26 maio 2017

A história de dois Francos e um Real

Filme apresenta uma versão política da crise econômica enfrentada pelo país há 24 anos (Fotos: Divulgação)


Maristela Bretas


Como história pode valer para a geração atual entender um pouco o que foi a criação e as manobras políticas para a implantação do Plano Real para salvar o país da falência econômica em 1993. No entanto, "Real - O Plano por Trás da História" é um filme com informações distorcidas, tendencioso politicamente, personagens caricatos e às vezes histéricos e que está sendo lançado aproveitando o novo momento de crise enfrentado pelo país. Adaptado da obra "3000 Dias no Bunker". de Guilherme Fiúza, inicialmente seria homônimo do livro, mas teve seu nome trocado assim como o diretor  - Heitor Dhalia ("Serra Pelada") deu lugar a Rodrigo Bittencourt. 

A produção supervaloriza a figura de Gustavo Franco (muito bem interpretado por Emílio Orciollo Neto). A trama é toda baseada em decisões que ele teria tomado à época, muitas vezes contrárias a de seus superiores, inclusive o presidente. Arrogante e detestado por todos, Franco é apresentado como o autor da ideia do Real, aquele que irá contra as medidas sociais e decisões políticas para implantar o que chama de seu plano econômico. Itamar Franco é tratado como um bobo da corte cheio de manias e ataques histéricos, enquanto Fernando Henrique Cardoso é o ministro bonzinho e salvador, que acabou sendo beneficiando com dois mandatos presidenciais. 

"Real" além de histórico faz o expectador lembrar-se de outros gêneros cinematográficos: a abertura parece uma ficção científica semelhante a "Lucy" (2014); o som estridente da guitarra na trilha sonora, assinada pelo diretor e Maycon Ananias, remete claramente a "Pulp Fiction" (1994). E ainda tem um pouco de faroeste na cena em câmera lenta da equipe econômica chegando ao Planalto, com os mocinhos se preparando para um duelo.

Além de Orciollo Neto, a produção acertou também na escolha dos atores Bemvindo Sequeira (Itamar Franco), Norival Rizzo (FHC) e Tatu Gabus Mendes (Pedro Malan). Os demais que compõem a equipe econômica cumprem seu papel, sem destaque - Wladimir Candini (André Lara Resende), Guilherme Weber (Pérsio Arida), Giulio Lopes (Edmar Bacha), Fernando Eiras (Winston Fritsch) e Carlos Meceni (Clóvis Carvalho). O mesmo acontece com Paolla Oliveira, como Renata, mulher de Gustavo Franco, Mariana Lima, assessora do economista, e Cássia Kis Magro, como a jornalista Valéria que entrevista Franco sobre sua participação no Plano Real.

Para entender o plano

Vários planos já haviam sido tentados desde meados da década de 1980: Cruzado (I e II) em 1986; Bresser em 1987; Verão em 1988/1989; e Plano Collor (I e II) em 1990 e 1991, respectivamente. Todos envolviam congelamento de preços, cortes de zeros das moedas, mas ao final de cada um a inflação de preços ressurgia pior. Em maio de 1993, com Itamar Franco no lugar de Fernando Collor, o país enfrenta uma hiperinflação acumulada em 12 meses de 1.348%, desemprego recorde e vários planos econômicos fracassados.

O então presidente nomeia FHC como Ministro da Fazenda para que recupere a economia brasileira. Com sua equipe de economistas foram tomadas várias medidas, além do corte de três zeros e a entrada, em agosto do mesmo ano, de outra nova moeda - o Cruzeiro Real. O início da melhora na situação econômica do país garante a eleição de FHC à Presidência da República. Em dezembro é apresentado o plano de estabilização, que passa a valer em fevereiro de 1994 e vai até junho, quando o Real entrou oficialmente em vigor e permanece até hoje.



Ficha técnica:
Direção: Rodrigo Bittencourt
Produção: Maristela Filmes / LightHouse
Distribuição: Downtown Filmes / Paris Filmes
Duração: 1h35
Gêneros: Drama / Histórico
País: Brasil
Classificação: 14 anos
Nota: 2,5 (0 a 5)

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