29 março 2020

"Mulheres do Século 20": um rico e instigante painel do feminino na América e no mundo

Produção faz uma espécie de balanço da sociedade americana do final dos conturbados e inesquecíveis anos 70 (Fotos: Mars Films/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


A certa altura do filme, bem no comecinho, a dona de casa Dorothea, com seus 55 anos, pede socorro a duas amigas. Ela quer que ambas a ajudem a transformar Jamie, seu filho adolescente de 15 anos que mal conheceu o pai, em um homem de verdade. Detalhe das amigas: Abbie é uma fotógrafa com seus 25 anos, que aluga um quarto na casa; a outra é Julie, vizinha e amiga de Jamie, e tem 17 anos. Quase tudo causa certo estranhamento na história contada e dirigida por Mike Mills, que se vale de pouquíssimos personagens para fazer uma espécie de balanço da sociedade americana do final dos conturbados e inesquecíveis anos 70.


É aos poucos, na medida em que o espectador vai compreendendo e aceitando o ritmo do longa, que "Mulheres do Século 20" ("20th Century Women") vai se revelando encantador e rico. Dorothea (Annette Bening) é uma mulher típica do seu tempo. Vive com o filho em Santa Bárbara, na Califórnia, estado norte-americano reconhecido pela rebeldia, por lançar comportamentos e modas. E ela, claro, viveu todas as transformações, embora, a essa altura da vida, se sinta estagnada e impotente para criar sozinha seu único filho.


Jamie (Lucas Jade Zumann) é um garoto interessante e curioso e, como todo adolescente, nutre uma paixão mais ou menos platônica pela vizinha Julie (Elle Fanning), um pouquinho mais velha - e sábia - do que ele. A jovem está sempre pronta a questionar e dar respostas ao menino, tendo na ponta da língua muitas teorias sobre psicoterapias, já que sua mãe, que mal aparece na história, é uma profissional da área.

E tem também Abbie (Greta Gerwig, que dirigiu os sucessos "Lady Bird - A Hora de Voar" - 2018 e "Adoráveis Mulheres" - 2019) com seus cabelos vermelhos, seu jeito punk de ser e suas tragédias pessoais. Quase que correndo por fora dessa espécie de família eletiva está Willian (Billy Crudup) que, embora não pareça, faz alguma ligação, mesmo que sem querer, entre os personagens e suas histórias.


É nesse caldeirão de gerações, onde há sempre mais dúvidas do que certezas, que transitam todos, cada um com seu jeito de encarar a vida, sua forma de lidar com a política, os costumes, a música, o sexo, o consumo, a ideologia, onde não faltam debates acalorados sobre a função do clitóris, o feminismo e a menstruação. Em se tratando da típica sociedade americana pode-se garantir que assunto não falta. Resumindo, "Mulheres do Século 20" pode ser definido como um filme de diálogos e debates. Há sempre dois dos personagens conversando, o que torna o longa, por vezes, meio lento, mas nunca enfadonho.


Com rasgos de psicanálise e com uma realidade que conquista, o trabalho de Mike Mills é também para ouvir e pensar. Classificado como drama e comédia, pode-se dizer, sem medo de errar, que o grande mérito do filme, além do roteiro e dos temas desafiadores, é o elenco. Os atores, afinados e atuando, todos com muita naturalidade, são os grandes responsáveis pelo ritmo da história que, no fundo, pode ser definida como a trajetória do feminino na América e, consequentemente, no mundo.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Mike Mills
Duração: 1h59
Disponível: Netflix

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