donos de uma grande fazenda em Montana nos anos de 1920, são como água e azeite. O primeiro, interpretado por Benedict Cumberbatch ("Doutor Estranho" - 2016), é violento, rude, ignorante. O segundo, em atuação de Jesse Plemons ("O Irlandês” - 2020), é doce, gentil e delicado. A partir daí, o conflito Caim/Abel começa a se desenhar. 


Principalmente quando George se casa com Rose Gordon (Kirsten Dunst, de "Estrelas Além do Tempo” - 2017), que traz a tiracolo seu filho gay Peter Gordon (Kodi Smit-McPhee, de "X-Men: A Fênix Negra" - 2019). Aqui é preciso um parênteses para dizer que todo o elenco está magistral, merecendo todos os prêmios por terem feito, na medida certa, personagens complexos e misteriosos. 

A ideia de levar o espectador, por um bom tempo, ao desconforto da dúvida, é plenamente cumprida. Nada é muito claro naqueles poucos diálogos e olhares.


Na medida em que os personagens são apresentados, “Ataque dos Cães” cresce ao mesmo tempo em dramaticidade. A lentidão, os longos silêncios e a falta de ação vão revelando a masculinidade tóxica de Phill, que insiste em agredir Peter até decidir transformá-lo num legitimo vaqueiro valente e macho.

O filme tem como partida o Salmo 22 que diz algo como “Salva a minha vida da espada/livra o meu ser do ataque dos cães”. Outra ideia que faz sentido no longa: ele é repleto de metáforas que esbarram na intimidade e nos segredos de cada personagem, na sexualidade e nos desejos reprimidos. Enfim, na diversidade e complexidade dos bichos internos de cada um.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Jane Campion
Exibição: Netflix
Duração: 2h06
Classificação: 14 anos
Países: EUA / Reino Unido / Austrália / Canadá / Nova Zelândia
Gêneros: Faroeste // Drama