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30 dezembro 2023

Novo longa de Sofia Coppola, “Priscilla” acerta em alterar as direções do holofote

Jacob Elordi e Cailee Spaeny entregam ótimas interpretações como Elvis Presley e sua ex-mulher (Fotos: A24)


Carolina Cassese


Vários veículos de imprensa mundiais indagaram a roteirista e diretora Sofia Coppola sobre como o projeto de dedicar um filme à relação entre Elvis e Priscilla, de seu despontar até o término, veio a sua mente. 

A resposta dela foi, com pequenas variações, a mesma: na adolescência, ela havia lido o livro "Elvis e Eu", lançado em 1985 por Priscilla Presley e Sandra Harmon, e a história nunca mais saiu de sua cabeça.

"Priscilla" foi um grande trunfo para a diretora por ter recebido o aval da própria Priscilla, que assina como produtora do filme. Para o papel da ex-mulher de Elvis Presley, a atriz escalada foi Cailee Spaeny. Já para Elvis, o nome escolhido foi Jacob Elordi.


O novo filme, que já pode ser visto em alguns cinemas da capital mineira, traz o recorte específico do relacionamento de Elvis e Priscilla, que teve início na Alemanha, em 1959. Na época, Elvis estava servindo o exército, assim como o pai da jovem. O cantor já tinha alcançado a fama, enquanto ela era uma adolescente de 14 anos. 

Na base militar, a jovem é convidada para ir a uma festa na qual Elvis estaria e, apesar da recusa inicial dos pais, acaba conseguindo comparecer. A partir desse primeiro encontro, Priscilla passa a ser constantemente convidada para os eventos e se envolve com o cantor.


Após algum tempo, Elvis chama a jovem para ir morar em Graceland, a casa do astro em Memphis. Priscilla deixa os pais e chega aos Estados Unidos, onde passa a viver uma realidade bem diferente da que idealizou. Para se “adaptar”, a jovem acaba sacrificando muito de si.

Um dos principais acertos do filme é o de não cair na tentação de direcionar demasiado destaque a Elvis, inegavelmente uma das figuras mais icônicas da história do show business. Por essa razão, boa parte do longa se passa no ambiente doméstico, já que Priscilla vivia solitária, muitas vezes à espera de seu companheiro.


Essa diferença de cenários é eficiente em ilustrar a disparidade entre as duas figuras: enquanto o cantor estava constantemente em turnê e filmava em diferentes lugares dos Estados Unidos (já que também era ator), Priscilla passava boa parte do tempo em casa. Além disso, ele impede que sua esposa trabalhe fora e ainda busca controlar sua aparência.

Para ilustrar a passagem do tempo e o isolamento da protagonista, vemos folhas de calendário arrancadas e inúmeras bandejas de comida sendo tiradas de seu quarto. As histórias também são contadas por meio de recortes: manchetes de jornais e bilhetes assinados por Elvis desencadeiam eventos que são importantes para a narrativa.

O ritmo do longa é bastante eficiente; por mais que muitas cenas não contem com os típicos “grandes acontecimentos” de filmes estadunidenses, o espectador provavelmente permanecerá atento e interessado no desenrolar da trama. Nesse sentido, vale também destacar as performances dos atores, que entregam cenas intensas e comoventes.


Ao longo da história, podemos também nos lembrar da canção de uma das cantoras mais célebres da nova cena musical. Em "All-american bitch", Olivia Rodrigo fala das expectativas direcionadas às jovens mulheres estadunidenses: “Eu sei meu lugar, eu sei meu lugar/E é esse aqui/Eu não fico com raiva quando estou irritada/Sou a eterna otimista/Eu grito por dentro para lidar com isso”. Priscilla definitivamente entende esse sentimento, já que é chamada de “maluca” a cada vez que se revolta.

Se considerarmos que a maioria das narrativas são centradas nos poderosos (ou seja, naqueles que necessariamente saem para “conquistar o mundo”) é, sem dúvidas, um ganho termos acesso a outra perspectiva - de uma mulher que, ao decidir deixar Graceland, está dando um passo bem mais grandioso do que poderia imaginar.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Sofia Coppola
Produção: Stage 6 Films e A24
Distribuição: O2Play e Sony Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h53
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: romance, drama

14 julho 2022

Caótico e frenético, “Elvis” reafirma a força do mítico e verdadeiro Rei do Rock, primeiro e único

Austin Butler no papel do cantor entrega uma interpretação capaz de fazer o público se derreter de emoção (Fotos: Kane Skennar/Warner Bros. Entertainment)


Mirtes Helena Scalioni


Talvez a grande unanimidade de “Elvis” seja mesmo a constatação, mais uma vez, do grande ator que é Tom Hanks, que arrasa no papel do "Coronel" Tom Parker, o principal empresário do cantor, responsável, segundo muitos, pelo seu sucesso. E responsável também, segundo outros, pela morte prematura do artista, aos 42 anos, já no ostracismo e dependente de remédios. 

O filme, dirigido por Baz Luhrmann (“O Grande Gatsby” - 2013), entra hoje em cartaz nos cinemas de todo o Brasil, e promete incendiar o público e emocionar jovens e maduros com o inegável talento e carisma do Rei do Rock.


Impecável como o empresário malandro e enigmático, Hanks revela, sem muito esforço, as artimanhas que o coronel usou, com Elvis Presley e sua família, para convencer o artista a fazer o que ele queria. Cheio de lábia e armações conseguiu, por exemplo, barrar a carreira do roqueiro no exterior.

A performance brilhante do ator, transformado ao final do longa numa quase caricatura de si mesmo, já tem sido apontada como forte candidata ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Merecidamente, diga-se.


Os fãs mais ardorosos de Elvis Presley podem achar, no início, que Austin Butler (da série “O Diário de Carrie" - 2013) não se parece muito com o Rei do Rock, jovem de olhos azuis e beleza estonteante. Mas aos poucos, o trabalho do ator se torna tão convincente que, ao final, o público certamente vai se derreter de emoção, hipnotizado com a semelhança. 

Não são apenas os requebros, gestos vigorosos e trejeitos. A entrega ao papel é total, com nuances que revelam o homem por trás do mito. Quase uma incorporação.


Além do papel político de Elvis, que com sua rebeldia e carisma quebra a rigidez de uma América careta e moralista, o longa revela o lado bom-moço do artista, seu amor incondicional pela mãe Gladys (Helen Thomson), a relação com o pai e também empresário Vernon (Richard Roxburgh), o casamento apaixonado com Priscilla (Olivia DeJonge) e seu jeito quase ingênuo de se deixar explorar até prejudicar a própria saúde.


Quem assistiu ao documentário de dois episódios “Elvis Presley – The Searcher”, no Netflix, vai se lembrar que a infância e adolescência do cantor foram impregnadas da chamada música negra, do gospel ao blues, do country ao jazz. 

E o filme de Luhrmann confirma isso de maneira inquestionável, dando uma conotação quase mística ao menino diante da cantoria fervorosa nas igrejas. 


Elvis preferia estar entre os pretos e era com eles e elas que realimentava sua arte. São dignas de atenção suas conversas com B.B King (Kelvin Harrison Jr). O longa deixa claro também que o artista pagou caro por isso, ao desobedecer às leis de segregação vigentes nos Estados unidos.


Que ninguém se engane: “Elvis” não é exatamente uma cinebiografia tradicional. Segundo tem definido o diretor, é uma história de super-herói. Trata-se de um filme frenético, caótico e pop, como os escandalosos movimentos de quadris do roqueiro, magistralmente repetidos por Butler. Impossível não aplaudir no final.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Baz Luhrmann
Produção: Bazmark Films / Warner Bros. Pictures
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h39
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: musical, biografia, drama

08 agosto 2021

Documentário “Elvis Presley – The Searcher” mostra por que o ídolo continua vivo

Série em dois episódios mostra a influência de diversos gêneros musicais nos sucessos do inesquecível Rei do Rock (Fotos: Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Diversos provavelmente vão se queixar: faltou intimidade, novidades sobre o homem, fofocas, segredos. Mas basta um olhar mais atento para entender e aceitar de cara boa a série documental “Elvis Presley – The Searcher” (2018), da HBO Documentary Films, em exibição na Netflix. A começar pelo título, faz todo o sentido chamar o artista de “buscador”, “pesquisador”. Afinal, em sua curta carreira, ele nunca deixou de procurar influências, recriar e inovar.

Dirigida por Thom Zimny, a série de dois episódios tem pouco mais de três horas de duração, tempo necessário para contar, principalmente, a infância do menino pobre que nasceu em Tupelo, no Mississipi, e que, ainda adolescente se mudou para Memphis, no Tennessee, onde foi praticamente descoberto cantando numa festa de colégio.


O doc não deixa dúvidas sobre as primeiras influências do Rei do Rock. Definitivamente, ele era um cantor de “alma negra gospel'', por mais estranho que isso possa soar hoje. A cantoria dos pretos nas igrejas da sua infância foi fundamental na carreira do cantor de voz possante e de longo alcance. 

Do gospel ao country, passando pelo autêntico blues, ele cantou, exaustivamente, pelo simples prazer de cantar, na Beale Street, a famosa rua de bares em Memphis. E haja blues.


É possível que o documentário tenha se prendido mais à infância do cantor, mas os fãs vão adorar saber, por exemplo, que ele foi um filho exemplar, eternamente amoroso e cuidadoso com sua mãe, Gladys. Na verdade, a série deixa transparecer que Elvis foi um bom rapaz, mesmo no seu auge, nos anos de 1960, quando o mundo vivia as rebeliões raciais e sociais e o boom das drogas.


A maior rebeldia do Rei do Rock foi a sensualidade, arma que ele soube usar naturalmente, mas que não serviu de nada quando ele foi convocado pelo Exército norte-americano, no auge da fama, para servir na Alemanha. Há quem diga que foi uma retaliação do governo aos requebros e ao som negro que ele fazia. Resignado, Elvis interrompeu a carreira por dois anos. Os fãs, pacientemente, esperaram.


A resignação, aliás, parece resumir bem a carreira de Elvis Presley, que fez dezenas de péssimos filmes sem querer, se matava em turnês desumanas e foi explorado por um agente que nunca permitiu que ele saísse dos Estados Unidos. O palco, onde ele exercia com maestria, talento e carisma – com resposta sempre apaixonada do público -, parece ter sido seu suficiente lugar.


Jornalistas, produtores, engenheiros de som, amigos e artistas como Bob Dylan e Bruce Springsteen enriquecem, com seus depoimentos, o documentário muito bem amarrado pelo roteiro de Alan Light. A ex-mulher Priscila Presley, claro, também comparece, com entrevistas e filmes caseiros da possível vida doméstica do ídolo, falecido no dia 16 de agosto de 1977.


Saber de Elvis Presley é sempre bom. Melhor ainda é ver imagens inéditas, rever pedacinhos de seus mais de 30 filmes e 1.600 shows e ouvir, de novo, pelo menos 18 dos sucessos mais conhecidos desse artista impecável que gravou – em algumas edições definitivas - mais de 750 canções. Deve ser por isso que dizem que ele não morreu.


Ficha técnica:
Direção: Thom Zimny
Produção: HBO Documentary Films (2018)
Exibição: Netflix
Duração: 3h35 (em dois episódios)
Classificação: Livre
País: EUA
Gêneros: documentário / série / biografia