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15 fevereiro 2023

"Casamento em Família" tem elenco de estrelas numa história fraca sobre relacionamentos

Richard Gere, Diane Keaton, William H. Macy e Susan Sarandon estão no elenco da produção (Fotos: Paris Filmes/Divulgação)


Maristela Bretas


Um filme agradável, apesar do roteiro mediano e totalmente previsível, que reúne uma infinidade de clichês. Este é "Casamento em Família" ("Maybe I Do"), longa-metragem que estreia nesta quinta-feira (16) nos cinemas. 

Quem salva a produção é o elenco, formado por estrelas como Richard Gere, Susan Sarandon, Diane Keaton e William H. Macy, além de Emma Roberts e Luke Bracey.


A história se resume em discutir relacionamentos desgastados, arrependimentos, frustrações, traições e a instituição do casamento como uma solução para os problemas.

Três casais estão envolvidos na trama e, claro, acabam descobrindo que têm mais em comum do que desejavam. 

Gere e Keaton são os pais de Michelle (Emma Roberts) e, apesar de se amarem, não estão vivendo o melhor momento do casamento.


A jovem se baseia na boa relação deles e acredita que o "próximo pulo" de sua vida seja a troca de alianças com Allen (Luke Bracey). 

Mas o namorado não vê essa mesma "harmonia" em casa entre seus pais (Macy e Sarandon), que se odeiam. E teme que sua relação acabe como a deles.


Entre situações constrangedoras, longas conversas, juras de amor e redescobertas, "Casamento em Família" até pode levar casais a questionarem até onde vale à pena manter uma união desgastada, especialmente se envolve traição.

Sem surpresas

O longa é pura água com açúcar, não tem grandes momentos nem surpresas, mas distrai pelas atuações dos atores mais experientes. Especialmente a partir do momento que o jovem casal decide que as famílias devem se conhecer.

Também a música-tema "Always You" ("Wedding Version"), interpretada por Ruth B., é um dos destaques. Clique aqui para conferir. 


Outro ponto positivo do filme é a utilização de recursos de acessibilidade por meio do aplicativo Mobi Load, que oferece audiodescrição, legendas descritivas e libras.

"Casamento em Família" é uma comédia romântica, ideal para uma sessão da tarde. Mas ainda fica atrás de outra recente produção do gênero, "Ingresso para o Paraíso" (2022), com Julia Roberts e George Clooney , bem mais simpática e engraçada.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Michael Jacobs
Produção: Fifth Season, Vertical Entertainment
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h35
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: comédia, romance

08 fevereiro 2023

Com um roteiro genérico, "Oferenda ao Demônio" falha ao se apoiar na mitologia judaica

Terror sobre um espírito maligno que atormenta a esposa grávida do filho de um agente funerário
(Fotos: Paris Filmes/Divulgação)


Larissa Figueiredo


Enquanto a comunidade judaica busca por uma criança desaparecida, o filho de um agente funerário retorna para casa com a esposa na reta final de uma gravidez. Cheio de dívidas, Art (Nick Blood) pretende convencer o pai (Allan Corduner) a hipotecar a casa da família. 

As tramas, que se desenvolvem individualmente, sem muita conexão entre si, se unem no clímax de "Oferenda ao Demônio" ("The Offering"), filme que estreia nesta quinta-feira (9) nos cinemas. 


É nesse cenário que os roteiristas Hank Hoffman e Jonathan Yunger tentam se apoiar à mitologia judaica com o mito de Abyzou, um demônio responsável por causar abortos e mortalidade infantil. 

Ele assume a forma de um “monstro” semelhante a uma cabra gigante, causando confusão mental nos personagens e os levando a fazer sacrifícios.


Contudo, o texto não esclarece nem aprofunda os aspectos culturais que abarcam os comportamentos dos personagens. O roteiro apresenta um desenvolvimento confuso, lento, previsível e cansativo para o espectador, tornando o pano de fundo do filme apenas uma boa ideia mal executada. 


A fotografia é simplória e pouco atrativa. Pouquíssimos elementos audiovisuais são empregados para enriquecer a experiência do público. A sonoplastia e a trilha sonora também não se destacam e não colaboram para o suspense necessário ao gênero. 


O final chega perto de surpreender quando utiliza das ilusões provocadas por Abyzou para confundir quem está do outro lado da tela. Após mais de uma hora de informações desconexas, o desaparecimento de Sarah Scheindal (Sofia Weldon) é esclarecido.

E se mescla à gravidez de Claire (Emily Wiseman) e aos mistérios envolvendo a funerária. Entretanto, não responde questões importantes, como os imbróglios que envolvem a família de Art e os conhecimentos esotéricos do núcleo principal. 


Ficha técnica:
Direção: Oliver Park
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h28
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gênero: Terror
Avaliação: 2/5

30 janeiro 2023

"Gemini: O Planeta Sombrio" é o "Alien" fake de 2023

Longa russo recheado de clichês aborda a exploração de um planeta onde vive uma criatura desconhecida (Fotos: Condor Distribution)


Marcos Tadeu 
Blog Narrativa Cinematográfica


Um longa russo sem força nem para se tornar, em 2023, o novo "Alien: O 8º Passageiro" (1979). Este é "Gemini: O Planeta Sombrio", que chega aos cinemas, nesta quinta-feira (2), distribuído pela Paris Filmes, com direção de Serik Beyseu e roteiro de Dmitriy Zhigalov.


Na história somos apresentados a uma Terra completamente devastada de seus recursos. A última chance da humanidade exige mudança para um lar totalmente novo, no espaço sideral. 

Um grupo é enviado para explorar um novo planeta, mas acabam descobrindo que não estão sozinhos.


A frase do pôster "Não deixe que o medo se apodere de você" é a prova de que a obra não se leva a sério. Não passa nenhuma tensão ou medo ao público. 

O cenário, as atuações e até a tal criatura que povoa o planeta é jogada quase para escanteio, fazendo com que a experiência seja rasa como um pires. 


O drama que ele tenta colocar para provocar alguma simpatia pelo casal principal é extremamente vergonhoso e apelativo. O diretor usa recorrentes flashbacks para justificar suas escolhas, dando a impressão de que não sabe para onde deve ir.


Sem dúvida, a obra quis se inspirar e até homenagear "Alien: O Oitavo Passageiro", mas todos os elementos soam totalmente batidos e clichês. 

Um filme arroz com feijão, tão básico e tão ruim que nem faz com que o público se interesse pelo enredo. E que no fim, entrega apenas um "Alien versão barata" e completamente esquecível.


"Gemini: O Planeta Sombrio" sem dúvida, já pode ser aquele filme para entrar na lista dos "piores do ano" de 2023. Assim como "Moonfall: Ameaça Lunar" ganhou várias avaliações negativas em 2022, esse longa russo tem tudo para ganhar também uma posição no ranking. É um filme para ser assistido em casa, não vale o ingresso do cinema.


Ficha técnica:
Direção: Serik Beyseu
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h38
Classificação: 14 anos
País: Rússia
Gêneros: ficção, suspense

18 setembro 2022

"Eike: Tudo ou Nada" - os bastidores da ascensão e queda de um bilionário

Nelson Freitas é o protagonista do novo longa dos diretores Andradina Azevedo e Dida Andrade (Fotos: Desirée do Valle)


Marcos Tadeu
Blog Narrativa cinematográfica


Chega aos cinemas nesta quinta-feira (22) o polêmico filme dos diretores Andradina Azevedo e Dida Andrade, "Eike – Tudo ou Nada", que conta vida do empresário e ex-bilionário Eike Batista. Produzido pela Morena Filmes e distribuído pela Paris Filmes, é inspirado no livro homônimo da jornalista Malu Gaspar.

A história começa em 2006, quando o Brasil passava por uma expansão econômica com o pré-sal. O empresário decide criar a petroleira OGX com antigos funcionários da Petrobras, aproveitando o momento de expansão econômica em 2012 que o Brasil estava vivendo. Na história podemos perceber como Eike sempre buscou investir em empresas para aumentar cada vez mais seu lucro.


Sétimo homem mais rico do mundo em 2012, Eike Batista foi do auge ao declínio em poucos anos. Com uma fortuna estimada em US$ 30 bilhões, na época era o maior bilionário brasileiro do mundo e estava no auge com as empresas do grupo EBX (OGX, MMX e OSX). Em 2014, já não integrava mais a lista da Forbes.

A trajetória do então bilionário segue até a sua prisão em 2017, alvo da Operação Eficiência, um desmembramento da Operação Lava Jato, no Rio de Janeiro. Eike foi acusado de fazer parte de um esquema de corrupção do ex-governador Sergio Cabral, preso desde 2016.

Eike Batista (esquerda) interpretado por Nelson Freitas (direita)

Seu jeito ambicioso de buscar ter mais dinheiro para si e seus funcionários se destacam na narrativa. Nelson Freitas está bem à vontade no papel em uma atuação que consegue transitar entre um cara explosivo e confiante no que faz. 

Podemos destacar a montagem de Maria Rezende ao apresentar na obra o faturamento do bilionário e como existem "ganhos" e "perdas" ao longo de sua vida por meio de letterings.


O longa explora com bastante força a questão de como Eike se envolveu nos esquemas de corrupção, mesmo dizendo a todo o momento que era uma pessoa honesta e preocupada em dar empregos aos brasileiros. Até o fato de investir em postos de petróleo e nunca conseguir achar nada fez com que a sua própria equipe desacreditasse em suas palavras. 

Outro ponto importante é a preocupação do diretor em mostrar como o povo enxerga Eike - um salvador ou um louco? Especialmente por ele começar a se enveredar pelos caminhos da política e se envolver em fortes esquemas de corrupção. Há pessoas que criticam e aquelas que o defendem por suas ações, principalmente por acreditarem que o dinheiro que ele estava gerando para o país vinha de uma fonte segura.


O filme não explora muito a vida pessoal, focando mais no perfil do empresário e em seus investimentos. A incrível participação especial de Carol Castro no papel de Luma de Oliveira, ex-mulher de Eike, merece destaque. No elenco estão também Thelmo Fernandes, Marcelo Valle, Bukassa Kabengele, Juliana Alves e Xando Graça interpretando os funcionários da OGX, além de Jonas Bloch e André Mattos, que vive o ex-governador. 

Na adaptação, os ex-colaboradores da Petrobras que saíram da estatal para fundar a OGX ganham nomes fictícios: Laerte, Kopas, Nelson, Zita e Odorico, o Dr. Oil. Vale assistir "Eike: Tudo ou Nada" para conferir os altos e baixos da história do ex-bilionário que foi manchete nas mídias por anos.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Andradina Azevedo e Dida Andrade
Produção: Morena Filmes / Star Productions
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h50
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gênero: Biografia

15 setembro 2022

Comédia "Uma Pitada de Sorte" trata do sonho nosso de cada dia

Fabiana Karla e Mouhamed Harfouch entregam bons momentos de comicidade como o casal nada romântico (Fotos: Fábio Bouzas/Paris Filmes)


Maristela Bretas


Com estreia nesta quinta-feira (15), "Uma Pitada de Sorte" chega aos cinemas com uma pegada leve, um pouco de romance e situações atrapalhadas que valem pela distração, especialmente pela sintonia da dupla principal, Fabiana Karla e Mouhamed Harfouch. Dirigido por Pedro Antônio, o filme busca mostrar que vale a pena correr atrás dos sonhos, mesmo quando a vida passa muitas rasteiras.

Fabiana interpreta a quase chef Pérola Brandão, uma mulher batalhadora, que sonha um dia ter seu próprio restaurante. Está sempre tentando emplacar suas receitas nos restaurantes onde trabalha e acaba se dando mal por isso. 


Nada parece que vai dar certo para a moça. Uma virada em sua vida a torna um sucesso de TV, ao lado do famoso chef francês Diego Gomes (Ivan Espeche, que segura bem seu papel). Mas isso pode afastá-la ainda mais de seu sonho. 

Companheiro inseparável, mas escondendo seu amor platônico pela amiga de infância está Lugão (Harfouch), ele é o amigo de todas as horas e da vizinhança (faz de tudo e ajuda todo mundo, quase um Homem-Aranha sem teia).


Correndo de um lado para outro, entre a função de sous-chef (auxiliar do chef) e as festas infantis organizadas pela empresa da mãe, Pérola vive esgotada e, além de Lugão, só tem o irmão Fred (JP Rufino) para desabafar. 

A simpatia e o sorriso largo de Fabiana são o maior diferencial de seu personagem. Pena que o roteiro não tenha explorado mais seu lado cômico, bem conhecido de outras produções.


A parte mais engraçada do filme é a seleção da pessoa que irá auxiliar o chef Diego no programa. Há outros bons momentos cômicos, garantidos por  Mouhamed Harfouch como o bombadão apaixonado, a veterana e sempre ótima Jandira Martini (como Dona Gina, mãe de Pérola) e Pedroca Monteiro como Bob, o assistente de produção da TV. 


O jovem JP Rufino começa tímido e vai se soltando já na primeira metade do filme. No elenco estão também Regiane Alves, como Margô, diretora de TV linha dura que não gosta de Pérola; Flávia Reis, a vizinha fofoqueira Raylane; Pablo Sanabio no papel de Vicente, também assistente de produção e vários outros atores conhecidos do público. Até mesmo o cantor Thiaguinho tem participação ultrarrápida e se sai bem. 


Um dos pontos especiais do longa foi a escolha do local para locação: Jurujuba, bairro de Niterói (RJ) de frente para a Baía da Guanabara. Com um visual lindo do mar no fim de tarde, a fotografia ganha destaque na produção. Imagens muito belas. 

O final é previsível como esperado, mas não atrapalha. Para quem procura um filme leve, sem muita pretensão, "Uma Pitada de Sorte" entrega o que se propõe - ser uma comédia romântica.


Ficha técnica:
Direção:
Pedro Antonio
Produção: Melodrama Produções / Globo Filmes / Telecine
Distribuição: Downtown Filmes / Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h33
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gênero: comédia romântica

07 setembro 2022

“Men - Faces do Medo" é um estudo sobre traumas e o processo de cura

Longa de terror em que todas as figuras masculinas são interpretados pelo mesmo ator, o excelente Rory Kinnear (Fotos: Paris Filmes/Divulgação)


Carolina Cassese
Blog no Zint Online 


Os homens são todos iguais. Tal máxima se torna bastante literal em "Men - Faces do Medo", o mais novo filme de Alex Garland, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (8). O longa de terror é centrado na história de Harper (Jessie Buckley), que, após passar por um término traumático, decide alugar uma casa no interior da Inglaterra com o intuito de passar um tempo sozinha. No entanto, diversos acontecimentos desestabilizadores atrapalham seu processo de cura.

O motivo da frase "os homens são todos iguais" ser relevante para o longa é bastante simples: em "Men", todas as figuras masculinas (o anfitrião da casa, a criança problemática da cidade, o vigário, o policial, o barman, o freguês do bar) são interpretados pelo mesmo ator, o excelente Rory Kinnear. 


Se levarmos em conta a figura do policial e do vigário, podemos considerar como eles também representam instituições que em determinados momentos históricos não ficaram necessariamente ao lado das mulheres. 

O vigário, ao conversar com Harper sobre a violência que ela sofreu, chega a dizer: "Isso acontece, os homens batem nas mulheres às vezes" Logo em seguida, seu discurso permanece carregado de culpabilização.


Além de serem iguais na aparência, outra inegável semelhança entre esses personagens é o fato de eles não darem muito valor às palavras da protagonista, em especial quando Harper pede ajuda por estar sendo perseguida (o stalker da protagonista, claro, é também interpretado por Rory Kinnear). 

O policial, por exemplo, não parece estar muito interessado em prevenir que algo aconteça com ela, apenas em "remediar" - retrato de uma sociedade que está disposta a punir, mas não a discutir questões de gênero e nem mesmo a proteger as mulheres quando necessário.


Boa parte das cenas de terror advém da perseguição que a protagonista sofre, ambientada primordialmente no espaço da casa. Há um sentimento de incômodo desde as primeiras cenas, quando o anfitrião apresenta seu espaço para Harper. Ele não sabe bem o que falar e ela tampouco tem certeza do que responder. 

Essa sensação de desconforto permanece em todo o filme, já que a personagem principal não consegue ficar realmente sozinha e refletir sobre sua vida. Ela parece não ser "autorizada", portanto, a passar por seu processo de cura.


Pode ser que o espectador se lembre um pouco da protagonista do longa "Homem Invisível" (2020), de Leigh Whannell, que também é atormentada por uma “aberração” masculina e praticamente não consegue ficar consigo mesma sem ser importunada. Essas mulheres, então,  lutam também pelo direito à privacidade. 

Outro filme que pode vir a mente é a animação "Anomalisa" (2015), de Charlie Kaufman e Duke Johnson, no qual vemos vários personagens iguais (com o mesmo desenho e, claro, a mesma dublagem).

Não é possível chamar a crítica que "Men" realiza de sutil, já que as metáforas são bem carregadas e até mesmo repetitivas. O diretor parece ainda não estar muito preocupado em apresentar soluções para o problema, apenas em evidenciá-lo. De qualquer maneira, é interessante perceber que filmes de terror agora tratam de temas sociais com mais frequência e, inclusive, são capazes de realizar críticas contundentes (o que acontece nos longas de Jordan Peele, por exemplo).


Definitivamente, não dá pra dizer que Garland deixa o espectador indiferente. Todos esses homens são, de fato, aterrorizantes (de jeitos diferentes e, ao mesmo tempo, muito similares). Eles não apenas representam várias esferas da sociedade, como também diversos tipos de violência. A partir da metade do filme, o espectador provavelmente ficará mais tenso e preso na história, que se aproxima do gênero terror.

Mesmo que algumas cenas sejam um pouco óbvias (e talvez “sobrem”), "Men" conta com atuações espetaculares e cenas angustiantes, além de ser um verdadeiro estudo do trauma - emoção que, para a personagem, já é por si só bastante assustadora.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Alex Garland
Produção: DNA Films / A24
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h40
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: terror / drama

19 janeiro 2022

Cruel e real, "Pureza" retrata o Brasil invisível onde a abolição da escravatura ainda não chegou

Dira Paes tem interpretação impecável da mulher forte que lutou para encontrar o filho desaparecido (Fotos: Divulgação)


Maristela Bretas


Não bastasse ser um filme sobre uma das maiores chagas do país, o trabalho análogo à escravidão, "Pureza", do diretor Ricardo Barbieri, conseguiu reunir vários outros pontos positivos que vão além da denúncia: fotografia, locação, luz, roteiro e especialmente elenco. 

Ainda que lento no início, o longa vai ganhando vigor quando a protagonista deixa tudo para trás para iniciar sua jornada na busca incansável pelo filho Abel (Matheus Abreu, de "O Segredo dos Diamantes"- 2014) desaparecido há meses.

Com previsão de estreia em 2022 nos cinemas nacionais, “Pureza” já foi exibido em 34 festivais. Ganhou 26 prêmios nacionais e internacionais em 17 países: Brasil, França, EUA, Guadalupe, Itália, Rússia, China, Alemanha, Panamá, Bolívia, Marrocos, Cuba, Reino Unido, México, Argentina, Colômbia e Líbano. 


Dira Paes ("Veneza" - 2019) entrega uma interpretação profunda, real e emocionante de Pureza Loyola, sem esconder as marcas no rosto de uma vida sem descanso. A atriz dá um show, passando da trabalhadora simples, que faz tijolos para sustentar a família, com resignação e humildade, à mãe forte que quer resgatar o filho a qualquer custo. 

Na sua busca, Pureza Loyola se torna meio mãe de outros filhos que também trabalham escravizados em fazendas no Pará. A força e o amor dessa mulher podem ser resumidos numa cena de cortar o coração: a reprodução da Virgem Maria que desce o corpo de Jesus da cruz e reza sobre ele, debaixo de chuva. 


Sem falar nos outros homens, velhos e novos, que só têm na presença daquela mulher um pouco de alento desde que deixaram suas famílias para buscar uma condição melhor de vida e acabaram caindo na armadilha de patrões poderosos que comandam, matam e escravizam impunemente. 

Aos poucos, ela se torna a voz, muitas vezes solitária, daqueles que foram esquecidos, denunciando os fatos às autoridades federais, mesmo que, para conseguir provas, coloque em risco a própria vida.

Adonias Mendes dos Santos ("Baiano"), João Batista Gonçalves Lima ("Siracura") e Milson Gomes de Souza Almeida ("Tiozão")

O longa é quase um documentário, incluindo no elenco 11 ex-trabalhadores rurais que foram resgatados de fazendas e que dão depoimentos tocantes. É o caso de Adonias Mendes dos Santos ("Baiano"), João Batista Gonçalves Lima ("Siracura") e Milson Gomes de Souza Almeida ("Tiozão"), entre muitos outros. 

Como representante dos "vilões" temos a ótima interpretação de Flávio Bauraqui ("Faroeste Caboclo" - 2013) no papel de Narciso, gerente das fazendas e mandante dos assassinatos, que sente prazer com a imagem que criou de si próprio.

A verdadeira Pureza e seu filho Abel (Reprodução)

Além do elenco e da história, ambos fortes e comoventes, Renato Barbieri, que dividiu roteiro e produção com Marcus Ligocki Jr., também contou com um belo trabalho da equipe técnica, desde a fotografia, montagem, figurino à edição e locações. 

O filme foi gravado no Pará, em áreas rurais de Marabá e Itupiranga, com riqueza na reprodução de detalhes. Para completar, é preciso registar a beleza da trilha sonora do compositor americano Kevin Riepl, que contou com duas músicas de Aurélio Santos.

Combate ao trabalho escravo



O diretor também conseguiu reunir abolicionistas que fizeram parte do Grupo de Fiscalização Móvel de Combate ao Trabalho Escravo no país naquela época, composto por integrantes de várias instituições, e também o então ministro Paulo Paiva. Foi a partir daí e da luta de Pureza Loyola que as ações no campo se intensificaram, com maior apoio à atuação dos fiscais do trabalho, também vítimas dos criminosos.


Um exemplo disso foi a Chacina de Unaí (Noroeste de Minas), que no dia 28 de janeiro completa 18 anos. Três auditores fiscais e um motorista, funcionários do Ministério do Trabalho, foram mortos a tiros na região quando investigavam denúncias desde crime em fazendas de café da região. 

De 1995 a 2021, o Grupo Móvel resgatou mais de 55 mil trabalhadores em situação degradante e análoga à escravidão no país. "Pureza" tenta mostrar um pouco dessa triste realidade. É a arte a serviço da justiça social.


Ficha técnica:
Direção: Renato Barbieri
Roteiro: Renato Barbieri e Marcus Ligocki Jr.
Produção: Gaya Filmes / Ligocki Entretenimento
Distribuição: Paris Filmes / Downtown Filmes
Duração: 1h41
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gêneros: drama // documentário
Nota: 4,8 (de 0 a 5): 

17 janeiro 2022

"Eduardo e Mônica" é Renato Russo em prosa, verso e vídeo, com simpatia e emoção

Gabriel Leone e Alice Braga formam o casal que vive um grande amor apesar da idade e personalidade diferentes (Fotos: Janine Moraes)


Maristela Bretas


Encantador e envolvente, "Eduardo e Mônica", que estreia dia 20 de janeiro em mais de 500 salas de cinema do país, faz a gente sorrir, cantar e se emocionar com as "coisas feitas pelo coração" Com uma história simples, que muitas pessoas já viveram ou gostariam de viver, o filme traz para as telas a versão do sucesso homônimo da banda Legião Urbana, lançado em 1986 no disco "Dois". 

O diretor René Sampaio e a produtora Bianca De Felippes souberam captar bem a essência da música composta por Renato Russo, ambientando locações e situações à letra. Como fizeram com “Faroeste Caboclo” (2013), outro grande sucesso da banda brasiliense adaptado para o cinema, que foi visto por mais de 1,5 milhão de espectadores. 


"Eduardo e Mônica" foi filmado em 2018 com um custo total de 10 milhões de reais e conquistou em 2020 o prêmio de Melhor Filme no Festival de Edmonton, no Canadá. Alice Braga ("O Esquadrão Suicida" - 2021) e Gabriel Leone formam o casal romântico totalmente diferente que vive um amor de encontros e desencontros na cidade de Brasília nos anos 1980. 

Mesmo com idades e personalidades distintas, Eduardo e Mônica resolvem se conhecer melhor. Mas "ela fazia medicina e falava alemão e ele ainda nas aulinhas de inglês. Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus, de Van Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de Rimbaud. E o Eduardo gostava de novela e jogava futebol-de-botão com seu avô".


A química da dupla principal funcionou muito bem e é carismática. Como na música, "ele completa ela e vice-versa, que nem feijão com arroz". Gabriel Leone está fofo como um adolescente de 16 anos, como na letra da música (apesar de seus 28 anos de idade). Entregou uma interpretação simpática, divertida e também dramática quando precisou. Alice está cada dia melhor como atriz e mais parecida fisicamente com a tia, Sônia Braga, principalmente quando sorri. Quanto ao talento, este é inquestionável. 


Outro destaque é a atuação de Victor Lamoglia, que faz o papel de Inácio, amigo de Eduardo, garantindo os momentos divertidos do longa. Também estão no elenco Otávio Augusto (como Bira, avô de Eduardo), Juliana Carneiro da Cunha (Lara, mãe de Mônica), Bruna Spínola (Karina, irmã de Mônica) e Fabrício Boliveira em participação especial relâmpago e até dispensável. Dá a impressão que ele apareceu somente para atrair público e associar com "Faroeste Caboclo" que ele protagonizou.

Com uma equipe de mais de 200 pessoas, "Eduardo e Mônica" foi filmado em Brasília, no Rio de Janeiro e no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, durante oito semanas em 2018. As locações são um destaque à parte da produção, criando a ambientação perfeita, especialmente nos desfiladeiros, quedas d’água e piscinas naturais de uma das áreas ambientais mais bonitas do país.


Em entrevista, o diretor René Sampaio explica que o filme é uma delicada história de amor. "Ela fala, entre outras coisas, sobre como é possível amar e respeitar quem pensa muito diferente de você". Bianca De Felippes conta que era importante ser fiel ao espírito de Renato Russo. "Das músicas compostas por ele, esta é a mais solar. Então, a ideia era manter essa energia". 

Uma playlist da trilha sonora original, composta por Lucas Marcier, Fabiano Krieger e Pedro Guedes, do ARPX Estúdio, foi disponibilizada pela TIM, uma das patrocinadoras do filme, na plataforma de streaming Deezer. Ela pode ser acessada por todos os usuários do app. A coletânea está disponível no link https://www.deezer.com/br/playlist/9793270762. Não deixe de conferir, "Eduardo e Mônica é uma agradável volta no tempo.


Ficha técnica:
Direção: René Sampaio
Produção: Gavea Filmes, Barry Company, Fogo Cerrado e Globo Filmes
Distribuição: Downtown Filmes e Paris Filmes
Exibição: Somente nos cinemas
Duração: 1h54
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gêneros: comédia / drama / romance

27 dezembro 2021

“Turma da Mônica: Lições" - Pequenos aprendizados para adultos e crianças

O quarteto mais carismático dos quadrinhos brasileiros está de volta aprontando todas e fazendo novos amigos (Fotos: SerendipityInc)


Marcos Tadeu 


Se no primeiro longa live-action - "Turma da Mônica - Laços" (2019) - o diretor Daniel Rezende se preocupou em explorar bastante a aventura, em "Turma da Mônica - Lições” a pegada é muito mais sentimental, contando a jornada de cada integrante do quarteto de forma individualizada. O filme estreia na próxima quinta-feira (30/12), em várias salas de cinema pelo país.

O plot dessa vez acontece quando Monica (Giulia Benite), Cebolinha (Kevin Vechiatto), Magali (Laura Rauseo) e Cascão (Gabriel Moreira) se esquecem de fazer a lição e decidem pular o muro do colégio, fazer o trabalho fora de casa e voltar no outro dia. 


Porém, o que era para ser um plano infalível acaba se tornando falível quando Cebolinha vai ajudar Mônica a subir no muro, ela fica instável e cai. Ao serem descobertos, os quatro sofrem as consequências pelos seus atos. É justamente ai que o roteiro cresce junto com os personagens. 

Magali é colocada numa aula de culinária para controlar a ansiedade por comida, Cascão teve que ir para aula de natação para tratar seu pavor por água, Cebolinha foi direcionado a uma fonoaudióloga para resolver seu problema de trocar o “R” pelo “L” e Mônica é transferida para uma nova escola. 

Cebolinha então resolve bolar outro plano mirabolante com Magali e Cascão para trazer a amiga de volta, mesmo que para isso precise recuperar a arma dela que eles mais temem: o coelhinho Sansão.


É muito rico ver na obra como cada personagem precisa desenvolver/lutar e sanar seus maiores medos. Magali se destaca bastante e consegue tirar boas gargalhadas do público. Cebolinha e Cascão, além de seus problemas individuais - o primeiro sofrendo bullying por falar como um bebê e outro pelo seu mau cheiro - precisam lidar com o risco de apanhar de Tonhão e sua turma.

Outro fator que engrandece a obra é a referência direta com o clássico "Romeu e Julieta". Por exemplo, os pais de Mônica são contra a ideia de ela se relacionar com Cebolinha. O mesmo acontece com a família do garoto. 

Essa história acaba se transformando na espinha dorsal do filme e ajuda a contar como as relações da turma estão diretamente ligadas ao tom shakespeariano. 


A sequência acerta ainda mais ao trazer personagens novos e vários easter eggs que os verdadeiros fãs vão identificar e que são essenciais para as reviravoltas. Principalmente porque ensinam lições aos nossos protagonistas. 

Tina (Isabelle Drummond), Tia Nena (Eliana Fonseca), Do Contra (Vinícius Higo), Marina (Lais Vilella), Milena (Emily Nayara) e até Humberto (Lucas Infante) se tornam mentores e amigos dos nossos amiguinhos, que vão aprender grandes lições.


Apesar da participação de atores mais experientes - Malu Mader (professora), Monica Iozzi (D. Luiza), Luiz Pacini (Seu Sousa), Paulo Vilhena (Seu Cebola), Fafá Rennó (D. Cebola), Augusto Madeira (professor de natação) e outros - em certos momentos algumas expressões soam meio forçadas, deixando a atuação a desejar. 

Mesmo assim, vale uma menção honrosa a todos os atores mirins, em especial aos quatro protagonistas, que têm atuações muito fofas e levam o público a embarcar com eles na estória. 


A expectativa dos produtores é grande com esta segunda produção, uma vez que o primeiro filme conquistou a estatueta de Melhor Longa-Metragem Infantil no Grande Prêmio de Cinema Brasileiro em 2019 e levou mais de dois milhões de espectadores ao cinema. 

"Turma da Mônica- Lições" é mais um bom trabalho assinado por Daniel Rezende (“Bingo: O Rei das Manhãs” – 2016), capaz de ensinar adultos e crianças a lição mais importante: “Crescer é difícil, mas não precisa ser ruim”, um aprendizado que cativa as novas gerações e as passadas.


Ficha técnica:
Direção: Daniel Rezende
Produção: Biônica Filmes / Mauricio de Sousa Produções / Paris Entretenimento / Paramount Pictures / Globo Filmes
Distribuição: Paris Filmes e Downtown Filmes
Duração: 1h37
País: Brasil
Classificação: Livre
Gêneros: Aventura / Comédia / Família