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20 novembro 2023

"Primeiros Amores", a novidade da Netflix que vai abalar seu coração

Série polonesa de seis episódios trata de amadurecimento, romance e paixão pelo cinema (Fotos: Netflix)


Filipe Matheus


"O sonho sempre vem pra quem sonhar". Esse trecho da música "Lua de Cristal", da Xuxa, tem tudo a ver com a nova série "Primeiros Amores" ("Absolutni Debiutanci"), já disponível no catálogo da Netflix. A primeira temporada está repleta de descobertas e nos inspira a sonhar, amar e ser feliz.

A história conta sobre dois amigos, ambos apaixonados por filmes, e que juntos trabalham em um longa para entrarem na faculdade de Cinema. Lena (Martyna Byczkowska), uma jovem com espectro autista, e Niko (Bartlomiej Deklewa) têm uma amizade muito forte e bela, e desde criança vivem aventuras, sonhando com o mundo mágico da sétima arte. 


O verbo amar é tão poético, e nessa história de amor, ele não pode faltar. Por isso, Igor (Jan Salasinski) entra na trama, para tocar o coração de Niko e a mente de Lena. Abalados com tanta beleza, força e masculinidade do jovem. Juntos, eles vão criar uma história fenomenal e fazer dela uma linda obra. 

Igor é um jogador de basquete que ama o esporte, mas passará por momentos difíceis, mas ao conhecer ambos, verá que viver algo novo e mergulhar de cabeça na atuação vale à pena. Uma série que te deixa intrigado, não só pelos personagens, mas também pela beleza da Polônia, cidade que é retratada nos episódios. 


Lena, quer muito ter uma cena de sexo no filme, mas o personagem de Niko não concorda, além da ética e por respeito a Igor. Porque será que ele não quer viver essa arte de maneira completa? O que tem de errado em uma simples cena de sexo? 

Para saber mais, você terá que assistir e vivenciar as emoções dos personagens que no decorrer da história, vão aprender mais sobre o que é a vida e como é difícil decifrá-la. E olha que a palavra VIDA, tem apenas quatro letras! 


A série fala também de família e de como os laços são importantes na construção das pessoas. Não tem como viver uma experiência sem recorrer a eles, as histórias, os encontros e até mesmo os traumas. De forma rápida e perspicaz, a trama tem seis episódios que vão deixar você querendo mais, ou melhor, a segunda temporada. 

Como eu disse no começo, "Primeiros Amores" fala muito sobre sonhar, mas nem sempre esses sonhos vão se realizar. Assista e me diga o que achou, meu caro leitor. 


Ficha técnica:
Direção:
Kamila Tarabura
Distribuição e exibição: Netflix
Duração: 6 episódios/média de 45 minutos de duração cada
Classificação: 16 anos
País: Polônia
Gêneros: romance, série, drama

19 novembro 2023

"A Sombra de Caravaggio" revela o artista para além de suas telas

Gênio do século XVII, o pintor é protagonizado com maestria pelo ator italiano Riccardo Scamarcio (Fotos: Divulgação)


Marcos Tadeu
Narrativa Cinematográfica


Em sua segunda semana de exibição, um dos filmes inéditos selecionados para o Festival de Cinema Italiano é "A Sombra de Caravaggio" ("L'Ombra di Caravaggio"), que pode ser conferido, de graça, até o dia 9 de dezembro no site oficial do evento - https://festivalcinemaitaliano.com/

Dirigido por Michele Placido, o filme aborda um período crucial na vida do renomado pintor, oferecendo uma perspectiva diferente, mais humana e rebelde. 

Ao ambientar-se em 1609, a obra retrata a inquietude de Michelangelo Merisi, conhecido como Caravaggio, e como suas obras desafiavam até mesmo a igreja católica, revelando sua genialidade.


Para além das polêmicas que cercavam o artista, o longa destaca não apenas a importância de suas pinturas, mas também a figura de Caravaggio como um "pai para os marginalizados". Ao retratar bandidos, prostitutas e ladrões de maneira sacra, ele provocou a ira da igreja, que passou a persegui-lo. 

Riccardo Scamarcio incorpora com maestria a intensidade do personagem, que tinha uma abordagem forte, debochada e que buscava justiça por meio de suas artes.

"Narciso",  pintura de Caravaggio

A personalidade galante de Caravaggio, sempre envolvido com várias mulheres, é bem interpretada, especialmente por Isabelle Huppert como Costanza Colona, esposa do pintor. Colona destaca-se por sua simplicidade, força e paixão pelo artista, mesmo quando a relação parecia destinada a desmoronar. 

Outras duas mulheres importantes na vida do pintor, Anna Bianchinni e Lena, demonstram tanto poder de sedução quanto disposição em defender o amante diante das tentativas da Igreja Católica de condená-lo à morte.


O filme também ressalta outro personagem importante que contrasta com o protagonista, proporcionando um duelo bem construído, especialmente em seu desfecho, revelando o legado deixado pelo pintor Michelangelo Merisi.

A direção de fotografia, sob a precisão de Michele D'Attansio, é uma obra à parte, explorando com precisão o estilo barroco para criar nuances de tons e sombras na tela. Chama atenção também a reprodução do figurino de época empregando tons mais neutros e frios, que acompanha a obra do pintor.

"Fausto", pintura de Caravaggio

No entanto, dois pontos negativos merecem menção. A passagem de tempo, que por vezes, torna-se confusa, já que as cenas cortadas não fornecem uma clara indicação da época. Isso deixa o espectador perdido, especialmente quando são introduzidos novos personagens.

Apesar destas ressalvas, "A Sombra de Caravaggio" é, sem dúvida, um filme que merece ser assistido para compreender mais profundamente essa figura controversa e crucial na história da arte.


Ficha técnica:
Direção: Michele Placido
Exibição: de graça no site https://festivalcinemaitaliano.com/
Duração: 2 horas
Classificação: 14 anos
País: Itália
Gênero: drama

11 novembro 2023

“Ainda Temos o Amanhã” é bálsamo para quem precisa suportar viver em uma sociedade machista

Longa integra com brilhantismo a programação do Festival de Cinema Italiano de 2023 (Fotos: Divulgação)


Eduardo Jr.


Um filme sobre a tentativa de se libertar do machismo teria grande possibilidade de ser pesado, triste. Mas em “Ainda Temos o Amanhã” (“C’è Ancora Domani”), o espectador encontra comédia e sensibilidade. A atriz, roteirista e autora Paola Cortellesi é quem assina e protagoniza essa obra, que promete ser uma das melhores das 32 produções em exibição gratuita no Festival de Cinema Italiano. Basta acessar o site até o dia 9 de dezembro - https://festivalcinemaitaliano.com/.

O longa estreou no Festival de Cinema de Roma no final de outubro, sendo escolhido o filme de abertura da edição de 2023. Foi uma das cinco produções pré-selecionadas pela Itália para representar o país na disputa do Oscar de Melhor Filme Internacional em 2024. 


É a primeira obra dirigida por Cortellesi. Filmado em preto e branco, retrata uma Itália pós-guerra, na década de 1940. Delia (personagem de Paola Cortellesi) é casada com o autoritário e violento Ivano (Valerio Mastandrea). 

O casal tem três filhos e a esperança de Delia reside em ver a filha fazer um bom casamento. Até que a chegada de uma carta misteriosa agita a rotina da protagonista. A família não tem posses. Vive em um cortiço, e a casa sugere que eles estão na base da pirâmide social, já que as janelas ficam abaixo do nível da rua. 


Até aí o drama está mais do que presente. Mas a entrada de um rock enquanto Delia caminha num “cat walk”, sem que ninguém a note, traz a comédia. Ao mesmo tempo, escancara a invisibilidade daquela mulher de roupas remendadas.

As idas e vindas de Delia em seus vários subempregos é interrompida pelo passado. Mais precisamente, um passado incompleto. Em uma das cenas mais bonitas do filme, ela se encontra com o mecânico Nino (Vinicio Marchioni). 

O namoro dos dois terminou na juventude, mas dentro deles a paixão ainda respira. E isso é usado para apresentar um pouco mais do passado da protagonista - e também sugerir uma pista para o que está por vir.


Eis que Delia recebe uma carta, que a deixa entre a perturbação e a emoção. Fica claro para o espectador que o tal papel tem o poder de mudar o destino daquela mulher, que escuta verdadeiros absurdos do sogro, da filha e do marido - que também a agride fisicamente. 

Destaco aqui o ponto positivo para a representação da violência doméstica associada a uma dança, e para o recurso utilizado para evidenciar as agressões.

Outro ponto positivo está na trilha do filme. As canções parecem ter sido escolhidas entre as mais belas criações dos últimos tempos, e se colam às cenas com perfeição. O texto também traz graça sem forçar a barra para tirar risos do público. 

Soma-se a isso a surpresa dada ao espectador quando se evidencia que Delia não está totalmente à mercê dos acontecimentos, mas é, sim, capaz de interferir neles.


E as possibilidades de interferência precisam de um empurrãozinho da melhor amiga, Marisa (a natural Emanuela Fanelli). Se não há apoio dos homens da família e tampouco da sociedade, só com as mulheres se ajudando é que algumas situações encontram solução. E a solução para o desfecho da trama é simplesmente EMOCIONANTE!

“Ainda Temos o Amanhã” PRE-CI-SA ser visto na telona! Porque é cinema em estado bruto. São brilhantes a construção e a interpretação da personalidade de Delia. 

Quase duas horas de encanto com a sétima arte - com direito a aula de história no final. Se aqui tivéssemos estrelinhas pra distribuir entre os filmes, este ganharia todas!


Ficha técnica:
Direção: Paola Cortellesi
Produção: Vision Distribution e Wildside
Exibição gratuita: https://festivalcinemaitaliano.com/
Duração: 1h58
Classificação: 14 anos
País: Itália
Gêneros: drama, comédia

20 outubro 2023

Filme "Swimming Home" busca recursos para distribuição mundial

Produção franco-britânica conta com a participação de artistas de renome (Fotos: Divulgação)


Da Redação


Já está em fase de pós-produção o longa "Swimming Home", ambientado na Grécia e baseado na obra literária homônima da escritora britânica Deborah Levy, finalista do Man Booker Prize de 2012, o mais importante prêmio literário da Grã-Bretanha. 

O filme conta com a participação de artistas de renome como o ator estadunidense Christopher Abbott (da série "The Sinner", da Netflix), a atriz canadense Mackenzie Davis ("Blade Runner 2049" - 2017) e a atriz greco-francesa Ariane Labed ("Fidelio: A Odisseia de Alice" - 2014). A produção é dirigida por Justin Anderson, responsável também pelo roteiro.

"Swimming Home", que poderá receber o nome em português de "Natação em Casa", é uma comédia de humor negro. Conta a história de um casal problemático, Joe e Isabel, e sua filha adolescente Nina, cujas férias são transformadas por Kitti. A estranha é encontrada nadando nua na piscina da casa em que estava hospedada a família e acaba convidada a ficar no local. Que tipo de alívio Kitti pode oferecer para esta crise familiar? 

Livro homônimo da escritora britânica Deborah Levy

Financiamento

Apesar de ser uma produção internacional, o filme contou com uma parcela de financiamento proveniente do Brasil. "Swimming Home" começou a ser gravado no ano passado, apoiado pela brasileira Hurst, por meio da MUV, seu braço voltado à cultura e pioneira no Brasil neste tipo de iniciativa. 

A cota financiada pela fintech foi transformada em ativo de investimento, com a promessa de retorno na forma de juros. O modelo desenvolvido pela Hurst é simples e quase qualquer um pode investir. O aporte mínimo é de R$ 10 mil. A operação terá duração de 12 meses, e a expectativa é de rentabilidade de 28,24% ao ano dentro do cenário base. 

Praticamente concluído e entrando na fase de distribuição, o longa entra na segunda fase de captação pela Hurst. Os recursos são necessários para a promoção do filme no mercado internacional. O fato de já estar todo gravado e em fase final de edição é um fator positivo porque reduz risco, já que os prazos e custos determinados para a produção foram cumpridos à risca. 

Ariane Labed, Christopher Abbott e Mackenzie Davis 


Mercado internacional

Em 2024, "Swimming Home" vai entrar no mercado por meio dos principais festivais internacionais de cinema, entre eles o Sundance Film Festival e o Festival de Berlim. A participação nestes eventos tem como objetivo atrair compradores, ou seja, as distribuidoras, que podem pagar pelo direito de exploração do filme em determinados territórios ou globalmente.

A exploração em questão é a exibição em diversas ou em todas as janelas existentes como cinemas, streamings ou TVs. E essas possibilidades aumentam o poder de barganha junto aos distribuidores, valorizando a produção e aumentando a rentabilidade da obra. 

“Ao transformarmos a produção cinematográfica em ativo de investimento, há uma troca com o objetivo do ganha-ganha. O cinema recebe o dinheiro de que precisa para concluir a produção e os investidores, ao final, recebem de volta o dinheiro acrescido da rentabilidade. Ninguém deve favor a ninguém, é um formato absolutamente profissional e independente”, comenta Arthur Farache, CEO da Hurst.


Ficha técnica
FILME EM PÓS-PRODUÇÃO
Direção e roteiro:
Justin Anderson
Produção: Anti-Worlds, Quiddity Films, Heretic, Reagent Media e coprodução da Leming Film
Países: Reino Unido e França
Gênero: drama

05 outubro 2023

Filme "Nostalgia" aborda tentativa de resgatar o passado

Produção italiana é baseada em romance homônimo de Ermanno Rea e tem Pierfrancesco Favino como protagonista (Fotos: Pandora Filmes/Divulgação)


Eduardo Jr.


Voltar pra casa para resgatar uma amizade parece algo bonito. Mas não é exatamente o que se vê no novo filme de Mario Martone, “Nostalgia”, distribuído pela Pandora Filmes, que estreia nesta quinta-feira (5).

Baseado no livro homônimo do escritor italiano Ermanno Rea, publicado em 2016, o longa traz o drama de um homem que retorna à sua cidade natal 40 anos depois.


O protagonista Felice, vivido por Pierfrancesco Favino (“Anjos e Demônios”, 2009), vive no Cairo, tem uma vida estável, se converteu à religião muçulmana e decide viajar para a cidade onde nasceu e passou a juventude. 

A princípio, o objetivo é cuidar da mãe idosa (Aurora Quattrocchi, que tensiona brilhantemente a trama). Mas a real intenção se mostra quando ele pergunta sobre um amigo de infância. 


Assim como Felice está voltando pra casa, o diretor Italiano Mario Martone também está voltando seus olhos para sua cidade natal. Nascido em Nápoles, Martone aborda de forma recorrente algumas páginas e personagens da história napolitana e da Itália. 

Entre essas obras estão “O Rei do Riso” (2022), “O Prefeito de Rione Sanità” (2019), “Capri-Revolution” (2018), “Leopardi: Um Jovem Fabuloso” (2014), “Nós Acreditávamos” (2011), “Caravaggio - The Last Act” (2005), “O Odor do Sangue” (2004) e “Morte de um Matemático Napolitano” (1992). 


Em “Nostalgia” a câmera acompanha Felice, e a profundidade de campo apresenta ao espectador a arquitetura napolitana e sua beleza decadente. Um reforço da informação que o texto oferece, de que Nápoles está entregue à criminalidade. 

A pauta da violência abre mais um assunto abordado no longa. Oreste (Tommaso Ragno), o melhor amigo do protagonista, se tornou uma das lideranças do crime. Já o padre Luigi Rega (Francesco Di Leva) de quem Felice se aproxima, é quem tenta evitar que jovens da cidade sejam cooptados pelos criminosos.    


Os flashbacks apresentados em uma mini tela mostram como aquela amizade (ou amor) do passado foi sinônimo de alegria - e como tinha tudo para trazer problemas. 

Aqui, desponta algo que pode ser lido, talvez, como inocência do protagonista: querer voltar para resgatar um passado que se rompeu abruptamente, mesmo que sua presença não pareça ser desejada. 


O muçulmano Felice volta a frequentar a igreja católica e até bebe vinho. Neste ponto se revela a opção do diretor de não explicar muito as situações e as questões sentimentais. Fica no ar se a mudança do protagonista é por uma obsessão com o passado, se o padre Luigi está apresentando o protagonista para toda a cidade e dando vinho a ele para ajudá-lo a se enturmar, ou se é por outra razão.    

'Nostalgia” é um filme de memórias. De silêncios e perguntas sem respostas que falam muito. Obra marcada por uma interpretação precisa de Pierfrancesco Favino. 

Apesar do desfecho se apresentar como previsível na segunda metade do filme, a obra pode agradar, seja pela fotografia, pela dramaticidade ou pela reflexão acerca do que a nostalgia pode fazer.  


Ficha técnica:
Direção: Mario Martone
Roteiro: Mario Martone e Ippolita di Majo
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h57
Classificação: 14 anos
País: Itália
Gênero: drama

11 setembro 2023

Helen Mirren dá vida e salvação a "Golda - A Mulher de Uma Nação"

Produção faz um recorte no período da Guerra do Yom, quando Israel foi  Kippur atacado por Síria e Egito (Fotos: Diamond Films)


Maristela Bretas


Poderia ser apenas mais uma biografia de uma líder, mas a atuação de Helen Mirren fez toda a diferença em "Golda - A Mulher de Uma Nação", produção sobre a vida da primeira ministra Golda Meir, conhecida como a Dama de Ferro de Israel, em cartaz nos cinemas. O filme se concentra na luta pelo reconhecimento de Israel pelos vizinhos Síria e Egito e na Guerra do Yom Kippur, uma das mais sangrentas da história do país.

O diretor Guy Nattiv utiliza muitas imagens reais da época com a verdadeira Golda Meir e faz um recorte sobre o que foi esta guerra, ocorrida em 1973, numa das datas mais importantes e sagradas para o judaísmo. O filme é quase didático e poderia se tornar desinteressante, não fosse a atuação excepcional da grande atriz no papel da primeira mulher a ocupar o cargo mais alto do governo de Israel.


A maquiagem excepcional que deixou Mirren quase irreconhecível, juntamente com as roupas pesadas, além dos dedos amarelados de nicotina foram pontos muito positivos da caracterização da personagem.

O conflito é apresentado pela ótica de Israel e de seus comandantes, em especial Golda Meir, o verdadeiro foco do longa.  Ela é mostrada como uma grande estadista, mas que sofre com as mortes de seus soldados nos campos de batalha, causada por uma decisão tardia. E ela marca cada uma em uma agenda. Mesmo sendo a heroína de Israel, ela vai responder tempos depois ao tribunal.


Um ponto que chama muito atenção é o fato de Golda ser uma fumante descontrolada, o que se reflete na saúde debilitada que ela precisa administrar enquanto governa com mão de ferro seu país e o conflito com os inimigos. 

Mas ela não está sozinha, o cigarro foi companheiro de quase toda a equipe da primeira ministra e presente em excesso nos cinzeiros de todas as reuniões, decisivas ou não.


Não espere ver muitas cenas de guerra, isso não acontece. Apesar de mostrar cenas de históricas da época em preto, o filme se restringe às reuniões em gabinetes para decidir sobre os ataques e contra-ataques, as decisões de Golda Meir e seu staff e a fragilidade de sua saúde. Mas Helen Mirren, com seu talento e competência dá o ritmo que o filme precisa para que não se torne um longa-metragem chato. 

"Golda - A Mulher de Uma Nação", para quem viveu esta época é uma aula de história, com personagens importantes sendo mostrados, além da primeira ministra. Como Moshe Dayan (Rami Heuberger), um dos grandes generais de Israel, e Henry Kissinger (Liev Schreiber), secretário de Estado, conselheiro de Segurança Nacional dos EUA no governo Nixon (período do filme) e figura decisiva nas negociações entre os países em conflito.

Hellen Mirren (e) e Golda Meir (d) (Fotos: Divulgação)

Destaque também para a francesa Camille Cottin, que interpreta Lou Kaddar, assistente pessoal de Golda Meir. A atriz entrega boa atuação, discreta e na medida, deixando clara sua importância nos momentos mais cruciais da primeira-ministra, especialmente na doença.

Não podemos esquecer que se trata de um filme em que os protagonistas são mostrados como os mocinhos e os países árabes os vilões. Mas o filme não entra na questão política, por exemplo, com a Palestina. Tudo se concentra na disputa de território e como a situação precisa ser resolvida - em combate ou na conversa. Cabe a Golda ser estrategista e também negociadora, quando a situação exige. 


A produção segue a linha, com menos brilho, de alguns longas produzidos nos últimos tempos, que enaltecem personagens não tão "bonzinhos" como mostrados no cinema, mas importantes para a história mundial. É o caso de Winston Churchill, em "O Destino de uma Nação" (2018), o Rei George VI, em "O Discurso do Rei" (2010) ou Margareth Thatcher, em "A Dama de Ferro" (2012).

"Golda - A Mulher de Uma Nação" é uma biografia que vale como história, especialmente para as gerações nascidas após os anos 1980 que não acompanharam este importante conflito árabe e não conheceram esta importante mulher que deu sua vida por Israel. 


Ficha técnica:
Direção: Guy Nattiv
Produção: Maven Pictures e Piccadilly Pictures
Distribuição: Diamond Films
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h40
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: drama, biografia, guerra

20 agosto 2023

Pise fundo, foi dada a largada para a estreia de "Gran Turismo" nos cinemas

Archie Madekwe vive o jogador de videogame Jann Mardenborough que se tornou piloto profissional
(Fotos: Sony Pictures)


Maristela Bretas


"Acelerar, acelerar". Até parece Relâmpago McQueen se preparando para uma corrida. Mas a adrenalina que vai contagiar o expectador é de “Gran Turismo - De Jogador a Corredor" ("Gran Turismo: Based On a True Story"), filme que estreia nesta quinta-feira (24) nos cinemas com a promessa de ser um dos melhores lançamentos do ano de simulador de corrida baseado em fatos. Algumas salas já estão com exibição antecipadas.

Um presente para quem curte carros, roncos de motores possantes, grandes e conhecidos circuitos de corrida. "Gran Turismo" conta a história do jogador de videogame Jann Mardenborough (o britânico Archie Madekwe, de "Agente Stone" - 2023). 

Suas habilidades impressionantes com o simulador de corrida da PlayStation o levam a ser escolhido para disputar uma série de competições pela equipe Nissan e se tornar um verdadeiro piloto profissional. 


Além de mostrar grandes circuitos de Fórmula 1 conhecidos pelos aficionados - como Nürburgring e Hockenheimer (Alemanha) e Silverstone (Inglaterra) -, o longa alfineta o jogo de interesses que corre por trás dos boxes e nas pistas. Sem contar os riscos a cada curva ou lombada para quem não tem a experiência real de pilotar, como no acidente de Jann.

As cenas de ação contaram com um uso menor de computação gráfica, o que exigiu maior preparo do elenco, mas deixou o filme mais realista. Os efeitos visuais funcionam perfeitamente como no game, às vezes fica difícil diferenciar realidade da simulação nas corridas. O formato IMAX é bem explorado, especialmente nos acidentes e nas competições.


Archie Madekwe está muito bem no papel de Jann Mardenborough, que também participa da produção como dublê do ator quando ele está correndo. 

Destaque também para o talentoso e sempre simpático, mesmo quando tenta ser mal-humorado, David Harbour ("Stranger Things" - 2022 e "Noite Infeliz" - 2022) como Jack Salter, chefe de equipe que treina Jann. A sintonia entre os dois atores funciona muito bem.

Claro que, como uma história baseada em fatos reais, não poderia faltar a parte emocional. Essa fica por conta da relação de Jann com Jack e a família, especialmente com o pai, interpretado pelo ótimo Djimon Hounsou ("Shazam! Fúria dos Deuses" - 2023). Ele é Steve, o cara pé no chão que não acredita no sonho impossível do filho. 


Temos ainda Orlando Bloom ("Piratas do Caribe - A Vingança de Salazar" - 2017) que entrega o convincente Danny Moore, responsável pelo marketing da escuderia. É dele a ideia de criar o torneio da GT Academy para escolher o melhor jogador de Gran Turismo que será treinado para se tornar um piloto profissional.

Até mesmo o elenco de apoio, que conta com jovens atores como Darren Barnet (o piloto Matty Davis, da equipe de Jann) e Josha Stradowski (o piloto Nicholas Capa, da equipe rival, que dirige a maravilhosa Lamborghini Huracan STO dourada), funciona bem.

O verdadeiro Jann Mardenborough (Divulgação)

O longa não é nada discreto quanto à publicidade. A começar pela própria Nissan, que é a fabricante japonesa do GT-R Nismo dirigido por Jann, e a Playstation, responsável pelo game - não teria como contar a história sem falar dessas duas marcas. 

Temos também a Red Bull, cujo circuito é mostrado em destaque, com longas imagens, inclusive aéreas. O filme conta ainda com a participação de Geri Halliwell, uma das Spice Girls atacando aqui de atriz, no papel da mãe de Jann. Na vida real, ela é esposa de Christian Horner, chefão da escuderia.


Carros e velocidade

Já vimos inúmeras produções sobre corridas que se tornaram referências no gênero, alguns bons, outros nem tanto. Confira alguns abaixo e onde estão sendo exibidos:
- "Ford vs Ferrari" (2019 - Star+);
- "Rush - No Limite da Emoção” (2013 - Netflix);
- "Velozes e Furiosos" (franquia iniciada em 2001- Telecine);
- "Herbie - Se Meu Fusca Falasse (2005 - Disney+);
- "Senna" (2010 - para alugar em plataformas de streaming);
- “Need For Speed - O Filme” (2014 - Disney+);
- "Dias de Trovão" (1990 - Globoplay e Youtube) e muitos outros.


Sem contar animações como "Carros" (2006, em exibição na Disney+); "Turbo" (2013 - Globoplay) e as antigas séries de TV, "Corrida Maluca" (1968 - HBO Max) - como esquecer de Dick Vigarista, Mutley e Penélope Charmosa - e "Speed Racer" (1967 - Prime Vídeo), que em 2008 ganhou uma versão para cinema (HBO Max).

Mas o que importa mesmo em todas produções sobre corridas é a adrenalina e o prazer que elas proporcionam a quem assiste (e gosta). Essas sensações são bem fortes em "Gran Turismo", exatamente por focar nas disputas e nos acidentes, que são inevitáveis e marcaram a carreira do jovem piloto. 

Fica a dica: se você gosta de carros e corrida, corra para o cinema e garanta seu ingresso para conferir este lançamento da Sony Pictures.


Ficha técnica:
Direção: Neill Blomkamp
Produção e distribuição: Sony Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h14
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: ação, drama, corrida

10 agosto 2023

As cores (e humores) de Wes Anderson estão de volta em “Asteroid City”

Novo longa recebeu indicação em Cannes, mas não é claro em sua proposta (Fotos: Universal Pictures)


Eduardo Jr.


Wes Anderson está de volta. Estreia nesta quinta-feira nos cinemas seu mais novo longa, “Asteroid City”. A produção, distribuída pela Universal Pictures, põe na tela 105 minutos de uma obra fiel às características do cinema do diretor norte-americano. 

E ainda vem com uma chancela importante: a indicação à Palma de Ouro no 76º Festival de Cinema de Cannes de 2023. Filmado na Espanha, em uma paisagem rural desértica, a obra pode fazer tanto sentido quanto uma imensidão de areia. Mas diverte o público em alguns momentos. 


No filme, uma convenção de observadores de astronomia em uma cidade no deserto norte-americano ganha novos contornos após um evento marcante (e cômico). A história se passa na década de 1950 e parece confusa em alguns momentos, por pincelar vários temas de uma vez. 

Também por ser uma produção que avisa ao espectador que a trama vai ser apresentada em um programa de TV, mas tudo não passa de uma encenação teatral (oi?). Tem ainda uma família com o carro estragado que ficou presa em Asteroid City, cuja população se dedica a observar nossa galáxia após a queda de um meteorito tempos atrás. 


Apesar da presença dessa família, não dá pra dizer que o longa tenha um protagonista. É típico dos filmes de Wes Anderson um elenco digno de novela de Glória Perez, com dezenas de personagens. 

Pela tela desfilam nomes famosos e de peso como Tom Hanks, Scarlett Johansson, Jason Schwartzman, Tilda Swinton, Jeffrey Wright, Bryan Cranston, Edward Norton, Liev Schreiber, Adrien Brody, Jeff Goldblum, Margot Robbie, Willem Dafoe, Matt Dillon, Steve Carell, Maya Hawke e Rita Wilson - e mesmo que eles não tenham uma história pra desenvolver, a lista segue aumentando. 


Se o diretor já adotou esse expediente de riqueza de elenco, como em “O Grande Hotel Budapeste” (2014), por que não repetir também as participações especiais? Em “A Vida Marinha com Steve Zissou” (2004), o cantor Seu Jorge participou do longa. 

E agora, o brasileiro retorna em “Asteroid City” como integrante de um grupo de músicos - e reforçando a amizade de longa data que mantém com Wes Anderson. 


A cena musical em que Seu Jorge aparece com seu violão e sua voz grave é hilária. Aliás, o filme como um todo parece um grande deboche do diretor com relação ao comportamento americano em situações diversas. Mas também traz pitadas de drama e de romance (que não funciona, você vai ver). 

Provavelmente é uma comédia com uma história incompleta, um pouco maluca. Nota dez, só para os enquadramentos e cores do longa, embora isso não seja nenhuma novidade a respeito de um cineasta que já se tornou até trend top no TikTok, com usuários fazendo vídeos do cotidiano como se estivessem em uma obra do americano. 


Fiel a sua estética e a sua forma de conduzir, Wes Anderson entrega um filme que se pretende divertido, com fotografia apurada, figurinos com vários modelos e designs clássicos dos anos 1950 e uma paleta de cores pastel. 

A divisão em atos, o deslizar das câmeras nos planos-sequência e a mudança do colorido para o preto e branco são bem ajustados. 


Ainda assim, é difícil resumir, de forma clara, do que se trata o longa quando assuntos como luto, alienígenas, romance e autoridades estúpidas são misturados. 

A experiência de “Asteroid City”, no entanto, pode valer a pena. Faz o público sair da sala escura levando algumas dúvidas e muitos risos. 


Ficha técnica:
Direção: Wes Anderson
Produção: Universal Pictures, Focus Features, American Empirical, Indiam Paintbrush
Distribuição: Universal Pictures   
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h45
Classificação: 14 anos
País: Estados Unidos
Gêneros: comédia, drama

31 julho 2023

“Disco Boy - Choque Entre Mundos” chega ao Brasil ostentando prêmio em Berlim e proposta confusa

Diretor italiano Giacomo Abbruzzese faz sua estreia em longas com obra complexa (Fotos: Divulgação)


Eduardo Jr.


Lá se vai o mês de julho, em que os cinemas exibem filmes de fácil leitura para atrair principalmente jovens em férias. A nova fase das salas de exibição começa no dia 3 de agosto, com um filme difícil. A estreia do primeiro longa-metragem do cineasta italiano Giacomo Abbruzzese, “Disco Boy - Choque Entre Mundos”. A distribuição é da Pandora Filmes. 

A obra chega carregando o Urso de Prata de Melhor Contribuição Artística no Festival de Berlim deste ano. Mas não se engane. O ‘choque entre mundos’ proposto no título poderia ser substituído por ‘universos que apenas se resvalam’. 


Na trama, duas histórias correm paralelamente - com pitadas de mistério, drama e aventura. De um lado está Aleksei (Franz Rogowski), que sai da Bielorrússia com um plano para se alistar na Legião Estrangeira, e assim obter a cidadania francesa. Do outro está Jomo (Morr N’Diaye), um guerrilheiro do Níger, que luta contra a exploração européia que vem tornando escassos os recursos necessários à sobrevivência de sua aldeia. 

As duas histórias, obviamente, se encontram. Mas não como esperado. O longa se inicia com uma cena de soldados negros dormindo na mata. Cria-se ali a expectativa de que a trama dos africanos tenha destaque, mas o cineasta sequer se esforça em apresentar os componentes daquele núcleo ou o passado deles. 


Apenas num raro momento de abertura dessas personagens é que Jomo, líder da guerrilha africana, é questionado sobre o que ele teria sido caso tivesse nascido do outro lado do rio. Ele responde que seria “um disco boy”, que subiria no palco e se deixaria levar pela música, ignorando dilemas externos. 

O mesmo desejo de libertação tem Aleksei, que mesmo sendo branco, vivendo outra realidade, também busca na música e na dança se esquecer de suas batalhas particulares e da guerra que enfrenta junto da Legião Estrangeira. 


Branco e negro têm desejos semelhantes, que parecem simples. Suas existências se entrelaçam. Mas um deles tem seu universo mais esmiuçado, ocupa a tela por grande parte do filme. 

Enquanto o mundo do outro parece mero recurso para se fechar uma história; não como ponto de embate, mas como escada para os dilemas do protagonista. Resvala com a realidade do homem branco e adeus.   

Os dois são colocados frente a frente no campo de batalha, quase espelhados. O efeito de visão noturna escolhido pelo cineasta para o embate entre protagonista e antagonista fica bonito na tela, prende a atenção do espectador. 


Mas dura pouco para que, na sequência, sejam apresentados os estragos feitos pelo colonialismo europeu. Essa crítica fica perdida, pois não se sabe se é da personagem Aleksei ou do próprio cineasta. 

As tentativas do diretor de mostrar que as escolhas da vida não são simples e podem trazer consequências exigem do público concentração e capacidade de análise. Não só porque parecem habitar apenas na cabeça do cineasta, sem estarem expressas com clareza na tela, mas porque também são costuradas com cenas dúbias, delirantes. 


A irmã de Jomo, Udoka (Laetitia Ky), também gosta de dançar e se torna desejo inalcançável de Aleksei. Jomo, que foi morto por Aleksei, reaparece (se de forma onírica ou não, você decide). E nessa mistura confusa, o bielorrusso parece sofrer para escolher entre a cidadania francesa e a herança louca da guerra. 

Ao espectador, resta o esforço de interpretar metaforicamente a dança que embala o final do longa. Prepare-se para um filme difícil. Uma viagem sem por que ou pra quê. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Giacomo Abbruzzese
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h32
Classificação: 12 anos
Países: Bélgica, França, Itália, Polônia
Gênero: drama