05 dezembro 2025

“Cyclone” é obra crescente sobre talentosa dramaturga esquecida na história do Brasil

Longa resgata a história de Daisy Castro, interpretada por Luiza Mariani, que enfrentou vários obstáculos machistas para estudar teatro em 1919 (Fotos: Muiraquitã Filmes)
 
 

Eduardo Jr.

 
“O senhor já foi em alguma peça escrita por uma mulher?” A pergunta lançada no meio do filme e o silêncio constrangido dado como resposta poderiam ser apresentados logo no início do filme “Cyclone”, como dica do que está por vir. O longa está em cartaz no Cine Una Belas Artes.

O longa, dirigido por Flávia Castro, produzido pela Muiraquitã Filmes, pela Mar Filmes e distribuído pela Bretz Filmes, resgata a história real da dramaturga Maria de Lourdes Castro Pontes, que enfrentou o obstáculo de ser mulher na busca por uma viagem a Paris para estudar teatro. 


O início, sem cor, parece identificar o mundo masculino. A dramaturga Daisy Castro, que se intitula Cyclone (Luiza Mariani), tenta apresentar seu trabalho para alguns senhores. Mas essa é uma daquelas conversas onde o que a mulher tem a dizer não interessa aos homens. 

O local onde ela tem (tem?) reconhecimento é na encenação de uma trupe teatral, dirigida por Heitor Gamba (Eduardo Moscovis), com quem ela dorme. Além de ter o corpo de Cyclone, ele detém o poder de incluir ou não o nome dela nos créditos da peça, que só existe graças ao trabalho dela. 

A direção ganha um ponto extra por conta de fina provocação: a peça a ser encenada no filme é “Os Bruzundangas”, de Lima Barreto. Texto que satiriza questões como preconceito e hipocrisia em um país fictício. 


Na coxia, a câmera espreita tudo, como um dos participantes alcoolizados naquele ambiente, ora com foco, ora desfocada ao capturar detalhes. Sem planos abertos, parece querer simbolizar um mundo fechado. 

Para entender algumas falas, o espectador precisa estar bem atento. O som, que começa inicia em volume mais elevado, perde potência ao acompanhar o cotidiano, os deslocamentos, o trabalho de Daisy como tipógrafa. 

Ali, ela e a prima Lia (Luciana Paes) conversam sobre o universo feminino, a relação com o mundo dos homens. E isso alimenta a escrita de Cyclone. Enquanto ela cria, a música guia o emocional do público, tentando dar esperança à luta daquela mulher. 


Até então meio morno, o longa começa a respirar mais forte quando a jovem recebe a confirmação de que conquistou uma bolsa para estudar teatro em Paris, onde poderá deixar de ser Daisy durante o dia e ser somente Cyclone em tempo integral. 

Mas ela é mulher. E isso, na São Paulo de 1919, significa precisar ter seu nome gravado no programa de uma peça como dramaturga, ter uma autorização para viajar assinada pelo pai (já falecido) ou marido (com quem ela não se relaciona mais) e ainda enfrentar outros absurdos.    

Luiza Mariani constrói uma Cyclone profunda, que até se fragiliza, mas engole seco e luta. O que ela tem é sua força e a ajuda de duas mulheres: a amiga Marie (Karine Teles) e de uma apoiadora de última hora, Ada (vivida por Magali Biff). 


Vale destacar a sororidade fora da tela também. A obra se sustenta na colaboração entre mulheres: roteiro de Rita Piffer, produção executiva de Diana Almeida, direção de fotografia de Heloísa Passos, direção de arte de Ana Paula Cardoso, figurino de Gabriella Marra e edição de Joana Collier. 

O longa, livremente inspirado nas obras “Neve na Manhã de São Paulo”, de José Roberto Walter, e em “O Perfeito Cozinheiro das Almas Deste Mundo”, de Oswald de Andrade. Tem, ainda, pesquisa de Suzane Jardim. 

Para derrubar tantos entraves, a raiva é energia para ela — e promete energizar o público também. Energia que faltou a Maria de Lourdes, apelidada “Miss Cyclone”, que morreu por complicações decorrentes de um aborto e retirada do útero — procedimento fruto da insistência do amante, Oswald de Andrade. Vale a pena conferir o filme. 


Ficha Técnica:
Direção: Flávia Castro
Roteiro: Rita Piffer
Produção: Mar Filmes e Muiraquitã Filmes, coprodução Video Filmes e Claro
Distribuição: Bretz Filmes
Exibição: Cine Una Belas Artes
Duração: 1h40
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gênero: drama

04 dezembro 2025

“Five Nights at Freddy’s 2” tenta se aproximar do game, mas repete as falhas de roteiro do primeiro filme

Os animatrônicos estão de volta, mais cruéis e vingativos, comandados por uma entidade do mal 
(Fotos: Blumhouse)
 
 

Maristela Bretas

 
Dirigido novamente por Emma Tammi, "Five Nights at Freddy’s 2" chega aos cinemas nesta quinta-feira (4) prometendo revisitar os traumas deixados pelo primeiro longa, "Five Nights At Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim", de 2023.

A premissa é instigante: 20 anos após a morte misteriosa de uma menina na Freddy Fazbear’s Pizza, Mike Schmidt (Josh Hutcherson), sua irmã Abby (Piper Rubio) e sua ex-namorada Vanessa (Elizabeth Lail) ainda lidam com cicatrizes emocionais do dia do crime — lembranças que insistem em não desaparecer.


Eles agora tentam encontrar uma maneira de sobreviver por cinco dias ao novo grupo de animatrônicos que promete provocar o caos na cidade. 

Os antigos robôs, que deveriam ter sido destruídos, ressurgem durante um festival que relembra a antiga pizzaria e seus personagens. E estão mais fortes e dominados por uma entidade vingativa.

Mas, se a história sugere um mergulho mais profundo nesses personagens, o filme não entrega a intensidade que poderia. Freddy, Chica, Foxy, Bonnie e até o Cupcake deixam de ser criaturas fofinhas e adoradas pelas crianças e se tornam instrumentos de um mal que persegue Mike e quem quer que se aproxime dele. No papel, parece assustador. Na tela, nem tanto.


Apesar do potencial, “Five Nights at Freddy’s 2” é visivelmente mais fraco que o primeiro. Os sustos são escassos e previsíveis; a tensão, quase inexistente. Há momentos em que o ritmo lento não apenas prejudica o suspense, mas ameaça entediar o espectador. 

A sensação é de que o longa evita arriscar — e acaba não oferecendo nada realmente novo ou memorável. Apenas um conjunto de animatrônicos, sets e personagens que são ícones do jogo e eram aguardados pelos fãs.


Assim como o filme original, esta continuação não faz jus ao universo rico e enigmático criado por Scott Cawthon em 2014, cuja popularidade foi determinante para levar quase 3 milhões de espectadores aos cinemas em 2023. 

A adaptação, mais uma vez, falha em capturar a atmosfera sinistra e a sensação de perigo constante que os games proporcionam.

Além de Josh Hutcherson e Elizabeth Lail estão de volta Matthew Lillard, retomando o papel de William Afton/Springtrap, e Theodus Crano, como Jeremiah, amigo de Mike. A novidade é a presença de Freddy Carter, interpretando Jeremy Fitzgerald, um personagem aguardado que remete aos jogos.


O elenco faz o possível com o material que tem, mas o roteiro não oferece profundidade suficiente para que o drama familiar ou o terror realmente se destaquem. 

No fim, "Five Nights at Freddy’s 2" parece funcionar mais como um fan service protocolar do que como um filme de terror sólido. Falta ousadia, falta tensão e falta, sobretudo, o espírito inquietante que tornou a franquia dos games um fenômeno mundial. 


Ficha técnica:
Direção: Emma Tammi
Roteiro: Emma Tammi e Scott Cawthon
Produção: Blumhouse
Distribuição: Universal Pictures Brasil
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h33
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gênero: terror
Nota: 2,5 (0 a 5)