08 dezembro 2020

"Ava" se vende como inovador, mas é mais do mesmo

 

Jessica Chastain é a assassina profissional que passa a ser caçada por sua organização por causa
de um erro (Fotos: Netflix)



Jean Piter Miranda


Uma agente super bem treinada no uso de armas e nas artes marciais. Mais que isso. A melhor de todas. Que executa perfeitamente as missões em que é ordenada. Até que um dia ela comete um erro e passa a ser perseguida pelos integrantes da própria equipe. Parece familiar, não? Essa é trama de "Ava", novo filme estrelado por Jessica Chastain, disponível na Netflix.

Ela é Ava, uma assassina profissional sedutora que trabalha para uma organização secreta. Ela recebe ordens para executar pessoas em troca de dinheiro e não hesita, vai lá e faz. Assim ela fica “famosa” por ser a melhor de todas as agentes. Mas claro, isso tem um preço: Ela precisou ficar distante da família pra seguir essa “carreira” e usar o codinome Ava. Até que infringe as “regras de conduta” do seu trabalho e passa a ser perseguida pelos próprios colegas.


Olhando assim, dá pra pensar em outros filmes com enredos parecidos: "John Wick" (2014), com Keanu Reeves, "Jason Bourne" (2002), com Matt Damon, e até alguns dos muitos 007 que tivemos. Quando pensado em uma mulher como protagonista, saindo na porrada, num roteiro semelhante, lembramos de "Salt" (2010), com Angelina Jolie, "Atômica" (2017), com Charlize Theron, e "Operação Red Sparrow" (2018), com Jennifer Lawrence. Sendo assim, "Ava" já começa não trazendo nada de novo.

O roteiro também não apresenta novidade. A agente precisa voltar para a cidade natal, reencontrar a família e tentar consertar os problemas de relacionamento que ficaram para trás com a mãe e a irmã. É bem legal rever Geena Davis em um filme. Ela é Bobbi, a mãe de Eve. Fica muito naquela de “você sumiu e reaparece do nada”. A irmã Judy (Jess Weixler) é ressentida com isso, a mãe é do tipo que apazigua as coisas, pois entende bem a vida que a filha mais velha leva, mesmo não dizendo nada.


Tem o guru de Ava, Duke (John Malkovich), mais um veterano que abrilhanta o elenco. Mas, a participação dele é bem clichê e previsível. É o cara que recrutou e treinou a assassina, e meio que a considera como uma filha, apesar de tudo. O que soa como algo bem forçado. O filme não mostra nada que possa sugerir essa ligação afetiva entre os dois.

Ava começa a ser perseguida pela própria organização, que tenta matá-la. A razão pela qual vão atrás dela é de cair o queixo. Você pensa: estão querendo matar a melhor agente deles por esse motivo? É o maior furo no roteiro. Se ficar atento a isso, todo o resto da história fica sem sentido e muito forçado. Mas pelo menos, quando a ação ocorre ela garante boas cenas e muitos truques de câmera.
   


Vendo o trailer, o ponto alto do filme, o que normalmente se espera, são as cenas de luta, porrada comendo. No trailer, tudo muito legal. Na obra completa, a coisa não fica muito boa. As cenas são um tanto lentas. Jessica Chastain dá o seu máximo e até vai bem. Mas certamente não convence aos espectadores mais exigentes ou aqueles que fizerem comparações com outros filmes de ação. Ou seja, o que era para ser o destaque se torna, com muita boa vontade, a parte mediana da produção.


O elenco tem ainda Colin Farrell como vilão. Ele manda bem, como é de costume. Nos diálogos, nas cenas de ação e em tudo mais. É até bem pouco aproveitado. Quando aparece, cumpre muito bem seu papel. O melhor do filme, por sinal.  O ator Common, que interpreta Michael, o ex de Eve, assim como Farrell, teve uma participação quase dispensável, um desperdício de talento.


Para quem assistir "Ava" como mero entretenimento, tudo bem, dá pra passar. É de mediano a igual a muitos outros. Com um olhar mais crítico fica claro que se trata de uma produção fraca, melhor nem ver. Com um grande detalhe: o filme deixa em aberto uma possível continuação. Pra quem gosta do gênero e não é muito exigente, é uma boa pedida.



Ficha técnica:
Direção:
Tate Taylor
Exibição: Netflix
Duração: 1h37
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: Ação / Suspense / Drama

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06 dezembro 2020

"Vidas (In)visíveis - Um Arsenal de Esperança": 60 minutos de uma história de acolhimento e ajuda ao próximo

Documentário mostra o belo trabalho de solidariedade que começou no século XVIII na antiga Hospedaria do Imigrante, em São Paulo (Fotos: Luca Meola)

Maristela Bretas


"Não é apenas uma história sobre uma casa de acolhimento, mas um convite a refletir sobre amor, fraternidade e ajuda mútua". Esta é a melhor definição para "Vidas (In)visíveis - Um Arsenal de Esperança", da diretora Erica Bernardini. Um documentário emocionante feito a partir da pandemia de Covid-19 que tomou conta do mundo em 2020. A antiga Hospedaria do Imigrante, que um dia foi ponto de controle para evitar a entrada de possíveis doenças na cidade de São Paulo trazida por quem chegava ao país, retorna a suas origens para cuidar de um novo público.

A produção gira em torno do trabalho desenvolvido no Arsenal da Esperança, uma casa de acolhimento fundada em 1996 por Ernesto Olivero e Dom Luciano Mendes de Almeida, que começou em Turim, na Itália com o Arsenal da Paz e hoje possui outra unidade italiana voltada para crianças e uma na Jordânia para jovens deficientes. O abrigo paulista recebe diariamente uma média de 1.200 homens que se encontram em estado de vulnerabilidade.


Um ótimo documentário que deve ser assistido por italianos e descendentes no Brasil e pelo público em geral. Ele aborda um pouco de como era tratada a questão da saúde no início da imigração no final do século XVIII e o importante papel da Hospedaria do Imigrante. Um local que reúne milhares de histórias de imigrantes e daqueles que hoje também buscam este ponto para recomeçarem suas vidas.

Por quase 25 anos mais de 64 mil dessas pessoas, in(visíveis) para a sociedade, encontraram em sua jornada sofrida um ponto de acolhida de amor, fraternidade, compaixão e ajuda mútua no Arsenal. Mas a pandemia da Covid-19 mudou a realidade e fez com que o cuidado e a orientação aos abrigados precisassem ser reformulados.


A partir daí surge a ideia de se fazer o documentário mostrando como foi a orientação no Arsenal da Esperança a esses homens, acostumados a viverem na rua, e que agora teriam de ficar em isolamento, usar máscaras e manter afastamento de outras pessoas para evitarem a contaminação. O registro da rotina diária dentro do abrigo foi feito por dois voluntários da entidade: José Luiz Altieri Campos e o fotógrafo milanês Luca Meola.

Com depoimentos, fotos e vídeos do passado e em meio à pandemia, o documentário conta como o Arsenal da Esperança foi criado, a rotina de quem frequenta o local. Apresenta o trabalho realizado desde a fundação por missionários italianos e que se transformou em referência em acolhimento e solidariedade.


Ótimas imagens e narrações serenas e cativantes, especialmente as do padre Simone Bernardi, missionário italiano do Sermig (Serviço Missionário Jovem) - Fraternidade da Esperança, fazem da produção um documentário histórico. Mostra como a pandemia afetou a todos - funcionários e abrigados e como eles estão enfrentando a quarentena, suas angústias, medos, sonhos e a vontade de recomeçar. E como a experiência do passado foi importante para o trabalho presente. Histórias que fazem chorar e acreditar que as pessoas querem e podem ser melhores.

Acesso online

O documentário está disponível no 15º Festival de Cinema Italiano no Brasil, que acontece até esta terça-feira (08/12), em plataforma online para todo público brasileiro pelo site  www.festivalcinemaitaliano.com, em parceria com o Cine Petra Belas Artes, de São Paulo. Os ingressos para assistir ao Festival têm valor fixo de R$ 9,90 e dão direito ilimitado a toda a programação. 

A produção tem o apoio do Consulado Geral da Itália em São Paulo e da empresa de imigrantes italianos, Zini Alimentos. A diretora Erica Bernardini é uma profissional que atua há 20 anos na promoção da cultura italiana no Brasil, com diversos projetos e realizações na área.


Ficha técnica:
Direção:
Erica Bernardini
Exibição: pelo site www.festivalcinemaitaliano.com
Duração: 1h00
Produção: Arteon
Classificação: Livre
Países: Brasil /Itália
Gêneros: Documentário / Drama

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