08 agosto 2021

Documentário “Elvis Presley – The Searcher” mostra por que o ídolo continua vivo

Série em dois episódios mostra a influência de diversos gêneros musicais nos sucessos do inesquecível Rei do Rock (Fotos: Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Diversos provavelmente vão se queixar: faltou intimidade, novidades sobre o homem, fofocas, segredos. Mas basta um olhar mais atento para entender e aceitar de cara boa a série documental “Elvis Presley – The Searcher” (2018), da HBO Documentary Films, em exibição na Netflix. A começar pelo título, faz todo o sentido chamar o artista de “buscador”, “pesquisador”. Afinal, em sua curta carreira, ele nunca deixou de procurar influências, recriar e inovar.

Dirigida por Thom Zimny, a série de dois episódios tem pouco mais de três horas de duração, tempo necessário para contar, principalmente, a infância do menino pobre que nasceu em Tupelo, no Mississipi, e que, ainda adolescente se mudou para Memphis, no Tennessee, onde foi praticamente descoberto cantando numa festa de colégio.


O doc não deixa dúvidas sobre as primeiras influências do Rei do Rock. Definitivamente, ele era um cantor de “alma negra gospel'', por mais estranho que isso possa soar hoje. A cantoria dos pretos nas igrejas da sua infância foi fundamental na carreira do cantor de voz possante e de longo alcance. 

Do gospel ao country, passando pelo autêntico blues, ele cantou, exaustivamente, pelo simples prazer de cantar, na Beale Street, a famosa rua de bares em Memphis. E haja blues.


É possível que o documentário tenha se prendido mais à infância do cantor, mas os fãs vão adorar saber, por exemplo, que ele foi um filho exemplar, eternamente amoroso e cuidadoso com sua mãe, Gladys. Na verdade, a série deixa transparecer que Elvis foi um bom rapaz, mesmo no seu auge, nos anos de 1960, quando o mundo vivia as rebeliões raciais e sociais e o boom das drogas.


A maior rebeldia do Rei do Rock foi a sensualidade, arma que ele soube usar naturalmente, mas que não serviu de nada quando ele foi convocado pelo Exército norte-americano, no auge da fama, para servir na Alemanha. Há quem diga que foi uma retaliação do governo aos requebros e ao som negro que ele fazia. Resignado, Elvis interrompeu a carreira por dois anos. Os fãs, pacientemente, esperaram.


A resignação, aliás, parece resumir bem a carreira de Elvis Presley, que fez dezenas de péssimos filmes sem querer, se matava em turnês desumanas e foi explorado por um agente que nunca permitiu que ele saísse dos Estados Unidos. O palco, onde ele exercia com maestria, talento e carisma – com resposta sempre apaixonada do público -, parece ter sido seu suficiente lugar.


Jornalistas, produtores, engenheiros de som, amigos e artistas como Bob Dylan e Bruce Springsteen enriquecem, com seus depoimentos, o documentário muito bem amarrado pelo roteiro de Alan Light. A ex-mulher Priscila Presley, claro, também comparece, com entrevistas e filmes caseiros da possível vida doméstica do ídolo, falecido no dia 16 de agosto de 1977.


Saber de Elvis Presley é sempre bom. Melhor ainda é ver imagens inéditas, rever pedacinhos de seus mais de 30 filmes e 1.600 shows e ouvir, de novo, pelo menos 18 dos sucessos mais conhecidos desse artista impecável que gravou – em algumas edições definitivas - mais de 750 canções. Deve ser por isso que dizem que ele não morreu.


Ficha técnica:
Direção: Thom Zimny
Produção: HBO Documentary Films (2018)
Exibição: Netflix
Duração: 3h35 (em dois episódios)
Classificação: Livre
País: EUA
Gêneros: documentário / série / biografia

06 agosto 2021

"O Diabo Branco" é um filme de terror que não assusta ninguém

A viagem de férias de um grupo de jovens  se torna um pesadelo nesta coprodução entre Argentina e Brasil (Fotos: Pandora Filmes)


Jean Piter Miranda


Para quem gosta de um filme de terror, já está em cartaz nos cinemas a coprodução entre Brasil e Argentina, “O Diabo Branco” ("El Diablo Blanco"). O longa conta a história de quatro amigos que vão para o interior passar uns dias de férias em uma pousada. Uma espécie de hotel fazenda, bem retirado.

E o que parecia ser uma temporada de descanso e lazer acaba se tornado um tormento com o surgimento de um homem misterioso. O grupo se vê preso em uma lenda maligna que toma conta da pequena cidade.


É bem clichê a história de um grupo de amigos ir para um lugar “mal assombrado”. "O Diabo Branco" parte dessa fórmula, muito utilizada no cinema americano, com pistas deixadas ao longo do filme. Seria um quebra-cabeça para o espectador juntar os pedaços e ficar preso, instigado com os próximos acontecimentos. Mas isso não acontece. Não há nada oculto e nem é preciso fazer muita força pra entender o que está se passando. 

O filme tem ainda outros clichês. Pessoas que parecem hostis a princípio, mas que não são os vilões. Um personagem que parece louco, mas que diz coisas sensatas e importantes. Por parecer descontrolada, ninguém liga. Tem também o mocinho, que banca o corajoso e faz burradas impensadas. É bem incômodo ver tudo isso. Sem contar os erros de roteiro sendo repetidos em uma produção que tenta se vender como novidade. 


E as mortes vão ocorrendo. Mesmo assim, o grupo não consegue ir embora. Pessoas normais fugiriam a pé, mas não ficariam de jeito nenhum. Logo, é um tanto ofensivo para a inteligência de quem está assistindo aceitar que o grupo é tão burro ou tão ingênuo, exatamente por se tratarem de adultos. Os acontecimentos que forçam os jovens a ficarem presos no local não convencem, são situações bem forçadas.


Dá pra notar também que o filme foi feito com um baixo (ou talvez baixíssimo) orçamento. São poucas as locações e cenários e, praticamente, não há efeitos especiais. O elenco é bem pequeno. Não houve nem mesmo o cuidado em caracterizar uma viatura de polícia. É um produto simples, um tanto previsível e bem frustrante por não ter reviravoltas. 

"O Diabo Branco" começa e termina sem grandes emoções. Sem que o espectador consiga ter simpatia pelos protagonistas. A história caminha do início ao fim sem novidades, sem sustos, sem medo, sem nada pra pensar depois. Um filme que destoa muito das grandes produções argentinas dos últimos anos. É uma tentativa de fazer terror que falhou. 



Ficha técnica:

Direção e roteiro: Ignácio Rogers

Distribuição: Pandora Filmes

Exibição: nos cinemas

Duração: 1h23

Países: Argentina / Brasil

Gênero: Terror

Nota: 2,5 (de 0 a 5)