19 agosto 2021

"O Esquadrão Suicida" faz você esquecer que houve um primeiro filme

James Gunn acerta na direção e no roteiro e na escolha do elenco, respeitando os personagens dos quadrinhos da Dc Comics (Fotos: Jessica Miglio/Warner Bros.)


Maristela Bretas


Violento, com muito sangue, ação do início ao fim e um humor sarcástico, "O Esquadrão Suicida" ("The Suicide Squad"), dirigido por James Gunn ("Guardiões da Galáxia" - 2014) é tudo o que seu quase homônimo - "Esquadrão Suicida" (2916) - não conseguiu ser e ainda está agradando aos fãs da DC Comics.

Graças ao ótimo elenco estrelar (que o outro também tinha, mas não soube aproveitar), a versão em cartaz nos cinemas deve seu sucesso também ao roteiro de Gunn, que respeitou os personagens dos quadrinhos, mas não deixou de torná-los mais bizarros e violentos, amarrando muito bem a história de cada um deles.


Segundo o estilo de "Deadpool", com violência sem medidas, acompanhada de um humor escrachado que agrada apesar da situação, a produção prende o público, mesmo com tanta matança. Cabeças voam, o sangue jorra fácil e tudo acontece como se matar fosse uma coisa corriqueira.

Na verdade, para este grupo de psicopatas assassinos, a violência extrema é normal e o enredo apresenta personagens desprovidos de emoções, sem nada a perder. Não é à toa que estão "hospedados" na pior prisão dos EUA - Belle Reve -, onde morrer é como tomar café da manhã.


Como no antecessor, a diretora da penitenciária, Amanda Waller (a excelente Viola Davis) recruta um novo grupo de supervilões entre seus prisioneiros para destruir um projeto super secreto que ameaça o planeta.

Concluindo a missão eles terão suas penas reduzidas e as famílias preservadas. Enfrentar o exército da pequena ilha de Corto Maltese vai ser o menor dos problemas para o Esquadrão Suicida. O maior vilão está por vir -  o monstro Starro, o Conquistador - digno de um filme de super-heróis.


Apesar do banho de sangue, é impossível não simpatizar com alguns dos integrantes do grupo. E o brilho maior, como no filme de 2016, não poderia ser de ninguém mais que  "Arlequina" de Margot Robbie (que vive a supervilã também em "Aves de Rapina" - 2020). Sádica, bem humorada, violenta, sedutora, mas preocupada com os amigos, ela é um misto de emoções e fúria irresistíveis. 

Até mesmo com uma entrada triunfal, vinda diretamente do banheiro (só assistindo para entender), ela domina as cenas em que aparece - praticamente o filme todo. Ao mesmo tempo que enforca, asfixia ou fatia seus inimigos, exibe um sorriso ingênuo ou um olhar assassino.


Dividindo as atenções  temos a ótima interpretação de Idris Elba como "Sanguinário". O nome já diz tudo. Ele toma o lugar que no filme anterior foi de Will Smith, como "Pistoleiro"  e lidera o grupo na missão. Com ele outro rosto famoso do ringue e das telas, fazendo o estilo fortão sem noção - John Cena interpreta o vigilante "Pacificador". O personagem, inclusive, ganhou uma série na TV solo na HBO Max - "Peacemaker".

Além de "O Esquadrão Suicida", os dois atores estão também "Velozes e Furiosos 9", juntamente com Michael Rooker (Sábio). O elenco conta ainda com os superpoderes de David Bolinha (David Dastmalchian), de Caça-Ratos 2 (a atriz portuguesa Daniela Melchior), o Tubarão-Rei Nanaue (que recebe a voz de Sylvester Stallone). 


No segundo time de super-heróis bizarros temos ainda Capitão Boomerang (Jai Courtney), Caça-Ratos 1 (Taika Waititi ), Pensador (Peter Capaldo), Dardo (Flula Borg), OCD (Nathan Fillion), Doninha (Sean Gunn). A atriz brasileira Alice Braga também tem boa participação como a líder dos rebeldes Sol Soria. Joel Kinnaman ("O Informante" - 2019) volta mais "parrudo", bonito e simpático como o coronel Rick Flag.


Se o elenco e suas interpretações já são motivo de sobra para assistir a "O Esquadrão Suicida", a trilha sonora espetacular arrasa, assim como os efeitos visuais. Destaque para as lutas com espadas, especialmente nas mãos de Arlequina.

Apesar de não ter agradado ao público dos EUA, o mesmo não aconteceu no restante do mundo e garantiu, até o momento, uma bilheteria de quase US$ 120 milhões. O valor ainda não chegou à metade do que foi investido na produção - US$ 285 milhões. Mas vale a pena conferir.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: James Gunn
Distribuição: Warner Bros.
Exibição: Nos cinemas e HBO Max
Duração: 2h12
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: Aventura / Ação
Nota: 4 (de 0 a 5)

12 agosto 2021

“O Labirinto” fisga pela retórica. E só.

Thriller de terror é baseado na obra do escritor Donato Carrisi, que também roteiriza e dirige a produção para o cinema (Fotos: Loris T. Zambelli)


Wallace Graciano


A última sexta-feira 13 de 2021 terá um motivo a mais para amantes da sétima arte irem ao cinema. Isso porque nesta quinta, 12, logo na véspera do dia mais “sombrio” do ano, estreia “O Labirinto” ("L'uomo del Labirinto”, no título original) nas salas de todo o Brasil. 

Adaptada da obra literária homônima de Donato Carrisi, que também dirige o filme, a película tem em seu elenco nomes consagrados como Dustin Hoffman e Toni Servillo para levar ao espectador a mergulhar em um labirinto de suspense, onde cada porta se mostra indecifrável, apesar de sua obviedade constante na sequência. 


Sim, parece estranho misturar dois conceitos tão antagônicos, como o óbvio e o suspense, mas é a premissa da película de Carrisi. Nela, Doutor Green (Dustin Hoffman) presta seus cuidados a Samantha (Valentina Bellè), uma jovem que ainda tenta se recuperar de uma incômoda amnésia pós-traumática. 

E a partir desse momento, o espectador mergulha em uma narrativa regressiva na qual aos poucos é bombardeado com informações que levaram a mulher até aquele estado, tentando encaixar as peças do quebra-cabeça em um caminho tortuoso e dúbio de um sequestro que durou 15 minutos.


Paralelamente, Bruno Genko (Toni Servillo) foge dos atributos médicos para procurar o sequestrador de Samantha. Investigador nato, passa a procurar evidências em camadas para solucionar o mistério de quem manteve a jovem em cárcere privado.


Nesse ritmo, os caminhos e motivações se cruzam e Carrisi passa a bagunçar a cabeça do espectador, como se o filme um labirinto fosse. O diretor vai trabalhando conceitos como o suspense, a aflição, a inocência e a maldade em linhas paralelas, que tornam-se perpendiculares em determinados momentos, caminhando para um plot twist iminente. 


Essa narrativa difusa faz com que até mesmo o caráter de vítima da paciente e de investigador de Bruno sejam colocados em xeque durante a narrativa. 

Essa narrativa perturbadora  –  e excitante  – merecia melhor ser combinada com a estética da película, que exagera nas cores quentes e filtros, perdendo todo o teor de suspense que o filme poderia trazer. Ao invés do caráter claustrofóbico que um labirinto poderia trazer, somos levados a sensação que estamos em um pub ‘inferninho” pós-pandemia de Covid.


Em síntese, “O Labirinto” é um filme que te fisga pela narrativa, mas peca demais ao associá-la ao aspecto visual. É um bom entretenimento, mas certamente você verá algum fã da obra literária afirmar que “no livro foi melhor”. E ele terá razão. 


Ficha Técnica
Direção e roteiro: Donato Carrisi
Distribuição: Pandora Filmes
Gêneros: suspense / terror
Exibição: nos cinemas
País: Itália
Duração: 2h10
Classificação: 16 anos