09 maio 2017

"O Cidadão Ilustre" e a hipocrisia provinciana em xeque

Produção mostra a evolução e o desgaste na relação entre um escritor famoso e a população de sua cidade natal (Fotos: A Contracorriente Films/Divulgação)

Maristela Bretas


Retornar à terra natal como uma figura de destaque mundial pode não ser a melhor decisão a se tomar. Principalmente quando se deixa para trás velhos rancores. Esta é a base do filme "O Cidadão Ilustre" ("El ciudadano ilustre"), que estreia nesta quinta-feira. Pela produção, o protagonista Oscar Martínez foi premiado como melhor ator no Festival de Cinema de Veneza.


Esta comédia dramática começa na Europa, onde Daniel Mantovani (Martínez), um escritor argentino e vencedor do Prêmio Nobel, vive há 40 anos. Até que recebe um convite inesperado para voltar a Salas, povoado argentino onde nasceu e que inspirou a maioria de seus livros, onde irá receber o título de Cidadão Ilustre da cidade. O que Mantovani não esperava era que sua ilustre visita fosse trazer velhos rancores, novos inimigos e a certeza de que nunca deveria ter retornado ao lugar.



Na produção, os diretores Mariano Cohn e Gastón Duprat (de "O Homem ao Lado") expõem a questão nacionalista dos argentinos, que lutam para preservar seus costumes e desprezam aqueles que são de fora, principalmente os que de lá saíram. Maior ainda é o rancor quando aos poucos a população vai entendendo que toda a obra do ilustre escritor, baseada em histórias de moradores, foi usada de forma crítica, menosprezando a maneira provinciana que vivem.



Mantovani, que inicialmente se sente honrado com a comenda, durante longos passeios pela cidade, vai confirmando o que sempre pensou e escreveu: o mundo parou em Salas, nada mudou, as pessoas apenas seguiram o que seus ancestrais sempre fizeram, mantendo um mundinho provinciano. Para eles, um ideal de vida "pacífica" e ideal. Para o escritor, uma negação da sociedade de qualquer tipo de progresso. Exceto pelo celular que alguns usam.


O visitante famoso passa a ser tratado como "persona non grata", desperta velhos amores e rixas, inveja naqueles que nunca conseguiram deixar o lugar por falta de coragem ou competência e ódio de quem achava que ser personagem em seus livros era uma honra e não uma forma de o autor criticar a cidade e seus habitantes. Um dos pontos altos é a relação tensa de amizade e ciúmes entre Mantovani, seu amigo de infância Antonio (Dady Brieva) e Irene (Andrea Frigerio), mulher de Antônio e ex-namorada do escritor.


"O Cidadão Ilustre" tem uma fotografia envolvente, com a câmera percorrendo espaços e detalhes para compor o ambiente da cidade, como numa narrativa literária. O roteiro é correto e conduzido com clareza, levando o espectador a simpatizar também ficar incomodado com o protagonista e suas ideias, que podem inclusive colocar a vida dele em risco. Um filme que vale a pena ser conferido.



Ficha técnica:
Direção e coprodução: Mariano Cohn e Gastón Duprat
Produção: Aleph Producciones SA / Magma Cine /Television Abierta SA / A Contracorriente Films
Distribuição: Cineart Filmes
Duração: 1h57
Gêneros: Drama / Comédia
País: Argentina / Espanha
Classificação: 14 anos
Nota: 4,5 (0 a 5)

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