13 novembro 2025

"Meu Pior Vizinho" - o inferno está do outro lado da parede

A fina folha que separa os apartamentos de Lee Ji-hoon e Lee Ji-hoon pode mudar suas vidas
(Fotos: Sato Company)
 
 

Silvana Monteiro


Em “Meu Pior Vizinho”, Lee Seung-jin (interpretado por Lee Ji-hoon) aluga um apartamento daqueles bem pequenos, colado, parede-parede com uma designer e artista plástica Han Seung-yeon (papel de Hong Ra-ni).

A questão é que ambos começam a se irritar com o barulho um do outro. Ele, como músico que precisa treinar para um teste musical e ela fazendo suas artes. A convivência vai ficando impossível até que um acontecimento os faz sair do controle. O que era inimizade vai virar amizade ou outra coisa? 


Com roteiro de Park So-hee, Lee Woo-chul e Kim Ho-jung, o filme revisita o original francês ("Blind Date", 2015) com o olhar próprio dos Kdramas.

O elenco é liderado por Lee Ji-hoon, estreando nas telonas após papéis de destaque em “River Where the Moon Rises” (2021) e “Rookie Historian Goo Hae-Ryung” (2019), e por Han Seung-yeon, ex-integrante do KARA, já conhecida por trabalhos como “Show Me the Ghost” (2021) e “Hello, My Twenties!” (2016). O excelente ator Ko Kyu-pil ("Twelve") completa o trio, no papel de Ku Ji-woo.


“Meu Pior Vizinho” tem uma fotografia sofisticada, talvez seu ponto mais forte, mas falta-lhe o pulso emocional que costuma mover boas comédias românticas. A obra até acena para temas como moradia, solidão, convivência e afeto, porém não os desenvolve com a profundidade que prometem.

O filme acaba escorregando no clichê dos doramas coreanos, repetindo a velha fórmula requentada: dois desconhecidos divididos por uma parede, irritação inicial, situações caóticas e, supostamente, um vínculo que deveria nascer daí. 


O problema é que não dá tempo para o envolvimento real do casal. As relações acontecem no automático, quase por convenção do gênero, e isso esvazia o impacto emocional — justamente o que se espera de uma história desse tipo.

No fim, sobra a estética: bonita, cuidada, às vezes até mais sensível do que o próprio roteiro. Falta, porém, a centelha que transforma uma narrativa previsível em algo capaz de tocar o público. Há charme, há intenção, mas há pouco risco. Nada de novo sob o sol. O resultado é um filme agradável de assistir, mas incapaz de deixar marcas.


Ficha técnica:
Direção:
Lee Woo-chul
Distribuição: Sato Company
Exibição: Cinemark Pátio Savassi
Duração: 1h52
Classificação: 14 anos
País: Coreia do Sul
Gêneros: romance, comédia

10 novembro 2025

Documentário "Lar" lança olhar sensível sobre o conceito de “família”

Filme mineiro observa o cotidiano de famílias LGBTQIAPN+ em Belo Horizonte e escuta falas sobre convivência, adoção e criação de laços (Fotos Embaúba Filmes)
 
 

Eduardo Jr.

 
“Filmes são gestos simples e complexos, que podem revelar muito de quem somos”. A frase apresentada em certo momento do documentário “Lar”, que estreia dia 13 de novembro nos cinemas, dá uma ideia do que é o longa dirigido por Leandro Wenceslau e distribuído pela Embaúba Filmes.  

A produção observa o cotidiano de famílias LGBTQIAPN+ em Belo Horizonte e escuta falas sobre convivência, adoção e criação de laços. Ao mesmo tempo, o diretor/narrador traz suas próprias vivências e embala em sentimentos sua obra. 


O diretor queria ter um filho com o marido, mas não sabia como. Até que um casal de professoras universitárias compartilhou com ele as experiências sobre a construção da família, que fizeram Wenceslau entender que, das mais diferentes formas, se edifica um núcleo familiar. Ele decidiu conhecer outras famílias LGBTQIAPN+, e teve a ideia de fazer o filme. 

Em "Lar", o cotidiano simples acaba revelando momentos e sentimentos marcantes. Pais e mães se abrem sobre os desafios de viver em família. Jovens adotados falam sobre pais viciados, abandono e sobre o misto de raiva e culpa que sentem por terem ido para um abrigo. 

Mesmo acolhidos por novas famílias e recebendo afeto, as memórias e percepções do passado os acompanham, provando que o convívio não se faz só de alegrias. 


Na tela, a direção se mostra inteligente. As imagens do Parque Municipal, em Belo Horizonte, casadas com um dos relatos de Wenceslau, deixam claro que, desde cedo, já havia uma busca por se conhecer, se entender como pessoa, como filho e sobre o exercício do papel de pai. 

Sutilmente, a busca por acolhimento se concretiza para o público por meio da construção imagética proposta no filme. Mais precisamente na cena da criança que relaxa, contemplando o céu e o telhado sobre sua cabeça. 

Os passeios e refeições em grupo também estão ali, democráticos, disponíveis aos mais diversos tipos de família. Seja com uma mãe trans, com os avós cisgênero, com dois pais… lar está muito além do laço sanguíneo. 


A sociedade precisa se despir da crença de que há um padrão de família a ser considerado. A conversa sobre a atuação das escolas diante de determinadas composições familiares é um dos pontos altos do documentário "Lar". 

Em síntese, a fala de uma das personagens traduz o que se vê na tela. Família é estar próximo. Apesar dos desencontros, dos traumas e das feridas que o tempo não apaga, a conexão com o mundo pode renascer. 

O documentário deixa claro: lar não é somente abrigo, é reconstrução. É onde se aprende a cair e levantar, a dividir o peso e a força, a controlar e a deixar ir. É no movimento entre rupturas e recomeços que se revela o verdadeiro sentido de pertencimento.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Leandro Wenceslau
Produção: Estalo Criativo
Distribuição: Embaúba Filmes
Exibição: Cine Una Belas Artes
Duração: 1h16
Classificação: livre
País: Brasil
Gênero: documentário