05 maio 2021

Surpreendente, mas arrastado e enigmático, “Raia 4” deixa o espectador reticente e incompleto

Longa marca a estreia do roteirista Emiliano Cunha como diretor e já participou de vários festivais de cinema internacionais (Fotos: Tuane Eggers/ Ausgang)

Mirtes Helena Scalioni


Pode-se até dizer que “Raia 4” é um filme que oferece várias leituras, algumas delas carregadas de símbolos e significados. Por ser um longa quase que totalmente passado numa piscina e em volta dela, onde os personagens estão sempre treinando ou competindo, a água é uma dessas metáforas possíveis: o único meio onde a personagem principal, a nadadora Amanda (Brídia Moni), consegue se refugiar e se sentir segura.


Só que, para além das metáforas, “Raia 4” não é exatamente um longa fácil de assistir. Lento, com mais silêncios do que diálogos, pode levar o espectador a interpretá-lo, até quase o final, como um filme no qual nada acontece. Tudo é mais ou menos colocado, mais ou menos explicado e suavemente sugerido nesse trabalho de estreia de Emiliano Cunha que recebeu, inclusive, o Prêmio de Crítica do Festival de Gramado em 2019. 


A começar por Amanda, que começa a história aos 12 anos de idade, tudo é misterioso. Nada fica claro. Impossível dizer, por exemplo, se aquela pré-adolescente é reservada, tímida, problemática, apaixonada, traumatizada, enigmática ou simplesmente emburrada. Ao longo de toda a trama, ela fala pouquíssimo, tanto em casa quanto no grupo de amigos, e o público permanece sem saber o que ela sente, o que pensa, o que quer.


Com o desenrolar da trama, na medida em que se vai conhecendo a família da menina, percebe-se que ela vive num grupo familiar sem grandes problemas. Os pais, médicos, são ocupados em suas profissões, mas afetuosos e, em nenhum momento, pode-se concluir que a filha não tem o apoio deles. Em seus papéis de pai, Rogério (Rafael Sieg) e a mãe, Marta (Fernanda Chicolet), pouco podem fazer para esclarecer ou melhorar o ritmo da história.


O mesmo acontece no grupo de amigos. Amanda não se revela nem entre os meninos nem entre as meninas. Há momentos em que ela parece ter alguma atração por sua colega de natação, Priscila (Kethelen Guadagnini), mas isso também não fica claro. 

Ao participar dos jogos e brincadeiras de pré-adolescentes, cujas prendas não passam de beijos selinhos, ela também não se revela. Em suma, a personagem tem o mesmo semblante quando está treinando, competindo, comendo, conversando com seu treinador Fábio (José Henrique Ligabue) ou vendo um filme de terror.


“Mas o final surpreende” – podem alegar alguns analistas. Claro que filmes com finais surpreendentes são sempre ricos e bem-vindos, prolongando, inclusive, os sentimentos, impactos e emoções do espectador. Só que, no caso de “Raia 4”, nada no longa parecia levar àquele fechamento. O que fica é a sensação de que o público perdeu algo ou a trama não foi devidamente costurada. 

Além do prêmio de Crítica, "Raia 4" conquistou também o de Melhor, Fotografia (assinada por Edu Rabin) e Melhor Longa gaúcho no Festival de Gramado de 2019. O filme foi exibido também nos festivais do Panamá, Cartagena das Índias (Colômbia), Uruguai, na mostra competitiva do 22º Festival de Xangai, Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e no Festival do Rio. O longa estreia dia 20 de maio nas plataformas digitais Now, Google Play, Apple Tv, iTunes e Youtube Filmes.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Emiliano Cunha
Exibição: estreia dia 20 de maio nas plataformas Now, Google Play, Apple TV, iTunes e Youtube Filmes
Distribuição: Boulevard Filmes
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Duração: 1h35
Gênero: drama

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