18 fevereiro 2025

Somos "Flow" 100% como animação do ano

Filme aborda a questão climática, a necessidade de conviver com as diferenças e de união em situações extremas (Fotos: Sacrebleu Productions)


Jean Piter Miranda e Eduardo Jr.


"Flow" é como uma obra de arte. É uma animação que não tem diálogos (isso é impressionante), e ainda assim, os animais se comunicam. Você tira várias camadas para poder interpretar a crise climática que a gente está vivendo, a necessidade de pensar no coletivo, de pensar no próximo, de ter empatia, de saber conviver com as diferenças e de, realmente, um necessitar do outro. 

Não dá para ser individualista em situações extremas. Poderíamos ser mais coletivistas no nosso dia-a-dia? "Flow" é uma obra para  refletir, ela leva a gente a pensar e sentir. Por estas razões que esta produção da Letônia, dirigida por Gints Zilbalodis, merece ser conferida nos cinemas a partir do dia 20 de fevereiro.


Na história, o mundo está devastado, coberto apenas por vestígios da presença humana. Um gato preto solitário que, um dia, enquanto é perseguido por uma manada de cães, vê seu lar ser destruído por uma grande enchente. 

Buscando uma forma de sobreviver após a inundação, ele enfrenta diferentes ameaças, até que encontra refúgio em um pequeno veleiro povoado por diversas espécies. Todos tentam fugir dessa situação hostil e precisam se unir apesar de suas diferenças.


É aquela questão de experiência. "Robô Selvagem" é mais uma produção norte-americana, muito boa por sinal, mas que a gente coloca naquele mesmo pacote das outras boas produções hollywoodianas, como "Monstros S.A"., "Vida de Inseto" ou "Divertida Mente". 

Tem muita produção boa da Disney, da Pixar, da DreamWorks e a gente coloca ali, está tudo igual. Como experiência, eu falo que foram boas, mas é mais daquilo que a gente já viu. 

Como obra cinematográfica, "Flow" é diferente em tudo. A parte gráfica, a mixagem de som, a temática, ficaram ótimas. A animação ser feita sem diálogo, apenas com sinais sonoros e gestos entre os animais, e você ter que ler a situação para entender o que está passando, ficou fabuloso. 


As metáforas ficam na nossa cabeça, por muito, muito tempo. É um filme que marca. Você não vai conseguir tirar ele da cabeça. E tem cenas que são maravilhosas, na água, no céu, que dão para fazer pôster e pregar na parede. Por mim não precisava nem ter votação. Já poderia dar o Oscar direto para "Flow".

O colaborador Eduardo Jr. concorda com Jean Piter. Para ele, "se você chegou a este texto esperando encontrar análises sobre técnica e execução cinematográfica, pode se decepcionar. A interpretação das camadas e mensagens do filme tem tudo para ganhar mais espaço no gosto do público (no meu, já ganhou). 


Em tempos em que a perfeição parece ser o objetivo dos estúdios de animação, "Flow" se preocupa menos com a estética e mais com o conteúdo. Não que o desenho tenha traços malfeitos, mas notoriamente está um pouco distante daquele "padrão Pixar", tão amplamente difundido. 

Na tela os gráficos remetem a videogames dos anos 90. Aqui os personagens são um gato, um cachorro, uma capivara, um lêmure e uma garça, que juntos tentam sobreviver a uma inundação. No desenvolver da trama vão se abrindo camadas para interpretar diversas pautas e mensagens no filme. 


O grupo improvável de cinco animais, domésticos e selvagens, em uma floresta e precisando aprender como conviver em harmonia até remete à necessidade de união entre os cinco continentes pela preservação do nosso planeta.

"Flow' não tem diálogos, mas as escolhas e os gestos dos personagens falam por si só. Ou seja, a arte se faz até sem palavras. As ações e cenas ficam reverberando na cabeça da gente durante um tempo. 

Um filme lindo, especialmente na fotografia, capaz de deixar o público embasbacado. Merecedor do Globo de Ouro como Melhor Animação. E mesmo com um orçamento de 3,5 milhões de euros (em torno de R$ 21 milhões) é também um dos fortes candidatos ao Oscar 2025.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Gints Zilbalodis
Roteiro: Gints Zilbalodis, Matïss Kaza e Ron Dyens
Produção: Sacrebleu Productions
Distribuição: Mares Filmes, Alpha Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h25
Classificação: Livre
País: Letônia, França e Bélgica
Gêneros: animação, fantasia, família, aventura

14 fevereiro 2025

“Sing Sing” - A arte de transformar vidas no sistema prisional

Colman Domingo entrega mais uma brilhante atuação, desta vez como um detento que encontra um novo propósito com o teatro (Fotos: Diamond Films)


Filipe Matheus
Parceiro do blog Maravilha de Cinema


Colman Domingo está em cartaz nos cinemas como protagonista do longa “Sing Sing”, dirigido por Greg Kwedar e distribuído pela Diamond Films. O filme traz um retrato sensível da realidade prisional, evidenciando o poder transformador da arte na vida das pessoas. 

A trama acompanha Divine G (Domingo, de "Rustin" - 2024), um homem injustamente condenado que encontra um novo propósito ao atuar no grupo de teatro formado por detentos. 


Para esses homens, a arte se torna um símbolo de resistência e liberdade, mostrando que mesmo atrás das grades, ainda é possível ressignificar a própria história.

Um dos pontos altos da produção é a transformação pelo teatro, principalmente na vida de Clarence Maclin, um novo detento cauteloso e desconfiado. Aos poucos, a arte vai mudando sua trajetória e a de outros integrantes do grupo.


Trazendo ainda mais autenticidade à narrativa, Clarence “Divine Eye” Maclin, Sean “Dino” Johnson e Jon-Adrian “JJ” Velazquez interpretam a si mesmos, compartilhando suas próprias experiências como ex-encarcerados e ex-alunos do programa de teatro prisional da organização Rehabilitation Through the Arts (RTA).

Com uma abordagem poética, a obra reforça que a esperança é inerente ao ser humano. E que o passado não define futuro. Ao evidenciar a importância da arte dentro do sistema prisional, o filme é uma inspiração para mudanças e reforça o valor da cultura de ressocialização, provando que sempre existe luz no fim do túnel.


A trilha sonora do filme é composta por Bryce Dessner, uma peça fundamental na narrativa. Além de “Like a Bird”, que concorre ao Oscar 2025 como Melhor Canção Original, sucessos como "Blades" e "The Void" não apenas acompanham a trajetória dos personagens, mas também tocam profundamente o espectador.

Além de Melhor Canção Original, o longa foi indicado ao Oscar 2025 nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado, e Melhor Ator, um reconhecimento à atuação de Colman Domingo. 


O lançamento do filme foi simultâneo nos cinemas e nas prisões dos Estados Unidos, em parceria com a A24. Baseado no programa RTA, conta com o apoio da ONG Edovo, que disponibiliza tablets em centenas de unidades correcionais dos EUA, promovendo educação e reintegração. 

Outro ponto de destaque de "Sing Sing": todos os envolvidos da equipe receberam o mesmo salário, além de participações de propriedade no filme. Não deixe de conferir nos cinemas. 


Ficha técnica:
Direção: Greg Kwedar
Distribuição: Diamond Films
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h47
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gênero: drama