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01 março 2022

“O Beco do Pesadelo” é a maldade do ser humano na visão de Guillermo del Toro

Bradley Cooper interpreta um ilusionista charlatão que aplica golpes na elite rica de Nova York  (Fotos: 20th Century Studios)


Marcos Tadeu


Falar de Guillermo del Toro é falar de obras com criaturas monstruosas como “Helboy”, “A Forma da Água", "Labirinto do Fauno” e “Blade”. Em seu mais recente filme, “O Beco do Pesadelo” ("Nightmare Alley"), obra adaptada de  William Lindsay publicada na década de 1940 e concorrendo a “Melhor Filme” na corrida para o Oscar, o diretor assina seu trabalho mais simplista, com uma pegada noir. 

Se antes os monstros eram protagonistas de suas histórias, agora é o ser humano quem é colocado em foco como o vilão, devido à sua ganância e à busca intensa por poder.


A trama conta a vida de Staton "Stan" Carlisle (Bradley Cooper), carismático e sem sorte que busca uma oportunidade em um circo de charlatões liderado por Clem Hoatley (Willem Dafoe), quando a vidente Zeena (Toni Collette) e seu marido mentalista Pete (David Strathairn) ganham apreço por Stanton e decidem ensiná-lo a arte da enganação.

O protagonista então tenta ganhar mais dinheiro colocando Molly Cahill (Rooney Mara) com um número completamente novo e perigoso. Os dois começam a se aproximar e vivem um romance.  


Os anos passam e Stan ganha um bilhete para enganar a elite rica de Nova Iorque nos anos 40. As coisas começam a mudar quando a psicóloga rica Lilith Ritter (Cate Blanchett) surge na vida de Stan e o incentiva a fazer escolhas que poderão levá-lo à vitória ou à derrota.

Do ponto de vista do protagonista somos aguçados a conhecer um mundo de circo e aberrações. Stan é um cara que, inicialmente, parece muito tímido e com medo do que está vendo, mas que depois faz de tudo para ser visto e reconhecido por Clem. De todos os personagens apresentados, Stan é o que mais se destaca por crescer com sua ambição e fome de poder.


Lilith é uma personagem cercada de muito mistério. É visível seu interesse em Clem e como ele pode ajudá-la a conseguir suas vitórias. Ao mesmo tempo em que ela é muito doce, também é dúbia. O enredo apresenta riqueza  na forma de construir e desconstruir a personagem, principalmente na reviravolta de seu último arco, que nos deixa sem saber quem é mais monstro, Clem ou Lilith. 

Curioso pensar que até o nome da personagem é famosa na mitologia por ser um demônio com corpo de mulher que vivia no inferno. E não é para menos: as intenções da psicóloga são sempre duvidosas, o que nos faz torcer hora para o bem, hora para o mal.


Outro ponto que se destaca é o design de produção. A atmosfera noir, o circo sombrio, as atrações bizarras são muito bem ambientadas e conseguem refletir tudo a que o filme se propõe.

O que talvez deixe a desejar, no entanto, é o enredo, que falha por não aprofundar na maioria dos personagens. Exceto Clem e Lilith, que não têm muito o que ser desenvolvido, o que é uma pena. São bem estilizados, mas ficam em uma camada extremamente rasa.

“O Beco do Pesadelo” talvez seja um dos filmes mais fracos de Guillermo del Toro, apesar de potente na construção da narrativa. O autor deixa para o público a mensagem de como nossas ambições podem nos levar à glória, mas também ao fracasso.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Guillermo del Toro
Produção: Searchlight Pictures
Distribuição: 20th Century Studios
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h31
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: drama / suspense

27 fevereiro 2022

Campanha "A Vacina é Nossa Amiga" ganha as salas de cinema e redes sociais

Personagens do longa-metragem inédito "Meu AmigãoZão - O Filme” incentivam a proteção 
das crianças de 05 a 11 anos (Divulgação)


Da Redação


Já está em exibição em várias salas de cinema de todo o país e nas redes sociais a campanha “A Vacina é Nossa Amiga”, uma promoção da O2 Play, distribuidora da O2 Filmes, juntamente com a produtora 2DLAB e a empresa RioFilme, órgão integrado à  Secretaria de Governo e Integridade Pública (SEGOVI) da Prefeitura do Rio.  

Estrelada pelos protagonistas do longa-metragem inédito "Meu AmigãoZão - O Filme”, que se baseia na série aclamada, a ação incentiva as crianças a superarem os seus medos (assim como Yuri, Lili e Matt) e ainda conscientiza a população sobre a proteção da vacinação em crianças de 5 a 11 anos.  


Trata-se de uma iniciativa privada, com um vídeo de 30 segundos e três cartazes com os personagens do filme tomando a vacina. As redes sociais e canais da O2 Play, 2D Lab e RioFilme também vão participar. Só no Youtube, o canal Meu AmigãoZão tem mais de 1 milhão e 300 mil inscritos. 

“Somos a favor da vacina. Vacina salva vidas. E queremos prestar um serviço público através da popularidade destes personagens tão queridos, que é incentivar as crianças e os pais com um recado direto: a vacina é nossa amiga e nos protege", explica o diretor da O2 Play, Igor Kupstas. 


“Meu AmigãoZão - O Filme", aventura inédita em longa-metragem que chega em abril exclusivamente nos cinemas, mostra Yuri, Lili, Matt e seus amigos imaginários em uma viagem para uma colônia de férias. 

Lá eles conhecem Duvi Dudum, uma criatura divertida que aos poucos revela interesses secretos: separar a turma de seus AmigãoZões! Eles precisam se unir para resgatar Golias, Nessa e Bongo antes que seja tarde demais. 


“A série Meu AmigãoZão está no imaginário das crianças há mais de 10 anos. O público-alvo, crianças de 5 anos, é justamente quem está recebendo a vacina neste momento - e acreditamos que chegou a hora de seus heróis mostrarem que ela está aí para todos. Yuri, Lili e Matt sempre mostram como a amizade nos ajuda a confiar e a superar dificuldades. Nada como ter um AmigãoZão quando você precisa enfrentar qualquer tipo de medo. O que todos nós queremos é que tudo isso passe logo e possamos voltar a abraçar nossos amigos”, explica Andrés Lieban, criador e diretor da série e do filme. 


25 fevereiro 2022

Desconstruindo Almodóvar

O cineasta e Penélope Cruz, uma de suas atrizes preferidas (Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Não se pode negar: a recente chegada de cerca de dez obras de Almodóvar na Netflix é uma excelente oportunidade de maratonar e conhecer grande parte do trabalho do festejado cineasta. Mas é também a chance de, conhecendo mais, comparar, analisar e, quem sabe, criticar um ou outro filme do autor de "Ata-me", "Carne Trêmula", "Volver", “A Pele Que Habito”, pequenas e inquestionáveis obras-primas.

O mesmo não se pode dizer do recente "Mães Paralelas" ("Madres Paralelas"), que ficou aquém da expectativa apesar das belíssimas atuações da sempre linda Penélope Cruz e da estreante Milena Smit no papel das mães que têm seus “destinos entrelaçados” como se costuma dizer nas novelas. Faltou liga entre a história das mulheres e a outra trama do filme: a busca das ossadas de pessoas mortas pela ditadura de Franco durante a guerra civil espanhola.

Mães Paralelas (Divulgação)

Se tem todos os ingredientes de sempre – cores, alcova, desgraças, desencontros - por que “Mães Paralelas” não é tão brilhante? Exatamente porque as duas histórias, a das mães que acabam de parir seus filhos num mesmo hospital, e a da família que quer desenterrar para enterrar seus mortos, correm paralelamente no exato sentido do termo: nunca se encontram. É como se não houvesse ligação nenhuma entre elas, como se fossem dois filmes. Ficou manco.

Kika (Divulgação)

Já quem aproveitou essa onda da Netflix para assistir ao longa "Kika", de 1993, um dos menos famosos, pode ter se decepcionado. Como sempre, comédia e drama se misturam a diálogos e situações que, mais do que inusitadas, são inverossímeis. Traições, incesto, estupro, suicídios, crimes e toda sorte de esquisitices são retratadas de um jeito tão bizarro que até os mais ferrenhos fãs do cineasta podem estranhar. 

Não se trata apenas de extravagâncias e exageros - estamos todos acostumados a essas cenas e argumentos atípicos do diretor. Mas são tantas as tramas, tantos os personagens que, a certa hora, o espectador se perde, quase desanima.

Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (Divulgação)

Como sempre, assim como em “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos”, a mulherada de “Kika” é retratada como um bando de loucas, taradas, histéricas, sempre aos gritos, quebrando tudo que encontram pela frente e prontas a cortar os pulsos ou pular da janela quando são rejeitadas ou traídas. Pelos homens, claro. 

E esse é um perfil que, convenhamos, não ajuda em nada a luta feminina por espaço, reconhecimento e igualdade – mesmo admitindo que a função maior do cinema não é panfletar. Mas o discurso talvez seja anacrônico, ainda que exageradamente performático.

Outra coisa: aqui por esses lados, ninguém mais fica chocado com ações desse naipe. Crimes, traições, incestos, paixões proibidas e bizarrices são temas frequentes também na nossa literatura e cinematografia. Quem tem Nelson Rodrigues não se escandaliza com Almodóvar. E o autor brasileiro, convenhamos, dá um banho no espanhol na arte de contar histórias.



21 fevereiro 2022

“A Ilha de Bergman”: filme cabeça e metalinguagem para lembrar a obra do genial diretor sueco

O filme se passa na ilha de Fårö, na Suécia, onde o cineasta passou boa parte de sua vida (Fotos: Pandora Filmes/Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Fårö fica no Mar Báltico, a alguns quilômetros de Gotland, na Suécia. É a segunda maior ilha da província, com 5 quilômetros de comprimento e o nome se escreve assim, com uma estranha acentuação no “a” e trema no “o”.

Mas o que a torna famosa é o fato de ter sido, por muito tempo, o refúgio do angustiado Ingmar Bergman, que realizou ali muitas de suas obras. E hoje o lugar volta à cena, por ter sido motivo e inspiração para “A Ilha de Bergman” (“Bergman Island”), em cartaz nos cinemas a partir desta quinta-feira (24).


Não é preciso ser profundo conhecedor de Bergman para assistir ao longa dirigido pela francesa Mia Hansen-Løve (“O Que Está Por Vir” – 2016). Até porque não se trata propriamente de uma homenagem ao diretor, embora se passe na ilha, mostrando e citando ideias dele. Na verdade, trata-se mais de uma reflexão sobre o difícil processo de criação na arte e como ele pode se confundir com a própria vida do artista.

O casal americano Chris (Vicky Krieps) e Tony (Tim Roth) chega à ilha em busca de inspiração para seus próximos trabalhos. Ambos são cineastas – ele, mais velho e reconhecido. Ela, jovem em início de carreira, planejando escrever um roteiro. Pelo que se pode perceber, o relacionamento entre os dois não anda bem, mais entediado do que em crise.


Aos poucos, eles vão descobrindo o lugar que, planejado para fãs de Ingmar Bergman e turistas curiosos, é cheio de referências ao diretor que, aos 42 anos, já havia criado e dirigido 25 filmes. Estão lá a árvore de “Gritos e Sussurros” (1972), o piano da quarta mulher do cineasta, o quarto onde foi filmado “Cenas de um Casamento” (1973)...

Todos falam muito do diretor, do que ele gostava, no que acreditava. Há até um estranho safari de ônibus, com guia, visitando as locações. E uma sala de projeção onde passam os filmes dele.


“A Ilha de Bergman” não é um filme de fácil assimilação, daqueles que contam uma história com começo, meio e fim. Com roteiro da própria diretora, as cenas se arrastam entre passeios de bicicleta, diálogos e paisagens e, a certa altura, o espectador é surpreendido com cenas de “O Vestido Branco”, que está sendo escrito pela jovem Chris, um filme dentro do filme – pura metalinguagem. E, claro, em algum momento, ficção e realidade se misturam e os personagens se confundem. É interessante. Mas não prende muito e demanda certa atenção.


Além do casal, estão no filme, em participações menores, Hampus Nordensen como Hampus, uma espécie de flerte de Chris na ilha; Mia Wasikowska como a Amy, do filme dentro do filme; e Anders Danielsen Lie – ora como Joseph, ora como Anders, dependendo da obra focada no momento.

O final – os finais, melhor dizendo – são reticentes e inconclusos. Pode frustrar, mas há quem goste. E, no fundo, não deixa de ser uma forma de se lembrar das muitas obras-primas do grande Ingmar Bergman.


Ficha técnica:

Direção e roteiro: Mia Hansen-Løve

Distribuição: Pandora Filmes

Exibição: nos cinemas

Duração: 1h52

Classificação: 14 anos

Países: França, Bélgica, Alemanha, Suécia, México

Gênero: drama

18 fevereiro 2022

Em "Uncharted: Fora do Mapa", Tom Holland se dá bem como herói de videogame no estilo Indiana Jones

Produção traz muita ação e abre espaço para outros filmes com o personagem Nathan Drake (Fotos: Sony Pictures/Divulgação)


Maristela Bretas


Cada vez mais versátil, o ator Tom Holland ("Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa" - 2021) agora encarna uma versão jovem de Indiana Jones na caçada a um tesouro de US$ 5 bilhões. Ele é Nathan (Nate) Drake, o herói de "Uncharted: Fora do Mapa" ("Uncharted: Drake's Fortune"), em cartaz nos cinemas.

Ao lado de Holland está outro conhecido por filmes de muita ação - Mark Wahlberg (de "Transformers - A Era da Extinção" - 2014 e "Infinito" - 2021). Ele interpreta o canastrão Victor "Sully" Sullivan, um ladrão de antiguidades que está atrás das mesmas relíquias de Drake. Mesmo mantendo o estilo de sempre de outras produções, Wahlberg forma uma boa dupla com o herói e convence. 


A produção tem muita ação e aventura do início ao fim, com Nate despencando de um avião, sem paraquedas, ficando pendurado em castiçais ou perseguindo mocinhas em telhados de prédios. Holland está "bombadinho" e mostra boa forma física e mais segurança na interpretação. 

Graças especialmente ao seu papel de super-herói "amigo da vizinhança" e às participações no Universo Marvel. Além não perder a simpatia e o carisma de outros filmes em que participou e que são características do personagem do game.


Coincidência ou não, há cenas em que o público tem a impressão de que vão sair teias de aranha dos pulsos de Nate. Como era esperado, Holland é o destaque e segura bem o papel, semelhante ao de Harrison Ford na franquia "Indiana Jones". Foi uma ótima escolha do ator para interpretar o Nathan Drake dos jogos que ainda fazem sucesso entre jogadores.

No filme, mesmo sendo um pacato bartender, Nate é descendente do grande explorador Francis Drake e grande conhecedor de história e de antiguidades. 


Ele vai usar o que aprendeu para tentar encontrar o irmão Sam (Rudy Pankow) desaparecido há anos enquanto procurava o cobiçado tesouro perdido de Fernão de Magalhães. Mas para isso terá de se unir ao trambiqueiro e mentiroso Victor Sully e à parceira dele, Chloe Frazer (Sophia Taylor-Ali), numa jornada ao redor do mundo.


Claro que não poderiam faltar os vilões. Ponto falho para Antonio Banderas ("Os 33" - 2015, e "Mercenários 3" - 2014) , que repete a forma caricata de atuar neste gênero de filme. Ele faz o papel de Moncada, um colecionador bilionário espanhol bem previsível e bobo, até nas cenas em que deveria ser cruel. O ator está escalado para integrar o elenco de "Indiana Jones 5", previsto para 2023.

Já sua parceira Braddock (Tati Gabrielle), chefe de um grupo de mercenários e velha conhecida de Sully, garante a vilania raiz, com muitos tiros, brigas e facadas.

Game "Uncharted" (Crédito Naughty Dog/Playstation)

Para quem busca entretenimento, "Uncharted: Fora do Mapa" é uma boa opção e vale ser assistido numa sala Imax pelos efeitos visuais e locações paradisíacas. Baseado na série de games "Uncharted", da Sony para Playstation, o filme abre caminho para outras produções e aventuras com os personagens Nathan Drake e Victor Sully, como foi feita na famosa franquia criada em parceria com a Naughty Dog.

Se os próximos forem tão bons como este, poderá conquistar um público fiel e carente de filmes no estilo de Lara Croft e Indiana Jones, cujo último longa foi exibido em 1989 com "A Última Cruzada", dirigido por Steven Spielberg. Vale a pena conferir. Uma observação: não saia da sala de cinema. Há duas cenas pós-créditos, como nas produções da Marvel.


Ficha técnica:
Direção: Ruben Fleischer
Produção: Columbia Pictures / Sony Pictures / Atlas Entertainment / Arad Productions
Distribuição: Sony Pictures
Exibição: os cinemas
Duração: 1h56
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: Aventura / Ação

16 fevereiro 2022

"A Jaula" aposta na visão da sociedade sobre a violência nossa de cada dia

Chay Suede interpreta um ladrão de carros envolvido num jogo psicológico de tortura e sensacionalismo (Fotos: Reprodução)


Marcos Tadeu

Já parou para pensar como estamos sujeitos a ser assaltados cada vez que saímos às ruas? Como você reagiria ao assistir uma pessoa sendo torturada por uma "pessoa do bem"? "A Jaula", filme estrelado por Chay Suede e Alexandre Nero e dirigido por João Wainer, chega aos cinemas nesta quinta-feira levantando questões de políticas públicas, sensacionalismo da imprensa, a postura da polícia e como a sociedade vive à beira do espetáculo e da violência.

No longa, conhecemos Djalma (Chay Suede) que vê a oportunidade de "realizar" (roubar) um carro de luxo estacionado em uma rua tranquila de São Paulo. Após conseguir entrar no veículo blindado e tirar o som e até urinar no interior, a situação começa a mudar quando, ao tentar escapar, recebe a ligação de um renomado ginecologista (Alexandre Nero), que passa a controlar o ladrão à distância, fazendo dele seu prisioneiro.


O filme consegue explanar a visão de cada um dos envolvidos, principalmente Djalma, que passa por vários perrengues como fome, sede e ferimentos, precisando de cuidados. Porém, ninguém pode ouvir e ver do lado de fora do carro. 

Toda essa situação pode provocar um conflito de reações no público: sentir dó protagonista por estar em uma situação na qual entrou e não tem como sair? Ou gostar da suposta tortura imposta a ele por ser um ladrão?

Outro ponto que é colocado em pauta é a questão da justiça com as próprias mãos. O médico, interpretado por Alexandre Nero, tortura o bandido dentro de seu veiculo por causa das inúmeras vezes que sofreu algum ataque. Ele enfatiza em seu discurso como a “bandidagem” esta cada vez mais elevada e decidiu se prevenir dessa vez.  


"A Jaula" alfineta também os limites da "justiça" e dos direitos humanos e a posição de muitas pessoas de que eliminar um bandido seja apenas uma forma de deixar a sociedade mais limpa. 

A tecnologia do carro do ginecologista e como isso tem um efeito muito "Black Mirror" pode ser encarado como uma falha no enredo. Usar os recursos avançados do veículo como arma levanta uma questão: se cada pessoa fizer justiça com as próprias mãos, que rumo irá tomar a nação?


O ponto de vista da imprensa sensacionalista que gosta de vender o espetáculo do “médico que faz bandido de refém” também ajuda a contar a história, ainda que superficial. Cabe a Astrides um show a parte, como a apresentadora de um jornal do tipo policialesco, usando falas e expressões que incentivam o ódio, geralmente empregadas por homens colegas de profissão.

Por ultimo, não menos importante, temos a polícia e a personagem de Mariana Lima, que interpreta uma negociadora da Policia Federal. Ela tenta mediar a conversa entre o médico e o bandido e como essa negociação pode ser encarada pela população.


Porém, o que deixa mais a desejar em "A Jaula" é o fato de que nenhum dos personagens ganha um background, só vemos suas histórias no decorrer das ações no presente. Não há como defender o médico ou Djalma sem entender a própria história de cada um e o que fizeram para chegar exatamente naquele ponto. 

O suspense, um remake do filme argentino "4x4" (2019) dirigido por Mariano Cohn e Gastón Duprat, é um recorte extremamente falho que só levanta discussões sem aprofundá-las. Em nenhum momento o roteiro se preocupa em mostrar quais as reais motivações de cada um e o diretor não assume nenhuma postura. O resultado do trabalho, no entanto, fecha de maneira positiva.



Ficha técnica:
Direção: João Wainer
Distribuição: Star Distributions
Exibição: Nos cinemas
Duração: 1h20
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gênero: Suspense

02 fevereiro 2022

“A Mais Pura Verdade”: ótima minissérie com drama e suspense de perder o sono

Kevin Hart e Wesley Snipes interpretam os dois irmãos em conflito nessa produção de sete episódios sobre dinheiro e traição (Fotos: Adam Rose/Netflix)


Mirtes Helena Scalioni


Por mais que uma ou outra sequência possa parecer improvável, não se pode negar que “A Mais Pura Verdade” ("True Story") é uma série surpreendente que prende o espectador do começo ao fim, com viradas de tirar o sono. 

Com sete episódios e em cartaz no Netflix, a história gira em torno de questões tão antigas quanto importantes: que preço alguém pode pagar para se manter no topo do sucesso? Ou: o que pode despertar a extrema violência de um homem sabidamente pacífico e honesto?


Criada por Eric Newman (que produziu "Power" - 2020 e “Narcos” - 2017 e 2018) e dirigida por Stephen Williams e Hanelle M. Culpepper, a minissérie apresenta um recorte na vida de Kid, comediante de muito sucesso, daqueles que fazem stand-ups e filmes que agradam toda a família, de crianças a adolescentes e adultos. 

Negro, ele valoriza cada conquista e deixa claro, sempre que pode, que trabalhou muito para chegar aonde chegou. Interpretado por Kevin Hart (“Jumanji - Próxima Fase” - 2019) em uma de suas primeiras incursões pelo drama, o ator convence na pele do bom moço que, se preciso for, perde a humanidade e a ética.


Tudo caminhava muito bem na turnê de muito sucesso que Kid fazia pelo país, com shows, eventos filantrópicos e entrevistas até que a trupe chega à Filadélfia, exatamente a terra do comediante. 

E é lá, no luxuoso hotel Four Seasons, que ele tem um conturbado reencontro com seu irmão Carlton, que lhe apresenta Daphne (Ash Santos). A primeira surpresa a bagunçar a cabeça do espectador acontece logo no primeiro episódio, um pouquinho maior do que os outros seis.


Mas “A Mais Pura Verdade” não seria tão recomendável se não fosse a participação de Wesley Snipes (“Mercenários 3” - 2014), que interpreta Carlton, o irmão enrolado e meio bandido de Kid, capaz de tudo para tirar algum dinheiro do mano bem-sucedido. Em atuação perfeita, ele imprime um cinismo tal em seu personagem que chega a despertar a raiva do espectador na medida em que suas tramoias vão sendo expostas.


Merecem atenção também as atuações de todo o staff do artista que, claro, é assessorado por uma equipe de primeira. Estão lá a autora de textos e piadas, Billie (Tawny Newsome), o segurança fiel Herschel (William Catlett) e o administrador de tudo, Todd (Paul Adelstein). Não falta nem mesmo o superfã Gene (Theo Rosssi), jovem ingênuo e meio infantil que faz de tudo para se aproximar do ídolo e tem grande importância na trama.


Do lado bandido, destaque para os perversos irmãos gregos Ari (Billy Zane), Savvas (Chris Diamontopoulos) e Nikos (John Ales). “A Mais Pura Verdade” é tão surpreendente e criativa que pode ser uma temeridade partir para uma segunda temporada, totalmente desnecessária. 

O velho drama dos dois irmãos completamente diferentes um do outro e a ideia de que uma simples escolha pode transformar – e transtornar – a vida de uma pessoa estão muito bem amarrados e fechados nesses sete episódios. Se tentar melhorar, pode atrapalhar.


Ficha técnica:
Criação: Eric Newman
Direção: Stephen Williams e Hanelle M. Culpepper
Produção: Netflix / Harbeat Productions
Exibição: Netflix
Duração: 1ª Temporada - 7 episódios (média de 30 minutos cada)
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: Drama / Policial / Minissérie / Suspense

31 janeiro 2022

"Tratamento de Realeza" - romance trivial com elenco miscigenado

Mena Massoud e Laura Marano formam o casal que vai viver uma história no estilo Cinderela (Fotos: Kirsty Griffin/Netflix)


Silvana Monteiro


Elenco distinto, humor, uma pitada de musical e romance é o que promete o mais novo título da Netflix - "Tratamento de Realeza" (”The Royal Treatment”) - que está na lista dos top 10. Estrelado por Mena Massoud o ator canadense de origem egípcia que fez sucesso como "Aladdin" (2019), e Laura Marano, de "Lady Bird: a Hora de Voar” (2018), o filme é mais um daqueles clichês que retrata o envolvimento de um nobre e uma plebeia.



Izzy (Marano, que também é uma das produtoras do filme) é uma cabeleireira nova-iorquina de origem italiana, que vive na ralação e no vermelho, enquanto que Thomas (Massoud) é o príncipe sério e dedicado, de uma pequenina nação europeia.


A jovem é confundida com outra profissional e acaba indo prestar serviço para o príncipe, exatamente em um dos momentos mais importantes da vida dele. O contato entre cabeleireira e príncipe é muito amistoso e joga luz sobre a situação vivida por ele em relação ao casamento arranjado a que ele deve se submeter para salvar o reino.


Embora centrado no chavão romance entre uma pessoa comum e um integrante da realeza às vésperas de um casamento arranjado, o filme sai na frente ao apresentar um elenco negro na monarquia, incomum em filmes dessa temática. As cenas externas ao castelo, quando os protagonistas visitam a província de Lavania, são incríveis e burlescas.


Chama a atenção o fato de os súditos representarem uma linda mistura étnica. A fotografia e a trilha sonora são lindas. É um filme leve e divertido. Destaque para a construção do enredo, com um toque de musical. Os protagonistas funcionam maravilhosamente bem, com intensidade e sintonia. E aí, vai torcer por esse casal?


Ficha técnica
Direção: Rick Jacobson
Produção: Netflix / Focus Features International
Exibição: Netflix
Duração: 1h37
Classificação: Livre
Gêneros: Romance / Musical / Comédia

29 janeiro 2022

Lento e sem ação, “Ataque dos Cães” é um inesperado e brilhante faroeste dramático

Todo o elenco brilha, com destaque para Benedict Cumberbatch em uma de suas melhores interpretações (Fotos: Kirsty Griffin/Netflix)


Mirtes Helena Scalioni

Pode não ser verdade, mas já tem gente dizendo que o filme foi construído com a intenção de ser, no mínimo, um concorrente a Melhor Filme no Oscar 2021. Sombrio, dramático, enigmático e cheio de silêncios, “Ataque dos Cães”, em exibição na Netflix, foge dos clichês e consegue ser, ao mesmo tempo, faroeste e lento, além de ser um western que fala de homossexualidade. Mais paradoxal impossível. 

Experiente e respeitada, a diretora Jane Campion baseou sua obra num livro de 1967 chamado “The Power of the Dog” (“O Poder do Cão”, em tradução literal). O escritor, Thomas Savage, era autor de histórias de faroeste e sempre procurou esconder sua homossexualidade. Quem já assistiu ao filme sabe que isso faz todo o sentido.


Os irmãos Burbank – Phill e George – donos de uma grande fazenda em Montana nos anos de 1920, são como água e azeite. O primeiro, interpretado por Benedict Cumberbatch ("Doutor Estranho" - 2016), é violento, rude, ignorante. O segundo, em atuação de Jesse Plemons ("O Irlandês” - 2020), é doce, gentil e delicado. A partir daí, o conflito Caim/Abel começa a se desenhar. 


Principalmente quando George se casa com Rose Gordon (Kirsten Dunst, de "Estrelas Além do Tempo” - 2017), que traz a tiracolo seu filho gay Peter Gordon (Kodi Smit-McPhee, de "X-Men: A Fênix Negra" - 2019). Aqui é preciso um parênteses para dizer que todo o elenco está magistral, merecendo todos os prêmios por terem feito, na medida certa, personagens complexos e misteriosos. 

A ideia de levar o espectador, por um bom tempo, ao desconforto da dúvida, é plenamente cumprida. Nada é muito claro naqueles poucos diálogos e olhares.


Na medida em que os personagens são apresentados, “Ataque dos Cães” cresce ao mesmo tempo em dramaticidade. A lentidão, os longos silêncios e a falta de ação vão revelando a masculinidade tóxica de Phill, que insiste em agredir Peter até decidir transformá-lo num legitimo vaqueiro valente e macho.

O filme tem como partida o Salmo 22 que diz algo como “Salva a minha vida da espada/livra o meu ser do ataque dos cães”. Outra ideia que faz sentido no longa: ele é repleto de metáforas que esbarram na intimidade e nos segredos de cada personagem, na sexualidade e nos desejos reprimidos. Enfim, na diversidade e complexidade dos bichos internos de cada um.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Jane Campion
Exibição: Netflix
Duração: 2h06
Classificação: 14 anos
Países: EUA / Reino Unido / Austrália / Canadá / Nova Zelândia
Gêneros: Faroeste // Drama

22 janeiro 2022

Com poucas palavras e muita criatividade, "Poropopó" traz de volta o encanto e a magia do circo

História é centrada na família Dandelion e sua forma de fazer do mundo um lugar mais alegre e divertido (Fotos: Juliana Pereira/Divulgação)


Maristela Bretas


O circo não perdeu sua magia. Prova disso é a linda e contagiante produção "Poropopó", que tem pré-estreia nacional online neste sábado (22), dentro da programação ínfantojuvenil da Mostrinha da 25ª Mostra de Cinema Tiradentes. A produção já está disponível e pode ser assistida gratuitamente até as 23h59 do dia 29 de janeiro. Basta clicar no link https://mostratiradentes.com.br/filme/poropopo/.

E para quem acha que o cinema mudo está ultrapassado,. "Poropopó" prova o contrário. Usando uma linguagem universal que dispensa palavras, o longa-metragem será facilmente compreendido pelos pequenos, que acabam se envolvendo com a mágica história. As crianças vão torcer com as aventuras dos personagens e cantar a música-tema - Poropopó - que gruda na mente como um chiclete.


Com muita cor, sons, desenhos e malabarismos, a produção é bem divertida, cheia de vida e traz referências ao mundo do circo que muitos acreditam que tenha deixado de existir. Como num passe de mágica, ele ganha força por meio de uma família de palhaços que vai transformar toda uma comunidade usando criatividade e seu símbolo mais precioso: a flor Taraxacum, que no Brasil é conhecida como Dente-de-leão.


Criado por Denise Bernardes e dirigido por Luís Antônio Igreja, o filme conta a história de Julieta Dandelion (Letícia Pedro), uma palhacinha adolescente que nasceu e cresceu junto com sua grande família sob a lona do circo. Ela vê seu sonho de manter a magia circense quebrado com a chegada de um irmãozinho e a decisão dos pais de deixarem a vida nômade para morar numa casa na cidade. A jovem atriz entrega uma ótima atuação.


Resta a Julieta se adaptar à nova realidade de um teto de tijolos. Além da adaptação, a jovem também terá de viver outras mudanças, se apaixonar, lutar pelo direito de expressar sua arte e se tornar uma líder entre os jovens locais. Para isso vai contar com a ajuda do novo amigo e vizinho Romeu da Silva (Luigi Montez), um jovem todo conectado, que gosta de passar o dia olhando para um tablet e brincando de filmar com um drone. 


Uma novidade para Julieta, que sempre viveu uma realidade lúdica, de magia, desenhos e fantasias. Ela vai ensinar ao novo amigo que, para conhecer o mundo, basta levantar a cabeça e olhar ao redor, fora da tela. 

Chama atenção os trajes de Julieta, semelhantes aos da boneca Emília, do Sítio do Picapau Amarelo, que também era espevitada, brigona e não levava desaforo para casa. Será com esse espírito que a jovem irá lutar pelo circo que idealizou montar um dia na praça da nova cidade, atraindo todos aqueles dispostos a mostrarem seus talentos. 


Como o mendigo que dormia na praça e ninguém notava, ou a florista, o entregador de flores, a moradora solitária em busca de um amor. Até mesmo aqueles que vivem sob o domínio do medo e da repressão vão se descobrir. A todo momento, o filme ensina que gentileza gera gentileza e que isso é uma das melhores formas de unir as pessoas.

Rodado em 2018 na cidade de Nova Friburgo (RJ), o longa foi dedicado por seus criadores à memória do diretor Roberto Farias, falecido naquele ano. Conta com um elenco formado basicamente por artistas de grupos teatrais locais. Destaque para Amir Haddad como Zé Dandelion, avô da menina, e André Abujamra, a Mulher Barbada, sua avó.  


André Garcia Alvez garante as cenas divertidas da produção. Ator e palhaço na vida real, ele trabalha há 30 anos com teatro de rua e interpreta Migué Dandelion, pai de Julieta. Seu personagem solta puns barulhentos, é bem atrapalhado mas encantador e carinhoso e não deixa a fantasia de palhaço de lado nem quando procura emprego, mantendo sempre a maquiagem e o nariz vermelho.

"Poropopó" representa o sonho de cada um que se torna possível graças a uma palhacinha que correu atrás e brigou para realizar seu próprio sonho e mostrou que isso era possível para todos. Com criatividade, força e encanto, coisas que a magia do circo podem proporcionar. Imperdível.


Mostrinha 

Além de "Poropopó", a Mostrinha apresenta no próximo final de semana outro longa-metragem, “Pequenos Guerreiros”, da diretora Bárbara Cariry. O filme ficará disponível das 10h30 do dia 28 até às 23h59 do dia 29 de janeiro e poderá ser acessado pelo link https://mostratiradentes.com.br/filme/pequenos-guerreiros/.  

Nos dias 29 e 30 haverá a exibição gratuita de cinco curtas que tratam sobre perdas, amores, descobertas e resistências: "Raone", "A Primeira Perda da Minha Vida", "Nonna", "O Fundo dos Nossos Corações" e "Rua Dinorá". Eles poderão ser acessados pelo link  https://mostratiradentes.com.br/filmes/mostrinha/.

Curte "Nonna" (Foto: Universo Produção)

25ª Mostra de Cinema de Tiradentes

Maior evento do cinema brasileiro contemporâneo em formação, reflexão, exibição e difusão realizado no país, a Mostra de Cinema de Tiradentes chega a sua 25ª edição, iniciada nessa sexta-feira com encerramento no dia 29 de janeiro de 2022, em formato online.

Serão mais de 100 filmes brasileiros em pré-estreias nacionais e mostras temáticas, com homenagem a personalidades do audiovisual, seminários, debates, a série Encontro com os filmes, oficinas, Mostrinha de Cinema e atrações artísticas. Toda a programação é gratuita. Maiores informações no site oficial: www.mostratiradentes.com.br.


Ficha técnica:
Direção: Luis Antônio Igreja
Roteiro: Denise Bernardes e Rodrigo Parra

Produção: Samba Filmes/ Leblon Filmes / Valkyria Filmes

Exibição: online gratuita de 22 a 29 de janeiro, pelo link https://mostratiradentes.com.br/filme/poropopo
Duração: 1h20
Classificação: Livre
País: Brasil
Gêneros: família / ficção / infantojuvenil
Nota: 4,5 (de 0 a 5)