12 novembro 2018

"Entrevista com Deus" é raso, não vai além de mensagens óbvias de autoajuda

Brenton Thwaites se sai bem como o jornalista que entrevista David Strathaim no papel de um Deus humano (Fotos: Imagem Filmes/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Pode até ser que pessoas religiosas gostem de "Entrevista com Deus" ("An Interview With God"). Vai depender da religião, do nível de fé, do compromisso com a divindade constituída. Dificilmente o filme vai agradar aqueles que preferem a religiosidade, o respeito ao sagrado e ao ecumênico. Já os incrédulos, os ateus, esses têm tudo para não gostar nada do longa que pode, no máximo, ser classificado no rol das obras de autoajuda. Mesmo assim, das mais fracas. 


Dirigido por Perry Lang, o filme, todo passado em Nova York, mistura citações bíblicas, força questionamentos para dar um ar de imparcialidade, se alonga em eternas conversas pouco produtivas e não convence. A ideia é até boa: o repórter Paul Asher, que acaba de retornar de uma cobertura da guerra do Afeganistão, entra numa espécie de conflito pessoal depois de presenciar tanto sofrimento e dor. Com a fé abalada e o casamento em crise, marca uma entrevista com ninguém menos do que Deus, que promete responder, em três encontros, a todas as perguntas e dúvidas do jornalista. 

E o que ele quer saber, na verdade, é o que todos querem: desvendar o grande mistério da vida. Só que os diálogos são pobres, simplistas e nada eloquentes. Tema semelhante foi desenvolvido de forma muito mais original e irônica na comédia brasileira "Deus é brasileiro", de Cacá Diegues.


Como era de se esperar, o que fica, no final da história, é pueril e reduz as grandes questões da humanidade a mensagens que vão da culpa à salvação, do bom mocismo à moralidade. E o que é mais grave: é como se todos os habitantes do planeta Terra fossem cristãos. Jesus é apresentado como único filho de Deus, como a única verdade e a única salvação. Estão fora do paraíso, portanto, os adeptos do politeísmo, os muçulmanos, os índios, os ateus...

A história paralela também é fraca: a crise vivida por Paul e sua jovem mulher Sarah Asher é mal contada e precariamente desenvolvida. Sarah, interpretada por Yael Grobglas, aparece muito pouco no filme. David Strathaim dá seu recado de forma apenas correta como um Deus humano, quase um psicanalista, e Brenton Thwaites se sai bem como o jornalista questionador. Na verdade, nenhum papel do filme exige muito. "Entrevista com Deus" exige mesmo é do espectador, que tem que lutar para permanecer acordado até o final da exibição.
Duração: 1h37
Classificação: Livre
Distribuição: Imagem Filmes 


Tags: #EntrevistaComDeus, #religião, #autoajuda, #DavidStrathaim, #BrentonThwaites, #ImagemFilmes, #CinemarkPatioSavassi, #CinemaNoEscurinho

"Operação Overlord" - terror, guerra, muita ação e a marca de J.J.Abrams

Jovan Adepo e Wyatt Russell vão enfrentar supersoldados indestrutíveis criados por nazistas para vencerem o conflito (Fotos: Peter Mountain/Paramount Pictures)


Maristela Bretas


Misturar 2ª Guerra Mundial com terror (não confunda com atrocidades) é possível? Para o produtor J.J. Abrams e o diretor Julius Avery sim. E, de quebra, com muita ação e um elenco pouco estrelado que entrega um ótimo filme. Tudo isso está em "Operação Overlord", produção que em cartaz nos cinemas e que tem a invasão da Normandia (o conhecido "Dia D") como ponto de partida para virar a história e se tornar um ótimo filme de terror/ficção sobre as experiência científicas realizadas pelos nazistas em instalações secretas num vilarejo francês.

Usar a 2ª Guerra Mundial como tema de filme já está mais que manjado e cansativo, era preciso criar um viés completamente diferente, partindo para o terror com seres humanos servindo de cobaias para a criação, em um laboratório secreto, de supersoldados indestrutíveis, que serão usados pelos nazistas para vencerem o grande conflito e dominarem o mundo. Pode não ter sido desta forma, mas não são poucos os documentos encontrados pós-guerra abordando os experimentos do governo Hitler com esses objetivos.

Mesmo com alguns deslizes no roteiro, Avery e Abrams conseguiram entregar um bom filme, que provoca pulos na cadeira e arrepios com o quebrar de ossos. destaque para a atuação de Jovan Adepo ("Mãe!" e "Um Limite Entre Nós", ambos de 2017) que interpreta o soldado Boyce, e domina a ação, juntamente com Wyatt Russell, no papel do cabo Ford. As piadas e comentários sarcásticos ficam por conta de John Magaro, o soldado Tibbet, que não dispensa um chiclete.

Do lado dos vilões, e este assusta após se transformar, está Pilou Asbaek ("A Vigilante do Amanhã" - 2017), como o comandante alemão Wafner, que nas horas vagas corre atrás de Chloe, jovem francesa boa de tiro interpretada pela quase estreante Mathilde Ollivier.

Na história, uma tropa de paraquedistas norte-americanos é lançada atrás das linhas inimigas para uma missão crucial - explodir as comunicações dos alemães e facilitar o desembarque das tropas aliadas na Normandia. Apesar das muitas perdas, o pequeno grupo consegue chegar a seu destino, mas vai descobrir que a fortaleza nazista instalada numa igreja abriga mais que uma simples torre de transmissão e que coisas estranhas estão acontecendo com os habitantes do pequeno vilarejo onde ela está localizada.

Ambientação, trilha sonora, figurinos e reconstituição histórica da operação dos aliados estão ótimos. Mas é na maquiagem que a produção se supera, com um trabalho excelente de efeitos visuais de transformação assustadora de rostos e corpos deformados pelas experiências dos alemães.

Até mesmo os fãs de filmes de guerra vão gostar da linha adotada pelo diretor, que não dispensa a parte da guerra, com muitos tiros, explosões, tanques e metralhadoras, além dos medos dos soldados que estão indo para a batalha pela primeira vez, o racismo velado e o heroísmo dos norte-americanos (claro!). Vale muito a pena conferir.



Ficha técnica:
Direção: Julius Avery
Produção: Bad Robot / Paramount Pictures
Distribuição: Paramount Pictures
Duração: 1h50
Gêneros: Terror / Ação / Guerra
País: EUA
Classificação: 16 anos 
Nota: 4 (0 a 5)

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