12 janeiro 2017

"Assassin's Creed" tenta emplacar adaptação de game para os cinemas

Michael Fassbender incorpora bem o personagem da série, mas efeitos visuais são o destaque (Fotos: Fox Film do Brasil/Divulgação)


Jean Piter Miranda


'Assassin's Creed" é um dos grandes lançamentos do cinema em 2017. O filme é baseado no jogo de mesmo nome. Na adaptação, Callum Lynch (Michael Fassbender) é condenado à morte, mas seu corpo é levado para uma experiência científica. Conectado a uma máquina, ele é submetido a uma espécie de regressão, e vivencia as aventuras de seu ancestral espanhol do século 15, o guerreiro Aguilar. Aos poucos, ele começa a absorver, na vida real, incríveis habilidades de luta.

O filme parece complexo, mas, como todo blockbuster, é bem simples. A máquina a qual Callum se conecta para fazer a regressão é como as experiências de realidade ampliada que existem hoje. Como os óculos da Google ou da Samsung, e dezenas de jogos por ai. Com o acrescento de se conectar a vidas passadas, que aí vai para o campo do misticismo e da religião. E para que o enredo fique mais realista, há muitas referências da história.


O longa é em grande parte de ação, até para não ficar muito longe do game. E são muitas as cenas de combates e perseguições, onde os personagens demonstram grandes habilidades de Parkour, o esporte de pular de prédio para prédio, muros, escadas. Algo que já foi utilizado em filmes como "007", "Jason Bourne", "13º Distrito" e muitos outros. O inimigo é uma organização quase secreta, que, de certa forma, pretende dominar o mundo, o que também não é novo.

Para que a guerra não seja apenas entre o bem o mal, são acrescentados elementos históricos, religiosos, filosóficos, e científicos, como o quanto o DNA do ser humano define o seu modo de vida, o comportamento e seus instintos. Não é preciso ser um gênio para fazer as devidas associações e entender tudo. O único problema está na ambientação das cenas de ação, onde sempre há muita neblina ou fumaça, o que impede ver claramente o movimento dos personagens.

No fim, o filme da conta do recado. Fassbender emplaca mais uma boa atuação em seu currículo. Marion Cotillard e Jeremy Irons também. Os desfechos acontecem sem pressa. No conjunto da obra, é bem provável que não agrade aos cinéfilos mais exigentes, e principalmente aos fãs do game. Mas é uma produção muito boa, que talvez até mereça uma continuação.



Ficha técnica:
Direção: Justin Kurzel
Produção: Regency Enterprises/ Ubisoft Motion Pictures / RatPac Entertainment / 20th Century Fox
Distribuição: Fox Film do Brasil
Duração: 1h56
Gêneros: Ação / Aventura / Fantasia / Ficção científica
Países: EUA, França, Reino Unido, Espanha
Classificação: 12 anos
Nota: 3 (0 a 5)

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11 janeiro 2017

"Eu, Daniel Blake" deixa o espectador paralisado ao mostrar como a burocracia pode ser destrutiva

A história é universal e pode acontecer em qualquer lugar do mundo (Fotos:  Imovision/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Com raras exceções. filmes que tratam de pessoas maduras costumam ser tristes.  "Eu, Daniel Blake", produção britânica em parceria com a França e a Bélgica, é mais do que triste. É contundente, cortante. Ao final da sessão, muitos permanecem sentados nas poltronas, como se tentassem digerir o que acabaram de ver. A história do cidadão comum que, após um ataque cardíaco, se envolve na teia surreal da burocracia em busca de seus direitos como auxílio doença ou seguro desemprego assusta, choca, oprime. E olha que tudo se passa na Inglaterra, para muitos, o exemplo de civilidade.

Não foi por acaso que o filme, dirigido por Ken Loach - ele próprio um ancião de 80 anos - ganhou a Palma de Ouro 2016 em Cannes. A batalha de Daniel Blake, interpretado com naturalidade impressionante por Dave Johns, coloca o espectador no cerne de um labirinto. Atire a primeira pedra quem nunca precisou do Estado e se viu emaranhado em exigências absurdas e irracionais, ouvindo explicações e respostas vazias de atendentes que só fazem repetir regras e orientações decoradas. Quem nunca teve ímpetos de quebrar o telefone depois de ouvir infinitamente a mesma musiquinha intercalada de gravações que prometem um atendimento daqui a pouco?

No caso do sessentão do filme, há um agravante: a informática para ele é um mistério. Para Dan, ouvir de um atendente a simples ordem "entre no site, preencha o formulário e envie" significa problemas, dificuldades e mais atrasos. Em certo momento ele, que trabalhou a vida toda como carpinteiro, diz: "Me apresente um terreno que construo sozinho uma casa. Mas, por favor, não me mande sentar diante de um computador". Nesse sentido, "Eu, Daniel Blake" ajuda a refletir e chamar atenção para o fato de que nem todos nasceram íntimos do mouse e da internet. E que isso não significa necessariamente incompetência.

Mas o que fica mais claro no longa de Ken Loach é mesmo a maneira como a maldita burocracia e seus servidores inúteis podem mudar a vida e o destino dos cidadãos. A desumanidade, a forma impessoal de tratamento, a rigidez das regras parecem ter sido criadas exatamente para isto: para justificar a demora, para adiar a solução, para fazer com que o cidadão perca sua dignidade. E é com maestria e muita naturalidade que o diretor conduz a trama emocionando e envolvendo o público.

Os mais otimistas vão encontrar um fio de esperança no longa: numa das muitas visitas do carpinteiro a uma das repartições públicas, ele se sensibiliza com o drama de Katie (Harley Squires), jovem mãe solteira de duas crianças que veio de Londres para o interior em busca de oportunidades de trabalho. A amizade verdadeira que brota entre Daniel e aquela família desamparada comove e alimenta até os corações mais descrentes. O drama, com 1h41 de duração, ganhou a Palma de Outro em Cannes e está em cartaz no Belas Artes (14h20, 18h50, 21h10) e no Ponteio (18h50 e 21h). Classificação: 12 anos



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