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02 fevereiro 2023

"Batem à Porta" retrata dilema familiar e o apocalipse

Novo longa do diretor M. Night Shyamalan explora as possibilidades de um outro fim de mundo
  (Fotos: Universal Pictures)


Carolina Cassese


Uma família diante de um perigo que pode acabar com a humanidade. É o que retrata o novo longa de M. Night Shyamalan, "Batem à Porta" ("Knock at the Cabin"), que chega aos cinemas nesta quinta-feira (2). 

Não faltam exemplos de produções recentes que se desenrolam a partir dessa problemática. Podemos citar os recentes "Ruído Branco" (2022), "Nós" (2019), "Não! Não Olhe!" (2022) e "Um Lugar Silencioso" (2018). Alguns cenários definitivamente são menos críveis do que outros. 


Mas levando em conta que atualmente precisamos lidar com as severas consequências de uma pandemia e da mudança climática (tristes eventos que, diga-se de passagem, estão associados), é mais do que natural que estejamos pensando sobre o fim do mundo. 

Exemplo disso é uma das séries mais comentadas do momento - "The Last of Us" -, que retrata uma sociedade pós-apocalíptica. Agora chegou a vez de M. Night Shyamalan explorar essa temática. O flerte com o sobrenatural, característico de muitos longas do diretor, também está presente nesse novo trabalho. 


Em "Batem à Porta", uma família pode impedir o fim do mundo caso faça um sacrifício. O destino de toda a humanidade, portanto, está nas mãos de Eric (Jonathan Groff), Andrew (Ben Aldridge) e Wen (Kristen Cui), um jovem casal e sua filha. 

Pelo menos é isso que anuncia Leonard (Dave Bautista), um grandalhão que invade a cabana onde a família passa férias. Outros três desconhecidos (Rupert Grint, Abby Quinn e Nikki Amuka-Bird) se juntam a ele e fazem os personagens principais de reféns. 

Fica a pergunta: é verdade que a família pode impedir o apocalipse ou os quatro invasores não passam de lunáticos?


Para convencer o casal de que o mundo está de fato acabando, Leonard constantemente mostra as terríveis notícias: vírus que se propagam numa velocidade absurda, acidentes de avião por toda a parte, tsunamis de grandes dimensões. 

Uma das discussões relevantes que podem emergir a partir do filme é justamente essa, a respeito da quantidade de (más) notícias que temos acesso nos dias de hoje. 


Com o advento das plataformas digitais, nossa atenção está cada vez mais dividida e ainda nos deparamos com uma enxurrada constante de notícias falsas. Além disso, muitas vezes naturalizamos tragédias e tratamos crimes ambientais como “acidentes”. 

A partir dessa visão, não é de se admirar que o personagem Andrew custe a acreditar na real necessidade de tomar uma decisão tão difícil para impedir o suposto apocalipse. Afinal, o que está acontecendo é o fim do mundo ou apenas mais uma terça-feira?


Além de uma premissa intrigante (adaptada do livro "O Chalé no Fim do Mundo", de Paul Tremblay), o filme é eficiente em gerar tensão no espectador e conta com boas atuações. Vale destacar a performance de Dave Bautista, que mais uma vez prova seu talento para cenas dramáticas. 

Talvez um dos principais pontos negativos seja o fato de que o dilema da decisão familiar não consegue ganhar complexidade moral. Em nenhum momento os personagens de fato se reúnem para pensar se devem ou não cometer um sacrifício pessoal em nome da humanidade. 


Nesse sentido, fica a sensação de que uma das mais relevantes premissas do longa é “desperdiçada”. No que diz respeito à recepção, vale dizer que Shyamalan definitivamente é um diretor que divide opiniões.

Se por um lado as primeiras exibições de "Batem à Porta" geraram ótimas repercussões no Twitter, parte da crítica especializada agora publica opiniões duras - o britânico The Guardian, por exemplo, disse que “Shyamalan fez de novo, do pior jeito possível”. 


Tal divisão pôde ser observada até mesmo no fim da sessão de cinema em que estive presente: enquanto alguns saíram satisfeitos com o desenrolar da história, outros não hesitaram em demonstrar descontentamento.

É compreensível que uma parcela do público se sinta decepcionada, já que o diretor de "Sexto Sentido" (1999) nos condicionou a esperar por uma grande reviravolta.  

Os ávidos por um bom plot twist provavelmente terminarão o filme insatisfeitos, já que as principais surpresas de "Batem à Porta" estão concentradas no início do longa.


O filme, portanto, é sobre a jornada. Com expectativas ajustadas, se torna possível permanecer envolvido na história e apreciar as qualidades da mesma. 

O apocalipse segundo Shyamalan pode não ser surpreendente, mas prende a atenção e, em conjunto com as outras tantas narrativas sobre o fim do mundo, tem o potencial de gerar muita discussão.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: M. Night Shyamalan
Produção: Blinding Edge Pictures / Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h40
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: suspense, terror

22 janeiro 2023

"Terrifier 2" - Difícil acreditar que o primeiro é ainda pior

Art, o palhaço assassino, causa pânico e nojo cometendo uma carnificina do início ao fim (Fotos: A2 Filmes)


Maristela Bretas


A propaganda foi grande desde o início, os cartazes e trailers, além das notícias de pessoas saindo do cinema passando mal foram atrativos essenciais para atrair o público ao cinema. 

Mas "Terrifier 2" decepciona quem busca uma produção de terror de qualidade, com história e sustos de pular na cadeira, sem precisar ficar traumatizado. 

O longa, categorizado no subgênero de filmes de terror slasher (com assassinos psicopatas que matam aleatoriamente), tem uma violência gratuita e sem medida durante mais de duas horas de duração, que chega a provocar mal-estar.


Não acrescenta nada, além das atuações ruins e de ser uma colcha de retalhos de clichês de outras produções bem melhores do gênero. Comum numa produção de baixo orçamento, onde o diretor acaba assumindo várias funções.

Damien Leone é também o roteirista, coprodutor, engenheiro de som, montador e editor de efeitos especiais. Um alerta: não é preciso assistir o primeiro filme, de 2016. A sequência já esclarece as principais dúvidas. 


Muitas pessoas se empolgaram em conferir o filme somente porque sabiam que havia mutilação de corpos, mortes brutais e sangue espirrando para todos os lados, não importando a hora ou local. No final da sessão,  no entanto, a crítica era negativa, na maioria dos casos, quanto ao roteiro. 

Haja criatividade (se é que se pode chamar assim) para criar um roteiro tão violento e louco, mas fraco. Não chega a ser um tiro no pé, uma vez que o diretor e roteirista do primeiro "Terrifier" (que pode ser conferido na  Amazon Prime Video) é o mesmo desta produção - Damien Leone e apostou na sequência. 


Ele acerta, no entanto, na escolha do ator David Howard Thornton, que retorna no papel de Art, the Clown, entregando a única interpretação boa do filme. Art, o palhaço, é realmente assustador e convence nas cenas de crueldade. Ele é a própria essência do mal. 

A maquiagem também ajudou a dar ao personagem o aspecto necessário para as cenas de matança, susto e nojo. É tudo tão absurdo que há momentos em que você se pega rindo da risada do vilão, mesmo sabendo que ele vai cometer alguma atrocidade.


O enredo explica superficialmente o que levou o palhaço a ter esse comportamento assassino.  Ele é obsessivo, metódico, curte a forma como tortura e mata suas vítimas, enquanto se delicia ao vê-las sofrer. 

Desaparecido há alguns anos após sua morte, Art se torna uma lenda entre os habitantes do Condado de Miles, cidade onde cometeu vários assassinatos no passado. 

Ele desperta a curiosidade do jovem Jonathan (Elliott Fullam), que prepara uma fantasia igual a do palhaço para o dia de Halloween (sempre nesta data, claro!). 


O que ele não esperava era que Art ressuscitaria e voltaria à cidade. Jonathan e a irmã Sienna (Lauren LaVera) acabam se tornando alvos do assassino. 

Ao parar em uma lavanderia para lavar suas roupas, o palhaço conhece uma garotinha igualmente assustadora, conhecida apenas como a "garotinha pálida" (Amelie McLain). 


Ao lado de sua nova parceira, ele retoma a matança de quem atravessa seu caminho.  Enfim, a história (ou a falta dela) de "Terrifier 2" se sustenta apenas na carnificina do personagem e desagradou até mesmo alguns fãs deste subgênero de terror. 

Bem diferente de Pennywise, o palhaço assassino de "It - A Coisa", Art deixa  a desejar e ainda não entra na lista dos lendários Michael Myers ("Halloween"), Freddy Krueger ("A Hora do Pesadelo") e Jason Voohees ("Sexta-Feira 13"). Para piorar, as cenas pós-créditos deixam claro que haverá um terceiro filme. Haja estômago!


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Damien Leone
Distribuição: Imagem Filmes e A2 Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h18
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gênero: terror

19 janeiro 2023

"M3gan" - aquele parente que é melhor não ter na família

A atriz-mirim Amie Donald interpreta a boneca robô com cara de assassina que tem vida infinita (Fotos: Universal Pictures)


Maristela Bretas


A roupa lembra uma professora primária, mas não se engane com esse novo brinquedo de 10 mil dólares que entrou em cartaz nos cinemas. Ela é "M3gan", uma boneca desenvolvida para ter vida infinita e ser a melhor amiga e protetora de sua dona. O que sua criadora não esperava é que ela também se tornasse seu maior pesadelo.

A produção não chega a ser um terror pesado. Os ataques da boneca começam mesmo a acontecer do meio do filme para frente. Antes disso, o roteiro é comum e segue explicando os dramas da criança amiga da boneca e sua relação com a família e o brinquedo. 


Só a cara e o olhar macabro de M3gan já causam pânico em qualquer um. Tudo indica que coisa boa não vai sair dali. A mesma sensação provocada por outros brinquedos do mal. 

Como Chucky (2019), na nova versão robotizada, ao contrário do original em pano e resina de 1998, como Annabelle (2014). Ambos assustam pela aparência. Não é normal um pai querer que algo bizarro assim passe longas horas com o filho.


Mas é exatamente isso o que acontece. Mesmo sendo um filme de terror, o roteiro tenta mostrar que a pequena órfã Cady (Violet McGraw, de "Doutor Sono" - 2019) só se liga na boneca porque a tia Gemma (Allison Williams, de "Corra" - 2017), roboticista de uma empresa high-tech de brinquedos para crianças, não lhe dá a atenção necessária. 


M3gan (com excelente interpretação da atriz-mirim, dublê e dançarina Amie Donald) é um protótipo de boneca realista, ainda em fase experimental, que usa Inteligência Artificial. 

No vídeo com conteúdos especiais, divulgado dia 18 nas redes sociais da Universal Pictures Brasil, elenco e produtores afirmam que a companheira de Cady é "a melhor amiga", "radiante como um raio de luz', até surtar. 


Programada para ser uma aliada dos pais e a maior companheira das crianças, ela é dada por Gemma à sobrinha Cady como teste para que aprenda a interagir com os humanos. Só que M3gan passa a assumir responsabilidades que deveriam ser da tia e suprir a carência da menina.

Mas a boneca vai além e se torna independente e possessiva com relação à Cady, não permitindo que nada nem ninguém lhe cause dor ou sofrimento. A partir daí, o pânico e as mortes passam a fazer parte da vida de Gemma e daqueles ao seu redor. 


M3gan não tem dó em usar um martelo, uma chave de fenda, ácido ou sua própria força para eliminar aqueles que ela não gosta ou que tentam afastá-la de Cady. 

As cenas de ataques não são explícitas, não se vê cabeças cortadas e corpos mutilados, mas o suspense é conduzido de maneira satisfatória e o sangue corre pela parede. 


Uma das melhores cenas é a "dancinha" que ela faz no corredor. Outro ponto positivo é a ótima trilha sonora de Anthony Willis, escolhida a dedo para compor as ações da personagem do mal. Destaque para “Titanium”, de Rihanna, interpretada por Jenna Davis, que também faz a voz da boneca. Clique aqui para conferir. 


O longa foi criado a partir do roteiro de Akela Cooper, com história de James Wan, que também é um dos produtores e tem em sua filmografia sucessos do terror como "Maligno" (2021), "Invocação do Mal 2" (2016), "Invocação do Mal "(2013), "Gritos Mortais" (2007) e "Jogos Mortais" (2004).


Apesar de ser um terror mediano, "M3gan" agrada e o público não sai insatisfeito do cinema. A boneca, apesar de ter uma cara que provoca arrepios, é com certeza a estrela do filme, sem passar uma aspecto fake

Pelo contrário, parece bem real e pode tirar o sono de muita criancinha. Entra para a minha lista dos bonecos assassinos que cumprem o que prometem. 


Ficha técnica:
Direção: Gerard Johnstone
Produção: Blumhouse Productions e Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h42
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: terror, suspense

31 outubro 2022

"Sorria" faz o espectador pular na poltrona de susto

Sosie Bacon é uma psiquiatra perseguida por entidade maligna responsável pela morte de um paciente (Fotos: Paramount Pictures)


Marcos Tadeu
Narrativa Cinematográfica


De uns tempos para cá, o terror psicológico tem se popularizado cada vez mais ,graças a filmes como "A Bruxa" (2015), "O Farol" (2019), "Midsommar - O Mal Não Espera a Noite" (2019). "Sorria" ("Smile"), obra de Parker Finn em cartaz nos cinemas, faz isso muito bem com um orçamento pequeno de U$D 17 milhões e uma bilheteria mundial de mais de  US$ 100 milhões, sendo R$ 10 milhões no Brasil.


Na história conhecemos Rose Cotter (Sosie Bacon), uma psiquiatra que presencia a misteriosa e assustadora morte de uma paciente. Ao investigar mais a fundo, descobre que a resposta está em um sorriso fixo e ameaçador. 

A protagonista ainda vive experiências semelhantes a sua última vítima e que todas as outras mortes têm um padrão e ela dispõe de pouco tempo para enfrentar uma força maligna.


O roteiro é muito ágil em apresentar todo o contexto e, principalmente, sob o ponto de vista da protagonista. Em grande parte da narrativa, Rose tenta, a todo custo, provar que as mortes são reais, equilibrando numa linha tênue entre a razão e a loucura. 

As pessoas próximas são as que menos acreditam nela e acham que a psiquiatra está com problemas relacionados à loucura.


Destaco também a mixagem e os efeitos sonoros. A narrativa usa de sons bastante comuns para assustar o espectador, um grande diferencial. O óbvio sendo usado para que a audiência fique atenta e dê bons pulos de susto na cadeira. É importante ressaltar que existem poucos jumps-scare, mas que são usados de forma nada convencional para que o público também se sinta incomodado com a criatura demoníaca.

Nos aspectos técnicos podemos ver grandes planos em close-up para reforçar a questão do sorriso. O jogo de câmera do longa é bem rápido, fazendo com que a trama aprofunde no mistério dos suicídios.


O encerramento deixa a desejar. Ficam pontas soltas e um fim em aberto, apostando em uma possível continuação. Se isso acontecer de fato, o grande desafio é produzir um enredo tão bom e tão forte quanto a história original.

"Sorria" é uma ótima pedida para quem curte terror psicológico. O filme está fazendo bastante barulho e recebendo críticas bem favoráveis do público. Sem dúvida, vale o ingresso e ficar de olho no que essa franquia pode se tornar. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Parker Finn
Produção: Paramount Pictures q Temple Hill Entertainment
Distribuição: Paramount Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h55
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: terror / suspense

07 setembro 2022

“Men - Faces do Medo" é um estudo sobre traumas e o processo de cura

Longa de terror em que todas as figuras masculinas são interpretados pelo mesmo ator, o excelente Rory Kinnear (Fotos: Paris Filmes/Divulgação)


Carolina Cassese
Blog no Zint Online 


Os homens são todos iguais. Tal máxima se torna bastante literal em "Men - Faces do Medo", o mais novo filme de Alex Garland, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (8). O longa de terror é centrado na história de Harper (Jessie Buckley), que, após passar por um término traumático, decide alugar uma casa no interior da Inglaterra com o intuito de passar um tempo sozinha. No entanto, diversos acontecimentos desestabilizadores atrapalham seu processo de cura.

O motivo da frase "os homens são todos iguais" ser relevante para o longa é bastante simples: em "Men", todas as figuras masculinas (o anfitrião da casa, a criança problemática da cidade, o vigário, o policial, o barman, o freguês do bar) são interpretados pelo mesmo ator, o excelente Rory Kinnear. 


Se levarmos em conta a figura do policial e do vigário, podemos considerar como eles também representam instituições que em determinados momentos históricos não ficaram necessariamente ao lado das mulheres. 

O vigário, ao conversar com Harper sobre a violência que ela sofreu, chega a dizer: "Isso acontece, os homens batem nas mulheres às vezes" Logo em seguida, seu discurso permanece carregado de culpabilização.


Além de serem iguais na aparência, outra inegável semelhança entre esses personagens é o fato de eles não darem muito valor às palavras da protagonista, em especial quando Harper pede ajuda por estar sendo perseguida (o stalker da protagonista, claro, é também interpretado por Rory Kinnear). 

O policial, por exemplo, não parece estar muito interessado em prevenir que algo aconteça com ela, apenas em "remediar" - retrato de uma sociedade que está disposta a punir, mas não a discutir questões de gênero e nem mesmo a proteger as mulheres quando necessário.


Boa parte das cenas de terror advém da perseguição que a protagonista sofre, ambientada primordialmente no espaço da casa. Há um sentimento de incômodo desde as primeiras cenas, quando o anfitrião apresenta seu espaço para Harper. Ele não sabe bem o que falar e ela tampouco tem certeza do que responder. 

Essa sensação de desconforto permanece em todo o filme, já que a personagem principal não consegue ficar realmente sozinha e refletir sobre sua vida. Ela parece não ser "autorizada", portanto, a passar por seu processo de cura.


Pode ser que o espectador se lembre um pouco da protagonista do longa "Homem Invisível" (2020), de Leigh Whannell, que também é atormentada por uma “aberração” masculina e praticamente não consegue ficar consigo mesma sem ser importunada. Essas mulheres, então,  lutam também pelo direito à privacidade. 

Outro filme que pode vir a mente é a animação "Anomalisa" (2015), de Charlie Kaufman e Duke Johnson, no qual vemos vários personagens iguais (com o mesmo desenho e, claro, a mesma dublagem).

Não é possível chamar a crítica que "Men" realiza de sutil, já que as metáforas são bem carregadas e até mesmo repetitivas. O diretor parece ainda não estar muito preocupado em apresentar soluções para o problema, apenas em evidenciá-lo. De qualquer maneira, é interessante perceber que filmes de terror agora tratam de temas sociais com mais frequência e, inclusive, são capazes de realizar críticas contundentes (o que acontece nos longas de Jordan Peele, por exemplo).


Definitivamente, não dá pra dizer que Garland deixa o espectador indiferente. Todos esses homens são, de fato, aterrorizantes (de jeitos diferentes e, ao mesmo tempo, muito similares). Eles não apenas representam várias esferas da sociedade, como também diversos tipos de violência. A partir da metade do filme, o espectador provavelmente ficará mais tenso e preso na história, que se aproxima do gênero terror.

Mesmo que algumas cenas sejam um pouco óbvias (e talvez “sobrem”), "Men" conta com atuações espetaculares e cenas angustiantes, além de ser um verdadeiro estudo do trauma - emoção que, para a personagem, já é por si só bastante assustadora.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Alex Garland
Produção: DNA Films / A24
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h40
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: terror / drama

23 agosto 2022

“Não! Não Olhe!” mistura elementos de diferentes gêneros e é carregado de referências

Novo longa do diretor Jordan Peele repete a excelente parceria com ator Daniel Kaluuya (Fotos: Universal Pictures)


Carolina Cassese
Blog no Zint Online



É difícil segurar a expectativa quando se trata de algum trabalho assinado por Jordan Peele. Com o sucesso do inovador “Corra” (2017), o diretor logo se tornou uma referência por desenvolver um terror (ou thriller, como alguns preferem caracterizar) repleto de simbologias e críticas sociais. 

Dois anos depois, ele lançou “Nós”, longa que muitos consideram ter sido injustamente esnobado por premiações como o Oscar, por exemplo. Neste ano de 2022, mais um longa do diretor chega nesta quinta-feira (25) aos cinemas: “Não! Não Olhe!” (“Nope”), que mistura elementos de western, terror, suspense e ficção científica.


Assim como no longa “Corra”, em “Não! Não Olhe!” também temos Daniel Kaluuya como protagonista, que dessa vez interpreta O.J. Haywood, um treinador de cavalos para uso em filmes e comerciais de televisão. 

Depois que seu pai morre em circunstâncias bizarras, O.J. herda o rancho e logo se junta a sua irmã, Emerald, interpretada por Keke Palmer. Quando, de repente, o céu está com uma aparência esquisita sobre o rancho Haywood, os irmãos se unem para formar uma aliança defensiva amadora.


Se em “Corra” nosso protagonista é um “outsider” que precisa lidar com uma família aparentemente tradicional e conservadora, em “Nós” os “intrusos” são literalmente cópias (assustadoras) dos nossos protagonistas. Já no filme “Não! Não Olhe!”, os outsiders realmente vêm de muito, muito longe e não se assemelham em nada com os protagonistas.


Vale aqui pontuar a presença dos dois atores principais, Kaluuya e Palmer, que realmente entregam uma ótima dupla de irmãos. Boa parte da comédia do filme deriva justamente da dinâmica entre eles, ao passo que ambos também estão excelentes nas cenas de terror, quando o tal invasor começa a de fato “atacar”. O ritmo do longa também é digno de elogios, já que realmente nos sentimos imersos na narrativa e cada ato cumpre com o seu propósito.

Como também ocorre nos dois primeiros filmes de Peele, são possíveis várias interpretações acerca da obra. Há diversas referências ao próprio fazer cinematográfico, como o contraste de imagens (digitais e ópticas) e a onipresença de câmeras - um dos personagens é, inclusive, um jovem que trabalha com vigilância eletrônica. 


Além disso, há uma série de alusões a eventos que marcaram a história do cinema, como o acidente no set de “Twilight Zone: The Movie” (1982). O olhar é outro elemento importante para o entendimento: a única maneira de não ser devorado pelo monstro é evitar olhar diretamente para ele.

Em diferentes momentos do longa, podemos observar ainda a maneira em que os humanos tentam domar criaturas consideradas como “inferiores” por essa sociedade. Há uma alerta: após tanto abuso, é esperado que alguns desses bichos se revoltem. 


Em entrevista ao veículo The Wrap, o diretor pontua que os animais são como um lembrete de como exploramos os bichos e a natureza. “Este filme, em sua essência, é sobre espetacularização e exploração”, disse. Há possíveis leituras, ainda, a respeito da universalidade do racismo.

Numa época em que grandes empresários realizam uma corrida espacial, é difícil até mesmo falar da vida fora do planeta sem esbarrar em algum tema social. Como pontuou Peele, não faltam inspirações da vida real para seus trabalhos: “O mundo me dá coisas horríveis para interpretar”.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Jordan Peele
Produção: Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h10
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: terror / suspense / western /  ficção

13 agosto 2022

"O Telefone Preto" só deixa ocupado o público em um suspense mediano

Ethan Hawke é um sequestrador de crianças que aterroriza uma pequena cidade (Fotos: Universal Studios)


Marcos Tadeu
Blog Narrativa Cinematográfica

 
Recebendo uma nota de 87% de aprovação no Rotten Tomatoes, sendo 101 críticas positivas e 15 negativas, "O Telefone Preto" ("The Black Phone"), dirigido e roteirizado por Scott Derrickson, chegou aos cinemas fazendo barulho por ser um terror psicológico que foge do óbvio. Mas decepciona no quesito susto e abusa nos clichês do gênero.


Em Colorado, 1978, conhecemos Finney Shaw (Mason Thames), um garoto de 13 anos tímido mas muito inteligente, que é raptado pelo Sequestrador (Ethan Hawke) que o coloca em um quarto à prova de som. Existe na cela um telefone preto que começa a tocar e a passar recomendações para ajudar o protagonista a sair daquele lugar.


Parte do enredo busca mostrar a temática da nostalgia e da infância, por se passar em uma cidade com poucos habitantes. Vemos como aquelas crianças dali se divertem em sua comunidade e como é a relação com os seus pais. 

Somos apresentados ao núcleo do nosso protagonista, que sofre com problemas de consumo de álcool e acaba se tornando muito violento. Quando Gwen (Madeleine McGraw), irmã mais nova de Finney, começa a ter visões sobre a questão dos sequestros, seu pai muito ríspido, proíbe que a menina veja e tenha acesso ao que está ocorrendo.


Em questão do terror, "O Telefone Preto" até funciona, colocando alguns jump scare que até provocam sustos no espectador. Mas achei que iam explorar mais esta parte.

Precisamos falar de Ethan Hawke como o Sequestrador: ele está à vontade no papel e assusta até com máscara cobrindo o rosto. A atuação dele chama a atenção. 


Um grande problema aqui é a falta de profundidade do vilão. Sabemos que ele sequestra algumas crianças e mata outras, mas qual a motivação? Será que ele teve um pai abusivo? O que o levou a planejar esses sequestros? Tudo isso fica numa camada rasa e em nenhum momento se propõe a resolver.


O maior defeito do filme, sem dúvida, são as saídas clichês para o protagonista. Ele recebeu orientações de outras crianças e tudo estava muito fácil, não consegue sentir emoção e adrenalina. Se do outro lado do telefone preto já tinha um time de crianças orientando, tudo isso fica em uma camada superficial e de fácil solução. Senti que isso atrapalha até os personagens secundários, como os policiais que não serviam de nada.

O que se pode concluir é que "O Telefone Preto" é um filme que só faz ocupar o público com uma história mediana. Apesar das grandes notas, faltou uma continuação ou um prequel para explicar as motivações do sequestrador.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Scott Derrickson
Produção: Blumhouse Productions / Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h43
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: terror / suspense 

21 janeiro 2022

Drama psicológico com pinceladas de terror, "Vozes do Passado" estreia em plataformas digitais

Julia Ormand é o destaque interpretando uma mãe manipuladora e opressiva (Fotos: AtômicaLab)


Maristela Bretas

Com narrativa arrastada e confusa nos primeiros 20 minutos (a duração é de 1h34), o drama psicológico "Vozes do Passado" ("Reunion") já está disponível para compra e aluguel nas plataformas digitais Claro Now, Vivo Play, Tunes/Apple TV, Google Play e YouTube Filmes. Apesar de ter em seu elenco principal a ótima Julia Ormand (como Ivy) e Emma Draper (Ellie) que entregam boas atuações, elas só começam a mostrar seus trabalhos  depois de meia hora de exibição.

Mesmo assim, o diretor e também roteirista Jack Mahaffy fica indeciso se quer explorar a instabilidade emocional de Ellie que se agrava com lembranças do passado, ou se quer seguir para o lado do terror provocado na mente da jovem pela antiga casa da infância. Mas as situações que deveriam assustar não abalam nem criancinha, são bem básicas e só vão melhorar no final. 


Não acredito que a proposta do filme seja a de assustar. O roteiro, apesar das muitas cenas paradas, trabalha muito em cima de flashbacks que provocam dúvidas no espectador sobre a sanidade da jovem e de sua família e o que está por trás de toda trama.

Passados 12 anos da morte da meio-irmã Cara (Ava Keane), Ellie, é uma escritora, está grávida e separada do pai da criança. Ela retorna à casa onde viveu com os pais, Ivy e Jack e, imediatamente começa a ter visões e a sensação de que está sendo perseguida por algo ou alguém. 

A culpa pela tragédia que marcou sua vida no passado, alimentada por uma mãe possessiva, controladora e também instável, vai agravar o fraco lado emocional da jovem..


Emma Draper está bem no papel, mas é Julia Ormand quem se destaca como Ivy, uma mulher com raiva da situação que se encontra, cuidando de um marido inválido que ela odeia por todas as traições que ele lhe impôs durante o casamento, que esconde segredos cruéis. Ela quer manipular de novo a vida da filha como se ela fosse ainda uma garotinha. E também a do filho que ela espera, apossando dele como se fosse seu.

A relação turbulenta e doente entre mãe e filha vai forçando Ellie a enfrentar o passado e a verdade sobre a morte da irmã, da qual se julga culpada. No elenco estão ainda Gina Laverty (como Ellie jovem, cujo olhar dá até medo), Cohen Holloway (namorado da jovem) e John Back (Jack, marido de Ivy e pai de Ellie e Cara).

Filmado na Nova Zelândia, “Vozes do Passado” exige paciência até metade do filme, mas tem um bom elenco e um final que é quase previsível, mas agrada. O longa poderá ser encontrado nas versões dublada e legendada. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Jack Mahaffy
Distribuição: Synapse Distribution
Exibição: Claro Now, Vivo Play, Tunes/Apple TV, Google Play e YouTube Filmes
Duração: 1h34
Classificação: 14 anos
Gêneros: Drama / Terror